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A mais antiga e próspera universidade americana não se rendeu ao obscurantismo persecutório de Donald Trump. Ao contrário da Columbia University, Harvard disse não ao homem que, desde o início do mandato, trata a Ciência e a liberdade de cátedra como inimigos preferenciais do governo. Trump usa as armas de sempre — ódio e cortes. Chegou a anunciar uma redução de quase US$ 9 bilhões em subsídios para Harvard, caso a instituição não revisasse práticas de governança. “A Universidade não abrirá mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais”, escreveu o reitor Alan Garber, na última segunda-feira. No mesmo dia, um brilhante pesquisador da UFRJ, João Macena Muniz Vieira, publicou artigo na Revista Nature, convocando seus colegas americanos a não se dobrarem. Em duas páginas de texto vibrante, Vieira relembra a saga que enfrentou para seguir pesquisando nos anos de Bolsonaro. “Liberte-se do ciclo de ódio. Enfurecer-se com os escândalos fabricados por figuras como Trump ou Bolsonaro não mudam nada. Você já conhece as intenções deles. Use sua raiva com sabedoria: participe de um protesto por semana, derrame sua fúria e saia. Você não está sozinho. Professores, colegas e pesquisadores estão no mesmo barco. Participe de protestos para compartilhar solidariedade, mas, acima de tudo, lembre-se: seu trabalho já é resistência. Cada experimento, cada linha de código, cada colaboração é um ato de desafio contra aqueles que querem silenciar a ciência”, escreveu no artigo que o Jornal da AdUFRJ tem a honra de reproduzir abaixo, com tradução do próprio pesquisador.
Entre 2019 e 2023, cursei meu doutorado em Genética do Desenvolvimento evolutivo do besouro Tribolium castaneum na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Meu laboratório, localizado na região costeira de Macaé, tornou-se dano colateral em uma guerra contra a ciência declarada por Jair Bolsonaro, nosso presidente de 2019 a 2022 — uma guerra que pode parecer familiar para muitos pesquisadores dos EUA agora que seu próprio presidente parece determinado a cortar financiamentos para pesquisa científica.
Após a posse de Bolsonaro em 2019, mais de 5,6 mil bolsas de pesquisa desapareceram sob medidas de austeridade que miravam especialmente o ensino superior e a ciência. Os cortes deixaram milhares de pesquisadores em suspenso, enquanto agências federais como a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) tiveram seus orçamentos drasticamente reduzidos. Professores corriam atrás de financiamentos emergenciais, enquanto cientistas racionavam insumos e encaravam a perspectiva de projetos paralisados.
Naquele ano, uma colega brilhante quase perdeu sua carreira quando o governo cortou sua bolsa dias antes do início do projeto. Sem aviso prévio, ela viu sua pesquisa barrada. Desesperada para não perder todo seu doutorado, ela expôs sua situação e o caso comoveu a opinião pública. O apoio surgiu rápido o bastante para impedir que ela desistisse, mas por pouco.
Outros enfrentaram ameaças similares: uma amiga, incapaz de pagar o aluguel sem a bolsa, abandonou o doutorado por um emprego fora da academia. Outro colega, após meses de incerteza, mudou-se para o exterior para continuar pesquisando. Eu também pensei em desistir. Mas já havia mudado de área uma vez — da Física Nuclear para a Biologia do Desenvolvimento — e sabia que não poderia recomeçar outra vez. Nem mesmo sob Bolsonaro.
Resistência Nacional
Os cortes desencadearam protestos em todo o país, liderados por estudantes, professores e sociedades científicas. Cartazes em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília declaravam: “Conhecimento não é gasto”. Marchando com milhares — mesmo em minha pequena cidade — senti-me parte de uma unidade poderosa.
A pressão surtiu efeito. Em 18 de outubro de 2019, o Ministério da Educação liberou um bilhão de reais para universidades federais — uma concessão rara que entidades como a União Nacional dos Estudantes atribuíram à nossa mobilização. Naquele dia, eu não era só cientista. Era parte de um movimento que havia resistido aos cortes e reafirmado o papel da educação e pesquisa no Brasil. Me senti conectado. Não estava sozinho.
Então, em março de 2020, a pandemia de covid-19 chegou. Em junho, enquanto o governo Bolsonaro continuava a tratar a ciência como atividade elitista, nosso laboratório mudou seu foco: de pesquisa evolutiva para processar testes de covid-19 em parceria com a prefeitura de Macaé. Nossos equipamentos de qPCR, antes usados para mapear expressão gênica em besouros, foram adaptados para diagnósticos em uma campanha que ajudou a manter a taxa de mortalidade de nossa cidade abaixo da média estadual2.
Essa iniciativa crucial significou que eu perdi acesso ao instituto — não apenas porque ele se tornou um laboratório de diagnósticos, mas também devido às rígidas barreiras sanitárias. Meus experimentos foram interrompidos indefinidamente.
Em julho daquele ano, consegui financiamento para um estágio de oito meses no laboratório do biólogo evolutivo Siegfried Roth, na Universidade de Colônia, na Alemanha — uma oportunidade crucial que finalmente me permitiria concluir meu doutorado. A viagem estava originalmente marcada para agosto de 2020, mas foi adiada para fevereiro de 2021, no auge da pandemia.
Naquela altura, eu já havia comprado passagens, alugado um apartamento e passado noites lendo manchetes catastróficas sobre os incessantes ataques de Bolsonaro à ciência — desde chamar o vírus de “gripezinha”, promover a hidroxicloroquina como tratamento (apesar das evidências esmagadoras contra sua eficácia) até os cortes sistemáticos nos orçamentos da ciência e no desmonte das proteções ambientais na Amazônia.
Um dia antes da minha partida, a Alemanha fechou suas fronteiras para viajantes brasileiros, citando o alto número de casos e o surgimento de novas variantes da covid-19. Não pude recuperar os custos. Como a agência de fomento não cobriria este custo extra, o prejuízo financeiro saiu do meu próprio bolso — mais um lembrete brutal da instabilidade da minha situação como pesquisador.
