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Foto: Fernando Souza‘Olê, olê, olê, olá, Bene-dita!”. O canto da plateia lotada foi uma das várias quebras de protocolo, todas plenamente justificáveis, da sessão solene do Conselho Universitário que outorgou, na tarde de segunda-feira (9), o título de Doutora Honoris Causa da UFRJ à deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ). Presidida pelo reitor Roberto Medronho, a sessão solene se tornou uma emocionante homenagem à trajetória de vida da parlamentar de 83 anos, uma histórica combatente na defesa dos direitos humanos e da democracia no Brasil.
“Acho que nunca vi uma sessão solene do Consuni com esse quórum”, brincou o reitor, diante do auditório lotado do Salão Pedro Calmon, no campus Praia Vermelha. Com um discurso inspirador (veja os principais trechos abaixo), Benedita relembrou toda a sua história, desde as vielas da favela Chapéu Mangueira, no Leme, Zona Sul do Rio, até os gabinetes de Brasília. E destacou que sempre teve de ser “metida” para enfrentar todos os tipos de preconceito e construir a sua sólida e invejável biografia. “Aprendi a ir me metendo desde criança, me metendo para existir, me metendo para aprender e sobreviver”, disse ela, que teve sua fala interrompida diversas vezes sob palmas calorosas da plateia.
FORÇA E ESPERANÇA
O título foi indicado pelo Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) e aprovado por aclamação pelo Conselho Universitário. Ao saudar a homenageada, a professora Fernanda Barros, vice-diretora do Nepp-DH, lembrou que Benedita foi a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira no Senado Federal, em 1994, e a primeira governadora negra do país, em 2002. “Sua trajetória de vida e de luta representa a dignidade, a força e a esperança de milhões de brasileiros”, salientou Fernanda.
A professora destacou também a importância do título para os defensores dos direitos humanos e para a luta antirrascista: “Há um significado ainda mais especial para nós, mulheres negras, urbanas das classes populares, dos subúrbios, do interior, das favelas. Trata-se do reconhecimento de uma trajetória gigantesca. Os caminhos percorridos por Benedita da Silva são memoráveis e colossais”.
Nascida em 26 de abril de 1942, na então favela da Praia do Pinto, no Leblon, Benedita mudou-se com a família ainda bebê para o Chapéu Mangueira, onde foi criada e moldou seu engajamento político e social. Filha do pedreiro José Tobias da Silva e da lavadeira Maria da Conceição Sousa da Silva, ela trabalhou como vendedora ambulante, empregada doméstica, auxiliar de enfermagem, professora e assistente social. Com forte atuação comunitária, participou da fundação do PT e, em 1982, foi eleita pelo partido como vereadora pelo Rio de Janeiro, seu primeiro cargo político. Em 1986, foi eleita para seu primeiro mandato — está no sexto — como deputada federal pelo PT-RJ.
MODELO DE LUTA
Inspirados pelo discurso da parlamentar, os oradores que se seguiram a Benedita falaram um pouco de suas próprias histórias de vida. “Eu tinha até escrito um discurso, mas depois das palavras da deputada, ele não faz mais sentido”, disse a vice-reitora Cássia Turci, emocionada. Ela preferiu falar de sua infância no Brasil e das dificuldades que enfrentou como filha de imigrantes árabes.
O reitor Roberto Medronho também relembrou de sua criação no Conjunto dos Ferroviários, em Pilares, no subúrbio carioca. “Estudei em escola pública e no Colégio Pedro II, graças a isso estou aqui. Mas muitos dos meus amigos de infância, com quem jogava bola ou búlica, ficaram pelo caminho”, disse Medronho.
O decano do CFCH, professor Vantuil Pereira, falou de sua trajetória no movimento negro e de quanto Benedita representa para os que estão nesse campo de luta: “Você é uma figura profética. Profética no sentido de indicar o valor da luta pelos direitos humanos, pelas mulheres e por toda a comunidade negra. Não somos nós que te homenageamos. Hoje, aqui, é você que nos homenageia”, pontuou o decano.
Em mais uma quebra de protocolo, o reitor pediu que a superintendente-geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Acessibilidade da UFRJ, Denise Góes, saudasse a homenageada. Militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Denise afirmou que a trajetória de Benedita da Silva é um modelo para os militantes pelos diretos humanos: “Você trouxe o morro e a favela para o centro do debate. A trajetória do MNU está intrinsicamente ligada a você. Nós falamos agora por nós. Bota fé, Bené, nós botamos fé em você”.
