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WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49 2Foto: Fernando Souza"Meu pai estava na rede, no jardim de inverno, ouvindo ‘A hora do Brasil’ no rádio portátil, num dia de abril de 1969, e eis que ele ouve a notícia de que ele e minha mãe tinham sido aposentados da UFRJ pelo AI-5”, escreveu a professora Angela Leite Lopes, da Escola de Belas Artes, no livro “A vida em outro lugar: crônica do exílio”.
Na obra, recém-lançada pela Editora UFRJ, Angela relata como foi acompanhar o pai, o físico José Leite Lopes, e a mãe, a matemática Maria Laura Lopes ao exterior, fugindo dos horrores do autoritarismo.
“Uma coisa é a notícia do cientista, do militante, do guerrilheiro, mas o que acontece com aquela família? Tem esse outro lado que acaba criando uma visão diferenciada da notícia do jornal e do arquivo”, afirmou Angela durante o lançamento do livro, na Casa da Ciência, no último dia 4.
São os livros lidos, os filmes vistos, os amigos com quem brincou que integram a narrativa. É a descrição do dia na escola em solo estrangeiro e a troca de cartas com os familiares que ficaram no Brasil ou com o próprio pai, quando estavam em países diferentes. “Procurei me ater ao exílio visto pela criança”, completou a autora.
O livro conta a história de dois exílios: o primeiro, a partir de 1964, quando o golpe militar é deflagrado. Angela tinha apenas seis anos. José Leite Lopes aceitou um convite para lecionar na Faculdade de Ciências de Orsay, em Paris. Mas a jornada é precedida de um susto: quando foi ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) para tirar o passaporte, acharam que estava tentando fugir do país e o prenderam.
Não ficou nem uma noite inteira na cadeia. Foi solto graças à intervenção de um general, também professor do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, que Leite Lopes ajudou a fundar). O físico conseguiu viajar meses depois para a França e só retornou ao Brasil em 1967, quando reassumiu suas funções na universidade e no próprio CBPF.
O trecho do livro falando da “Hora do Brasil” marca o início do segundo exílio, bem mais difícil, para os Estados Unidos. “As passagens foram compradas em nome do adido científico (do consulado americano) e ele ainda aconselhou meu pai a não contar para ninguém que estava indo embora”, diz outra passagem da publicação.
Com a experiência de ter acompanhado as dificuldades dos pais em tempos tão duros, Angela explicou que a defesa da democracia nos dias atuais foi uma das principais razões para escrever as memórias de sessenta anos atrás (veja mais na entrevista abaixo). “Importante falar sobre isso para que vejam que não são, assim, terroristas ou não sei o quê. São pessoas, né? Com suas famílias, com seus afetos. Esse livro também é por conta disso”.

LEMBRAR PARA NÃO ESQUECER
Uma das pessoas que estimularam Angela a escrever o livro foi Eurídice Figueiredo, sua professora em 1976, na Aliança Francesa, e hoje integrante do Programa de Pós-Graduação em Letras - Estudos de Literatura, da Universidade Federal Fluminense.
“Dei muita força para Angela, porque esses depoimentos são importantes para as pessoas saberem como a ditadura afeta as famílias, como afeta todo mundo”, disse Eurídice, durante o lançamento da obra.
A professora, que publicou o livro “Mulheres contra a Ditadura — escrever é (também) uma forma de resistência”, em 2024, destaca que obras como essa seguem bastante atuais: “É importante que isso seja divulgado, porque a gente viu aqui uma tentativa de golpe (em 2023). Eles estão por aí”, completou.
Diretor da Editora UFRJ, o professor Marcelo Jacques também celebrou o lançamento. “Foi um livro que a editora abraçou. As pessoas fizeram tudo com muito carinho, com muito amor. Também é um pouco da história da UFRJ que é contada aqui”, disse.

ENTREVISTA I ANGELA LEITE LOPES, Professora Titular da Escola de Belas Artes

Jornal da AdUFRJ - Qual a motivação da senhora para escrever este livro?
Angela Leite Lopes
- Durante a eleição da Dilma e do Aécio Neves, que foi muito acirrada, minha filha me perguntou: ‘Mamãe, se o Aécio ganhar, vamos morar na França?’. Bateu fundo, assim, a coisa do exílio. Aquilo já ficou na minha cabeça. Depois, houve o impeachment da Dilma e, em 2018, surgiu um convite para discutir como os físicos foram atingidos durante a ditadura, no CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas). Isso me deu um estalo. Percebi que tinha algo para contar, que aquelas memórias de criança tinham a ver para a vida adulta do país hoje. Foi um trabalho que durou de 2019 até 2022. Entreguei o livro para a editora em 2023.

