A assembleia da AdUFRJ definiu na tarde de segunda-feira, 16, a delegação que representará os professores da UFRJ no 43º Congresso do Andes. A votação foi presencial e realizada em urna. Foram eleitos 12 delegados e 11 observadores. Presidenta da AdUFRJ, a professora Mayra Goulart é a delegada indicada da diretoria e por isso não foi votada na assembleia. O próximo congresso do Sindicato Nacional será realizado na cidade de Vitória (ES), de 27 a 31 de janeiro. Veja abaixo quem são os delegados e os observadores.
Antes da votação, a diretoria deu informes sobre as últimas ações realizadas pela gestão. Dentre as iniciativas, estão a semana da AdUFRJ em Macaé, a participação do sindicato na Semana do Servidor da UFRJ, e a reunião com a reitoria, em 3 de dezembro, para indicar a ilegalidade da cobrança de ponto para professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. Todos os temas foram detalhadamente noticiados nas últimas edições do Jornal da AdUFRJ.
Delegados
1. Mayra Goulart (diretoria)
2. Nedir do Espirito Santo
3. Antonio Mateo Solé Cava
4. Verônica Miranda Damasceno
5. Rodrigo Nunes da Fonseca
6. Marcio Marques Silva
7. Carlos Augusto Domingues Zarro
8. Cláudia Rocha Mourthé
9. Eleonora Ziller Camenietzki
10. Jorge Ricardo Santos Gonçalves
11. Renata Baptista Flores
12. Fernanda Maria da Costa Vieira
13.Alessandra Nicodemos
Observadores
1. Claudia Figueiredo
2. Bruno Reys
3. Tatiana Oliveira Ribeiro
4. Maria Fernanda Elbert Guimarães
5. Ricardo Medronho
6. Maria Tereza Leopardi
7. Maria Auxiliadora Santa Cruz
8. Alice Coutinho da Trindade
9. Leonardo D’Angelo
10. Cláudio Ribeiro
11. Aline Caldeira
“A proposta que chegou do CEG deixou muita gente chocada. Propunha um início muito tarde em 24 de março”, afirmou o professor Antonio Solé, diretor da AdUFRJ e representante dos Titulares do CCS. “Comecei a fazer uma pesquisa em várias universidades do Brasil, inclusive algumas que fizeram greve, o que não foi o caso dos docentes da UFRJ. Das 23 que investiguei, 11 começam em 10 de março. Isso inclui universidades grandes, como a UFMG e a UFRGS”, completou Solé. Veja o quadro ao lado.
Os professores Solé e Ricardo Medronho chegaram a apresentar ao Consuni uma proposta com data de início de semestre diferenciada para calouros e veterenos. Calouros começariam em 17 de março e veteranos iniciaram uma semana antes.
A maioria dos conselheiros, no entanto, preferiu unificar as entradas no dia 17.
NOTAS
VIGILANTES PROTESTAM POR SALÁRIOS
Houve tensão no Conselho Universitário do dia 12. Vigilantes com salários e benefícios atrasados protestaram no colegiado. A reitoria da UFRJ reconheceu a dívida com as empresas, mas esclareceu que a legislação permite um atraso no repasse de até 60 dias e que a responsabilidade dos pagamentos seria das firmas terceirizadas. O pró-reitor de Finanças, professor Helios Malebranche, disse que não há nem 30 dias de atraso do vencimento. O reitor Roberto Medronho informou que esteve em Brasília e conseguiu uma promessa de recursos para sanar o problema.
POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE APROVADA
O colegiado aprovou uma resolução da Política de Sustentabilidade e Educação Regenerativa UFRJ. O objetivo é unir esforços de toda a comunidade universitária para mitigar as atuais emergências socioambientais e, além disso, ajudar a prevenir futuras crises. “No nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), temos como um dos valores a questão da sustentabilidade ambiental”, disse a vice-reitora da universidade, professora Cássia Turci. “Acho esse documento importantíssimo para nortear nossos caminhos”.
