A diretoria da AdUFRJ e o setor jurídico do sindicato participaram de uma reunião com o reitor Roberto Medronho e com a pró-reitora de Pessoal, Neuza Luzia, no fim da tarde de terça-feira (3). A extensa pauta tinha uma prioridade: discutir a isonomia entre professores do Magistério Superior e do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. A diretoria pediu que a reitoria se abstenha de cobrar folha de ponto para o EBTT, já que os professores do Colégio de Aplicação também desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão, tal qual os docentes do MS, que são isentos de assinatura de ponto. A reunião foi motivada pela Portaria 996 que regulamenta o monitoramento e registro da frequência dos servidores da UFRJ.
A administração central explicou que precisa que as chefias locais atestem mensalmente a presença de todos os servidores por meio de um documento chamado Boletim de Controle de Frequência Positivo . “É uma cobrança do Tribunal de Contas da União. Do ponto de vista prático, não vai mudar nada para os técnicos e para os docentes – todos os docentes”, frisou o reitor. Neuza completou: “Está para acontecer em breve uma auditoria do TCU e a universidade precisa se preservar e preservar seus servidores”, explicou. “Há uma cobrança sistemática dos órgãos de controle que recai sobre a administração central”.
O advogado Renan Teixeira apresentou um documento com histórico de toda a legislação que rege a carreira docente para subsidiar a tese de equivalência de funções. Vice-presidente da AdUFRJ, Nedir do Espirito Santo reforçou a importância e abrangência do trabalho dos professores do EBTT. “Muitos estão envolvidos em programas de pós-graduação, orientam estudantes de graduação, fazem seu trabalho com excelência. As atividades não se resumem à sala de aula”, disse. O reitor Roberto Medronho e a pró-reitora de Pessoal acolheram a demanda, mas pediram que o parecer jurídico da AdUFRJ fosse encaminhado formalmente para análise da Procuradoria da UFRJ.
O fim da cobrança de ponto para os docentes do EBTT foi um dos pontos de pauta da greve nacional e foi acordado com o governo. A ministra da Inovação, Esther Dweck, e o ministro da Educação, Camilo Santana, já assinaram o processo que libera esses profissionais do ponto eletrônico. O documento está na Casa Civil desde o final de outubro e ainda aguarda a oficialização.
Falta d’água no IFCS
O tema, que foi reportagem da última edição do Jornal da AdUFRJ também foi pauta da reunião com a reitoria. A presidenta Mayra Goulart ilustrou o grau de insalubridade a que professores e toda a comunidade acadêmica do Largo de São Francisco de Paula estão submetidos. “Há alguns comunicados oficiais com dispensa das atividades, mas, mesmo em dias teoricamente normais, falta água”, contou. “Ao longo do dia as torneiras vão secando e no cair da noite os banheiros já estão completamente sem condições de uso”.
O reitor informou que a administração central destinará R$ 17 mil para as obras de troca de 11 barriletes (conjunto hidráulico para distribuição de água) que apresentam vazamentos. “Acreditamos que após essa intervenção e, depois, a impermeabilização da cisterna, o IFCS/IH não terá mais problemas com o abastecimento de água”. Medronho informou que a reavaliação da cisterna será feita nesta semana e a troca das tubulações nos próximos dias.
Também houve cobranças sobre a reforma elétrica do prédio histórico, anunciada pelo prefeito Eduardo Paes. A reitoria, no entanto, informou que não há novidades ainda sobre este tema, mas que segue pressionando a prefeitura para que o convênio para a reforma seja oficialmente celebrado. “Um dos entraves era o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), mas o órgão já autorizou a obra. Agora precisamos que a Prefeitura do Rio finalize seus trâmites para iniciar,mos enfim, esse importante projeto para a nossa universidade”.
Por fim, a diretoria também questionou a administração central sobre as péssimas condições de trabalho dos professores que dão aulas no Palácio Universitário. No final de novembro, o Conselho Regional de Administração encaminhou ofício à reitoria e à AdUFRJ em que denuncia a precariedade das instalações do Palácio. O reitor reconheceu que a universidade vive um drama de infraestrutura que esbarra no orçamento insuficiente. “O ETU está fazendo um levantamento sobre todas as nossas instalações. A estimativa é de que sejam necessários R$ 1,1 bilhão para deixar todas as nossas instalações em perfeitas condições de uso. Nosso orçamento para o ano que vem é maior apenas 4% do que recebemos esse ano. Cobrirá, no máximo, a inflação do período e seguirá insuficiente para nossas demandas”, lamentou o dirigente.
