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O Conselho Universitário começou a votar neste mês de outubro as regras de progressão e promoção dos professores. O debate parece estar longe do fim: em duas sessões, os conselheiros conseguiram avançar em apenas 16 dos 65 artigos da proposta de resolução. Mas algumas decisões importantes para a vida funcional dos docentes já foram tomadas, como a volta das progressões múltiplas, a redução dos documentos comprobatórios de atividades, ampliação e detalhamento das ações de extensão e a valorização da orientação acadêmica.
Confira a seguir, alguns dos principais pontos definidos até o momento.
PROGRESSÕES MÚLTIPLAS
A revisão da resolução sobre o desenvolvimento na carreira docente é ampla, mas tem como ponto de partida uma sentença judicial favorável à AdUFRJ, do fim de 2023, para a volta das progressões múltiplas. O dispositivo garante ao professor o direito de “corrigir” seu posicionamento na carreira, mesmo quando não solicitou a progressão no período previsto. Ou seja, ele pode subir mais de um nível desde que tenha cumprido os requisitos de tempo e produção acadêmica.
As múltiplas já existiam na resolução do Consuni nº 08/2014, que ainda regula o tema na UFRJ, mas foram suprimidas em 2020, após parecer restritivo da Advocacia-Geral da União (AGU). No entanto, graças à ação judicial da AdUFRJ, elas voltaram a acontecer desde março do ano passado. Em cumprimento à sentença, o Consuni aprovou o retorno do dispositivo às regras internas.
MENOS BUROCRACIA
Fruto de muita negociação da AdUFRJ, outra conquista também estará garantida para os docentes na nova resolução: menos burocracia nos processos internos de progressão ou promoção. Quando o texto entrar em vigor, será dispensada a documentação comprobatória de titulação e das atividades que já tiverem sido apresentadas anteriormente em outras progressões e promoções, devidamente registradas nas Unidades ou Órgãos Suplementares.
Ou seja, vai acabar o suplício enfrentado pelos professores de muitas unidades que, mesmo há muito tempo na universidade, são obrigados a apresentar documentos como a portaria de nomeação ou a prova de titulação.
SEM CONFERÊNCIA
Até o momento, o ponto mais polêmico foi a supressão da conferência pública que a universidade exigia para o docente se tornar Titular.
“Quem tem medo da conferência?”, questionou o representante dos Titulares do CCS e ex-diretor da AdUFRJ, o professor AntonioSolé, na sessão do Consuni de 9 de outubro. “Nós, professores, adoramos falar. E você escolhe sobre o que vai falar. Em nome da autonomia universitária, temos que manter a proposta da CLN (Comissão de Legislação e Normas do Consuni, que defendia a manutenção da conferência)”.
Decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, o professor Vantuil Pereira posicionou-se contra a conferência, com base na lei 12.772, da carreira. “A regra garante o direito ao professor de chegar ao topo da carreira. Não cabe à universidade estabelecer impedimento ou barreira para este professor. No caso, a conferência é isso”, disse.
A proposta de eliminação da conferência passou por 20 votos contra 19 e três abstenções.
ORIENTAÇÃO VALORIZADA
A nova resolução inclui a avaliação de orientação e acompanhamento acadêmicos dentro das atividades de ensino de graduação, para efeito da progressão e promoção. O objetivo é valorizar as ações dos professores junto aos estudantes em sua trajetória nos cursos: por exemplo, o aconselhamento de em quais disciplinas o estudante deveria se inscrever em determinado período. Ou seja, uma tarefa diferente da orientação de iniciação científica, de trabalhos de fim de curso, de monitorias ou tutorias, que já constava da resolução de 2014.
AVALIAÇÃO DISCENTE
A avaliação da orientação acadêmica recém-aprovada será mais um elemento da avaliação discente dos professores. Na versão atual, os estudantes se limitam a avaliar o desempenho em sala de aula dos docentes (didática, conteúdo, avaliação). “É uma sinalização para toda a universidade de que a orientação acadêmica é importante”, afirma a professora GeorgiaAtella, superintendente-geral de Graduação. Para a dirigente, a mudança valoriza a uma atividade que pode ajudar a combater a retenção e evasão na UFRJ.