Aqui na apresentação do livro, a senhora fez algumas menções ao filme “Ainda estou aqui”. Quais as semelhanças entre a história de sua família e a de Eunice Paiva?
A grande semelhança é a angústia dessa época. Mas algumas cenas me tocaram muito. No filme, logo quando os policiais acampam na casa dos Paiva, a Eunice pergunta se eles queriam comer algo. Tem um episódio parecido que conto no livro em 1968 ou 1969, quando fizeram uma batida lá em casa. Os policiais pediram que eu, criança ainda, saísse. Minha mãe saiu comigo. Quando a gente voltou, minha avó estava tomando um cafezinho com os dois oficiais que estavam lá. Quer dizer, existe uma civilidade que nós temos que contrasta com a truculência deles.

A senhora encerra o livro expressando alívio com a eleição de Lula, em 2022. Mas a senhora está preocupada com as eleições do ano que vem?
Sim, mas como a Dilma diz, a gente luta todo dia pela democracia. A prisão dos militares agora foi um grande alento. Importantíssimo.

WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49 8Magno Junqueira
Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Coordenador do Laboratório de Espectrometria de Massa Translacional e Neuroproteômica - LEMTEN

 

A universidade pública brasileira vive hoje um conflito profundo entre seu papel social, suas ambições científicas e a realidade do financiamento. De um lado, espera-se que ela seja inclusiva, garanta permanência estudantil por meio de políticas como o restaurante universitário, bolsas e moradia. De outro, cobra-se produtividade científica de padrão internacional, inovação, patentes, empreendedorismo e impacto econômico. O problema central é que essas duas missões vêm sendo exigidas sem o financiamento compatível com nenhuma delas. Desde 2018, o orçamento discricionário das universidades federais, que sustenta laboratórios, contratos de limpeza, segurança, energia, insumos e assistência estudantil, sofreu cortes severos em termos reais. Em vários períodos, as perdas ultrapassaram 40%. Embora tenha havido recomposições parciais recentes, a instabilidade orçamentária tornou o planejamento de médio e longo prazo praticamente inviável. Não se faz ciência de fronteira com orçamento intermitente.
WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49 9O debate sobre o “bandejão” é emblemático. Ele consome parcela visível do orçamento, mas não é um luxo: é política de permanência. Sem alimentação subsidiada, estudantes de baixa renda simplesmente abandonam a universidade. Cortar o RU não gera eficiência; gera exclusão social. Ao mesmo tempo, enquanto se financia corretamente o acesso, falta investimento estrutural em infraestrutura científica, manutenção predial, atualização tecnológica e pessoal técnico.
Sobre o professor universitário, a contradição é ainda mais aguda. Além de ensinar e pesquisar, passou a ser pressionado a fazer extensão, ser empreendedor, captar recursos, gerar patentes e criar startups. Porém, grande parte das universidades não dispõe de escritórios de inovação estruturados, núcleos de patentes eficientes, apoio jurídico ou administrativo. Exige-se produtividade de “Harvard” com condições de país em austeridade permanente.
Isso nos leva à pergunta central: afinal, que universidade a sociedade quer? Um modelo altamente seletivo, caro, competitivo e globalizado? Ou uma universidade massificada, inclusiva, com forte função social? O erro histórico do Brasil foi tentar impor simultaneamente os dois modelos sem financiar adequadamente nenhum deles.
A universidade é, ao mesmo tempo, instrumento de mobilidade social, produtora de conhecimento estratégico, formadora de profissionais e motor de inovação. Seu retorno para a sociedade não é apenas econômico: é sanitário, tecnológico, cultural, democrático e civilizatório. Cada real investido retorna em forma de médicos, engenheiros, professores, vacinas, tecnologia, pensamento crítico e soberania nacional.
Sem um pacto real de financiamento estável, com previsibilidade orçamentária, proteção das políticas de permanência e investimento em infraestrutura e inovação, a política pública atual empurra a universidade para o sucateamento: nem plenamente inclusiva, nem verdadeiramente excelente.
O dilema não é “comida ou ciência”. O dilema é se o Brasil escolhe, de fato, ter uma universidade pública forte, ou apenas mantê-la funcionando no limite da sobrevivência.

WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49 1A ADUFRJ organiza uma super colônia de férias no Fundão para os dependentes de professoras e professores sindicalizados. Serão dez dias de atividades lúdicas e esportivas: de 19 a 23 e de 26 a 30 de janeiro. As inscrições estão abertas até 9 de janeiro. O filiado poderá reservar no mínimo 5 dias ou optar pelo pacote completo de 10 dias.
A colônia atenderá a crianças e adolescentes, de 5 a 16 anos. Funcionará em horário integral, das 8h30 às 17h, no Clube dos Funcionários da Petrobras (Cepe). Haverá almoço para os participantes. Os custos serão subsidiados pela AdUFRJ. Assim, os sindicalizados arcarão com 30% do valor por criança, que equivalerá a R$ 621,15 para os dez dias, ou R$ 62,11 ao dia. No valor, também estão incluídas duas blusas para cada participante. O custo pode ser parcelado em duas vezes.
Dentre as atividades estão: recreação na água, jogos de cooperação, atividades artísticas e folclóricas, caça ao tesouro, apresentação de mágica e muitas outras surpresas. “A gente trabalha para que elas desenvolvam a autonomia ao longo da colônia de férias. E isso passa também por elas terem um momento para escolher suas atividades”, revela o professor André Coutinho, responsável pela colônia.
As crianças e adolescentes serão divididos em quatro faixas etárias: de 5 a 7 anos; de 8 a 10; de 11 a 13; e de 14 a 16. “Assim cada grupo realizará atividades voltadas à sua idade, interesses e necessidades”, explica André. O docente é formado em Educação Física, com especialização em Natação e em Inclusão. Junto dele estarão outros cinco professores e dois auxiliares. “Todos formados e pós-graduados”, garante. Também haverá uma enfermeira disponível ao longo de todos os dias de atividades.
Entre em contato com Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. e solicite sua ficha de inscrição. Mas corra! As vagas são limitadas!

WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.58.01

WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49Divulgação/Oga MitáA ADUFRJ acaba de ampliar sua cartela de convênios com benefícios aos professores sindicalizados e seus dependentes. A escola Oga Mitá, tradicional instituição da Zona Norte da cidade, está com matrículas abertas em uma parceria inédita com o sindicato. Dependentes de filiados têm 30% de desconto na matrícula e 15% nas mensalidades, desde que pagas até o dia 3 de cada mês. A escola atende da Educação Infantil ao Ensino Médio e tem unidades na Tijuca e em Vila Isabel.
No setor privado de ensino, a escola Oga Mitá se destaca pela atuação e cultura democráticas. Fundada em 1978, seus processos pedagógicos e administrativos têm como base a atuação coletiva. O calendário acadêmico é definido pela equipe escolar, pais e estudantes. Os valores de mensalidade também. “A gente tem um processo de gestão democrática. Semestralmente, a gente faz o planejamento participativo. Esse grupo fez o planejamento para 2026 e definiu o valor da mensalidade. Eu acho que no Rio temos exclusividade nessa metodologia. Chama-se Processo-Projeto Oga Mitá. Não conheço outra escola particular com essa perspectiva”, orgulha-se o diretor e fundador do colégio, Aristeo Leite Filho.
“A gente fez uma escola diferente da que a gente teve. A gente não quer uma escola impostora, impositiva, punitiva”, avalia o diretor. “Se um aluno quebra a vidraça, ele vai para a biblioteca fazer um trabalho sobre quais consequências aquele ato gerou, o que poderia ter acontecido de pior e o que ele fará pra arrumar o que fez. É a conscientização dos atos e a responsabilização na cooperação, na solidariedade”, defende.
A escola resiste a um modelo predatório de ensino, imposto por grandes conglomerados internacionais de educação. “Trabalhamos a consciência ambiental, a educação pela paz, a antiviolência, o antirracismo. Normalmente, são elementos que não aparecem na proposta pedagógica das escolas. A gente integra essas questões sociais e humanitárias na grade curricular”, afirma o diretor.
Aristeo é professor do Departamento de Estudos da Infância, da Faculdade de Educação da UERJ, e professor do curso de Especialização em Educação Infantil da PUC-Rio. A atuação diária na formação de professores e no desenvolvimento de pesquisas sobre educação demonstra que o setor privado tem sucumbido a uma lógica predatória de ensino. “A gente tem visto barbaridades no setor. A qualidade passa pelo equilíbrio pedagógico-financeiro. É isso que norteia esses conglomerados de educação. Não há um compromisso com a formação cidadã”, avalia. “Esses conglomerados compraram as instituições de ensino e as editoras de livro didático”.WhatsApp Image 2025 12 18 at 09.54.49 10DIRETOR: “A gente não quer uma escola impositiva, punitiva” - Foto: acervo pessoal
O diretor conta que manter uma escola independente é um processo difícil, mas necessário. “Resistir é uma luta diária, que passa pelos resultados que a gente tem tido com a formação dos nossos estudantes. Nossos ex-alunos, que retornam com seus filhos e já com seus netos, são resultados desse processo”, acredita Aristeo. “São pessoas que compreenderam que educar crianças é um processo coletivo. A escola não é um prédio. A escola são pessoas. A escola não pode ser encarcerada, não pode ser punitiva. Oga Mitá busca o equilíbrio entre ensinar e educar. Escola boa é onde a gente aprende com relações comunitárias e participativas”.

