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Houve mudança do local em que serão apurados os votos para a eleição da delegação da AdUFRJ ao 67º Conselho do Andes (Conad). Em vez da sala E-212 do Centro de Tecnologia, será a sala E-205. O horário de 13h está mantido. Concorrem 13 nomes às nove vagas de observador.

O Conad, que será realizado entre 26 e 28 de julho, em Belo Horizonte, atualiza o plano de lutas do movimento docente para o segundo semestre.

Foto: Kelvin Melo

WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25 3Fotos: Alessandro CostaAo morrer, em 1880, Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro, tinha entre seus “bens” 12 homens e mulheres escravizados, que cuidavam de tarefas domésticas e de lavoura em sua chácara, na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Algumas das escravas tinham filhos “ingênuos”, que é como se chamavam os nascidos após a Lei do Ventre Livre, de 1871. O inventário de Duque de Caxias integra há tempos o acervo do Museu Histórico Nacional (MNH), mas suas informações só se tornaram públicas recentemente, em uma das intervenções decoloniais promovidas pela instituição — e que jogam luz sobre fatos invisibilizados de nossa história.
As intervenções decoloniais foram um dos destaques da visita guiada ao MHN, a última do ciclo de passeios histórico-culturais da AdUFRJ no primeiro semestre. Há a expectativa de um novo ciclo no segundo semestre, com novas temáticas e locais de visitação. Realizada na manhã de sábado (22), a visita reuniu 15 professores e foi guiada por Douglas Libório, graduado em História pela UFRJ e doutorando pela UFF, um apaixonado pela história (revista) do Brasil: “As intervenções decoloniais podem tornar os museus mais plurais. Neste museu, criado de um modo militarizado, elas podem ressoar uma ideia mais democrática de Brasil”.

ORIGENS
A visita começou pelo Pátio Epitácio Pessoa, também conhecido como Pátio dos Canhões. Douglas Libório falou das origens do MHN e do papel de seu idealizador, o integralista Gustavo Barroso. “Foi um intelectual que dialogou com o autoritarismo no entreguerras, no início dos anos 1900. Ele foi um dos mais ferrenhos defensores do antissemitismo no Brasil, e isso contribuiu para seu posterior ‘apagamento’. No integralismo, ele era da ala mais antissemita. Foi o criador do museu e seu diretor até a morte, nos anos 1950”, lembrou.WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25 4
Entre as contribuições de Gustavo Barroso se destaca a criação do primeiro curso de museus do Brasil, em 1932, embrião do atual curso de Museologia da Unirio, o maior da América Latina. “Barroso vai se inspirar nos museus militares criados na Europa entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Ele vai buscar as relíquias e os ícones das chamadas grandes batalhas do Brasil, como Tamandaré, Riachuelo, Osório, Caxias. O início da coleção do Museu Histórico Nacional é pautado por essa grandiosidade imperial e militar do Brasil”, explicou o guia. Aberto em 1922, nas comemorações pelo centenário da Independência do Brasil, o MHN ocupa três prédios que abrigaram instalações militares do Império.
Com ouvidos atentos às explicações do guia, o professor José Paulo Azevedo, da Escola Politécnica e da Coppe, tinha o olhar dedicado a detalhes da imponente construção da Praça Marechal Âncora, no Centro do Rio. “Essas visitas nos dão um panorama de nossa história que dificilmente teríamos sem as orientações do guia. Nós passamos na frente de instituições como esta e não imaginamos quanta história há lá dentro. Estou bem satisfeito com essa iniciativa da AdUFRJ, espero que ela prossiga. Como sou da área de Engenharia, fico obervando os materiais empregados nas construções, as diferenças entre as arcadas, é tudo muito rico”, observou o professor.