A nova resolução prevê que esta avaliação discente seja centralizada, via Sistema de Gerenciamento Acadêmico (Siga). Mas que, na ausência desta ferramenta, as unidades organizem sua própria forma de participação dos estudantes.
A ferramenta centralizada já existia no texto de 2014, mas não era utilizada pelos alunos. A pró-reitoria de Graduação informa que o módulo foi desativado no primeiro semestre de 2023. “O instrumento de avaliação estava desatualizado, necessitando de uma reestruturação. Um questionário bem formulado é crucial para capturar a qualidade real da atividade docente”, diz Georgia.
“Devemos demonstrar aos estudantes que o feedback deles é uma ferramenta importante para o aprimoramento contínuo, para nós e para as futuras gerações de estudantes”, completa a superintendente. O formulário desta nova avaliação ainda será elaborado, e não há um prazo para implantação.
EXTENSÃO DETALHADA
O novo texto amplia e detalha as atividades de extensão que contam para o relatório apresentado para a progressão ou promoção. A pró-reitora de Extensão, professora Ivana Bentes, avaliou de forma positiva as mudanças. “O professor quer ver a atividade que ele faz descrita ali”, diz, ressaltando que todas as ações devem continuar sendo registradas no SIGA após aprovação nos colegiados das unidades.
A resolução de 2014, por exemplo, prevê apenas a orientação de bolsistas de extensão. Já o texto em tramitação no Consuni acrescenta a orientação de estudantes extensionistas devidamente matriculados no RCS (requisito curricular suplementar) de Extensão ou inclusos no cadastro da ação de extensão como membro de equipe. “A gente sabe que a maioria dos extensionistas não tem bolsa. Foi um avanço reconhecer e valorizar essa orientação”, diz Ivana.
Também poderão constar do relatório as prestações de serviços em extensão. A modalidade, prevista pelo Conselho Nacional de Educação, ainda não havia sido regulamentada na UFRJ. A aprovação aconteceu no Conselho de Extensão Universitária do último dia 29. “Ela segue todos os princípios das demais atividades de extensão, como o caráter público e gratuito”, explica Ivana. “A prestação de serviços deve estar disponível no SIGA já em 2026 para cadastro”, completa.
Rodrigo S. Batalha, professor da Licenciatura em Música da UFRJ desde 2011
Desde o ano passado, cursos de licenciatura lidam com a reorganização curricular das novas Diretrizes do CNE para uma carga horária total de 3.200 horas. Cabe a cada Unidade coordenadora de curso a responsabilidade primária pela reforma, com 1.600 horas do Núcleo de conhecimentos na área e pedagógicos específicos, além de 320 horas do Núcleo de formação em extensão em escolas, ofertado pela própria, mas também por outras Unidades acadêmicas.
Na UFRJ, há dois gargalos a serem enfrentados no projeto em construção. O primeiro é a ampliação do Núcleo comum a todas as licenciaturas, de 880 horas. A Faculdade de Educação, historicamente responsável por essa formação geral, responderia por pouco mais da metade da carga horária, deixando para as Unidades coordenadoras das quase 30 licenciaturas suprirem o restante. O segundo diz respeito ao novo Núcleo de estágio supervisionado de 400 horas ao longo do curso, com início no primeiro período. A Faculdade de Educação se propõe a assumir integralmente esta oferta, mas como não dispõe de docentes orientadores suficientes em todas as áreas, admitiria contar com orientadores de áreas distintas e orientação específica por dois a três períodos da graduação apenas.