AFETO E
RESPONSABILIDADE SOCIAL
A escola trabalha três princípios: cooperação, afetividade e autonomia. “A cooperação vai na contramão de escolas que preparam para a competição; a afetividade trabalha o acolhimento e as amizades. Já a autonomia permite a livre expressão dos alunos. Os nossos quadros murais expressam através do registro quem é aquela turma, o que eles gostam, do que têm medo, o que estão fazendo”, conta Aristeo. “É uma escola que expressa essa vivência. A Oga Mitá tem vida”.
O nome Oga Mitá significa, em tupi, oca curumim, a casa da criança. “Esse nome é para reforçar a importância da cultura brasileira, da cultura de quem estava aqui antes de os portugueses chegarem. O nosso nome é um posicionamento crítico e político”, reforça o diretor. “Não formamos o aluno só para passar no Enem. Isso faz parte, mas o cerne é formar o cidadão que respeite o outro, que melhore o mundo, que compreenda que não dá para viver sozinho”, conclui.
A fotógrafa Fabíola Lima, mãe do Antônio, de 7 anos, escolheu a escola justamente pela sua posição político-pedagógica. “O que me faz acreditar no Oga e ter esse encantamento pelo colégio é testemunhar a forma como eles veem a infância. Eles respeitam a criança, ela é ouvida, trabalham sua individualidade”, avalia Fabíola. “A maneira que a escola se posiciona politicamente é outro diferencial. Não há eventos de dia das mães, dia dos pais. A escola consegue fugir da influência do mercado”, conta. “Há forte valorização da cultura afro-brasileira, dos povos originários, e eu vejo o quanto o Antônio se apropria mesmo desses conteúdos”, atesta.
Antônio vai completar cinco anos no colégio. Chegou aos dois anos de idade. “Minha formação inicial é em licenciatura”, conta a mãe. “Quando conheci Oga Mitá, não tive dúvidas de que um dia meu filho estudaria lá. Eu admiro muito como eles conduzem o dia a dia da escola. Confio muito. Trabalham valores inegociáveis de cidadania”.

CARTELA DE CONVÊNIOS AMPLA

A ADUFRJ também possui convênios com outros colégios do Rio e de Macaé, como Meaple Bear Tijuca, Centro Educacional da Lagoa, Creche Escola Amanhecendo, Creche Escola Recriar, Jardim Botânico Educação Infantil e Escola Alpha. Ainda há parcerias com cursos de idiomas, academias, farmácias, home care e outros serviços. Mais informações podem ser obtidas pelo nosso site adufrj.org.br/servicos/convenios. Para solicitar o desconto com algum dos parceiros do sindicato, é necessário enviar e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., com o assunto “solicitação de convênio”.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lançaram nota conjunta em que expressam preocupação com a redução de recursos do CNPq e com a falta de reajuste no valor das bolsas concedidas pela Capes no Projeto de Lei Orçamentária Anual 2026.