Inovando sob pressão
Preso no limbo, precisei me reinventar outra vez. Troquei o laboratório físico pela Bioinformática, analisando dados em casa enquanto colaborava por Zoom com o grupo de Siegfried na Alemanha, esperando as fronteiras reabrirem. Só consegui viajar no fim de setembro de 2021, e meu estágio oficial acabou se estendendo de outubro daquele ano até abril de 2022. As análises que fiz durante a quarentena se tornaram a base para os experimentos que realizei durante aqueles oito meses em Colônia.
De volta ao Brasil, novos problemas me esperavam. Insumos básicos ficaram presos na alfândega por seis meses, atrasando meus experimentos. Enquanto isso, via trolls na internet — e até alguns parentes — ridicularizarem minha pesquisa como “perda de tempo”, aplaudindo cortes na ciência e defendendo “tratamentos” como a hidroxicloroquina. No meio desse caos, aprendi a navegar na incerteza — uma habilidade que nenhuma agência de fomento ensina ou financia.
Concluir o doutorado foi muito mais do que seguir os protocolos científicos. Foi desafiar meus limites. Aqueles anos se confundem entre obstáculos e crises pessoais, com cada dia testando minha resistência em meio ao turbilhão político. Foi minha esposa quem me levou a buscar ajuda psicológica. Meus orientadores, Rodrigo Nunes da Fonseca e Helena Araújo, mesmo lutando contra a desestruturação das universidades, ainda arranjavam tempo para me orientar sobre editais e oportunidades de treinamento.
O fim do túnel
Em outubro de 2022, Bolsonaro perdeu as eleições. Não aceitando a derrota, alegou fraude e, em 8 de janeiro, seus apoiadores invadiram os prédios do governo em Brasília. A cena era assustadoramente familiar: um ano antes, a mesma tentativa de tomada a força do poder havia acontecido no Capitólio dos EUA, após a derrota de Donald Trump. No Brasil, as instituições seguraram o tranco — o Congresso e o Judiciário impediram o golpe. Em junho de 2023, Bolsonaro foi condenado a oito anos de inelegibilidade. E, em março deste ano, o STF aceitou por unanimidade as denúncias contra ele; até o fim do ano o ex-presidente enfrentará um julgamento criminal.
Enquanto isso, eu seguia meu caminho. Em outubro de 2023, finalmente defendi minha tese. Hoje, sou pesquisador de pós-doutorado no laboratório do Siegfried.
Mas os estragos deixados por anos de ataques à ciência não desaparecem da noite para o dia. O Brasil ainda sente os efeitos: projetos abandonados, mentes brilhantes perdidas para outros países, um atraso que custa caro hoje e no futuro.
Se essa história soa familiar para você, pesquisando enquanto enfrenta o obscurantismo, deixe eu dizer uma coisa: você não está sozinho!
E aqui estão alguns conselhos para você:
Sua pesquisa é sua âncora. Enquanto eu ativamente buscava os fartos motivos para me enfurecer com o último escândalo de Bolsonaro ao invés de ler artigos cruciais para minha formação, meses foram perdidos em raiva desorientada. Retome o foco. Leia aquele estudo que você vem ignorando. Aprimore as técnicas que verdadeiramente te fascinam.
Você não está preso. A academia, as ciências, sobrevivem do movimento. Quando as fronteiras do Brasil me prenderam, os laboratórios da Alemanha permaneceram abertos. Colabore entre os diferentes fusos horários. Compartilhe códigos, protocolos e, principalmente, esperança. Sua expertise transcende geopolítica — use isso a seu favor.
Liberte-se do ciclo de ódio. Enfurecer-se com os escândalos fabricados por figuras como Trump ou Bolsonaro não mudam nada. Você já conhece as intenções deles. Use sua raiva com sabedoria: participe de um protesto por semana, derrame sua fúria e saia.
Você não está sozinho. Professores, colegas e pesquisadores estão no mesmo barco. Participe de protestos para compartilhar solidariedade, mas, acima de tudo, lembre-se: seu trabalho já é resistência. Cada experimento, cada linha de código, cada colaboração é um ato de desafio contra aqueles que querem silenciar a ciência.
Continue.
Conflito de interesse
O autor recebeu financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) durante seu doutorado para pesquisas em Genética do Desenvolvimento evolutivo. Atualmente, o autor não recebe mais financiamento dessas agências.
Referências:
Artigo publicado originalmente na revista Nature em 14 de abril de 2025
1. Vieira, J. Dear US researchers: break the outrage addiction. I survived the besieging of science. So can you. Nature (2025) doi:10.1038/d41586-025-00943-1.
2. Feitosa, N. M. et al.Molecular testing and analysis of disease spreading during the emergence of covid-19 in Macaé, the Brazilian National Capital of Oil. Sci
Rep11, 20121 (2021).
Depois de a Pró-reitoria de Pessoal (PR-4) indicar a possibilidade de os professores substitutos ficarem sem receber o reajuste no início de maio, uma força-tarefa dos servidores da pró-reitoria conseguiu garantir o lançamento da recomposição salarial para todas as categorias. Esforço que se estendeu ao longo do último fim de semana. O aviso oficial aconteceu na segunda-feira (14), com a garantia de que nenhum trabalhador deixará de receber o aumento de 9% e pagamento dos valores retroativos a 1º de janeiro.
A iniciativa aconteceu a partir do pleito da AdUFRJ, levado ao Conselho Universitário de 10 de abril. No mesmo dia, à tarde, a diretoria se reuniu com a PR-4 para apresentar a demanda e entender a complexidade da tarefa. O pedido do sindicato foi para que todos os professores substitutos tivessem o reajuste incluído nesta folha de pagamento. A pró-reitoria afirmava que a tarefa não seria possível pelo exíguo tempo para o lançamento manual dos dados, mas desde o primeiro momento se mostrou preocupada com a questão.
