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WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 1Foto: Silvana SáO Conselho de Ensino de Graduação (CEG) aprovou na quarta-feira, dia 19, um conjunto de medidas – reivindicadas pela bancada estudantil do colegiado – que beneficiam especialmente estudantes em greve e são extensivas a todos os mais de 50 mil alunos de graduação.
Os estudantes justificaram o pleito por três motivos: a greve discente, questões de infraestrutura e a greve dos técnicos, que inviabilizou aulas práticas em vários cursos. A sessão, com mais de seis horas consecutivas, acabou somente às 16h40.
Pela decisão do CEG, está estabelecido um novo período de trancamento de disciplinas, que começou no dia 20 e vai até 26 de junho. Não será permitida a contagem de frequência para reprovação em 2024.1. Os conselheiros autorizaram, ainda, a redução do número mínimo de seis créditos a serem integralizados em 2024.1 e flexibilização dos critérios para manutenção de bolsas acadêmicas.
Jubilamentos ficam suspensos no atual semestre. Avaliações poderão ser aplicadas, mas será garantida segunda chamada para todos os estudantes que faltarem às provas, independentemente do motivo. Não houve unanimidade, mas praticamente toda a pauta estudantil foi aprovada.
Apenas dois itens solicitados pelos alunos foram rejeitados: o congelamento do calendário por unidades acadêmicas e a não contabilização das reprovações no cálculo do Coeficiente de Rendimento (CR).
O congelamento do calendário não foi aprovado, mas ficou acertado que a PR-1 poderá negociar com as unidades uma adequação das datas de procedimentos acadêmicos, desde que não haja prejuízos ou mudanças em 2024.2. Não houve pedido de suspensão do calendário geral.
Alexandre Borges, aluno da Letras, diretor do DCE, foi o relator do tema e defendeu as mudanças. “Nós vemos a situação da universidade de forma muito grave e por isso defendemos a greve. Por outro lado, respeitamos as consultas nos cursos. Reconhecemos a decisão grevista de 58 cursos e também de outras dezenas que não optaram pela greve. Por isso, nossa proposta é que a PR-1 analise o calendário em nível das unidades”, explicou.
A UFRJ tem 176 cursos de graduação. Em mais de dois terços deles, os estudantes não aderiram à greve. Mesmo assim, o representante discente enfatizou a necessidade do período de trancamento especial. “A gente considera ruim o trancamento, mas quer evitar um mal maior, que é o excesso de reprovações”, disse. “A gente quer aprender. E, para aprender, a gente quer ter a disciplina por inteiro, com condições de assistir”, justificou.
Logo no início da reunião, a pró-reitora Maria Fernanda Quintela informou seu posicionamento. “Minha proposta desde o início é, independentemente da greve, que a gente converse curso a curso para adequações conforme as necessidades”, disse. “A instituição não suspende calendário geral, porque a instituição não entra em greve”.

Técnicos
O representante dos técnicos, Luiz Felipe Cavalcanti chegou a apontar preocupação com o período de trancamento especial. “A questão do trancamento para a gente é péssima, porque traz sobrecarga de trabalho. Não significa que a gente não vá fazer, mas é um ponto sensível para as secretarias acadêmicas”.
“O tempo todo eu ouvi nas falas ‘direito, direito, direito’, mas a todo direito corresponde um dever”, ponderou o professor Joaquim Martins, representante do CFCH. “Os pontos colocados são todos importantes, mas a gente tem que entender nossas diferenças”, completou.