Qual seria o impacto disso na excelência acadêmica, nas condições de trabalho e na nota dos cursos justo quando o ENADE passou a avaliar as aulas ministradas por estagiários em campo? No final, o problema todo parece ser um: realocar docentes de áreas estranhas ao curso para tentar cobrir todos os estágios ao custo de ofertar menos carga horária do Núcleo comum. Ainda que boa sob algum ângulo, a alternativa não demonstra respaldo tanto nas Diretrizes, que tratam da articulação entre práticas de ensino e o Núcleo específico (Res. CNE 4/2024, Art. 13, §3º, IV), quanto na Lei Federal de Estágio (2008), que exige orientadores “da área a ser desenvolvida no estágio” (Art. 7º, III). Sobretudo, um programa de estágio genérico, entregue ‘finalizado’ à revelia para cada Unidade coordenadora de curso, sem a construção de um diálogo, inclusive sem ouvir os estudantes estagiários do presente, nasce de uma premissa anacrônica que espelha o tempo em que a licenciatura era um curso complementar aos bacharelados e tudo referente a ela, inclusive o estágio, se concentrava na mesma Unidade, a FE. No século XXI, essa exclusividade na concepção dos estágios deixa de considerar que as Unidades coordenadoras de licenciaturas dispõem de quadros especializados para também conceber e ofertar o estágio do curso que coordenam; e que o Colégio de Aplicação é Unidade central à proposta de estágio de cada curso, vide o Estatuto da UFRJ. Talvez esteja aí a raiz da questão: permitir maior participação democrática.
O momento exige mobilização da comunidade universitária e pode representar a oportunidade de um novo pacto institucional que reafirme a preparação de professores como prioridade da UFRJ (na COTAV em especial) e fortaleça o nosso vínculo com a educação básica. Somando-se ao papel da FE no Núcleo comum, imaginem, com as devidas condições e a articulação da Comissão Permanente de Licenciatura do CEG e do Complexo de Formação de Professores, se a Faculdade de Letras ofertasse disciplina e projeto de literatura para todas as licenciaturas: uma geração de professores leitores e uma nova circulação da literatura brasileira; o mesmo com as Escolas de Música, Belas Artes, Educação Física e Comunicação, em ofertas que impulsionassem repertórios culturais e artísticos na formação comum, e os Museus e outras Unidades acadêmicas nos diferentes campos de conhecimento, inclusive na prevenção ao negacionismo científico a partir da educação, e também em ofertas do NEABI para uma efetiva formação docente antirracista. Esta é a Universidade que (potencialmente) temos.
POLIQUETAS desempenham papel fundamental nos maresTrês mulheres com vidas dedicadas à emancipação feminina e à defesa da Educação e da Ciência emprestam agora seus nomes a três novas espécies de organismos marinhos que podem ser encontrados até 3 mil metros de profundidade no litoral sudeste e sul do Brasil. As novas espécies homenageiam a política Benedita da Silva e as cientistas Bertha Lutz (1894-1976) e Leslie Harris, e foram descritas em artigo de três pesquisadoras da UFRJ, publicado no último dia 17 de outubro no periódico suíço Diversity, especializado em biodiversidade.
Assinado pelas biólogas Roberta Freitas, Carolina Moraes e Christine Ruta, o artigo descreve quatro novas espécies de poliquetas, organismos fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos, e também registra a presença em águas brasileiras de uma outra espécie até então só encontrada no litoral da Argentina. Roberta é aluna de doutorado, e Carolina de mestrado, ambas orientadas por Christine Ruta no Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional. Os estudos foram feitos no Laboratório Taxon, ligado ao Instituto de Biologia da UFRJ.
“Nesse artigo, a gente propõe uma reflexão. A UFRJ mudou muito, há mais inclusão, e isso nos inspira a refletir sobre as novas gerações de cientistas que estamos formando. Roberta e Carolina são duas alunas mulheres e pretas, é um grande orgulho tê-las aqui. Pensamos, a partir dessa reflexão, em homenagear três mulheres inspiradoras em suas trajetórias de vida. Benedita e sua luta pela inclusão, Bertha e sua contribuição não só à Ciência, mas à emancipação das mulheres, e Leslie, uma renomada cientista norte-americana, especialista em poliquetas e incentivadora de jovens cientistas”, conta Christine Ruta.