Além dos substitutos, as aposentadorias e pensões e servidores de natureza especial também ficariam inicialmente de fora do reajuste na folha de abril. Isto porque os lançamentos precisavam ocorrer manualmente para mais de 700 pessoas, fora as aposentadorias e pensões. Apesar de compreender as dificuldades do curto prazo, a diretoria fez um apelo para que os professores financeiramente mais vulneráveis não fossem afetados.
“Entendemos que somos representantes de toda a categoria na UFRJ, porém, por princípio de justiça distributiva, nos preocupamos particularmente com os mais vulneráveis”, afirma a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart. “O documento entregue à PR-4 reafirma os mesmos princípios constantes na carta que entregamos para a ministra Esther Dweck (veja mais na página 5): nosso compromisso em buscar melhorias para a carreira, com foco em sanar as desigualdades existentes e com atenção aos segmentos menos valorizados”.
A docente elogia a atuação dos servidores da PR-4, pelo empenho e compromisso com todos os colegas. “Sem dúvidas, os profissionais da Pró-reitoria de Pessoal têm grande responsabilidade nessa conquista que é de todos. Eles são os grandes protagonistas dessa força-tarefa que objetivava não deixar ninguém para trás”, observa. “Em nome da diretoria da AdUFRJ, manifesto mais uma vez os nossos sinceros agradecimentos”, celebra Mayra.
Superintendente de Pessoal, Rafael Pereira conta que o sistema “não foi 100%”, devido aos muitos acessos simultâneos concentrados em pouco tempo. Mas o aumento do prazo dado pelo MGI, de um dia, permitiu a conclusão dos trabalhos. “A equipe somente desmobilizou o estado de prontidão após o recálculo da folha, realizado durante a terça-feira (15) para preparar a prévia”, diz. “A reação foi de alívio e satisfação pelo dever cumprido”.
Pró-reitora de Pessoal, Neuza Luzia Pinto também destaca o compromisso dos servidores em dar conta de uma demanda tão extensa, num prazo tão curto. “A equipe conseguiu concluir os lançamentos não porque foi pressionada, mas porque tem extremo compromisso com a universidade e todos os servidores desta casa”, avalia. “Esse episódio demonstrou o empenho, a capacidade, a dedicação, o senso de solidariedade e o espírito público dos nossos servidores”.
Ela explica que quando compreendeu que haveria um problema no lançamento dos pagamentos reajustados, buscou informar a todas as instâncias para que houvesse ciência e também uma possibilidade de resolução. “Ficamos todos muito apreensivos. Nossa equipe sempre faz esses lançamentos manuais, mas normalmente temos entre 10 e 12 dias para concluí-los. Desta vez, o Ministério (da Gestão e Inovação em Serviços Públicos) nos deu apenas quatro dias, contando com o final de semana”, explica.
Neuza conta que houve intenso preparo das equipes nos últimos meses e a recente aquisição de novos computadores contribuiu para que os lançamentos fossem realizados dentro do prazo. “Felizmente, os computadores recém-adquiridos fizeram diferença positiva, pois os que tínhamos até o mês passado não dariam conta”.
(Colaborou Kelvin Melo)
Veja a íntegra do
comunicado da PR-4:
“Como informado pelo MGI, a folha de pagamento será fechada hoje, 14/04/2025.
As equipes da PR-4 envolvidas com o fechamento da folha de pagamento e com a admissão dos novos concursados conseguiram concluir manualmente o lançamento do pagamento com o reajuste, incluindo os valores retroativos a janeiro, dos professores substitutos, do NES, dos novos concursados e também das pensões e aposentadorias.
Os reajustes dos demais servidores estão sendo implementados diretamente pelo MGI.
Assim, todas as categorias, sem exceção, receberão os salários reajustados, inclusive o retroativo a janeiro, na folha de abril, a ser paga até o segundo dia útil de maio.
Esse resultado só foi possível porque as servidoras e os servidores da PR-4, mesmo sem poder receber hora extra, trabalharam durante todo o final de semana, conseguindo concluir os lançamentos nesta segunda-feira.
É importante ressaltar que esse trabalho foi realizado exclusivamente pelo compromisso, responsabilidade e respeito que os servidores da PR-4 têm com os trabalhadores, aposentados e pensionistas da UFRJ.
Parabéns a toda a equipe!”
REAJUSTE NA PRÉVIA DO CONTRACHEQUE
Dados podem ser acessados via SouGov
Desde a última quarta-feira (16), os servidores começaram a visualizar a prévia do contracheque de abril, que será pago para os servidores da UFRJ até o segundo dia útil de maio. Nele já consta o novo valor do vencimento básico, reajustado em 9%, e as diferenças acumuladas desde 1ºde janeiro, represadas pelo atraso na aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2025.
Com a sanção da LOA, foram atualizados mais de 9 mil cargos e reposicionados cerca de 800 mil servidores. Os docentes podem acessar as informações e a prévia do contracheque pelo aplicativo ou site SouGov para verificar os valores.
Denise Pires de Carvalho, presidente da Capes e ex-reitora da UFRJ, ministrou aula inaugural da pós-graduação na última terça-feira, dia 8 de abril, no Centro de Ciências da Saúde. A palestra lotou o auditório Quinhentão. Em mais de duas horas e quase 70 slides, Denise mostrou os rumos do sistema nacional de pós-graduação e apresentou o quadro da pós na UFRJ.
Os dados indicam que o Brasil ainda precisa amplia muito seu sistema de pós-graduação para se equiparar ao conjunto de países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Há urgência em reduzir a desigualdade regional entre os programas.
Os números desmontam a falácia da extrema direita de que o país “forma muitos mestres e doutores”. Na realidade, o Brasil forma duas vezes menos doutores do que a média dos países que compõem a OCDE. A média brasileira é de 11,2 por cem mil habitantes, enquanto a média OCDE é de 22,9 por cem mil habitantes.
Outros dados apresentados por Denise Pires de Carvalho dizem respeito à queda de bolsas de programas de conceitos 6 e 7 no país. O impacto negativo se deve à ociosidade desses benefícios, que ficaram em torno de 80% de utilização. “O modelo recompensa programas que tenham taxas mais altas de utilização de suas bolsas, que estejam em regiões com menor IDH e tenham mais titulações de mestres e doutores”, explicou. “São 10 mil bolsas ociosas em todo o país. Orçamento que não é executado, é cortado”, afirmou.
