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Entre anúncios de impacto internacional imediato, como a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), e de largo alcance interno, como o fechamento de agências e programas que atingem mais de 9 mil servidores, o pacote anticiência de Donald Trump assombra o mundo pelo obscurantismo e a truculência. Assim como ordenou por decreto retirar referências às temáticas LGBTQIA+ e de equidade de gênero de bancos de dados e sites oficiais, o mandatário norte-americano suspendeu programas de ajuda humanitária e pesquisas relacionas às mudanças climáticas.

Também por meio de decreto, Trump “decidiu” que, agora, os Estados Unidos reconhecem apenas os gêneros masculino e feminino, e que passam a ser proibidas palavras e expressões como “discriminação”, “racismo”, “minorias” e “inclusão”. Veja a seguir algumas das medidas que vão nortear a política para a Ciência da mais poderosa nação do planeta pelos próximos quatro anos.


WhatsApp Image 2025 02 14 at 15.24.10 1SAÍDA DA OMS E RUPTURA COM ACORDO CLIMÁTICO DE PARIS
• Os EUA se retiram da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, pela segunda vez, do acordo climático de Paris. Assinado por diversos países, o tratado tem como objetivo reduzir as emissões de gases do efeito estufa e limitar o aquecimento global. Trump já havia retirado o país do acordo em seu primeiro mandato, mas a decisão foi revertida por Joe Biden em 2021.

CORTE DE RECURSOS DE PESQUISA E CONTROLE DA IMPRENSA
• Órgãos como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) e os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), passam a atuar com restrições como a suspensão da publicação de relatórios e comunicados, a proibição de contato com a imprensa e o congelamento de recursos e programas de pesquisa.

VETO DE EXPRESSÕES INCLUSIVAS EM ARTIGOS CIENTÍFICOS
• Pesquisadores do CDC foram instruídos a não publicar relatórios ou estudos científicos que contenham palavras consideradas “proibidas” ou problemáticas pela administração Trump, como “gênero”, “LGBT”, “transgênero”, “diversidade” e “inclusão”. Um e-mail da direção da agência aos pesquisadores no fim de janeiro trazia até um texto pronto para que eles justificassem os pedidos de retratação de artigos já submetidos para publicação em revistas científicas: “Em consonância com a Ordem Executiva do Presidente intitulada ‘Defendendo as Mulheres do Extremismo da Ideologia de Gênero e Restaurando a Verdade Biológica ao Governo Federal’, estou me retirando como coautor desta submissão”.

RETIRADOS DO AR SITES OFICIAIS SOBRE VACINAS E DSTS
• Bancos de dados e páginas oficiais com orientações sobre vacinas, vírus e doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo, foram retirados “preventivamente” do ar para serem revisados de acordo com as diretrizes da administração trumpista.

BANIDAS REFERÊNCIAS A COTAS RACIAIS E POLÍTICAS DE GÊNERO
• Órgãos oficiais retiraram de suas home pages referências a políticas de igualdade raciais e de diversidade de gênero.

REDUÇÃO ORÇAMENTÁRIA EM PROGRAMAS AMBIENTAIS
• Agências como National Science Foundation (NSF), National Institute of Health (NIH) e National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) sofreram cortes orçamentários severos, por um período inicial de 90 dias. O NIH anunciou mudanças na política de bolsas, reduzindo o limite de gastos com “custos indiretos” para 15%. Esses custos englobam energia, água, laboratórios, equipamentos e equipe administrativa, por exemplo. O impacto imediato é de US$ 4 bilhões. A medida entraria em vigor na segunda-feira (10), mas foi suspensa por liminares da Justiça em 22 estados. O governo deve recorrer.

AFASTAMENTO DE SERVIDORES DOS PROGRAMAS DE DIVERSIDADE
• Fechamento dos programas de diversidade do governo federal, reunidos na agência DEIA (Diversidade, Equidade, Inclusão, Acessibilidade), com a colocação dos funcionários em licença remunerada.

SUSPENSÃO DE PESQUISAS SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS
• Suspensão das pesquisas que envolvam mudanças climáticas, políticas de igualdade racial e políticas LGBTQIA+, entre outros temas. “A partir de hoje, a política governamental dos Estados Unidos é que existem apenas dois gêneros: masculino e feminino”, afirmou Trump em discurso no Capitólio, após tomar posse.

FECHAMENTO DA AGÊNCIA GOVERNAMENTAL USAID
• O presidente confirmou no dia 4 de fevereiro que vai fechar a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). Segundo a ONU, o órgão é responsável por cerca de 40% de toda a ajuda humanitária no mundo.

PROIBIÇÃO DE PALAVRAS EM DOCUMENTOS OFICIAIS
• Há uma lista de palavras proibidas em documentos oficiais. Um relatório publicado pelo Washington Post, com base em informes internos da NSF, lista os termos “Mulheres”, “Gênero”, “Diversidade”, “Discriminação”, “Igualdade”, “Discurso de ódio”, “Racismo”, “Minorias”, “Trauma” e “Inclusão”. Mas a lista é bem mais ampla, como se pode ver pelo exemplo da “revisão” feita no projeto original da UFMG.

MAYRA GOULART: “SINDICATO DEVE SER ESPAÇO DE ACOLHIMENTO NA ERA TRUMP”

Para a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, o cerco à Ciência e aos cientistas promovido pelo governo Trump tem também como alvo os servidores públicos, e vai exigir união do campo progressista. “Serão dias difíceis, precisamos estar juntos. Nesse cenário, a AdUFRJ e os sindicatos são locais de acolhimento e defesa dos professores e professoras”, diz Mayra.

Na terça-feira (11), Donald Trump assinou mais um decreto que afeta a administração federal norte-americana. A medida amplia os poderes do novo Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), comandado pelo bilionário Elon Musk e, entre outras diretrizes, condiciona novas contratações por agências federais a consultas ao departamento, que terá indicados em todos os setores da administração. Mais de 9 mil funcionários federais dos EUA já foram afetados pelos cortes anunciados pelo governo Trump.

Pesquisadora e professora do IFCS/UFRJ, Mayra Goulart acredita que a volta de Trump ao poder estimule a perseguição ao campo progressista, inclusive no Brasil e, sobretudo, com a aproximação das eleições presidenciais do ano que vem. “Está sendo incentivada a delação, principalmente em relação a pesquisas que tratem do núcleo de diversidade e equidade. Eu sou uma cientista, trabalho na universidade e penso que isso está no nosso horizonte. Não é algo que está acontecendo só nos Estados Unidos e, portanto, muito distante de nós”, alerta.

A presidenta da AdUFRJ menciona casos concretos de monitoramento e perseguição de pessoas ligadas ao campo progressistas no Brasil, como o da
professora Lígia Bahia (destaque da edição anterior do jornal) e dá outros exemplos.“Aqui nós temos a ocupação de cargos em secretarias de estaduais de Educação e de Ciência e Tecnologia por quadros do PL. É um processo que está em curso e que pode ser radicalizado até as eleições do ano que vem. Nós, do campo progressista, temos que nos unir e pensar em estratégias para enfrentar isso. O sindicato é um dos poucos espaços aos quais estes cientistas poderão recorrer. Ainda mais um sindicato como a AdUFRJ, que está conectado às entidades científicas e que tem entre seus diretores e ex-diretores pessoas ativas na comunidade científica”.

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