RELEITURAS
Entre as novas inserções do MHN uma das mais belas e emblemáticas é a instalação do Altar de Oxalá, toda em tons de branco e prata, dedicado ao orixá. A obra do escultor baiano Emanoel Araujo, morto em 2022, abre espaço à reflexão sobre a perseguição sofrida pelas religiões de origem africana no Brasil — e à violência do período escravagista, de forma geral. “São reflexões importantes. É impossível falar da história dos povos pretos no Brasil sem falar da violência, de nossas orações censuradas, das mulheres estupradas, dos açoites”, apontou Douglas Libório.
Os povos indígenas também receberam novas leituras no museu. A equipe do MHN propôs intervenções que firmaram o compromisso “com a escuta, a diversidade e o protagonismo de novas histórias que foram invisibilizadas ao longo da construção de uma ‘história oficial’”. A mostra “îandé: aqui estávamos, aqui estamos” celebra ritos, lugares e saberes dos povos originários desde antes da chegada dos colonizadores portugueses.
Douglas Libório também encantou a todos com ‘bastidores’ pouco conhecidos da Independência do Brasil. Um deles é retratado na tela “Sessão do Conselho de Estado”, da pintora paulista Georgina de Albuquerque. Ex-aluna da Escola Nacional de Belas Artes (atual EBA/UFRJ), Georgina dá tons impressionistas à pintura encomendada pelo governo em 1922 e que retrata o momento em que Dona Leopoldina é aconselhada por José Bonifácio a escrever uma carta a Dom Pedro I recomendando-lhe a proclamar a Independência do Brasil. A cena se passa em 2 de setembro de 1822, cinco dias antes do “Grito do Ipiranga”, cena imortalizada em famosa tela de Pedro Américo.

NOVO CICLO
Fiel frequentador do ciclo de visitas da AdUFRJ — participou de todos —, o professor Ricardo Medronho, emérito da Escola de Química, elogiou o projeto do sindicato e defendeu sua ampliação. “Acho uma iniciativa fantástica, uma forma de levar aos nossos filiados um pouco da cultura do país. Essa visita ao Museu Histórico Nacional nos proporcionou, em três horas de passeio, conhecer uma parte do acervo. E isso nos traz o desejo de voltar aqui. Quero conhecer o resto”, disse Medronho.
WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25 5O gosto de “quero mais” também alcançou a professora Cibeli Reynaud, aposentada da Escola de Música e presidente da AdUFRJ de 1989 a 1991. “O guia é maravilhoso. A gente vive cada segundo da visita com o ânimo dele. Achei extraordinário, espero que venha mais por aí”, pediu ela. O mesmo desejo foi expresso pelo professor Oswaldo de Campos Melo, aposentado da Faculdade Nacional de Direito e um dos mais ativos participantes da visita ao MHN: “O guia é muito bom e conhece bem a história do Brasil. Foi empolgante a visita. Que venham outras!”, comentou o professor.
Se depender da disposição do guia e da vontade da diretoria da AdUFRJ, não resta dúvida: vem mais um ciclo de visitas por aí. De tão entusiasmado, Douglas Libório deu um “spoiler”: “Foi um ciclo importante, começamos com a história da cidade, no Museu Histórico da Cidade, e encerramos aqui com a história do Brasil. Foi um roteiro diversificado e deve ter impactado os professores. Parabenizo a AdUFRJ pela iniciativa, e espero que no segundo semestre possamos aprofundar o projeto com roteiros na área de arte moderna”.
Para a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, os passeios proporcionam uma troca de experiências. “O que temos aqui é um experimento de entrelaçamento de saberes. Não é só um guia que explica e um grupo que escuta. São professores que interagem e acrescentam informações de suas áreas”, observou Mayra, também apontando para um novo ciclo. “Estamos aceitando sugestões de roteiros e lugares de nossos sindicalizados. Nossa intenção é ampliar esse projeto”, adiantou. Sugestões? Mande um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Uma assembleia nesta terça-feira (2), às 9h30, define a delegação da AdUFRJ ao 67º Conselho do Andes (Conad). A reunião será realizada na sala D-220 do Centro de Tecnologia.
A AdUFRJ tem direito a um delegado ou delegada — o nome é indicado pela diretoria —, com direito a voto, além de nove observadores.
A delegação será escolhida com voto em urna a partir dos nomes que forem indicados na assembleia. As urnas estarão abertas das 13h30 às 19h. A apuração será realizada na quarta-feira, dia 3, às 13h, na sala E-212 do CT.
O Conad, que acontece no final de julho, em Belo Horizonte, atualiza o plano de lutas do movimento docente para o segundo semestre.

WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.28.25Foto: Kelvin Melo

O Conselho Universitário começou a discutir a permuta dos 11 andares da universidade no prédio corporativo Ventura Towers, no Centro do Rio. A proposta da administração central é trocar os espaços por obras de infraestrutura acadêmica e assistência estudantil.
A troca segue o princípio da política de valorização dos ativos imobiliários da UFRJ iniciada na gestão do ex-reitor Roberto Leher e apresentado ao Consuni em 2018, em parceria com o BNDES. “Não é o projeto de uma reitoria. Já passou por três reitorias e foi aprimorado. Hoje, posso dizer que é um projeto da UFRJ, que será decidido, espero que favoravelmente, durante nossa gestão”, afirmou o reitor, professor Roberto Medronho.
Hoje, a UFRJ detém aproximadamente 17% de todo o imóvel,ou 16.663m² de área construída. Desta parte, 19,74% são ocupados pelo setor administrativo da Escola de Música; 54,4% estão locados para empresas e 25,85%, vagos.
Após um período de baixa na pandemia, os alugueis voltaram a dar lucro — o saldo do ano passado foi positivo em aproximadamente R$ 5 milhões —, mas a administração central entende que a permuta trará benefícios importantes para a precária infraestrutura da universidade, no curto prazo. Para não atrapalhar a licitação junto ao mercado, os valores estimados do negócio não foram revelados.WhatsApp Image 2024 07 01 at 17.30.32
“Se a gente colocasse numa ‘caixinha’ todos os recursos que nós obtemos hoje, demoraríamos mais de 50 anos para obter o valor total necessário para atender à lista de contrapartidas”, afirmou o professor João Carlos Ferraz, do Instituto de Economia, integrante da comissão que assessora a reitoria no projeto. “Se nós alienarmos hoje ou no futuro próximo, o tempo necessário para a execução das obras seria de três anos”.
Além do tempo menor, a expectativa é conseguir colocar a serviço da comunidade acadêmica uma área bem maior que a disponível no Ventura. “Se nós formos bem sucedidos na licitação, conseguiremos colocar em funcionamento 71 mil m² de instalações novas ou refeitas pela UFRJ”, disse Ferraz.
Estão previstas dez contrapartidas, como a construção de um prédio próprio para o curso de Dança; dois restaurantes universitários (mais um no Fundão e outro, em Macaé); e a conclusão do complexo CFCH-CCJE, mais conhecido como “paliteiro”, ao lado da Faculdade de Letras. A lista completa pode ser conferida no quadro desta página.
A lista não surgiu do acaso ou por vontade da atual gestão. “Elas foram estudadas desde o início deste projeto de valorização do patrimônio da UFRJ, em 2017. Também são objeto de ampla discussão entre decanos e a administração superior”, informou a pró-reitora de Governança, professora Claudia Cruz.
Todas as contrapartidas atendem a critérios de priorização de obras e investimentos do Plano Diretor da UFRJ, com exceção das duas obras da Escola de Música. Como única unidade ocupando dois andares do Ventura, ela ficaria à frente das demais para acelerar a desocupação do imóvel.
A permuta seria em bloco para melhor aproveitamento dos recursos. “Não vamos vender as lajes individualmente. Seria muito difícil, dentro deste modelo, associar um andar à obra de um prédio, de forma separada”, acrescentou Claudia Cruz.
As dez obras estão divididas em dois grupos: as do primeiro estão previstas para começar no oitavo mês pós-assinatura de contrato; as do segundo, somente no 26º mês. “Por que não começa imediatamente? Porque consideramos os prazos de aprovação de projetos e licenciamentos pelo município”, explicou a pró-reitora.