EDUCAÇÃO FÍSICA TEM CALENDÁRIO ESPECIAL
O Consuni também alterou o calendário, ainda de 2024, da Escola de Educação Física e Desportos, que segue com as atividades acadêmicas muito prejudicadas pelos dois desabamentos do telhado (em setembro de 2023 e em maio deste ano). As disciplinas práticas do curso de Educação Física que não puderam ser iniciadas em outubro por falta de condições serão estendidas até 20 de dezembro (com carga horária dobrada). Após o recesso de fim de ano e férias em janeiro de 2025, as atividades serão retomadas de 3 até 28 de fevereiro (de novo, com carga horária dobrada). A Escola não receberá calouros no primeiro semestre de 2025 para acertar o fluxo de estudantes represados nas disciplinas práticas. “Não haveria possibilidade de entrarem mais 240 estudantes sem as condições acadêmicas de 2024 estarem resolvidas. A oferta vem para o segundo semestre”, explicou a pró-reitora de Graduação, Maria Fernanda.
O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) é o principal instrumento de financiamento público da pesquisa no Brasil. Dividido nas modalidades reembolsável – destinada a empréstimos para empresas – e não-reembolsável – usado majoritariamente para ações nas instituições públicas de pesquisa – o fundo é visto como um dos pontos de apoio para o ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Isso porque o pacote apresentado pelo governo inclui a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), mecanismo constitucional que permite que todas as receitas federais e fundos setoriais tenham reduções de até 30%.
A DRU, que sempre incidiu sobre o FNDCT, se encerraria agora, no final de 2024, mas a proposta é que ela seja prorrogada até 2032. “O fundo está totalmente descontingenciado, mas a DRU sempre foi aplicada”, explica o professor Ildeu Moreira, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Apesar de formalmente não mudar o montante para a pesquisa, a proposta gerou críticas. “Sou médica de universidade. Ajuste fiscal que sacrifica investimentos públicos em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país só beneficia o mercado financeiro”, declarou a senadora Zenaide Maia (PSD-RN).
O deputado federal Tarcísio Motta (PSOL-RJ) disse que a DRU é um dos motivos para que seu partido tenha votado contra o pedido de urgência do Pacote Fiscal. “A PEC 45/2024 prorroga a Desvinculação de Receitas da União até 2032, desviando recursos de políticas sociais para pagamento da dívida pública”, afirmou.
As reações aconteceram em grande parte porque a Proposta de Lei Orçamentária Anual calculou o FNDCT sem a aplicação da DRU. Assim, foram indicados R$ 20 bilhões para o fundo – um crescimento de 60% em relação a 2024. Metade para recursos reembolsáveis e a outra metade não-reembolsável.
“A projeção estava, na realidade, inflada. Não há impacto real. Agora, nós teremos aproximadamente R$ 7 bilhões para cada lado e a gente volta ao patamar anterior”, explica Ildeu. São excluídos da DRU apenas os recursos destinados à saúde, à educação, ao pagamento de pessoal e às contribuições previdenciárias.
Na gestão Bolsonaro, os recursos do FNDCT chegaram a ser contingenciados em 90%. A luta da comunidade científica possibilitou a aprovação de uma nova lei, ainda em 2021, que proibiu o uso dos recursos para reserva de contingência. Assim, desde 2022, o FNDCT não é contingenciado.
“O compromisso assumido pelo atual governo continua sendo cumprido”, garante Ildeu. “As entidades científicas precisam discutir a distribuição dos recursos e a avaliação dos resultados desses investimentos”. Ildeu também defende que as universidades tenham representação no Conselho Diretor do FNDCT.
A sétima edição do Encontro Brasileiro de Integridade em Pesquisa, Ética na Ciência e Publicações (Brispe, na sigla em inglês) debateu as possibilidades de uso das novas tecnologias de inteligência artificial na produção científica. Pesquisadores participaram de debates e apresentações sobre o tema “Integridade científica e inteligência artificial generativa: novas formas de fazer e comunicar a pesquisa”. O evento aconteceu entre os dias 5 e 6 de dezembro no auditório da Coppe, no CT2.
“Nosso foco esse ano é na IA generativa”, disse o professor Renan Moritz, do programa de Engenharia Biomédica da Coppe, presidente da organização do encontro. “A maior parte das pessoas não sabe se está utilizando essas ferramentas de uma maneira correta ou de forma contraprodutiva. Não usar uma tecnologia tão revolucionária corretamente é um desperdício”, completa.