Sentado na primeira fila da plateia, o ator Antônio Pitanga, casado com Benedita há mais de 30 anos, fez vídeos com seu celular de vários momentos da cerimônia e ficou particularmente emocionado com o discurso da sua mulher. “Essa homenagem é tão linda, tão humana, tão grandiosa, que me comovi, chorei algumas vezes. Mesmo vivendo na mesma casa, sendo marido dela, eu não conhecia essa fala que ela fez. Ela se fechou lá e fez isso. Isso tocou não só a mim como a todos. É uma caminhada em que havia pedras no caminho, mas essas pedras no caminho da Benedita sempre foram degraus para ela subir. É uma homenagem muito merecida”, disse Pitanga.
Foto: Fernando Souza"Para mim é uma honra poder aqui estar, e eu começo realmente o meu discurso agradecendo a todos esses movimentos, o movimento negro, o movimento das mulheres, o movimento da favela, o movimento da juventude, o movimento das crianças, o movimento dos sem casa, dos sem teto, dos sem estudo. Esses movimentos dos quais acredito que eu tenha, não representado como um todo, mas tendo um compromisso com todos e com tudo aquilo que nós precisamos”.
“Eu queria dizer para vocês o que eu já falei com o Bonitão ali (o marido Antônio Pitanga), que a gente está recebendo muita homenagem, porque é todo dia um troféu de alguma coisa. Aí é sinal de que a gente está no meio para fazer ainda muita coisa, ou nós estamos chegando na hora da partida. O carinho e a manifestação de vocês, isso me comove muito, e ver a presença de amigos e amigas, aqueles que são militantes de causas, outros que não são militantes de causas, mas têm projetos para essa nação, que defendem os direitos humanos, eu quero agradecer a cada um”.
“Eu estou tremendo ao receber esse canudo de doutora Honoris Causa. Se o negócio é me fazer chorar de felicidade e de agradecimento, saibam que já chorei bastante antes para me acalmar e tentar fazer o discurso aqui, e não sei se conseguirei segurar o meu choro, pois dentro do meu coração esse chororô mais parece uma correnteza de memórias, que vai lavando a alma e molhando tudo, o rosto, o gesto e até o papel em que estão as palavras que escolhi para abraçar vocês”.
“Gente, com essa homenagem eu estou me sentindo e ficando ainda mais metida. Eu já nasci metida. Metida enxerida, diziam uns, metida sabida, diziam outros, metida a querer viver e existir, diziam todos, os outros pobres, pretos, periféricos, que como eu saíram do planeta fome, denunciado pela voz importante de Elza Soares, uma mulher de carne negra que se recusou a ser a carne mais barata do mercado”.
“Eu fui metida no mundo das vidas e das lutas desde a barriga de minha mãe, indo com ela grávida para o serviço. Minha mãe, uma mulher autodidata, uma obrigação para quem é pobre, foi uma líder religiosa e comunitária que não tinha roupa para a ignorância e para o conformismo. E ela logo me fez saber a lição número um, necessária e realista, que eu vim a um mundo que já tinha seus donos e que eu havia de me meter mais cedo ou mais tarde com esses donos e suas razões discriminatórias de corpo e classe de gênero, de orientação sexual, de origem social, de inscrição religiosa”.
“Para ajudar em casa, para poder ter uma casa, o jeito era aprender a ser atirada e sair me metendo onde não era chamada. E assim tentava abrir no braço e com a persistência alguma fresta para buscar existir até os dias seguintes. Sobreviver ou sobreviver, eis a nossa questão. Para quem teve que nascer sabendo que eu queria muito mais, o jeito era aprender a ter coragem para ser entrona e tentar construir da dificuldade e com muitos obstáculos algum sim, ainda que provisório. Afinal, o destrato, a humilhação, a exclusão já estavam ali esperando por nós no asfalto”.
“Mais que uma prova escrita, o esculacho, o olhar censor, a violência corretiva já nos condenava antecipadamente à reprovação. Sair se metendo na própria vida, tomando-a de volta, para nós, era o aprendizado muito indispensável de nossa grande revolução pela liberdade e pela igualdade. Uma revolução muitas vezes silenciosa, como prática de luta, uma revolução muitas vezes silenciada pela repressão”.