PONTOS DE VISTA
Os professores foram informados em comunicação enviada pela PR-1 no dia 20 de junho sobre as novas regras para o semestre letivo. Diretor da AdUFRJ, o professor Rodrigo Nunes da Fonseca expressa preocupação com as medidas aprovadas pelo CEG. “Recebi diversas mensagens de docentes descontentes com a decisão. Todos entendem que as questões estruturais e financeiras são graves, mas este não deveria ser um argumento para a flexibilização global”, justifica Rodrigo.
“Os professores rejeitaram a greve em duas assembleias e continuaram lecionando, realizando pesquisa e extensão durante todo o período. Por que vamos flexibilizar faltas discentes, períodos de trancamento etc.?”, questiona. “Não acredito que isso seja justo nem com os docentes, que optaram por não entrar em greve, nem com a maior parte dos alunos, que se dedicaram às suas atividades acadêmicas integralmente”.
Professor do Instituto Politécnico de Macaé e da Coppe, Diego Malagueta também considera excessiva a pauta aprovada pelo colegiado. “O trancamento e segundas chamadas considero bastante pertinente. É esse tipo de solução que compete ao CEG deliberar. E afeta mais a vida do aluno, seu histórico escolar, do que o exercício profissional do docente”, acredita. “Mas considero que certas decisões são até mesmo desrespeitosas com a classe docente”, disse.
Uma das críticas é sobre a não contagem de faltas para fins de reprovação e jubilamento. “Sinto meu trabalho desrespeitado, ao impor ao docente que não atenda a regras básicas do seu exercício profissional”, critica o professor Malagueta. “Ao me impedir de exercer devidamente critérios de aprovação/reprovação, a decisão está invadindo a alçada do docente”, justifica. “Fora a irresponsabilidade de aprovar eventualmente um discente que não deveria. Temos de lembrar que, um dia, ele exercerá a profissão que está cursando”.

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 4Fernando SouzaNa manhã de terça-feira (18), a estudante Giovana Pereira, do 5º período de Ciências Sociais, foi ao gabinete do diretor do IFCS, professor Fernando Santoro, para reclamar da barricada que bloqueava a entrada da sala 402-A, onde sua turma teria uma aula de Antropologia II. O bloqueio era recente, a aluna levou fotos de antes e depois da instalação da pilha de cadeiras que fechou o acesso à sala. “Os bloqueios impedem as pessoas de entrarem nas salas. O professor queria dar aula, mas o bloqueio impediu”, protestou ela.
Na terça e na quarta-feira (19), equipes do Jornal da AdUFRJ constataram que as barricadas feitas com cadeiras bloqueiam o acesso a diversas salas de aula no 3º e no 4º andar do prédio do IFCS/IH. O método tem gerado questionamentos por parte de alunos que não aderiram à greve estudantil e de professores.
As direções do IFCS e do IH têm tentado dar suporte aos professores e aos alunos que desejam ter aulas. Na segunda-feira (17), a direção do IFCS divulgou um protocolo de convivência durante a greve. “A direção entrou como garantidora de que impedimentos físicos, como cadeiras, seriam retirados pelos seguranças sempre que estudantes e professores precisassem transitar nas salas e exercer o direito de frequentar aulas. Os representantes estudantis asseguraram que, respeitando suas formas horizontais de deliberação e organização, seus piquetes seriam de persuasão e não de coerção ou qualquer forma de violência”, diz o comunicado.
Entre as diretrizes do protocolo constam que as “as aulas continuarão a ser ofertadas presencialmente aos alunos que comparecerem”; que “ações de assédio, coerção ou violência devem ser reportadas à Comissão de Prevenção e Combate ao Assédio e, conforme o caso, serão tratadas em Processos Administrativos Disciplinares”; e que “será assegurado aos docentes o livre exercício de seu trabalho e, em caso de ausência de alunos na turma, a aula será contabilizada sem compromisso de reposição”.
Muitos professores temiam ter que repor aulas. “Sinto que há um sentimento generalizado entre os professores de que a greve estudantil é legítima, que as pautas são justas. Estamos todos, alunos, professores e técnicos, imersos em situações emergenciais, em várias dimensões. E todos buscam formas de enfrentar isso. Mas há um desconforto em relação aos bloqueios, inclusive entre alunos, que não se sentem à vontade em ir às aulas. Isso tem gerado certa contrariedade em alguns professores, temerosos de terem que repor aulas que não se recusaram a dar”, reflete a professora Thais Aguiar, do Departamento de Ciência Política.
Segundo Thais, outros aspectos em relação à greve devem ser considerados. “Há uma preocupação institucional com a universidade, que vem tendo seu papel questionado pela direita e enfrenta problemas como a evasão estudantil. A gente vê nossas salas de aula se esvaziando. Se antes da pandemia tínhamos disciplinas optativas com 20 ou 30 alunos, hoje são cinco, dez. Isso para um professor é muito duro. Espero que busquemos entendimentos para construir outro ambiente”.