As limitações orçamentárias também foram tema da aula inaugural. “Para aumentar em 5% o valor das bolsas, com o orçamento atual, teríamos que cortar quatro mil benefícios e nós não queremos cortar número de bolsas”.
Pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, o professor João Torres elogiou a apresentação da presidente da Capes. Segundo Torres, a UFRJ está num bom caminho em relação às bolsas recebidas pela agência de fomento. “De todas as agências federais, a Capes é a mais importante para a PR-2, pois ela não só financia, mas cuida da qualidade da pós-graduação”, apontou. “Temos uma relação muito próxima”.
No entanto, o pró-reitor revelou algumas preocupações. Uma delas, as bolsas ociosas. “Nós reconhecemos o esforço da agência na redistribuição de bolsas ociosas. É um problema para nós, mas, de fato, é recurso público que não pode ficar parado”, defendeu.
Outra preocupação do dirigente é em relação à queda na média das defesas de mestrado e doutorado na UFRJ. “Vamos ter a avaliação quadrienal e essa redução certamente aparecerá. Ainda não sabemos como impactará os programas, que podem ter redução de bolsas e até queda seu conceito”, apontou. “Acreditamos que essa redução ainda é resquício da pandemia, período em que todos os prazos de defesa foram ampliados em dois anos”, disse.
Antes de iniciar a aula inaugural, a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, entregou uma carta da diretoria do sindicato cobrando mais bolsas para a UFRJ. O documento aponta perda de 110 bolsas Proex (destinadas a programas 6 e 7) e 99 de Demanda Social (de programas 3, 4 e 5). Embora os cortes se relacionem com bolsas ociosas, o sindicato solicitou que elas fossem remanejadas para outros programas da própria universidade. Veja a íntegra da carta abaixo:
"À Presidente da Capes,
Professora Denise Pires de Carvalho
Saudações cordiais, professora Denise. A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes é uma das mais importantes agências de fomento à pesquisa do país, responsável por 79% das bolsas de pós-graduação distribuídas no Brasil e co-responsável pelo desenvolvimento científico nacional. Há, no entanto, uma demanda retraída gigantesca, inclusive na UFRJ.
Em 2014, a Capes chegou a atender, em média, 42% dos pós-graduandos do país. Em que pese o aumento da inserção de jovens na pós-graduação, houve de fato uma redução dos investimentos e, consequentemente, cortes de bolsas, o que fez cair para 32% a média da cobertura nacional. Hoje, felizmente, vivemos um processo de retomada, com alcance médio a 37% dos mestrandos e doutorandos do país.
Ainda assim, se faz necessária a contínua ampliação do investimento na pós-graduação, com olhar mais cuidadoso para a formação de mestres. É nesta faixa da formação acadêmica que está a menor incidência de bolsas da Capes, cerca de 30%. Os doutores são atendidos em 42%, segundo os dados da instituição.
Na UFRJ o cenário não é diferente. Dos quase 15 mil pós-graduandos na modalidade stricto sensu, somente 3.071 são atendidos com bolsas Capes. Um número bem abaixo da demanda necessária à plena formação desses estudantes. Quando olhamos para a formação de mestres e doutores, apenas 1.642 são atendidos durante o mestrado, enquanto 2.079, são atendidos no doutorado.
No caso das bolsas do Programa de Excelência Acadêmica (PROEX), a UFRJ teve uma perda de 30 benefícios para o mestrado e 80 no doutorado. A instituição também perdeu 99 bolsas de doutorado DS - Demanda Social, destinadas aos programas 3, 4 e 5. Ainda que se tratassem de bolsas ociosas, acreditamos que elas poderiam ser remanejadas para outros programas da própria universidade, ao invés de deixarem de constar do número total da UFRJ.
Os números revelam as limitações orçamentárias pelas quais passam os setores ligados à Educação e à Ciência e são um alerta sobre o quanto a pós-graduação brasileira precisa de apoio e incentivo.
A AdUFRJ está atenta a esta demanda que é de estudantes e professores, pois a pesquisa nacional é feita em grande parte pelos nossos alunos de pós-graduação. Sem eles, não há pesquisa, não há desenvolvimento nacional.A diretoria da AdUFRJ reconhece os esforços da Capes, mas reitera que a ampliação das bolsas é essencial para a valorização de uma pós-graduação comprometida com a qualidade e com a inclusão.
Respeitosamente,
Diretoria da AdUFRJ"
Veja mais detalhes da apresentação da professora Denise Pires de Carvalho
Brasil forma duas vezes menos doutores do que a média dos países que compõem a OCDE
“A pós-graduação é motor do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O Brasil ainda precisa aumentar muito a formação de mestres e doutores. Por ano, nosso país forma dez vezes menos mestres do que a média dos países da OCDE. Em relação aos doutores, em média, nós formamos duas vezes menos por cem mil habitantes, do que a média da OCDE. Estamos em último lugar na formação de mestres e em antepenúltimo em formação de doutores dentre os países-membros. Precisamos de financiamento para mudar esse quadro.”
A UFRJ manteve nos últimos anos a proporção de matrículas de mestrado e doutorado
“Desde 2015, as taxas de matriculados na pós-graduação da UFRJ permaneceram relativamente estáveis, com pequenas oscilações até 2020, quando começa a pandemia. Nos anos de 2021 e 2022 cresce o número de matriculados na pós. Este não é um número que expressa somente as novas matrículas, pois tem relação com a retenção de mestrandos e doutorandos nesse período. Todos os programas prorrogaram prazos, que impactaram também esses números.”