“Antes de ser uma consciência política, ser abusada, metida e entrona era uma necessidade existencial que precisava questionar diante do prato de comida, da falta de luz, de água e de escola, das políticas do mais e do mesmo que mudam para ficar igual, desigualando ainda mais os que já estavam desiguais. A pedagogia que a gente tinha era essa, ir se metendo, favela dentro e asfalto afora, com a cara e a coragem, com o corpo e a alma, a vida e os sonhos adiados. E assim eu aprendi a ir ficando cada vez mais entrona, aprendi a ir me metendo desde criança, me metendo para sobreviver, me metendo para existir, me metendo para aprender e sobreviver, existir e resistir. É um saber construído por vários corpos, pelas diversas mãos e pelas inúmeras cabeças dos periféricos e subalternos que fazem de seu dia a dia uma grande luta”.
“O saber da minha infância, da favela, vinha como uma ordem de cima, a disciplina aprendida era para aceitar e servir, ser criança era aprender a ter responsabilidades de adulto, ser treinada para fazer as vontades de quem mandava. De um lado, um manto branco como um lugar de fala e fé; de outro lado, uma obediência preta vista como um lugar de falha e vetada para a vida digna. O saber era para aprender a carregar mudança, trouxa de roupa, sacola de compras, tijolos, tábuas para o barraco, o que mais fosse preciso para garantir o sustento. O nosso saber não oferecia descanso, lazer ou prazer da reflexão, o saber era mais um peso para carregar, porque a gente não podia faltar às aulas da própria vida, da nossa própria condição de sobrevivência”.
“O peso do conhecimento para a mulherada preta como eu, era o peso da lata d’água na cabeça, morro acima, era a saca de cimento para subir paredes, era o braço doído e as pernas cansadas de tanto descer e subir favela para trabalhar na casa dos outros, e ainda ter energia para seguir dando conta na nossa casa. O peso do conhecimento foi aprender a engolir o “é assim mesmo”, sem deixar de lutar contra o destino que nos impune. E assim eu fui me metendo nos serviços para fazer a venda girar, para fazer a minha vida viver, lavando, cozinhando, criando filhos, levando água, virando laje, carregando o mundo na cabeça como se fosse a minha sina”.
“Mas era a sina, era o saber doído, tão lúcido, que me ensinava a insistir em ficar viva. Eu fui seguindo ainda mais metida, porque na favela não se nasce a passeio, se nasce para o serviço. Antes da gente ser sujeito de direito, a gente era sujeito ao direito dos outros, das vontades, manias e cismas da amplitude do assalto. Antes de virar gente, a gente virava ajudante. E foi ajudando, ouvindo e servindo, que eu fui aprendendo. Nem sempre com a escola, mas com a lição diária da vida. Com dificuldade para tirar um diploma, mas com os certificados da faculdade da vida. Sem estante de livros em casa, mas com memória para manter tudo certinho na cabeça. Um mundo onde eu seria muda, quieta, dobrada, mas eu fui ficando mais sabida e mais abusada. Na barra, na fé, na força das vendas. Na favela, saber é necessário”.
“A gente aprendia a se virar, a resolver, a não levar problema para casa. A gente aprendia a carregar junto com o fardo a dignidade de primeiro afirmar para o mundo que a gente era gente. Para depois brigar um pouco mais para ser reconhecida como cidadã. Preconceito? Nem dava tempo de nomear, porque logo vinha um outro para machucar um pouco mais a ferida já aberta. O racismo não tira folga, discrimina cada passo nosso pela vida. De segundo para segundo. Tínhamos é que sair tirando de letra e metendo bronca com o que tínhamos decidido existir como pretos e favelados. Violência era só mais uma chibata diária que a gente tinha que se desviar ou disfarçar, aprendendo a saber servir para depois poder saber existir como luta”.
“A gente teve de conhecer de cor e salteado a tabuada da sujeição. E a gente manobrava para romper com a invisibilidade, a diferença e o esquecimento. Não havia tempo para sonhar com uma cidadania abstrata. A dor da perda não podia parar porque para quem restou vivo lá em casa o bujão de gás tinha acabado, o gato de luz foi derrubado, a roupa precisava ser passada para pagar as despesas e os estômagos pediam comida. Por essa urgência da vida digna, fui entrando em tudo o que era canto, sim. Na igreja, na rua, na associação, no palanque, precisávamos estar juntas e misturadas para seguir em frente”.
“Fui então me metendo na política. Política do saber escutar, do saber lutar, do saber dar atenção. Política de tanto saber vivido no mutirão comunitário que nos ensinou o que é a coletividade e a sua força transformadora. Política de quem sabe e não se esquece do valor do vizinho, da comadre e do parente. Política de quem só vira o dia porque sabe que alguém ajudou a empurrar. Ser metida na favela era levar pito e aprender com ele. Era escutar quando o silêncio mandava calar. Era falar quando o “sim, senhor” tentava emudecer”.