BLOQUEIOS
Para o diretor do IFCS, o uso de barricadas é um símbolo da crise política por que passa a unidade. “Quando a política começa a ser feita com forças de constrangimento, como cancelamentos e pressões, aí saímos do campo da política democrática para entrar no plano da disputa, da guerra. E nesse plano as coisas não se resolvem mais com a palavra, com o entendimento. Se perdemos a palavra como instrumento político, nós perdemos a coesão comunitária. Estamos num período assim”, observa Santoro.
O diretor lamenta que a palavra esteja sendo substituída pelas barricadas. “Se não é a palavra que traz a adesão dos colegas, mas o assédio, o bloqueio, o impedimento físico, isso é sinal de crise. Há inclusive uma confusão semântica. Muitos estudantes estão chamando as barricadas de piquetes. O piquete é um ato de persuasão, como os trabalhadores nas portas das fábricas convencendo seus companheiros a aderir à greve. Mas estão chamando de piquete o que são barricadas, montes de cadeiras impedindo as pessoas de passar, de entrar em sala de aula. Isso não é uma ação política pela palavra. Uma barricada é um artefato de tática de guerra, um ato violento”.
Os dirigentes estudantis defendem a estratégia. “A greve estudantil foi deflagrada em assembleia, onde também foi votado o uso de piquetes nas salas de aula, impedindo a passagem. A gente utiliza esse meio para conversar com os estudantes que aparecem, o que raramente vem acontecendo porque poucos estudantes estão indo às aulas. Quem aparece para a aula a gente conversa e a maioria entende a questão da greve, respeitando a decisão coletiva”, diz o estudante Washington Yuri, dirigente do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS).
Arthura Rocha, que atua na gestão do CACS, também defende os bloqueios. “Com os piquetes a gente tem a chance de conversar com os estudantes dispostos a ter aulas. Hoje (quinta-feira, 20) aconteceu com dois alunos que vieram para ter aulas e decidiram voltar. A gente até sugere aos professores fazer fotos dos piquetes e enviar aos seus departamentos, reforçando que estamos aqui como testemunhas, já que havia o temor de sanções aos que não ministrassem as aulas. A greve estudantil é legítima e reconhecida pelo CEG”.