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA
O artigo das pesquisadoras da UFRJ descreve o primeiro estudo taxonômico do gênero Chaetozone (Cirratulidae) no Brasil. A pesquisa tomou como base a costa sudeste e sul do país, região de intensa exploração de petróleo nas Bacias de Campos e de Santos, entre os estados do Espírito Santo e de Santa Catarina, incluindo as camadas do pré-sal, em águas profundas.
AS AUTORAS: da esq. para a dir., Carolina Moraes, Christine Ruta e Roberta Freitas assinam o artigo
Quatro novas espécies de poliquetas são descritas no estudo: Chaetozone beneditae sp. nov., C. lesliae sp. nov., C. lutzae sp. nov. e C. bidentata sp. nov — as três primeiras homenageiam Benedita, Leslie e Bertha, respectivamente (saiba mais sobre as homenageadas abaixo). O estudo aumenta o número de espécies válidas de Chaetozone em todo o mundo de 81 para 85, e traz também o primeiro registro no Brasil de C. larae, espécie antes conhecida apenas na Argentina.
A pesquisa destaca que os poliquetas cirratulídeos são abundantes, ecologicamente relevantes e amplamente utilizados como bioindicadores. Chaetozone Malmgren, 1867, objeto do estudo, é o gênero mais diverso de cirratulídeos. “A descoberta de quatro novas espécies em uma área geográfica relativamente restrita sugere que a diversidade de Chaetozone no Brasil ainda é subestimada”, diz o estudo.
Os poliquetas desempenham importante papel no equilíbrio dos ecossistemas marinhos, seja na reciclagem de nutrientes ou como alimento para várias espécies de peixes, como diversos tipos de linguado. São considerados de importância ecológica, fundamentais para avaliar impactos das atividades humanas nos oceanos. Com o corpo em forma de aneis, os poliquetas podem ser microscópicos ou atingir de dois a três metros de comprimento. O nome poliqueta vem do grego e significa “muitas cerdas”, característica marcante do organismo marinho.
INFLUÊNCIAS
Benedita, Bertha e Leslie são referências de vida para Carolina, Roberta e Christine. Coordenadora da equipe de Biologia Integrativa de Organismos Marinhos do Laboratório Taxon, Christine lembra que a presença de mulheres no campo da Biologia Marinha é relativamente nova no país. “No Brasil, até os anos 1990, as mulheres não tinham autorização para participar de expedições à Antártica. Isso mesmo já havendo mulheres na Marinha. Quando eu comecei a fazer minhas primeiras embarcações, com a idade que hoje tem a Carolina, tive que me preparar psicologicamente para ficar isolada em um navio a milhas de distância da costa, em um ambiente eminentemente masculino”, lembra a docente.
Aos 24 anos, Carolina já vivencia outra conjuntura. Cotista na pós-graduação, ela é filha de mãe professora e de pai metalúrgico, ambos ligados ao movimento sindical, e desde cedo aprendeu a lutar pelo seu espaço. “É o meu primeiro artigo publicado, representa muita coisa. É uma alegria muito grande porque a gente vê nosso trabalho sendo reconhecido”, diz ela, que é de Barra do Piraí, no interior fluminense.
Roberta já assinou outros artigos, inclusive um em que foi identificada uma nova espécie de poliqueta no litoral norte fluminense, batizada como “jongo”, em homenagem à tradição cultural dos quilombolas do município de Quissamã, naquela região.
A doutoranda, de 33 anos, fez um estágio este ano no Museu de História Natural de Los Angeles e conheceu pessoalmente a cientista Leslie Harris. “Ela é uma pessoa fantástica. Conseguiu estabelecer um programa de bolsas para alunos de pós-graduação do mundo todo para conhecerem a coleção de poliquetas do museu, da qual ela é curadora. Eu passei no edital do programa este ano, e ela hospedou os alunos durante um mês em sua própria casa. Ela já fez isso com mais de 100 alunos de vários países. Ela incentiva jovens pesquisadores em anelídeos a visitar a coleção e utilizar aquele material em seus estudos”, conta Roberta.