“Fui sim me metendo com os braços incansáveis para o serviço com a boca para as palavras. Palavra dita, palavra cantada, palavra acolhedora, palavra de muitas beneditas que hoje podem estar aqui nesta universidade como testemunhos da equidade promovida pela política de cotas”.
“A cada passo dessa minha metideza persistente eu fui levando a favela comigo. A gente não tem como sair para brigar pela nossa cidadania e deixar a favela dentro do barraco. A mulher escondida atrás da porta e a negritude trancada no armário. Nas ideias, no gesto, na coragem, lá e aí, a preta, a favelada, a mulher”.
“Fui levando a minha gente no corpo, fui levando na alma a sabedoria das mulheres e das pretas que nunca podiam errar, porque errar para nós era cair no abismo. A pobreza negra não permite o erro. Quem vem de baixo sabe disso, sabe que não se pode perder a única oportunidade. E é por isso que a gente aprendeu a carregar o peso deste conhecimento dolorido que revela a mobilidade social negativa e que faz a gente andar uma casa, dar um passo para frente e cinco para trás”.
“Tive que aprender que favelada, preta e mulher tinha que nascer pronta. A gente precisava, obrigada pelas dificuldades, a nascer sabendo. A pedagogia do pobre e preto só admite o acerto. A fazer, o certo e o direito para sobrar, não andar para trás, ficar a meio caminho ou terminar morto num beco da comunidade. Com essa sabedoria toda aprendida nas ladeiras do Chapéu Mangueira, eu tinha clareza que nas batalhas da vida, antes de tudo, vinha a preta, depois a favelada e, por fim, a menina-mulher. Tudo isso antes de ser alguém, antes de ser cidadã. Foi no dia a dia na favela que eu primeiro descobri o que era ser preta para depois me tornar militante”.
“Primeiro virei doméstica, mãe, dona de casa, para depois me tornar uma trabalhadora. Primeiro tive que me descobrir mulher para depois poder ser uma feminista. Primeiro precisei me reconhecer como favelada para depois ir me tornando Benedita, preta, favelada e mulher”.
“Fiquei metida sim e agora, com esse título, estou mais metida ainda. Ser metida sim no trabalho dos outros, na vida dos outros, no mundo dos outros, primeiro para servir como trabalhadora doméstica e depois também para servir, mas, às nossas causas, à nossa dor. Foi assim que eu me meti nos movimentos de favela, de mulheres e de negros. Lutar por saneamento era primeiro lutar por um banho, por comida, por higiene e dignidade do povo que serve. Lutar por urbanização era primeiro lutar por condução, por luz, por rua, por teto para o povo que trabalha”.
“Política era a bica d’água, o mutirão, a laje virada e colocar a mulher nas associações de favela. Gente, minha paixão sempre seguiu viva pelo saber das coisas, para agir com compaixão pelos outros e com respeito aos seus saberes. Meu encantamento de aprendiz era para este saber que escuta, que observa, que guarda no corpo e na memória o que nem sempre está nos livros e nos registros. O saber que costura a esperança como a resistência”.
“Fui fazer faculdade para aprender, poder usar por dentro o código dos dominantes, para entender o idioma do poder. Eu já era uma poliglota da sobrevivência, falava o português do patrão, o léxico do racista, a linguagem da luta comunitária, mas precisava me alfabetizar na língua da academia, das intelectuais, das mulheres brancas preparadas. Era importante reconhecer suas qualidades e poder também usá-las a serviço da mulherada preta e favelada. Benedita se fez Benedita assim. Fez da dor, matéria-prima. Fez da escuta, o caminho. Fez da esperança, horizonte. Metida a aprender, a ensinar, a resistir, sabendo das coisas porque vivia tendo que dar um jeito com elas”.
“Como quem luta com o corpo e a alma, mas não esquece de agir com o coração. Com dureza e ternura, com garra e doçura, com tristeza às vezes, mas com esperança, alegre e com sorriso, no presente olhado para o melhor do futuro. Por isso, gente, o título de doutora Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade do Brasil, a universidade que nasceu de todos, é um título conferido a todos nós, a todas nós”.