INCIDENTE
O clima é de tensão mesmo onde não há barricadas. Na quinta-feira da semana passada (13), uma aula de História Medieval teria sido invadida e interrompida na sala 106. Segundo relato divulgado pela direção do IH, o professor Markos Klemz, do Departamento de Filosofia, teria destratado a professora Josena Ribeiro, substituta de História Medieval. O professor nega as acusações e se diz vítima de difamação.
O diretor do IH, professor Antônio Carlos Jucá, classificou o episódio como “gravíssimo”. “Sou professor universitário há 28 anos, tenho 20 anos de UFRJ e nunca vi nada assim. Já vi aluno invadindo aula para protestar. Mas um professor universitário invadir uma aula de uma professora que estava numa sala e num horário designados para ela? Ela estava absolutamente regular e ele invadiu a sala, criou um clima em que ela se viu na obrigação de sair, porque ele foi ofensivo, ele a destratou”.
O professor garante que pedirá a abertura de um PAD contra Markos Klemz. “Isso não pode ficar impune. Quando afeta a professora Josena, afeta a todos nós. É uma invasão, um desrespeito à atividade docente. Há duas coisas que faço questão de marcar. A primeira é que isso é um assédio moral, ela é uma jovem professora substituta, está numa posição mais fragilizada. A segunda é que é uma atitude sexista, é uma violência de gênero. Ele não faria isso comigo ou com outro professor homem”.
Procurada pelo Jornal da AdUFRJ, a professora Josena Ribeiro preferiu não comentar o incidente. “Sou nova na UFRJ, passei por essa situação de acossamento e acho melhor não me expor”. O caso ficou público por meio de uma postagem da direção do IH no Instagram no dia 17. “Trata-se de um caso gravíssimo de ataque à atividade acadêmica por parte de um docente, caracterizando assédio moral e violência de gênero, tanto pela invasão quanto pela forma como ele se dirigiu à professora. (...) Encaminharemos ainda hoje solicitação de abertura de PAD (Processo Administrativo Disciplinar) contra o professor Markos Klemz”.
No dia 18, o Comitê de Greve do IFCS, os CAs de Filosofia e Ciências Sociais e o DCE manifestaram em postagem no Instagram “indignação conjunta diante da atitude vexatória e difamadora assumida deliberadamente pela direção do IH contra o professor Markos Klemz”.
O professor nega as acusações. “Estou bem abalado desde que essa nota difamatória foi divulgada. Ela teve um poder de manchar a minha reputação como eu nunca vivi. Sou professor no Serviço Público desde 2011. Faço política desde o grêmio da escola. Nunca sofri esse tipo de perseguição. Jamais eu invadiria a aula de um colega profissional”, argumenta Klemz.
Ele diz que foi convidado pelos estudantes a participar de uma atividade de greve na sala 106. “Jamais chamaria essa colega de qualquer coisa, muito menos de fura-greve. Não faz sentido, os professores não estão em greve na UFRJ. Fui convidado para uma roda de conversa. Cheguei às 15h05, e já havia pessoas sentadas na plateia, como ela, que se apresentou como professora de História Medieval. Eu segui conversando com alguns estudantes, surgiu um papo sobre a greve no IFCS, e comentaram que uma professora tirou as cadeiras da porta para dar aula. Comentei que achava melhor tentar dialogar do que burlar a mobilização dos estudantes. Ela ouviu isso e se exaltou, disse que não estava burlando nada. Eu nem estava me referindo a ela, mas a uma situação geral. Aí ela se retirou da sala”, relata.
“Ela ter se sentido ofendida com a situação e procurar a direção do IH para fazer queixa é legítimo. O que me provoca indignação é a direção de um instituto fazer um post de rede social sem me contactar. O post é uma peça de difamação, o dano que já foi feito eu não vou conseguir desfazer”, completa.

DIÁLOGO
Decano do CFCH, o professor Vantuil Pereira é taxativo sobre o incidente da sala 106. “Se há uma denúncia, tem que ser apurada. Antes do PAD há um inquérito preliminar para que as partes sejam ouvidas. Minha posição é de condenar qualquer ato de violência, de sempre buscar uma solução civilizatória”.
Vantuil está articulando uma reunião com todos os segmentos do IFCS. “Tenho buscado conversar com as direções do IH e do IFCS e com os estudantes para estabelecer uma posição intermediária, reconhecendo o direito dos estudantes, por um lado, e o direito de quem quer dar aulas. Tenho pedido aos estudantes para não fazerem barricadas”.
O decano acredita que um diálogo franco pode ajudar a amenizar o clima no IFCS. “A greve estudantil é um processo que mostra a sociedade viva, isso é positivo. O que merece reflexão é a colocação das barricadas. Para chegar a esse limite, houve antes uma tentativa de entendimento? A barricada dificulta o acesso e o direito de ir e vir. Vamos apostar no diálogo”.

WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.09 1Silvana Sá e Renan Fernandes 

Preocupados com os impactos da greve estudantil na Escola de Belas Artes, professores se reuniram com a diretoria e com o Jornal da AdUFRJ na manhã de segunda-feira, 10, em busca de apoio. Não é possível acessar gabinetes, materiais de trabalho, salas de aula, corredores ou laboratórios. A situação foi capa deste Jornal na última semana. Professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais também participaram da atividade, já que o IFCS, a exemplo da EBA, é alvo de piquetes de estudantes em greve. A reunião foi chamada pela representante da EBA no Conselho de Representantes da AdUFRJ. Ao fim do encontro, ficou combinado que o jornal fará uma edição especial sobre as condições de trabalho na EBA e no IFCS-IH.
Integrante do Conselho de Representantes da AdUFRJ, a professora Cláudia Mourthé lembrou que a categoria docente não está em greve e que há uma cobrança da direção da EBA para que os professores estejam na universidade. “Apesar dessa necessidade, há uma impossibilidade concreta pelos bloqueios”, frisou. “Eu tive que mudar o endereço da defesa de uma pós-graduanda na sexta-feira (7), porque não dava para entrar”.
“É claro que o movimento tem causas legítimas”, ponderou o professor Gilberto Rangel, do curso de Design de Interiores. “Mas a gente não pode compactuar com a violência. Não quero mais ser hostilizado pelos alunos, como já fui, nem sofrer violência. Estão abrindo um precedente perigoso para a instituição”.
Embora o professor Gilberto tenha resumido o sentimento majoritário dos docentes que acompanharam a reunião, nem todos os presentes sentiam-se intimidados pelos alunos. “Hoje estou no Fundão, na minha sala, ou melhor, minha ‘sauna’ de aula. Eu não tenho essa percepção”, justificou a professora Martha Werneck, do curso de Pintura. “Os estudantes estão certos. Nós é que estamos errados de não estar em greve. Eles não têm o mínimo”, disse.
O clima de animosidade entre estudantes e professores fez com que alguns docentes pedissem à reportagem para não terem seus depoimentos identificados. “Houve uma professora que se dispôs a fazer atividade conjunta. Precisou submeter aos estudantes o material que apresentaria. Depois, foi denunciada”, contou uma docente. “Outra professora levou os alunos para o CT. O Comando de Greve descobriu o local e foi chamá-la de fascista”.
“É claro que as condições estão ruins, mas está errado professor ter que dar satisfação sobre conteúdo de aula para aluno. Ter que dizer para onde vai, consultar o que pode falar em sala de aula”, completou outro docente, indignado.
Diretora da AdUFRJ, a professora Veronica Damasceno explicou que tem tentado conversar com os estudantes que fazem parte do Centro Acadêmico da EBA. “Tenho tentado alertar sobre o período de avaliações. Muitos estudantes não querem aderir à greve. Muitos vão querer fazer as provas, outros não vão querer. E como ficaremos nós, docentes?”, questionou. “Lançamos nota? Não lançamos? O calendário acadêmico não está suspenso”, observou.
A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, passa por situações semelhantes na sua unidade, o IFCS. “Os relatos têm duas coisas em comum: a preocupação geral com as condições de trabalho e a frustração com a instrumentalização do movimento de greve na universidade”, destacou. “A direção da AdUFRJ diverge de que paralisar atividades é o melhor meio de lutar pelas condições de infraestrutura. Professor não pode sofrer hostilidade nem de aluno e nem de outros docentes”, pontuou. Ela colocou o sindicato à disposição dos colegas para coletar informações como forma de proteção laboral. “Vamos usar nossa estrutura de comunicação para que fique claro que nós queríamos dar aula, mas fomos impedidos. Estamos ao lado de vocês para passarmos por esse momento juntos”.