O docente defendeu a criação de uma cultura de integridade da pesquisa no Brasil. “Nosso objetivo é contribuir para que as pesquisas sejam feitas com qualidade e ética, ou seja, fazer a pesquisa bem feita, com bons métodos, e boas intenções, semcometer falhas graves como o plágio e afins”, pondera Moritz.
Com mais de 200 inscrições, o evento contou com a participação de pesquisadores de todo o Brasil e também de outros países. O professor emérito da Universidade Livre de Amsterdã, Lex Bouter, fez parte do conselho consultivo do evento. O pesquisador é especialista em metodologia e integridade de pesquisa. “Esse congresso é muito importante porque mostra que as pessoas no Brasil estão preocupadas com a qualidade do trabalho de pesquisa desenvolvido aqui”, afirma.
O professor falou sobre as oportunidades abertas pela inteligência artificial no campo da pesquisa científica. “A tecnologia é uma oportunidade com lados bons e ruins. Novas oportunidades de trapacear e novas oportunidades de fazer melhor nosso trabalho.”
Dois anos após o lançamento do ChatGPT, a experiência de pesquisadores em todo o mundo com a tecnologia já aponta para pontos de convergência. “Precisamos aprender a lidar com isso, sem mudar os princípios e os padrões de integridade da pesquisa”. Para Bouter, o pesquisador nunca pode abrir mão da autoria do seu trabalho. “Devemos ser responsáveis como humanos. Se a IA cometer um erro e o pesquisador endossar esse erro, ele é o responsável e não a tecnologia”, completa.
CATALISADOR
O professor Moritz celebrou o sucesso do encontro e os resultados que podem ser semeados a partir das discussões. “Esse evento é um catalisador. As pessoas vêm para cá, contribuem e aprendem em discussões, e depois retornam para suas instituições com noções que passarão para seus colegas e alunos”
Uma das pesquisadoras que vieram de longe para o evento foi Elisabete Tomo Kowata, doutoranda do programa de Recursos Naturais do Cerrado da Universidade Estadual de Goiás. A cientista apresentou sua pesquisa sobre revistas predatórias e IA na sessão de pôsteres do encontro e avaliou bem a experiência. “É uma grande visibilidade para a pesquisa e uma oportunidade de trocar ideias. Recebi alguns feedbacks que vou levar para minha orientadora”, diz confiante na evolução da pesquisa.
O encontro reuniu pesquisadores de diferentes campos do saber. Mariana Ribeiro, pós-doutoranda do Instituto Nacional do Câncer, atua no desenvolvimento da linha de integridade científica dentro do INCA. A pesquisadora apresentou projetos educativos implementados nos cursos de pós-graduação do instituto. “Concluímos agora a primeira disciplina sobre integridade de pesquisa com foco em IA que se tornou obrigatória para todos os alunos”, conta Mariana.
Para o professor Leonardo Fuks, da Escola de Música, a experiência de estar em contato com cientistas de diferentes campos de pesquisa e lugares do Brasil e do mundo foi especial. Fuks atuou como avaliador das apresentações orais do congresso. “Sentei ao lado de uma professora que é filósofa da área de ciências biológicas. Do outro lado, um pesquisador referência no campo da computação. Não há nenhuma área da pesquisa que fique alheia a essas questões de integridade e ética”, avaliou.
O historiador Luiz Antonio Simas citou uma metáfora de Guimarães Rosa para ilustrar o sincretismo religioso relatado no documentário “Santo Forte”, de Eduardo Coutinho. “Toda árvore oferece um pouco de sombra”, disse sobre a crença em diferentes ritos religiosos.
O filme foi o escolhido para a segunda edição do Cine Cidadania, evento organizado pela Universidade da Cidadania, órgão vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Depois da exibição, o historiador participou de um debate com a jornalista Nilza Valéria e o público presente ao Estação Net Botafogo na quarta-feira, 11.
“Santo Forte”, de 1999, trata das religiosidades do povo brasileiro e é considerado um marco do cinema documental do país. A linha narrativa da obra é construída a partir das experiências religiosas de moradores da favela Vila Parque da Cidade, localizada na Gávea.