“Esse título é da domética, que cuida como especialista em assistência social. É da manicure, que escuta mais que muito analista. É do motoboy, que conhece a cidade tanto quanto o urbanista. É da avó, que cura com folha. É da mãe, que ensina com gesto. É da religiosa, que ensina pela fé. É dos pretos e pretas, das vítimas das balas, das juventudes periféricas, da população LGBTQIA+. Esse título é dos empreendedores de seu próprio destino, que tiram de si mesmo as suas chances de melhoria. É dos que ainda vivem sem CPF e dos que moram longe, o céu ainda nega a sua dignidade”.
“Este título carrega muitos nomes, carrega os muitos silêncios de quem não pôde se sentar nos bancos da universidade, porque foram impedidos pelos servos da intolerância, da desigualdade e da exclusão. Esse título é a obra dos trabalhadores, porque antes de virar tese, eles tinham que saber que o que representavam já tinha virado o pão, já tinha virado a fé, já tinha virado o empurrão, não desistir de esperançar”.
“Este título é das muitas Benés e dos muitos Benés vindos lá de baixo e que constroem o mundo com muita garra, com muita empatia e com sobra de generosidade. Os saberes homenageados nesse título são os das nossas vivências, das dores que não viraram ódio e ressentimento, do amor pela vida digna, que vira coragem para a luta por dignidade, inclusão e reconhecimento. Esse título, que agora recebo em nome de todos nós, é mais do que uma honra, é o recomeço de nossas vidas. Ele é o retrato de todos os passos que me trouxeram até aqui. É da menina que escutava o mundo antes de saber nomeá-lo, dos mestres da vida que me ensinaram a ver com os olhos do povo, dos encontros com a diversidade que só a universidade pública é capaz de construir. É nesta casa, de janelas largas para o horizonte e portas abertas para o futuro, que os filhos dos brasis múltiplos encontram chão, voz e oportunidade”.
“A universidade pública é a contramão do silêncio imposto, é o território onde o saber deixa de ser privilégio dos bem-nascidos e se faz conhecimento com retribuição e evolução generosa. Aqui, o título de doutora Honoris Causa é o reconhecimento dos talentos forjados na travessia dos povos que resistem pensando nas vidas que sonham escrevendo suas histórias. É a celebração da política, da inclusão, da diversidade, do saber que liberta, não aceita censura e não se ajoelha diante do autoritarismo”.
“Honro com este título cada rosto que me atravessou, cada voz que me ensinou, cada luta que me moveu. Ele pertence aos que ousaram amar o conhecimento e aos que não desistiram de existir com dignidade. E agora, mais do que todas estas palavras ditas, é hora de estender os braços para refazer os muitos abraços que me trouxeram até aqui. Já passou da hora de eu não me conter de tanta emoção porque a gente agradece de verdade, de corpo inteiro. Entrou aqui uma Benedita chorosa de emoção e sai daqui uma Benedita doutora chorona de paz e felicidade. Muito obrigado”.
Após duas eleições virtuais com grande participação dos professores, a AdUFRJ voltará a realizar um pleito presencial neste ano para a escolha da diretoria e do Conselho de Representantes para o próximo biênio. A mudança no regimento, aprovada em Assembleia Geral esta semana, foi imposta pelo Andes. As eleições remotas estão proibidas pelo estatuto do Andes em todas as seções sindicais. Em 2023, professores da UFRJ escolheram por ampla maioria o sistema remoto.
Desde o anúncio da mudança, vários professores vêm manifestando à diretoria, em grupos de mensagens ou nas redes sociais a insatisfação com o retorno da votação em cédula de papel. “Essa é a forma como o Andes trata com autonomia suas filiais?”, “Impressionante retrocesso, que limita uma participação mais ampla e democrática” e “Renovar para retroceder... nenhuma novidade vindo do Andes. Até quando?” são alguns dos comentários postados nas redes sociais da AdUFRJ.
“Nós, da diretoria da AdUFRJ, lamentamos essa alteração. Infelizmente, continuar com o voto virtual poderia levar à judicialização de todo o processo”, afirma a presidenta da entidade, professora Mayra Goulart. “Entendemos que as eleições em formato virtual contribuem para ampliar a participação dos docentes. Em especial, dos aposentados sindicalizados, que são uma parte importante da nossa base e não costumam frequentar mais os campi”, completa.
O maior quórum eleitoral da história do sindicato aconteceu na primeira votação virtual, em setembro de 2021, durante a pandemia. Foram 1.643 votos computados (48,25% do total de associados). Nos três pleitos anteriores, presenciais, com disputa entre duas chapas, os quóruns foram de 1.501 (2015), 1.308 (2017) e 1.239 (2019) votantes. Em 2013, com chapa única do grupo de atual oposição ao sindicato, apenas 413 docentes votaram. Já em 2023, fora da pandemia e também em votação virtual, houve 1.499 eleitores.