AS HOMENAGEADAS
Benedita da Silva
Chaetozone beneditae sp. nov. homenageia Benedita da Silva, a primeira senadora negra do Brasil, eleita em 1994, e a primeira governadora negra do país, em 2002. Criada na comunidade do Chapéu Magueira, no Rio de Janeiro, Benedita fez de sua trajetória política um exemplo de luta contra a discriminação racial e de gênero e em defesa dos direitos humanos e da democracia, atuando como assistente social, professora e política. Tem 83 anos e é deputada federal (PT-RJ). Em junho passado, Benedita recebeu o título de Doutora Honoris Causa da UFRJ.
Bertha Lutz
Chaetozone lutzae sp. nov. homenageia Bertha Lutz (1894–1976), bióloga e feminista pioneira que atuou por mais de quatro décadas no Museu Nacional. Bertha teve papel decisivo na conquista do voto feminino no Brasil, instituído em 1932, e na inclusão do princípio da igualdade de gênero na Carta da ONU. Filha do médico e cientista brasileiro Adolfo Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler Lutz, Bertha foi a segunda mulher a ingressar no Serviço Público do Brasil, em 1919, mesmo ano em que fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher.
Leslie Harris
Chaetozone lesliae sp. nov. é dedicada a Leslie Harris, curadora da coleção de poliquetas do Museu de História Natural de Los Angeles. nos Estados Unidos. Estudiosa da flora e da fauna marinhas da Califórnia, Leslie é referência mundial em sistemática de poliquetas, sua área de estudos desde 1988, tem sido uma grande colaboradora de pesquisadores brasileiros e incentivadora de novas gerações de cientistas no campo da Biologia Marinha. É uma das fundadoras da Associação de Taxonomistas de Invertebrados Marinhos do Sul da Califórnia.
Foto: Renan FernandesRenan FernandesA jovem Ester de Oliveira não conseguiu esconder a euforia ao visitar a UFRJ pela primeira vez. “Adorei tudo aqui. É incrível”. A estudante de 17 anos da FAETEC foi uma entre os mais de 5 mil alunos de dezenas de escolas do estado que visitaram a universidade para participar da 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, entre os dias 21 e 24 de outubro. O evento aconteceu nos campi de Duque de Caxias, do Fundão e em Macaé.
Criada em 2004 pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, a SNCT é o maior evento de popularização da ciência do Brasil. Em 2025, o tema da edição foi “Planeta água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”.
“Gosto muito dessa temática da sustentabilidade. Quando entrar na universidade, quero trabalhar com algo que dialogue com esse assunto”, afirmou Ester que, a poucos dias do Enem, ainda não decidiu entre Arquitetura ou Engenharia Civil.
A professora Cassia Turci, vice-reitora, ressaltou a relevância de discutir a preservação dos oceanos e a sustentabilidade às vésperas da COP30, que acontecerá em novembro. A docente percorreu os estandes impressionada com os projetos apresentados e com o impacto gerado nos visitantes. “É emocionante ver o brilho nos olhos das crianças”, pontuou. “A universidade precisa disso. E esse evento tem esse papel de atrair os olhares de forma lúdica para que eles se interessem no futuro em fazer um curso de graduação”.
Na Cidade Universitária, 2.623 estudantes do ensino básico passaram pelas 52 oficinas, dez visitas guiadas e cinco apresentações culturais. O hall de entrada do Centro de Tecnologia e do Auditório Horta Barbosa ficaram repletos de sonhos de estudantes. “A gente vê crianças e adolescentes que nos visitam e vislumbram a possibilidade de fazer um curso universitário”, afirmou a professora Ivana Bentes, pró-reitora de extensão.
A docente destacou o papel dos extensionistas, estudantes da UFRJ, que apresentam as oficinas e os experimentos na construção da ideia de pertencimento dos visitantes. “Eles conseguem olhar para esses jovens universitários um pouco mais velhos que eles, muitos vindos também de periferias, nesse lugar de produção de conhecimento”.