Número de titulações reduziu durante a pandemia. Gráfico demonstra pequena recuperação em 2023
“A capacidade de titulação dos programas é o fator que mais está impactando na distribuição de bolsas, já que a nota não mudou na última quadrienal e o IDH dos locais onde as instituições estão localizadas também não mudou. Nosso cálculo leva em conta a média de titulações nos quatro anos anteriores. Cada programa é avaliado de acordo com a média da sua área. Quem titula mais, ganha um percentual maior no cálculo. Quem titula menos, ganha menos. A UFRJ apresenta uma recuperação em 2023, mas a queda é muito acentuada em 2020, 2021 e 2022.”
UFRJ perderá bolsas em 2025, mas perde menos do que a média do sistema nacional de pós-graduação
“A maior parte dos programas de pós-graduação da UFRJ é de excelência. De todos eles, vinte programas (10%) da universidade devem perder bolsas em 2025. Quatro deles são Proap e 16 são Proex. Apesar do corte, a universidade perde menos do que a média de todo o sistema, que é de 20%. A UFRJ perderá por dois motivos: ou porque titulou menos até 2023, ou porque não utilizou a bolsa. São esses os dois principais critérios para essa conta. Mas temos um quantitativo maior de programas que vão ganhar benefícios.”
Valor investido em bolsas em 2023 e 2024 tem a ver com o reajuste dos benefícios e o aumento das concessões
“A UFRJ é um retrato do Sistema Nacional de Pós-Graduação, porque é uma universidade enorme. A Capes é responsável por 79% das bolsas de pós-graduação em todo o país e essa importância se reflete também na UFRJ. O valor investido tanto no Brasil quanto na universidade aumentou em 2023 e 2024 por dois fatores: aumento no número de bolsas, mas principalmente, aumento do valor dessas bolsas, que foram reajustadas tanto para mestrado, quanto para doutorado, em 2023.”
A Capes privilegia e financia mais os programas de pós-graduação de Excelência Acadêmica
“Não é verdade que a Capes não valoriza os programas de excelência. Cursos 6 e 7 têm uma concessão maior de bolsas, então nossa distribuição é maior para os cursos de excelência. O nosso modelo de concessão privilegia a maior nota. Mais uma vez, a UFRJ reflete a situação nacional, com mais concessões Proex. Em 2024, o custeio para esses programas de excelência é mais de duas vezes maior do que as bolsas Proap concedidas. Apesar de todos os cortes, temos mantido nosso compromisso em fortalecer a pós-graduação.”
Fotos: Fernando Souza‘Para mim, é um orgulho dar uma aula na minha universidade”, disse a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, no início da Aula Magna que abriu o ano letivo da UFRJ, na segunda-feira (14). Ela se emocionou ao falar para colegas e o público em geral no auditório do Quinhentão, no Centro de Ciências da Saúde. “Estou nesta casa há 30 anos. Sou professora. Não sou ministra. Estou ministra. E a gente tem tentado fazer um trabalho de valorização do Serviço Público. Esse é um compromisso que a gente tem”, afirmou.
O reitor Roberto Medronho disse ter sido um prazer muito grande receber a ministra Esther na UFRJ. “A ministra é docente desta casa, do Instituto de Economia, o que muito nos orgulha”, disse. O dirigente ressaltou ainda que Esther tem pais professores: Jo Dweck, da Escola de Química, e Ruth Dweck, da Faculdade de Economia da UFF. “É uma família de pessoas ligada à nossa Academia”, observou.
O tema da palestra era a Transformação do Estado Brasileiro para o Século XXI e Esther abordou os desafios do governo Lula, o trabalho do ministério e as dificuldades enfrentadas na relação com o Congresso. “Todo mundo sabe que a gente está numa situação política que o governo é eleito, mas não necessariamente consegue fazer tudo que gostaria. Esta talvez seja uma das principais lições que tive quando fui para o governo pela primeira vez” — ela trabalhou no governo de Dilma Rousseff, de 2011 a 2016.
Confira a seguir alguns dos principais tópicos abordados na Aula Magna.
INÍCIO DO GOVERNO
“A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, que não é mais uma PEC, teve um papel muito importante. O orçamento de 2023 (do Bolsonaro) era totalmente inadequado. A gente conseguiu recompor o orçamento fortemente. Foram R$ 170 bilhões que permitiram reestruturar o bolsa-família, voltamos a ter investimento público e fizemos as negociações salariais”.
SERVIÇO PÚBLICO
“O Brasil tem um Índice muito baixo em relação aos serviços que presta. A participação do emprego público no país na força de trabalho geral é praticamente a metade da média dos países do OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico): 12,3% contra 23,5%. Não tem essa coisa que o Estado é inchado. Isso é uma falácia para gerar, na verdade, um desmonte do Estado como um projeto. De manter um país desigual, sem capacidade de enfrentar desafios”.
“No Serviço Federal, houve uma perda de mais de 70 mil pessoas desde 2017. Quando a gente chegou, era terra arrasada. Faltava gente em todos os ministérios, em todas as autarquias. Até o final de 2026, vamos contratar mais 20 mil servidores, exceto universidades e institutos. As universidades e institutos têm uma vantagem por conta da regra dos professores e técnicos equivalentes”.
TRANSFORMAÇÃO DO ESTADO
“A transformação do Estado é contínua. Na gestão de pessoas, entendemos que a força de trabalho deve ser profissionalizada. Todos os PLs (projetos de lei) ou MPs (medidas provisórias) que fazemos têm uma parte de transformação de cargos. Estamos transformando cargos obsoletos em cargos novos. No caso dos técnicos-administrativos, fizemos uma coisa que é mais eficiente, que é tornar o cargo genérico. A universidade define o que ela precisa. Para os demais ministérios, não dá para fazer isso”.
ESTABILIDADE
“A estabilidade dos servidores é uma defesa do Estado. Vide o que está acontecendo nos EUA. Quando fui lá, em 2023, o governo Biden estava estudando uma maneira de aumentar a estabilidade dos servidores. Porque eles sabiam que Trump, se fosse eleito, iria fazer o que está fazendo agora”.
“Sobre avaliação do desempenho: as universidades já fazem isso. Muito mais que os ministérios. Isso é uma coisa que a gente está trabalhando. Como a gente faz uma boa análise de desempenho? A estabilidade não pode beneficiar maus servidores”.