PRIMEIRAS OBRAS
Figuram no primeiro grupo as duas obras da Escola de Música, o prédio “Fronteiras” — uma área multidisciplinar do Centro de Ciências da Saúde —, a sede própria do curso de Dança e o complexo CFCH-CCJE.
De forma diferente da EBSERH, o primeiro debate no Consuni indica que a polêmica não deverá ser entre apoiadores e críticos do projeto. Mas entre os contemplados e os que ficaram de fora das contrapartidas. Ou entre quem deve ser beneficiado no primeiro momento e quem estará no final da fila.
“O que eu gostaria de questionar é a ordem das obras que estão sendo propostas. Quando esse processo começou a ser discutido, o prédio do Instituto de Matemática era prioridade dois. Agora, caiu de prioridade (para o segundo grupo)”, disse a professora Walcy Santos, do Instituto de Matemática. O prédio estaria mais de 80% construído, de acordo com a docente. “Deixar esse ativo mais dois anos parado, deteriorando o que a gente já investiu nele, eu acho um absurdo”, completou.
Já a professora Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica, comemorou a contrapartida do prédio “Fronteiras”, do CCS. “É uma obra emblemática desta universidade. Foi totalmente pensada pelos estudantes da nossa FAU. É um prédio multidisciplinar”, disse. As instalações serão aproveitadas por áreas de fronteira do conhecimento na saúde — daí o seu nome. A ideia é que nesta edificação convivam pesquisadores do Instituto de Bioquímica, do Instituto de Biofísica, da Microbiologia, entre outras unidades.
Representante estudantil, Gabriel Batista avaliou que o projeto é importante, mas não resolverá todos os problemas de infraestrutura da universidade. “Escolhas precisam ser feitas. Difícil citar um prédio da UFRJ, se é que há um, que não tenha demandas estruturais muitas vezes urgentes”, afirmou. “A solução efetiva dos nossos problemas, principalmente pela ordem de grandeza dos valores, é a disputa do fundo público de orçamento. Iniciativas como a do Ventura ajudam a cobrir emergências”.

DISCUSSÃO CONTINUA
O professor João Ferraz esclareceu que uma comissão independente do Plano Diretor da UFRJ estabeleceu a pontuação que define as prioridades das obras. “Infelizmente, o Instituto de Matemática, apesar de ter uma pontuação alta, entra no segundo bloco, por conta de estar no primeiro bloco uma obra de volume de recursos substantivo, que é o complexo CCJE-CFCH”, respondeu João Ferraz. Outro ponto que pesou para as escolhas foi onde se conseguiu o mínimo de informações para estimar o valor do investimento a ser feito em determinada obra.
O reitor Medronho anunciou que pretende fazer, pelo menos, duas audiências públicas para debate do projeto: uma no CCS e outra na Praia Vermelha. “Embora não seja uma discussão nova, ela é uma discussão que se renovou. Porque houve uma mudança do escopo original do projeto para este atual, que foi apresentado aqui. Por isso, acho necessário que a gente retome essa discussão junto ao corpo social da UFRJ”, afirmou.

POR QUE A UFRJ TEM UM PEDAÇO DO VENTURA?
O empreendimento foi construído em um terreno da universidade onde chegou a funcionar a Faculdade de Letras, de 1970 a 1985. Com a mudança da unidade para a Cidade Universitária, o espaço foi ocupado irregularmente por um estacionamento. O processo de negociação para a construção do prédio passou por três gestões de reitoria até sair do papel — Paulo Alcântara Gomes (1994-1998), José Vilhena (1998-2002) e Aloísio Teixeira (2003-2011). A obra durou de 2005 a 2009, ano em que o prédio foi inaugurado.

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 4Fernando SouzaNa manhã de terça-feira (18), a estudante Giovana Pereira, do 5º período de Ciências Sociais, foi ao gabinete do diretor do IFCS, professor Fernando Santoro, para reclamar da barricada que bloqueava a entrada da sala 402-A, onde sua turma teria uma aula de Antropologia II. O bloqueio era recente, a aluna levou fotos de antes e depois da instalação da pilha de cadeiras que fechou o acesso à sala. “Os bloqueios impedem as pessoas de entrarem nas salas. O professor queria dar aula, mas o bloqueio impediu”, protestou ela.
Na terça e na quarta-feira (19), equipes do Jornal da AdUFRJ constataram que as barricadas feitas com cadeiras bloqueiam o acesso a diversas salas de aula no 3º e no 4º andar do prédio do IFCS/IH. O método tem gerado questionamentos por parte de alunos que não aderiram à greve estudantil e de professores.
As direções do IFCS e do IH têm tentado dar suporte aos professores e aos alunos que desejam ter aulas. Na segunda-feira (17), a direção do IFCS divulgou um protocolo de convivência durante a greve. “A direção entrou como garantidora de que impedimentos físicos, como cadeiras, seriam retirados pelos seguranças sempre que estudantes e professores precisassem transitar nas salas e exercer o direito de frequentar aulas. Os representantes estudantis asseguraram que, respeitando suas formas horizontais de deliberação e organização, seus piquetes seriam de persuasão e não de coerção ou qualquer forma de violência”, diz o comunicado.
Entre as diretrizes do protocolo constam que as “as aulas continuarão a ser ofertadas presencialmente aos alunos que comparecerem”; que “ações de assédio, coerção ou violência devem ser reportadas à Comissão de Prevenção e Combate ao Assédio e, conforme o caso, serão tratadas em Processos Administrativos Disciplinares”; e que “será assegurado aos docentes o livre exercício de seu trabalho e, em caso de ausência de alunos na turma, a aula será contabilizada sem compromisso de reposição”.
Muitos professores temiam ter que repor aulas. “Sinto que há um sentimento generalizado entre os professores de que a greve estudantil é legítima, que as pautas são justas. Estamos todos, alunos, professores e técnicos, imersos em situações emergenciais, em várias dimensões. E todos buscam formas de enfrentar isso. Mas há um desconforto em relação aos bloqueios, inclusive entre alunos, que não se sentem à vontade em ir às aulas. Isso tem gerado certa contrariedade em alguns professores, temerosos de terem que repor aulas que não se recusaram a dar”, reflete a professora Thais Aguiar, do Departamento de Ciência Política.
Segundo Thais, outros aspectos em relação à greve devem ser considerados. “Há uma preocupação institucional com a universidade, que vem tendo seu papel questionado pela direita e enfrenta problemas como a evasão estudantil. A gente vê nossas salas de aula se esvaziando. Se antes da pandemia tínhamos disciplinas optativas com 20 ou 30 alunos, hoje são cinco, dez. Isso para um professor é muito duro. Espero que busquemos entendimentos para construir outro ambiente”.