Outra estudante que esteve na SNCT aproveitou para ratificar a escolha de carreira. Giovanna Ferreira, aluna do Colégio Estadual Alfredo Neves, em Nova Iguaçu, ficou encantada com a visita ao laboratório de Farmácia. “Minha mãe é farmacêutica e também já assisti a uma palestra no último Conhecendo a UFRJ que me fez escolher a área. Hoje, quando botei os pés no laboratório e vi as pessoas fazendo pesquisas, vi realmente que é o que quero fazer”, disse a jovem de 18 anos com um indisfarçável sorriso de esperança.
INCENTIVO
Ao todo, 299 professores de colégios públicos e privados acompanharam os estudantes no Fundão. Daniel Martins, professor de Matemática do Colégio Pedro II, faz questão de sempre trazer seus alunos aos eventos. “É o primeiro despertar que os alunos têm de vislumbrar uma oportunidade de estudar numa instituição como a UFRJ, o que, para muitos, ainda é inatingível”, disse. “A SNCT é um incentivo imensurável para eles”, completou.
Patrícia Simões levou seus pequenos estudantes — entre sete e oito anos de idade — do terceiro ano do ensino fundamental para um primeiro contato com a produção científica. Professora da Escola Municipal Alice Tibiriçá, localizada no Morro do Dendê, na Ilha do Governador, lamentou que, embora vivam tão próximos do Fundão, muitos estudantes não enxerguem a perspectiva de um dia se tornarem alunos da UFRJ e pontuou a importância do evento para mudar essa realidade. “Esse primeiro contato com o mundo acadêmico é muito importante. Eles podem começar a perceber que existe outra realidade e outras possibilidades fora da comunidade onde vivem”.
SUSTENTABILIDADE
Os projetos de extensão apresentados aos estudantes expuseram trabalhos vinculados ao tema de preservação de recursos hídricos. A professora Adriana dos Anjos, da Escola de Química, mostrou aos visitantes o conceito de Química Verde, que tem como princípio a substituição de matérias-primas de fontes fósseis por fontes renováveis. A produção de biodiesel a partir do cultivo de microalgas foi um dos destaques do estande, destacando que esses microrganismos também podem ser usados no tratamento de efluentes, transformando esgoto em água de reúso.
A docente e os extensionistas desenvolveram um jogo chamado “Trilha Ecológica” para interagir com os visitantes. “No jogo, a gente fala com eles sobre iniciativas de uso de materiais renováveis, reciclagem e coleta seletiva”, explicou Adriana. “É uma experiência importante para as crianças e adolescentes que aprendem de forma lúdica e para nossos graduandos que exercitam a capacidade de divulgar os conhecimentos que aprendem na universidade”.
A doutoranda do Laboratório de Imunobiotecnologia do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Naiara Manhães, apresentou a importância da preservação dos oceanos para o desenvolvimento de fármacos. “A Ziconotida é um analgésico para tratar dores crônicas e é sintetizada a partir do veneno de um caramujo. Da esponja do mar, foi desenvolvido o AZT, que impede a replicação de vírus, principalmente do HIV”, exemplificou.
Os pesquisadores e extensionistas montaram uma piscina de bolinhas em que os visitantes precisavam encontrar os microrganismos e depois montar um quebra-cabeça. “É uma forma de explicar de maneira lúdica e interessante para eles”, disse Manhães.
A professora Maria Luiza Campos, do Instituto de Computação, aproveitou o evento para conversar com os professores do ensino básico. O objetivo é mostrar para as escolas que é possível trabalhar a temática algorítmica e pensamento computacional sem precisar de um computador na sala de aula. “Desenvolvemos um jogo com as espécies em extinção no qual a criança navega usando conceitos da navegação desplugada, usando cartas e tabuleiros para construir um percurso simulando um programa”, explicou a docente.