DIVERSIDADE
“Nossa ideia é aumentar a diversidade para representar melhor a população brasileira: mais mulheres, mais negros. Quanto mais diversidade no Estado, maior inclusive a diversidade de políticas. Trazem realidades diferentes. Sala de amamentação só está começando a ter agora nos ministérios.”
SOBERANIA DIGITAL
“Estamos muito preocupados com a soberania da área digital, olhando os dados como um grande ativo. Quando a gente chegou, quase todos os ministérios haviam contratado big techs para fazer suas nuvens. Dados, inclusive sigilosos, poderiam estar em qualquer lugar de mundo. Fizemos uma portaria para obrigar que dados com algum grau de restrição precisem estar em uma empresa pública de TI.”
MESTRES
Ao longo da palestra, Esther reverenciou mestres da UFRJ que ajudaram a pensar o Brasil, como o ex-reitor Carlos Lessa (1936-2020) e Heloísa Teixeira(1939-2025). “São pessoas que pensaram o desenvolvimento brasileiro de forma brilhante. E contribuem para que tenhamos esta visão mais altiva do país.”
Maria da Conceição Tavares (1930-2024), do Instituto de Economia, foi citada em três oportunidades. E uma de suas declarações, enfatizou Esther, continua atual, infelizmente: “Economia que não se preocupa com a justiça social é uma economia que condena os povos”.
MINISTRA FALA SOBRE REAJUSTE E BENEFÍCIOS DE SERVIDORES
Antes e durante a aula magna, a ministra ouviu questionamentos de servidores da plateia. Foram demandas relacionadas aos acordos de greve, benefícios e infraestrutura da UFRJ. A titular da pasta do MGI respondeu um a um. “É importante ter este momento aqui e ouvi-los. Graças a um governo que valoriza os servidores, temos espaço para esta discussão”, disse.
A ministra lembrou que, ainda em 2023, foi concedido um reajuste de 9%, após seis anos de congelamento. “O (reajuste) de agora será pago a partir de 2 de maio, porque, vocês sabem, houve um atraso na aprovação da lei orçamentária. Mesmo assim, o governo conseguiu garantir que o acordo valesse a partir de 1º de janeiro”.
Também houve um pleito pela equiparação de benefícios do Poder Executivo com os dos poderes Legislativo e Judiciário. Estes recebem R$ 1.784,42 de auxílio alimentação e auxílio pré-escolar no valor de R$ 1.235,77. Já os servidores do Executivo ganham R$ 1 mil e R$ 484,90, respectivamente.
“Quando entramos, o objetivo era, sim, diminuir a diferença entre os benefícios. Mas existia uma trava (fiscal) que impedia reajustes acima da inflação para todos os Poderes”, disse Esther. “Nós encaminhamos, ano passado, um pedido para que a trava fosse retirada apenas para aqueles que estavam com valor de benefícios abaixo da média. Que era o caso exclusivamente dos servidores do Executivo. O Congresso, porém, não fez isso. Tirou a trava para todo mundo”.
“Com isso, pudemos chegar aos R$ 1 mil de vale-alimentação (do Executivo), mais que dobrando em relação ao início do governo. Só que os benefícios dos demais Poderes também foram aumentados. A gente não tem condições de equiparar. É praticamente impossível. Vamos tentar reduzir um pouco mais a diferença”.
Infraestrutura da UFRJ
A ministra falou que o governo Lula tenta recompor o orçamento. “Sou professora desta universidade. Conheço muito bem as tristezas e mazelas que temos aqui. É uma realidade na UFRJ, em outras universidades públicas e em outros órgãos públicos”, afirmou. Em determinado momento da Aula, a própria Esther apontou uma das goteiras (foto) do auditório do CCS. “Um exemplo claro do problema aqui na UFRJ”, disse.
A ministra falou à reportagem do Jornal da AdUFRJ sobre os acordos do ano passado, o ponto dos professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) e a carreira do Magistério Superior.
Confira a seguir:
Jornal da AdUFRJ - Servidores cobram o cumprimento dos acordos firmados no ano passado. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
Esther Dweck - Os acordos de greve estão sendo todos cumpridos. No tempo que é possível. Dia 2 de maio quase todo mundo vai receber o reajuste, inclusive os retroativos. E muito dos acordos de greve era a criação de grupos de trabalho. Eles estão andando. As pessoas estão cobrando coisas que estão sendo discutidas e serão implementadas ao longo deste ano.
E quanto à isenção do ponto para os professores da carreira de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, que não tem relação com orçamento? O problema não poderia ser resolvido mais rapidamente?
É um decreto presidencial, que está para ser publicado. É uma questão mais da burocracia mesmo, que está atrasada, mas também será cumprida. Não posso dar uma previsão. Como é decreto do presidente, depende dele.
O documento entregue pela AdUFRJ (abaixo) trata da discrepância salarial entre os professores adjuntos — maior parte da categoria — e as demais classes da carreira e solicita que o tema seja discutido em uma próxima negociação salarial...
Os associados foram os que tiveram o menor reajuste, proporcionalmente. Os adjuntos tiveram quase tanto quanto os titulares. Isso era uma preocupação grande dos sindicatos, porque muita gente se aposentou como Adjunto 4. (Nota da Redação: a assessoria do MGI afirmou que enviaria um material para corroborar os argumentos da ministra, mas nada chegou até o fechamento desta edição).
Mas haverá uma política para valorizar adjuntos e associados?
Neste momento, não tem. Os acordos foram fechados. Mas, no próximo governo, podemos pensar.
Após a Aula Magna, a ministra Esther Dweck recebeu da AdUFRJ uma carta com demandas importantes dos docentes. No documento entregue pela presidenta Mayra Goulart e pela vice-presidenta Nedir do Espirito Santo, o sindicato tratou da necessidade de correção da discrepância salarial entre adjuntos e os demais níveis da carreira; a equiparação entre docentes EBTT e os colegas do Magistério Superior na isenção do ponto; e a aceleração dos processos de progressões múltiplas. Além disso, a AdUFRJ cobrou a equiparação dos auxílios de alimentação e pré-escolar dos servidores do Executivo com os dos servidores do Legislativo e Judiciário.