A professora Eleonora Ziller, diretora da Universidade da Cidadania, comentou a curadoria das primeiras edições do projeto. “Temos um norte nesse início que é trabalhar com documentários potentes que tragam debates sobre o Brasil e que tenham ressonância contemporânea”.
Depois de exibir “Notícias de uma guerra particular” em outubro, a escolha pelo filme de Coutinho trouxe nova temática para o debate. “Na primeira edição, trabalhamos a violência urbana. Agora, debatemos sobre a religiosidade do nosso país, um cenário que está em transformação”, explicou a docente.
Dados mais recentes do IBGE mostram um aumento de 61,5% no número de evangélicos em relação ao Censo de 2010. Em 1980, eles representavam 6% da população brasileira. Hoje, um em cada três brasileiros adultos se identifica como evangélico. “É um crescimento muito grande. As tensões que estamos vivendo são resultado dessa mudança”, afirmou Nilza Valéria, coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.
A jornalista destacou o surgimento de uma nova religiosidade popular e apontou indícios do impacto dessa mudança na cultura popular. “Todo mundo já foi chamado de abençoado ao entrar num comércio, num Uber. Essa linguagem saiu do espaço religioso e ganhou espaço na vida cotidiana de toda a sociedade”, avaliou. “A religiosidade é o lugar de conforto e de encontro entre os mais pobres”, concluiu Nilza.
Para Simas, não é possível pensar as manifestações religiosas no Brasil sem pensar na construção de um pertencimento comunitário. “O exercício da religiosidade dá sentido à vida das pessoas na dimensão de redes de proteção social”, analisa. “A exclusão social é um projeto de Estado na maior parte do tempo”.
INTOLERÂNCIA
As entrevistas de Coutinho no documentário investigam a interação entre diferentes crenças na pequena comunidade da Zona Sul do Rio de Janeiro. Esse ponto foi destacado por Simas, pesquisador da religiosidade popular brasileira. “Minha experiência de criança com as práticas religiosas é muito inclusiva. Nos meus tempos de garoto em Nova Iguaçu, era comum o convívio entre práticas religiosas e esse convívio não era tensionado como acontece hoje”, recordou.
Alguns personagens do filme denominam-se católicos ao mesmo tempo em que frequentam terreiros de umbanda e candomblé. O historiador lembrou ritos das religiões de matriz africana que se misturavam com os templos católicos. “No candomblé, fazia parte das iniciações das iaôs a visita a sete igrejas. Era uma tradição que veio da Bahia”, conta.
No primeiro semestre de 2024, o Disque 100 – canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos – registrou um aumento de 80% nas denúncias de intolerância religiosa quando comparado ao mesmo período do ano passado. Um salto de 681 denúncias em 2023 para 1.227 este ano, uma média de sete denúncias por dia.
“É uma pena que os tempos recentes da experiência brasileira tenham sido marcados pelo impacto da intolerância, do racismo religioso e pela apropriação da fé por um projeto político profundamente reacionário”, lamentou Simas. “Não existe um projeto de país melhor que não passe pelo reconhecimento do direito de cada um de lidar com o mistério da maneira que julgue mais adequada”, completou.
O DOM DA ESCUTA
A historiadora Dulce Pandolfi, assessora da UC, leu uma carta do cartunista Claudius Ceccon, produtor-executivo do filme, que não pôde estar presente por problemas de saúde. “Queria estar presente para contar como Coutinho, um agnóstico convicto, durante a filmagem dava discretamente comida para um santinho em sua sala”, brincou Claudius.
O quadrinista recordou os tempos do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) junto de Coutinho, Ana Maria Machado e Paulo Freire, e a opção pelo uso do audiovisual como estratégia de comunicação popular.
Ceccon destacou a habilidade de escuta do cineasta para conseguir os relatos sinceros dos entrevistados. “Coutinho intuía que falar de religião deixava as pessoas mais à vontade. Era um mestre da escuta, compreendia o outro sem aderir, mas sem julgamentos de qualquer ordem”, concluiu.
Foi a capacidade de escuta do diretor que encantou Cristine Muggler, professora aposentada e consultora do Museu Nacional. “O filme é de uma sensibilidade incrível. A forma como Coutinho conversa e dá espaço para as pessoas falarem no filme é maravilhosa”, elogiou. emocionada.