O Parque Tecnológico da UFRJ vai sediar, a partir do próximo ano, um Centro de Inovação para a Neoindustrialização dos integrantes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul são os países-membros originais). O anúncio aconteceu durante um fórum de reitores realizado em outubro, na Rússia, e os detalhes foram informados ao Consuni na semana passada. O reitor da UFRJ participou do encontro.
O objetivo será produzir tecnologias sustentáveis para resolver problemas comuns ao bloco, como mudanças climáticas extremas, desigualdade social e insegurança alimentar. “Esse bloco é muito forte. E, quando entram os outros países, como o Irã e Arábia Saudita, creio que é um polo geopolítico que vai fazer uma mudança no mundo”, afirmou o diretor do Parque, professor Romildo Toledo, que também viajou para a Rússia e apresentou ao Consuni um balanço da viagem.
Uma das funções do novo Centro de Inovação será ajudar a reter talentos no país. “A indústria brasileira caiu na contribuição para o Produto Interno Bruto, de 23% para 11%. Isso afeta o emprego para jovens que formamos. O país hoje forma 55 mil mestres e doutores. E não temos espaço para todo esse contingente”, disse Romildo.“Nós perdemos nossos talentos para EUA e Europa. Nós precisamos estruturar nosso ecossistema para reter talentos. Dar a eles oportunidade de trabalho de qualidade, que eles vibrem de fazer”, continuou o diretor do Parque.
ACORDOS
Além de pavimentar o caminho para o Centro BRICS de Inovação, a viagem da reitoria ao exterior pode render um campus internacional para a instituição.
Superintendente de Relações Internacionais da universidade, o professor Papa Matar informou que foram assinados 12 acordos de cooperação acadêmica com universidades russas e chinesas. Uma das iniciativas em estudo seria a criação de um espaço da UFRJ em Macau. “É muito preliminar ainda. No caso de Macau, a garantia virá da China, que pagará os custos”, disse Papa.
As apresentações sobre as conquistas internacionais da universidade aconteceram na mesma sessão do Consuni em que a crise da Educação Física e dos vigilantes terceirizados ganharam destaque. Apesar dos problemas, o professor Romildo passou uma mensagem de otimismo: “Nós precisamos que a Universidade Federal do Rio de Janeiro seja reconhecida pelo que ela tem de bom. Todos lá fora nos veem assim. E dentro do Brasil também. No fórum de reitores, nós somos extremamente respeitados. Precisamos usar esse capital a nosso favor”.
O DEBATE
Representante dos pós-graduandos, Gabriel Batista comemorou a apresentação. “Temos um cenário em que muitos pós-graduandos vão para a carreira acadêmica por falta de opção. Porque há pouca perspectiva de futuro”, disse. “No cenário de desesperança que vemos hoje, anima ver esse tipo de projeto”.
Já o diretor da AdUFRJ e representante dos Titulares do CCS no Consuni, professor Antonio Solé, utilizou a expressão cunhada pelo economista Edmar Bacha nos anos 70 para falar dos contrastes da universidade. “A UFRJ é uma Belíndia e não precisa ser assim. Hoje foi um exemplo claro; um curso que não consegue oferecer vagas para estudantes e, ao mesmo, tem essa apresentação fantástica. Fomos da Índia para a Bélgica em uma hora de reunião”. O docente sugeriu um debate para ampliar as taxas aplicadas a grandes projetos que revertam em melhorias para o conjunto da instituição.
“É possível aumentar um pouco o overhead, sim, mas isso não resolve a dramaticidade dos problemas que a gente vive”, respondeu Romildo. “Emendas parlamentares são importantes, mas também não resolvem. O que resolve é orçamento. Temos que fazer política, pressão. Todo esse restante é acréscimo”, completou.
A última reunião do Conselho Universitário, na quinta-feira, 28, foi a mais perfeita tradução de uma Universidade Federal do Rio de Janeiro que conjuga esperança com desalento.
Na primeira parte do encontro, estudantes, professores e técnicos listaram os dramáticos problemas de infraestrutura que castigam os campi nos últimos meses. Só na semana passada, tivemos falta de água cancelando aulas no IFCS, adiamento da entrada de calouros na Educação Física e a falta de pagamentos dos terceirizados da segurança.
“Isso é a cada minuto. A questão fundamental é a do orçamento. É difícil fazer planejamento quando você só tem que apagar incêndio”, lamentou o reitor Roberto Medronho. “Vamos precisar ampliar a luta por mais orçamento. Não há como manter nossas atividades”, completou Medronho diante de uma plateia já sem fôlego para tantos cortes.