BLOQUEIOS
Para o diretor do IFCS, o uso de barricadas é um símbolo da crise política por que passa a unidade. “Quando a política começa a ser feita com forças de constrangimento, como cancelamentos e pressões, aí saímos do campo da política democrática para entrar no plano da disputa, da guerra. E nesse plano as coisas não se resolvem mais com a palavra, com o entendimento. Se perdemos a palavra como instrumento político, nós perdemos a coesão comunitária. Estamos num período assim”, observa Santoro.
O diretor lamenta que a palavra esteja sendo substituída pelas barricadas. “Se não é a palavra que traz a adesão dos colegas, mas o assédio, o bloqueio, o impedimento físico, isso é sinal de crise. Há inclusive uma confusão semântica. Muitos estudantes estão chamando as barricadas de piquetes. O piquete é um ato de persuasão, como os trabalhadores nas portas das fábricas convencendo seus companheiros a aderir à greve. Mas estão chamando de piquete o que são barricadas, montes de cadeiras impedindo as pessoas de passar, de entrar em sala de aula. Isso não é uma ação política pela palavra. Uma barricada é um artefato de tática de guerra, um ato violento”.
Os dirigentes estudantis defendem a estratégia. “A greve estudantil foi deflagrada em assembleia, onde também foi votado o uso de piquetes nas salas de aula, impedindo a passagem. A gente utiliza esse meio para conversar com os estudantes que aparecem, o que raramente vem acontecendo porque poucos estudantes estão indo às aulas. Quem aparece para a aula a gente conversa e a maioria entende a questão da greve, respeitando a decisão coletiva”, diz o estudante Washington Yuri, dirigente do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS).
Arthura Rocha, que atua na gestão do CACS, também defende os bloqueios. “Com os piquetes a gente tem a chance de conversar com os estudantes dispostos a ter aulas. Hoje (quinta-feira, 20) aconteceu com dois alunos que vieram para ter aulas e decidiram voltar. A gente até sugere aos professores fazer fotos dos piquetes e enviar aos seus departamentos, reforçando que estamos aqui como testemunhas, já que havia o temor de sanções aos que não ministrassem as aulas. A greve estudantil é legítima e reconhecida pelo CEG”.