A nota, pubicada na última segunda-feira, 15, destaca que apesar de um crescimento de mais de 12% no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), há perdas de investimento nas instituições científicas públicas. "O aumento dos recursos do FNDCT, em especial na modalidade de crédito reembolsável, não tem se traduzido no fortalecimento da pesquisa pública básica. Ao contrário, observa-se um progressivo estrangulamento do orçamento destinado ao fomento não reembolsável, às bolsas de pesquisa e à manutenção das instituições públicas que sustentam a base científica do País", critica a nota.

As entidades ainda pontuam que houve cortes do orçamento destinado ao CNPq e falta de correção do montante voltado às bolsas da Capes. "A verba de fomento do CNPq, essencial para a manutenção de laboratórios, insumos e infraestrutura de pesquisa, foi reduzida em cerca de um terço quando comparada à Lei Orçamentária em vigor. No âmbito do Ministério da Educação, a situação também é alarmante: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), principal financiadora da pós-graduação brasileira, sequer teve os recursos para bolsas corrigidos pela inflação. O resultado é um cenário inequívoco de estagnação do investimento no futuro científico do Brasil", diz trecho do documento.

As presidentas da ABC e da SBPC pedem que o relator da PLOA 2026 apresente emendas para recompor recursos para a pesquisa. "A Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência solicitam respeitosamente que o relator-geral do PLOA 2026, deputado Isnaldo Bulhões Jr., considere a apresentação de emendas que recomponham, ao menos no patamar mínimo, os recursos destinados ao CNPq (R$ 859 milhões), à Capes (R$ 1,5 bilhão) e às Unidades de Pesquisa do MCTI (R$ 243 milhões). Trata-se de uma decisão estratégica para garantir o funcionamento básico do sistema nacional de pesquisa e preservar o futuro científico do País", encerra a nota.

Veja a íntegra do documento:

É PRECISO RECOMPOR O ORÇAMENTO DA PESQUISA PÚBLICA NO BRASIL

“É obrigação e dever do Estado colocar dinheiro em ciência e tecnologia para construir um país soberano”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidir a reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), em 4 de dezembro de 2025. A afirmação sintetiza um consenso nacional: não há soberania, desenvolvimento econômico ou justiça social sem investimento contínuo em ciência, tecnologia e inovação.

Nos últimos anos, graças ao esforço articulado das comunidades científica e industrial junto ao Poder Legislativo, o Brasil avançou ao impedir o contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Esse marco institucional permitiu um crescimento relevante dos recursos destinados ao setor, especialmente no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), celebrado como sinal de fortalecimento do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação (SNCTI).

Entretanto, os números agregados ocultam uma realidade preocupante. O aumento dos recursos do FNDCT, em especial na modalidade de crédito reembolsável, não tem se traduzido no fortalecimento da pesquisa pública básica. Ao contrário, observa-se um progressivo estrangulamento do orçamento destinado ao fomento não reembolsável, às bolsas de pesquisa e à manutenção das instituições públicas que sustentam a base científica do País, pilar indispensável de qualquer estratégia de desenvolvimento tecnológico. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 reflete com clareza essa contradição. Apesar de um crescimento nominal de 12,65% no orçamento do MCTI, os recursos destinados às bolsas de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sofreram cortes. Ainda mais grave, a verba de fomento do CNPq, essencial para a manutenção de laboratórios, insumos e infraestrutura de pesquisa, foi reduzida em cerca de um terço quando comparada à Lei Orçamentária em vigor. No âmbito do Ministério da Educação, a situação também é alarmante: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), principal financiadora da pós-graduação brasileira, sequer teve os recursos para bolsas corrigidos pela inflação. O resultado é um cenário inequívoco de estagnação do investimento no futuro científico do Brasil.

A situação das Unidades de Pesquisa (UPs) do MCTI é igualmente crítica. Historicamente responsáveis por sustentar áreas estratégicas da pesquisa nacional, essas unidades operam hoje com orçamentos profundamente insuficientes, incapazes de cobrir despesas básicas de funcionamento. Tal condição inviabiliza não apenas a expansão, mas a própria continuidade de atividades essenciais à ciência brasileira. Nesse contexto, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em consonância com sua missão histórica de defesa do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), tem atuado de forma contínua na busca pela recomposição orçamentária da pesquisa pública.

Como resultado desse esforço, a ABC e a SBPC articularam, junto a lideranças parlamentares, a construção de emendas voltadas à recomposição dos orçamentos do CNPq, da Capes e das Unidades de Pesquisa. Na Câmara dos Deputados, os parlamentares da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação (CCTI) aprovaram um acréscimo de R$ 500 milhões para a ação de fomento do CNPq (2308 20US) e de R$ 359 milhões para as bolsas (2308 00LV), valores mínimos para adequar o orçamento de 2026 ao fluxo atual de pesquisadores.