Já a parte final do Consuni foi de suspirar. Combinou os relatos grandiosos das mais de 6.495 pesquisas apresentadas na Siac com a notícia de que a UFRJ abrigará o Centro de Inovação dos Brics.
“Nós precisamos que a UFRJ seja reconhecida pelo que ela tem de bom. Todos lá fora nos veem assim. E dentro do Brasil também”, conclamou o professor Romildo Toledo, ao fazer o balanço de recente viagem de trabalho da reitoria à Rússia e China, em que trouxe na bagagem a assinatura de mais de 12 acordos internacionais.
O sucesso da Siac, a esperança de Romildo e o desabafo do reitor foram resumidos na análise do conselheiro e diretor da AdUFRJ, Antonio Solé. “A UFRJ é uma Belíndia e não precisa ser assim. Fomos da Índia para a Bélgica em uma hora de reunião”, resumiu, citando o clássico conceito formulado em 1974 pelo economista Edmar Bacha para definir a desigualdade que nos une e nos pune no Brasil.
Não haverá calouros nos cursos de Educação Física e Dança no primeiro semestre letivo da UFRJ em 2025. A drástica decisão foi do Conselho de Ensino de Graduação (CEG) que aprovou, na última quarta-feira (27), a redução de vagas para todos os cursos da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD). Ao invés dos tradicionais 480 ingressos no ano letivo, a unidade oferecerá 240 vagas para entrada somente em 2025.2. A aprovação não foi unânime e se baseou em um relatório encaminhado pela direção da EEFD ao colegiado. O documento foi construído a partir de negociações com a Pró-reitoria de Graduação (PR-1).
Alguns conselheiros argumentaram sobre a repercussão negativa de fechar o primeiro semestre para novos alunos. “Abrimos um precedente perigoso. Parte da nossa resistência é nos mantermos abertos, funcionando”, advertiu Gabriel Batista, representante dos ex-alunos no CEG. “O desfinanciamento da universidade é um projeto. O que se quer é acabar com a universidade”.
Apesar das preocupações, venceu a defesa da direção da unidade. A Escola enfrenta as consequências de dois desabamentos e segue sem vestiários e salas de aula. “Temos estudantes que precisaram pular um semestre e se desperiodizaram, por conta de tudo que enfrentamos a partir de 2023.2. Eu preciso usar 2025.1 para ajustar esses alunos”, justificou o vice-diretor, professor Alexandre Palma.
“Temos que pensar o que é um estudante sair da piscina e pedir para o outro fazer uma ‘toalhinha’ para ele trocar de roupa”, completou a professora Kátya Gualter, diretora da EEFD. “Isso é ultrajante”.
CONSUNI
A suspensão do ingresso de novos alunos no primeiro semestre da EEFD repercutiu também no Conselho Universitário da quinta-feira (28). Melanie Caires, presidente do Centro Acadêmico da Educação Física, lamentou a medida, mas disse não ver outra saída. “Todos estão muito divididos”. A estudante fez a referência de que, se esta medida tivesse sido adotada ano passado, quando houve os desabamentos, ela mesma não teria ingressado na EEFD.
“Mas temos de pensar a que custo. Estou tendo aula de basquete: tem 70 alunos na quadra por quatro horas. Porque a carga horária teve que ser dobrada e só temos um banheiro para usar”, relatou. “Estamos muito prejudicados. Não tem como cursar o ano que vem, nesse sacrifício, de novo”.
As aulas de natação acontecem no Clube dos Empregados da Petrobras. “São 200 pessoas em duas raias, porque as outras são reservadas para os sócios do clube. Muita gente está trancando o curso”.
Pró-reitora de Graduação, a professora Maria Fernanda Quintela informou que a adesão da UFRJ ao sistema SiSU já seria formalizada na quinta-feira (28). Nesta segunda, o sistema reabre e as universidades podem apresentar retificações até a próxima sexta. “Se alguém quiser fazer um recurso ao Consuni deve fazer neste tempo”, disse, quando perguntada sobre a possibilidade de alterar o ingresso para os cursos da Educação Física. Mas não há sessão prevista para esta semana. “Só se for uma sessão extraordinária”, completou.
Ela explicou que o plano original era finalizar o período acadêmico dos estudantes afetados pela crise na EEFD até março do ano que vem. “Foram procuradas todas as soluções. Eles iriam repor as atividades práticas que não foram oferecidas no primeiro período de 2024 agora no período de verão. Como houve atraso das obras no ginásio, precisamos do período de verão para fazer as aulas de 2024.2”, justificou.