A simplificação da logística era outro ponto favorável ao pleito virtual. Na votação física, é necessário mobilizar dezenas de pessoas para compor as mesas eleitorais e garantir o deslocamento das urnas para todos os campi. “A apuração do resultado também é mais ágil”, diz Mayra.
Desde o último Congresso do Andes, em janeiro deste ano, nada disso é mais possível (veja quadro). A AdUFRJ foi obrigada a mudar seu regimento. “O objetivo desta alteração é apenas retornar para o regimento como ele era em 2015, quando o voto era presencial. Todas as menções à virtualidade foram substituídas por menções à presencialidade”, afirmou Mayra, no início da assembleia do dia 9
OPOSIÇÃO
A volta ao pleito presencial foi comemorada por uma parte dos professores que compareceram à assembleia. “Pode parecer saudosismo, mas acho que esta é uma questão política séria. É a qualidade do voto, não apenas a quantidade”, disse o professor Jorge Ricardo, da Faculdade de Educação. “Vivemos em uma era em que tudo é superficial, tudo é feito correndo. O voto presencial exige uma vontade mais definida da pessoa do que simplesmente votar pelo computador ou pelo celular”.
Durante a assembleia, algumas sugestões foram acolhidas no novo regimento. Uma delas determina que a votação deverá acontecer em locais públicos da UFRJ, nos dias e horários de maior afluxo de eleitores, em turnos não inferiores a quatro horas consecutivas em cada dia da eleição. A legislação anterior previa duas horas consecutivas.
O documento com as mudanças nas regras (confira a íntegra AQUI) recebeu 26 votos favoráveis e dois contrários. Houve ainda duas abstenções e um voto em branco.
O cronograma do processo eleitoral será previsto em um edital, que ainda será apreciado em um Conselho de Representantes e, posteriormente, em outra Assembleia. O regimento geral da AdUFRJ determina que as eleições serão realizadas entre 5 e 15 de setembro dos anos ímpares e convocadas com pelo menos 60 dias de antecedência.
DELEGAÇÃO AO CONAD
Na assembleia do dia 9, também foi eleita a delegação para o 68º Conad do Andes, que acontece em Manaus (AM), entre os dias 11 e 13 de julho. Todos os 16 candidatos que se inscreveram serão observadores no evento. A presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, será a delegada indicada pela diretoria, com direito a voto nas deliberações do encontro.
Serão observadores: Nedir do Espirito Santo (recebeu 29 votos); Ana Lúcia Fernandes (29); Eleonora Ziller (30); Veronica Damasceno (29); Carlos Zarro (30); Daniel Negreiros Conceição (29); Camila Azevedo (14); Renata Flores (14); Cristina Miranda (14); Mariana Trotta (14); Ana Cláudia Tavares (14); Luciana Boiteux (14); Claudia Piccinini (14); Luis Acosta (15); Leonardo D’Angelo (14); Sara Granemann (15).
Se alguém desistir da viagem, será substituído pela professora Alessandra Nicodemos.
Acaba de ser aprovado o novo regimento eleitoral da AdUFRJ com a volta ao sistema de votação presencial — o Andes proibiu eleições virtuais. Na assembleia geral realizada nesta segunda-feira, na sala E-212 do Centro de Tecnologia, o documento com as mudanças nas regras (confira AQUI) recebeu 26 votos favoráveis e dois contrários. Houve ainda duas abstenções e um voto em branco.
Também foi eleita a delegação para o 68º Conad do Andes, que acontece em Manaus (AM), entre os dias 11 e 13 de julho. Todos os 16 candidatos que se inscreveram serão observadores no evento. A presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, será a delegada indicada pela diretoria, com direito a voto nas deliberações do encontro.
São observadores: Nedir do Espirito Santo (29 votos); Ana Lúcia Fernandes (29); Eleonora Ziller (30); Veronica Damasceno (29);
Carlos Zarro (30); Daniel Negreiros Conceição (29); Camila Azevedo (14); Renata Flores (14); Cristina Miranda (14); Mariana Trotta (14);
Ana Cláudia Tavares (14); Luciana Boiteux (14); Claudia Piccinini (14);
Luis Acosta (15); Leonardo D'Angelo (14); Sara Granemann (15).
Se alguém desistir, será substituído pela professora Alessandra Nicodemos.