No entanto, em função dos limites impostos pelo atual modelo de ajuste fiscal, o relator setorial para Ciência, Tecnologia e Comunicações, senador Beto Faro (PT/PA), aprovou apenas um acréscimo de R$ 16,599 milhões para o CNPq. A situação se agrava porque, no processo de consolidação do PLOA 2026, os recursos originalmente propostos pelo Executivo para o CNPq sofreram um corte adicional de R$ 21,278 milhões, promovido pelo relator-geral, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), com o objetivo de abrir espaço para emendas de relator. Assim, mesmo após o esforço coletivo de recomposição, o CNPq corre o risco de encerrar a tramitação orçamentária com menos recursos do que aqueles inicialmente encaminhados pelo próprio governo.

A condição das bolsas da Capes é ainda mais preocupante. Para atender adequadamente às demandas do sistema de pós-graduação e aos reajustes previstos para 2026, seria necessário um acréscimo de aproximadamente R$ 1,5 bilhão. Contudo, nenhuma emenda com esse objetivo foi aprovada. Ao contrário, a Capes sofreu um corte de R$ 70,447 milhões no ajuste do relator-geral, compensado apenas por um acréscimo residual de R$ 1,8 milhão promovido pelo relator setorial da Educação e Cultura, deputado Rubens Pereira Júnior (PT/MA). O risco, portanto, é de aprovação de um orçamento inferior até mesmo à proposta originalmente enviada ao Congresso Nacional.

No caso das Unidades de Pesquisa do MCTI, o cenário também é severo: das 17 unidades existentes, 15 perderam recursos ao longo da tramitação orçamentária. Levantamento realizado pela SBPC junto às próprias unidades indica a necessidade de um aporte adicional de R$ 242,614 milhões para que seus orçamentos sejam recompostos ao mínimo necessário para funcionamento básico. Esses dados evidenciam a trajetória preocupante a que o sistema de pesquisa pública brasileira está submetido no horizonte de 2026.

Somam-se a esse quadro as dificuldades enfrentadas por universidades e institutos federais, pilares da pesquisa básica e aplicada no País. Com orçamentos comprimidos, essas instituições veem limitada sua capacidade de formar recursos humanos qualificados, produzir conhecimento estratégico e manter o Brasil competitivo em um contexto internacional marcado por rápida automação, transição tecnológica e disputas geopolíticas cada vez mais intensas.

É amplamente reconhecida a necessidade de responsabilidade fiscal. No entanto, o atual modelo de ajuste tem produzido um efeito colateral grave: a compressão do investimento público em ciência, cujo retorno econômico, social e ambiental é amplamente comprovado. A pesquisa científica retorna à sociedade sob a forma de mais saúde, segurança alimentar, proteção ambiental, tecnologias para segurança pública, inovação produtiva e redução de desigualdades regionais. A ciência está presente em todas as dimensões da vida contemporânea, e nunca isso foi tão evidente para a sociedade brasileira.

Diante desse cenário, a ABC e a SBPC reiteram que a definição de prioridades orçamentárias é, sobretudo, uma escolha estratégica de Estado. Se o Brasil pretende assegurar soberania, desenvolvimento econômico e social, redução de desigualdades e melhoria da qualidade de vida de sua população, é indispensável investir de forma consistente na ciência. Não há atalhos para esses desafios.

Por essas razões, a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência solicitam respeitosamente que o relator-geral do PLOA 2026, deputado Isnaldo Bulhões Jr., considere a apresentação de emendas que recomponham, ao menos no patamar mínimo, os recursos destinados ao CNPq (R$ 859 milhões), à Capes (R$ 1,5 bilhão) e às Unidades de Pesquisa do MCTI (R$ 243 milhões). Trata-se de uma decisão estratégica para garantir o funcionamento básico do sistema nacional de pesquisa e preservar o futuro científico do País. Ainda há tempo de restituir o orçamento da ciência brasileira,

 

15 de dezembro de 2025.

HELENA BONCIANI NADER

Presidente da ABC

FRANCILENE PROCÓPIO GARCIA

Presidente da SBPC

 

 

 

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