A previsão da administração central é que, em março, sejam instalados contêineres que servirão de vestiários e salas de aula. “Os ginásios estão concluídos, iluminados e liberados e entraram em funcionamento esta semana. Já os vestiários vão permitir que os alunos possam usar as piscinas, além das quadras”, destaca. “A partir de agosto, teremos o segundo semestre com a entrada de calouros”.
NOVO CALENDÁRIO
A medida extrema é acompanhada da alteração de calendário acadêmico para os cursos da EEFD. Pela decisão, as disciplinas práticas que foram mais impactadas pelos desabamentos serão estendidas até 28 de fevereiro. Haverá recesso de Natal e Ano Novo e férias em janeiro.
Outra decisão aprovada foi a suspensão do Teste de Habilidade Específica (THE) para o curso de Bacharelado em Dança em 2025. A seleção poderá ser retomada em 2026.
Veja como ficaram as vagas da EEFD para o SISU 2025:
2025.1
• Licenciatura em Educação Física: zero
• Bacharelado em Educação Física (integral - tarde): zero
• Bacharelado em Educação Física (noite): zero
• Bacharelado em Dança: zero
• Licenciatura em Dança: zero
• Teoria da Dança: zero
2025.2
• Licenciatura em Educação Física: 100
• Bacharelado em Educação Física (integral - tarde): 40
• Bacharelado em Educação Física (noite): 50
• Bacharelado em Dança: 20
• Licenciatura em Dança: 20
•Teoria da Dança: 10
Mesmo com orçamento minguado, a UFRJ resiste com garra e excelência. Na semana em que teve a luz e a água cortadas por falta de pagamento, a universidade demonstrou toda sua potência na produção do conhecimento: cresceu em ranking de instituições da América Latina, teve dois artigos publicados em prestigiadas revistas estrangeiras e um de seus docentes eméritos foi escolhido para receber a maior honraria concedida pela Academia Mundial de Ciências.
“Recebi as quatro notícias com muita alegria. Precisamos de pautas positivas. A UFRJ é um patrimônio da sociedade brasileira”, afirmou o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, professor João Torres. “As notícias negativas existem e precisam ser veiculadas, mas existe muita coisa positiva que devemos divulgar para a sociedade. Só imaginem se a UFRJ tivesse um orçamento decente!”.
Se o financiamento continuar aquém do esperado, porém, o dirigente teme que as notícias positivas fiquem cada vez mais raras. “Grupos muito bem formados estão conseguindo sobreviver, a duras penas. Mas claro que isso não vai durar para sempre assim”.
Pelo menos por enquanto, ainda há o que comemorar. O professor Ismar de Souza Carvalho, do Instituto de Geociências, participou de um estudo que estampou a capa da Nature, em 13 de novembro. Ao lado de colegas de outras instituições, ele ajudou a classificar um fóssil de ave descoberto no interior de São Paulo que faz a conexão entre espécies mais antigas e as contemporâneas.
“É quase que o elo perdido entre o que estava na origem de todas as aves há 150 milhões de anos com as do tempo presente”, disse. O Navaornis hestiae, que ganhou esse nome como homenagem ao seu descobridor, o professor William Nava do Museu de Paleontologia de Marília (SP), é um grande achado. “Eu diria que é uma chance em um milhão de encontrar um material como esse. O fóssil é uma das claras comprovações de que a evolução existe. E que, ao longo do tempo, algumas formas de vida persistem e outras desaparecem”.
A pesquisa demorou dois anos para ser concluída e inovou com a tecnologia de análise. “Só foi possível se chegar a essas conclusões porque não foram utilizados os métodos clássicos do estudo paleontológico. Foi feita uma tomografia de todo o objeto. Não houve preparação mecânica, pois os ossos são muito frágeis. O método de estudo foi fundamental para o sucesso dos resultados obtidos”, afirmou.
Sucesso que o professor Ismar espera repetir em futuros projetos, se as políticas governamentais permitirem. “Em função das limitações estabelecidas pelo teto de gastos, isso faz com que nos vejamos em enormes armadilhas. Ficamos sem condições de produzir mais conhecimento ou o conhecimento é produzido com enorme dificuldade”, lamenta.