Veja a íntegra do documento, a seguir.
À Exma. Ministra de Estado da Gestão e Inovação em Serviços Públicos
Professora Esther Dweck,
É com grande alegria e honra que a recebemos na UFRJ, universidade em que compartilhamos com a senhora a responsabilidade da docência e da produção de conhecimento transformador.
Aproveitamos a oportunidade para tratar alguns temas que são importantes para os professores desta Casa. Reconhecemos o compromisso firmado por sua pasta e pelo governo Lula no tocante ao cumprimento dos acordos firmados no ano passado e compreendemos os desafios estabelecidos em relação ao orçamento federal. No entanto, precisamos de apoio em relação a demandas já conhecidas por Vsa. Exa. Aqui, algumas delas:
1.Discrepância salarial entre professores adjuntos e demais níveis da carreira.
Apreciamos o esforço realizado para recompor o primeiro nível, que recebeu o maior percentual de reajuste – um acumulado que chega a 43% –, mas os adjuntos, que são exatamente a maior parcela da categoria, tiveram menor recomposição se comparados aos professores associados e titulares. O ganho para titulares chega a 28,24%, com ganho real de mais de 17%, enquanto os adjuntos tiveram ganho acumulado médio de 25%, com ganho real médio, até 2026, de apenas 7%. Acreditamos que este deva ser um tema a ser enfrentado para a correção de distorções, a fim de não penalizar essa significativa parcela de servidores e um dos temas da pauta da próxima mesa de negociação.
2. Equiparação entre EBTTs e docentes do Magistério Superior
Os professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, vinculados às instituições de ensino superior, como é o caso dos docentes do Colégio de Aplicação da UFRJ, desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão e são robustamente qualificados, com mestrado e doutorado na maioria dos casos.
No entanto, ainda recai sobre eles legislação que cobra a marcação do ponto de presença. Ao contrário, os docentes do magistério superior são isentos de cobrança de ponto justamente pela compreensão da dedicação exclusiva e atuação no tripé ensino-pesquisa-extensão. Reivindicamos que seja editada uma Instrução Normativa deste Ministério para que esses professores tenham o mesmo tratamento dispensado aos professores do Magistério Superior.
3.Progressões múltiplas
Por força de ação administrativa movida pela Adufrj, a UFRJ aceita, desde março de 2024, os processos de progressões múltiplas. No entanto, um recente comunicado do MGI às administrações centrais dos órgãos e autarquias instrui que não sejam feitos manualmente pagamentos ou ajustes até que fosse aprovada a Lei Orçamentária Anual de 2025.
O fato gerou a paralisação de processos de progressão, inclusive de progressões múltiplas, em inúmeras universidades federais. Isto porque, a nosso ver, falta uma Instrução Normativa deste Ministério que evidencie o direito às progressões múltiplas e aponte para a desburocratização do processo.
A LOA já foi aprovada, e portanto gostaríamos de solicitar um novo comunicado do MGI estimulando a celeridade dos processos.
4. Equiparação dos benefícios com os demais Poderes da República
Tivemos grande avanço na última negociação em relação ao auxílio alimentação, que passou de R$ 658 para R$ 1.000. Um aumento de 52%. Acreditamos que este foi um primeiro importante passo rumo à equiparação dos benefícios dos servidores dos demais Poderes. Os servidores do Judiciário recebem R$ 1.784,42 de auxílio alimentação. O mesmo valor é concedido aos servidores do Legislativo. Esses profissionais também recebem auxílio pré-escolar no valor de R$ 1.235,77, enquanto o valor destinado aos servidores do Executivo é de R$484,90. Precisamos ser igualmente valorizados. Os benefícios, inclusive, são ainda mais importantes para aqueles de menores salários, o que contribui para minimizar as desigualdades existentes no âmbito do serviço público federal.
Somos convictos de que Vsa. Exa. é sensível a todas essas pautas e esperamos discuti-las em momento oportuno e com maior detalhamento. Desde já pleiteamos uma agenda formal em Brasília, para tratar com maior rigor das pautas acima apresentadas.
Sem mais para o momento, despedimo-nos respeitosamente.
Saudações sindicais,
Diretoria da AdUFRJ
Quinhentos e dez professores substitutos da UFRJ receberam uma péssima notícia esta semana. Ao contrário dos colegas efetivos, eles não terão os salários reajustados no próximo contracheque, conforme determina a Medida Provisória nº 1.286 (leia mais sobre a MP nas páginas 4 e 5). A expectativa é que os pagamentos só sejam normalizados na folha seguinte.
O problema foi causado pela demora no governo na divulgação de orientações sobre os efeitos da MP e na abertura do sistema da folha de pagamento. A pró-reitoria de Pessoal da universidade informou que terá um intervalo de apenas quatro dias — entre 11 e 14 de abril — para a realização de um gigantesco volume de procedimentos administrativos. Entre eles, a atualização dos vencimentos dos temporários e o cálculo das diferenças salariais retroativas a janeiro para os que já estavam contratados pela UFRJ desde o início do ano.
Enquanto os valores dos professores e técnicos-administrativos concursados serão calculados automaticamente pelo governo, os dos substitutos precisam ser calculados e lançados manualmente pela PR-4, um a um, nos sistemas de gestão de pessoas. A pró-reitoria argumenta que não tem condições técnicas para cumprir essa e outras tarefas em tão pouco tempo.
O assunto repercutiu no Conselho Universitário desta quinta-feira (9). Diretor da AdUFRJ, o professor Antônio Solé leu uma carta do sindicato em defesa dos professores substitutos. “A diretoria da AdUFRJ recebeu com surpresa e preocupação a notícia de que os professores substitutos não serão contemplados em maio, mas apenas em junho, com o pagamento do reajuste salarial de 9%, com efeitos retroativos a 1º de janeiro”, disse.