INCIDENTE
O clima é de tensão mesmo onde não há barricadas. Na quinta-feira da semana passada (13), uma aula de História Medieval teria sido invadida e interrompida na sala 106. Segundo relato divulgado pela direção do IH, o professor Markos Klemz, do Departamento de Filosofia, teria destratado a professora Josena Ribeiro, substituta de História Medieval. O professor nega as acusações e se diz vítima de difamação.
O diretor do IH, professor Antônio Carlos Jucá, classificou o episódio como “gravíssimo”. “Sou professor universitário há 28 anos, tenho 20 anos de UFRJ e nunca vi nada assim. Já vi aluno invadindo aula para protestar. Mas um professor universitário invadir uma aula de uma professora que estava numa sala e num horário designados para ela? Ela estava absolutamente regular e ele invadiu a sala, criou um clima em que ela se viu na obrigação de sair, porque ele foi ofensivo, ele a destratou”.
O professor garante que pedirá a abertura de um PAD contra Markos Klemz. “Isso não pode ficar impune. Quando afeta a professora Josena, afeta a todos nós. É uma invasão, um desrespeito à atividade docente. Há duas coisas que faço questão de marcar. A primeira é que isso é um assédio moral, ela é uma jovem professora substituta, está numa posição mais fragilizada. A segunda é que é uma atitude sexista, é uma violência de gênero. Ele não faria isso comigo ou com outro professor homem”.
Procurada pelo Jornal da AdUFRJ, a professora Josena Ribeiro preferiu não comentar o incidente. “Sou nova na UFRJ, passei por essa situação de acossamento e acho melhor não me expor”. O caso ficou público por meio de uma postagem da direção do IH no Instagram no dia 17. “Trata-se de um caso gravíssimo de ataque à atividade acadêmica por parte de um docente, caracterizando assédio moral e violência de gênero, tanto pela invasão quanto pela forma como ele se dirigiu à professora. (...) Encaminharemos ainda hoje solicitação de abertura de PAD (Processo Administrativo Disciplinar) contra o professor Markos Klemz”.
No dia 18, o Comitê de Greve do IFCS, os CAs de Filosofia e Ciências Sociais e o DCE manifestaram em postagem no Instagram “indignação conjunta diante da atitude vexatória e difamadora assumida deliberadamente pela direção do IH contra o professor Markos Klemz”.
O professor nega as acusações. “Estou bem abalado desde que essa nota difamatória foi divulgada. Ela teve um poder de manchar a minha reputação como eu nunca vivi. Sou professor no Serviço Público desde 2011. Faço política desde o grêmio da escola. Nunca sofri esse tipo de perseguição. Jamais eu invadiria a aula de um colega profissional”, argumenta Klemz.
Ele diz que foi convidado pelos estudantes a participar de uma atividade de greve na sala 106. “Jamais chamaria essa colega de qualquer coisa, muito menos de fura-greve. Não faz sentido, os professores não estão em greve na UFRJ. Fui convidado para uma roda de conversa. Cheguei às 15h05, e já havia pessoas sentadas na plateia, como ela, que se apresentou como professora de História Medieval. Eu segui conversando com alguns estudantes, surgiu um papo sobre a greve no IFCS, e comentaram que uma professora tirou as cadeiras da porta para dar aula. Comentei que achava melhor tentar dialogar do que burlar a mobilização dos estudantes. Ela ouviu isso e se exaltou, disse que não estava burlando nada. Eu nem estava me referindo a ela, mas a uma situação geral. Aí ela se retirou da sala”, relata.
“Ela ter se sentido ofendida com a situação e procurar a direção do IH para fazer queixa é legítimo. O que me provoca indignação é a direção de um instituto fazer um post de rede social sem me contactar. O post é uma peça de difamação, o dano que já foi feito eu não vou conseguir desfazer”, completa.

DIÁLOGO
Decano do CFCH, o professor Vantuil Pereira é taxativo sobre o incidente da sala 106. “Se há uma denúncia, tem que ser apurada. Antes do PAD há um inquérito preliminar para que as partes sejam ouvidas. Minha posição é de condenar qualquer ato de violência, de sempre buscar uma solução civilizatória”.
Vantuil está articulando uma reunião com todos os segmentos do IFCS. “Tenho buscado conversar com as direções do IH e do IFCS e com os estudantes para estabelecer uma posição intermediária, reconhecendo o direito dos estudantes, por um lado, e o direito de quem quer dar aulas. Tenho pedido aos estudantes para não fazerem barricadas”.
O decano acredita que um diálogo franco pode ajudar a amenizar o clima no IFCS. “A greve estudantil é um processo que mostra a sociedade viva, isso é positivo. O que merece reflexão é a colocação das barricadas. Para chegar a esse limite, houve antes uma tentativa de entendimento? A barricada dificulta o acesso e o direito de ir e vir. Vamos apostar no diálogo”.

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