Já a professora Christine Ruta, do Instituto de Biologia e coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, publicou um artigo na revista Nature Communications em 18 de novembro. Resultado de seis anos de pesquisa, o trabalho contou com a colaboração de pesquisadores de diversos países. “O estudo revela como minhocas marinhas regeneram tecidos danificados e abre caminhos para novas descobertas na biologia”, afirma. “A capacidade de regenerar tecidos perdidos é um fenômeno fascinante observado em muitos organismos, mas os motivos pelos quais algumas espécies conseguem realizar esse processo com tanta eficiência ainda são pouco compreendidos”, explica.
No caso das minhocas marinhas (anelídeos poliquetas), o segredo está em um processo chamado “desdiferenciação celular”, no qual células maduras retornam a um estado semelhante ao de células-tronco, permitindo a formação de uma nova zona de crescimento em poucas horas. “Essas descobertas não apenas ampliam o conhecimento sobre a biologia da regeneração, mas também abrem novas possibilidades para pesquisas em medicina regenerativa e biotecnologia”, diz.
Embora não tenha enfrentado dificuldades orçamentárias para a conclusão do trabalho — que contou com colaborações internacionais — a pesquisadora não tem dúvidas de que poderia fazer mais se a UFRJ e a Ciência nacional apresentassem financiamento adequado. “A escassez de recursos nos obriga a limitar nossas pesquisas, deixando iniciativas valiosas apenas no papel. A pesquisa que realizo exige fomento contínuo, envolvendo equipamentos de alta resolução, técnicos especializados, reagentes específicos e infraestrutura, como um biotério, indispensável para o trabalho com organismos vivos”, exemplifica.
AVANÇO EM RANKING
Os artigos dos professores Ismar e Christine certamente irão contribuir para futuras avaliações da universidade em rankings nacionais e internacionais nos quais a UFRJ já se destaca. Na manhã de 12 de novembro, pouco antes dos primeiros cortes de energia, a instituição celebrava um avanço significativo na classificação realizada pela revista inglesa Times Higher Education para a América Latina: a maior federal do país saiu de uma modesta 11ª posição no ano passado para o terceiro lugar — atrás apenas da USP e Unicamp.
Coordenadora geral do Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho (GID) da universidade, a professora Jacqueline Leta atribui parte do sucesso à profissionalização do próprio GID, criado na gestão da ex-reitora Denise Pires de Carvalho. “Existe essa equipe voltada para a coleta, organização e envio dos dados aos organizadores dos rankings”, explica. “Temos que gerar muitos desses indicadores. É todo um processo de garimpagem e tratamento das informações”.
Por outro lado, o THE é um ranking de indicadores complexos, com muitas variáveis. Uma melhor compreensão sobre o salto da UFRJ precisa considerar o desempenho em seus principais eixos, como o de citações das pesquisas. “Olhando os números, no eixo de citações, houve uma melhora muito forte (de 45,2 para 70,7). E esta parte pesa 10% da nota”, afirma Jacqueline. Além disso, a docente destaca que é preciso observar a situação das demais universidades. “É possível que algumas instituições que estavam à frente tenham piorado em algum ou vários desses indicadores”, diz.
Questionada se os orçamentos seguidamente rebaixados poderiam se refletir em retrocessos nos próximos rankings, a docente arriscaria dizer que sim, mas com ressalvas: “Se a gente imagina que uma parte do ranking tem a ver com produção científica que demanda recursos, é possível, sim. Mas é preciso esperar para ver”. Jacqueline lembra que o ranking recém-divulgado trabalha com dados referentes a 2022. “Há dois anos, também estávamos com dificuldades orçamentárias”.
PROFESSOR PREMIADO
Outra conquista para a universidade na semana que passou foi o anúncio da premiação do professor emérito Luiz Davidovich. O docente do Instituto de Física receberá, no próximo ano, a medalha TWAS, honraria concedida pela Academia Mundial de Ciências (TWAS, na sigla em inglês) aos pesquisadores que impulsionam a ciência e a tecnologia globalmente.
“Fiquei muito contente com a premiação, em particular, pela origem dela. A Academia Mundial de Ciências é uma instituição que contribui para reduzir a distância entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. É a Ciência vencendo as barreiras do preconceito e do medo”, disse Davidovich.
Ciência que, no Brasil, preocupa. “Tivemos com Lula um progresso em relação ao governo anterior, com a liberação dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e um reajuste das bolsas de mestrado e doutorado”, explica o ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências. “Por outro lado, os recursos para as universidades federais estão muito reduzidos. É inacreditável que a eletricidade da UFRJ seja cortada por falta de pagamento”, completa Davidovich.