Maria Luiza também divulgou a iniciativa Minervas Digitais, projeto que estimula a entrada de mulheres na área da computação. “Temos apenas 15% de alunas em nosso curso. Precisamos puxar as meninas desde muito cedo para essa área e um evento como a SNCT ajuda muito nesse trabalho”.
MACAÉ
Em Macaé, 1.944 estudantes de 17 escolas do Norte Fluminense visitaram o Centro Multidisciplinar. As 68 ações envolveram 174 alunos e 69 professores da UFRJ. Os números do Nupem não foram divulgados até o fechamento desta edição.
ACERVO PROJETO SER CIENTISTANo campus Duque de Caxias, 1.122 estudantes de 27 instituições de ensino participaram das atividades nos três dias da SNCT. A professora Luisa Ketzer, diretora da AdUFRJ, coordenou a oficina científica “Impacto das mudanças climáticas no ecossistema aquático”, na Escola Municipal Professora Dulce Trindade Braga.
“É um desafio muito interessante ir até a escola. Os alunos pensam as perguntas sobre mudanças climáticas e fazem os experimentos para tentar respondê-las. Eles se tornam protagonistas nesse processo de aprendizagem”, revelou Ketzer.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, inundou o país de esperança. Anunciou em suas redes sociais que dará, com a Anvisa, “prioridade máxima” à liberação da fase de testes clínicos da polilaminina, substância com forte potencial de reversão de lesões medulares.
A pesquisa é da professora Tatiana Sampaio, chefe do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. “A expectativa é a melhor possível para que essa aprovação aconteça. Acredito que leve até um mês”, avalia a professora. Ela se reuniu com o ministro Padilha no início desta semana, em Brasília. “Foi um encontro muito rápido, do qual participaram também representantes da Anvisa”, contou.
No dia 15 de outubro, Tatiana Sampaio teve oportunidade de apresentar detalhes de sua pesquisa ao presidente da República, durante encontro de Lula com professores no Rio de Janeiro para a entrega da Carteira Nacional do Docente. O empenho do presidente Lula parece ter feito diferença. “Essa é uma declaração de intenção muito importante. A decisão de priorização dada pelo presidente e pelo ministro fazem diferença e a indicação do novo presidente da Anvisa corroboram esse processo”, avalia a pesquisadora. O novo presidente, Leandro Safatle, assumiu a agência em setembro.
A Anvisa tem em mãos todas as respostas solicitadas sobre a pesquisa e a respeito dos próximos passos do estudo. “Nós entregamos na sexta passada as últimas respostas solicitadas”, afirma Sampaio.
Após a liberação, haverá uma primeira fase de testes dividida em duas etapas e voltada apenas para pacientes voluntários com lesões agudas de até quatro dias. Primeiro, com cinco pacientes que receberão dose fixa, para avaliar a segurança da medicação. Depois, com outro pequeno grupo de pacientes que receberá doses diferenciadas do medicamento.
Passada essa etapa, outra fase deverá ser iniciada para um conjunto maior de pessoas. Ainda não estão planejados estudos com lesões crônicas. O uso combinado da substância polilaminina com outros medicamentos também não é o foco do estudo em humanos neste momento.
A pesquisa com a polilaminina é realizada há 25 anos. “O trabalho de uma vida segue. Ainda temos muitas perguntas", conclui a pesquisadora.
Segundo a Anvisa, a agência tem atuado com aconselhamento científico à empresa Crisália, parceira da pesquisadora Tatiana Sampaio, desde o final de 2022. "As informações apresentadas inicialmente foram geradas a partir de testes iniciais de bancada (laboratório), em modelos animais e em alguns poucos pacientes", informa a nota da agência. "Essas primeiras pesquisas não tinham o objetivo de apoiar o registro do produto para disponibilização do mercado brasileiro", justifica a Anvisa. "No último 10 de outubro a empresa encaminhou os resultados complementares dos testes pré-clínicos solicitados. Caso esses resultados demonstrem que o produto é seguro para o uso por pacientes, a Anvisa autorizará o início da primeira de três etapas do desenvolvimento clínico, necessárias para respaldar um futuro registro do medicamento".