“A AdUFRJ seguirá acompanhando a situação e solicita que a Pró-reitoria de Pessoal redobre os esforços para que nenhuma parcela de trabalhadores da universidade seja ainda mais prejudicada com a demora da efetivação do acordo salarial firmado no ano passado com o MGI (Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos). A defesa salarial é assunto básico do sindicato. Principalmente quando se trata da fatia mais sofrida da categoria”, encerrou (leia a íntegra da carta ao lado).
Superintendente geral de pessoal da universidade, Rafael Pereira afirmou que a decisão tomada foi “a única possível do ponto de vista operacional”. Explicou que, em períodos normais, a pró-reitoria conta com 15 a 18 dias para fazer atualizações na folha contra os quatro dias de agora. “Dia 11 é sexta-feira. E vão fechar na segunda. Na prática, a gente vai ter o final de semana para fazer a inclusão de tudo que é novo. E na UFRJ tudo é grande. O que está sendo feito é no limite da capacidade operacional. Não houve problema de planejamento”, disse.
O superintendente esclareceu também que não é possível criar um mutirão para esta tarefa., proposta levantada pelo coordernador do Sintufrj, Esteban Crescente. “Muitas dessas operações são complexas necessitam de um token. Temos oito pessoas no pagamento e sete no cadastro. E eles vão trabalhar no final de semana e de madrugada, porque o sistema trava”, completou, lembrando que todas as universidades federais e outros órgãos federais estarão acessando o sistema ao mesmo tempo.
PROCEDIMENTOS ADIADOS
Além do reajuste dos servidores, serão adiadas ainda todas as inclusões de abono permanência ou aposentadorias, pensões, licenças e afastamentos no sistema, entre outros procedimentos. Servidores técnico-administrativos de natureza especial, conhecidos como NES — pois não foram incluídos no Regime Jurídico Único em 1990 — também não serão reajustados agora.
Na pequena “janela” de quatro dias do governo, a prioridade da PR-4 será a inclusão em folha de 185 profissionais: 28 servidores nomeados nas últimas semanas e 157 substitutos recém-contratados — estes serão os únicos temporários com os vencimentos atualizados.
NÚMERO DE SUBSTITUTOS
Com a escassez de concursos para novos cargos e a demora na reposição dos quadros que se aposentam, os substitutos se tornaram força de trabalho essencial da UFRJ, nos últimos anos. Os 510 registrados na última folha estavam espalhados por todos os Centros da universidade e pelo campus de Duque de Caxias. E mais 157 serão incluídos na folha de agora. Sem contar com estes recém-contratados,
as unidades com mais substitutos são:
Colégio de Aplicação: 74
Faculdade de Letras: 39
Faculdade de Medicina: 39
Instituto de Física: 28
Instituto de Matemática: 27
Escola de Enfermagem: 26
Fonte: Divisão de Gestão da Informação e Estatísticas de Pessoal
NOTA DA DIRETORIA
A diretoria da AdUFRJ recebeu com surpresa e preocupação a notícia de que os professores substitutos não serão contemplados em maio, mas apenas em junho, com o pagamento do reajuste salarial de 9%, com efeitos retroativos a 1º de janeiro.
Compreendemos que a confirmação do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) aconteceu muito tardiamente, mas reafirmamos que os professores substitutos – grupo mais fragilizado dentre o coletivo de servidores da UFRJ – não podem ser penalizados por medidas tomadas sem o devido planejamento prévio. Se tivesse que ser feita uma opção de prioridade, deveriam ser eles os primeiros, bem como os docentes em início de carreira.
A AdUFRJ seguirá acompanhando a situação e solicita que a Pró-reitoria de Pessoal redobre os esforços para que nenhuma parcela de trabalhadores da universidade seja ainda mais prejudicada com a demora da efetivação do acordo salarial firmado no ano passado com o MGI. A defesa salarial é assunto básico do sindicato. Principalmente quando se trata da fatia mais sofrida da categoria.
“A PRIORIDADE É PAGAR QUEM NÃO TEM SALÁRIO”
Superintendente geral de Pessoal, Rafael Pereira esclarece as dificuldades da pró-reitoria para aplicação dos efeitos da Medida Provisória dos salários na próxima folha.
Jornal da Adufrj - A Medida Provisória é conhecida desde dezembro. Sabendo que ela seria aplicada na próxima folha, não seria possível adiantar esses cálculos para inclusão no sistema?
Rafael Pereira - Não, pois o MGI orientou para aguardar o comando do órgão central. As informações operacionais saíram somente após a aprovação da LOA e foram sendo alteradas até a última reunião no dia 8 de abril. Os cálculos dependem de informações sistêmicas. São muitos detalhes que não podem dar errado. Em termos de folha de pagamento, não dá para “ir adiantando” sem todas as variáveis sob controle.
Quantos funcionários da PR-4 têm o nível de autorização, com token, para realizar esses procedimentos administrativos? É um número razoável para o cotidiano da instituição?
São oito na Divisão de Pagamento e sete na Divisão de Cadastro. É um número suficiente para tempos normais. Nessa área, o que mais falta é computador com alta capacidade de processamento, pois os nossos são muito velhos. Até agora, por restrições orçamentárias, conseguimos substituir apenas um terço da demanda emergencial por máquinas que queimaram.
Por que não priorizar os substitutos, que ganham menos?
A prioridade é pagar quem não tem salário. Afinal, quem ganha zero ganha menos que quem ganha pouco. Além do mais, o volume de trabalho para calcular é maior e pode não dar tempo de fazer nesses quatro dias. Devo lembrar que não são quatro dias brutos, pois o sistema não fica 24 horas direto e, pelo volume de uso simultâneo, cai várias vezes. Outros fatos: não sabíamos que o MGI fecharia a folha por tanto tempo; e não tínhamos a informação que eles não iriam automatizar essa rotina. Só soubemos em 8 de abril.
Como a MP está válida até 2 de junho, a próxima folha, que será paga em 2 e 3 de junho, está garantida?
Sim. Garantida.