SETOR JURÍDICO
À DISPOSIÇÃO
No mesmo dia, à tarde, a diretoria da AdUFRJ ouviu professores no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais sobre as condições de trabalho durante a greve estudantil. Depois de três semanas sem aulas devido à falta de água potável na unidade, os alunos do IFCS-IH deflagraram greve de ocupação e ergueram piquetes com cadeiras nas entradas das salas de aulas.
O investimento na manutenção do prédio histórico do Largo de São Francisco de Paula é uma das principais reivindicações. O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, participou do encontro e mostrou otimismo com o andamento do processo junto ao Iphan para a liberação das reformas da fachada e das instalações elétricas. “O parecer técnico da reforma da fachada foi liberado e as obras começam este mês. A obra será realizada pela prefeitura do Rio de Janeiro, com a supervisão da Coordenação de Preservação em Imóveis Tombados (Coprit)”, celebrou.
O professor Cesar de Miranda e Lemos, do Instituto de História, defendeu o diálogo entre professores e alunos. O docente concordou com as demandas dos alunos e classificou o IFCS-IH como “um prédio de terrores”. “Entrei com um inquérito no Ministério Público Federal para garantir os direitos de uma aluna com doença degenerativa que passa por situações humilhantes por causa da falta de acessibilidade”, afirmou Lemos, que também possui formação em Direito.
Um professor que preferiu não se identificar revelou preocupação por estar em estágio probatório e não conseguir entrar em sala de aula para trabalhar. O docente contou que o combinado com os estudantes era que os professores poderiam entrar em sala para cumprir seus horários. “Contando a falta de água e a greve, já são quatro semanas sem dar aulas. Queria dar mais duas aulas para fechar o período sem prejuízo para os alunos”, disse.
O advogado Renan Teixeira, da assessoria jurídica da AdUFRJ, deu orientações para os professores não sofrerem penalidades administrativas. “É importante comparecer ao prédio em seus dias de trabalho, documentar a impossibilidade de dar aula e informar à chefia imediata”, explicou.

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 7Arte sobre foto de Kelvin MeloKelvin Melo e Renan Fernandes

Não precisa nem entrar no prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e do Instituto de História para começar a entender as péssimas condições de trabalho e estudo enfrentadas por professores, técnicos e estudantes. Plantas crescem nas paredes e tubulações de escoamento da água. As paredes, desbotadas, estão pichadas. Muitas vidraças, quebradas. No esvaziado Centro do Rio, o entorno é inseguro. Principalmente, na saída dos cursos noturnos.
Por dentro do imóvel de quatro pavimentos e 14 mil m² de área construída, a sensação de insegurança é alimentada pelo risco de incêndio. A rede elétrica, do século passado, demanda uma ampla reforma. Em caso de sinistro, quem frequenta os três pavimentos superiores só tem dois caminhos para alcançar o térreo: uma elegante escadaria toda feita em madeira (!) e um apertado acesso de cimento, nos fundos do prédio.
O sistema elétrico antigo, unido à falta de recursos, repercute na falta de climatização da maioria das salas. A reportagem constatou muitos aparelhos de ar quebrados ou pendentes de manutenção e instalação adequada. E uma profusão de ventiladores velhos, insuficientes para refrescar as amplas salas dos institutos, com um pé direito altíssimo.
Nas salas, além do calor em dias muito quentes, docentes e alunos sofrem com o mobiliário antigo. A reportagem viu muitos quadros a giz e poucos quadros brancos de qualidade. Os docentes também encontram dificuldade para conseguir equipamentos de projeção.
Já a falta de água para beber nos dias de calor se tornou um problema recente do prédio. Um acidente com a caixa de gordura do restaurante universitário contaminou os bebedouros do prédio, em maio, e forçou a suspensão das aulas por vários dias. Nesta semana, desta vez por um problema de fornecimento da companhia no centro da cidade, a comunidade do IFCS-IH ficou novamente sem água na quinta-feira (20).
Estes e outros problemas que compõem o drama da comunidade do prédio são abordados nesta edição especial do Jornal da AdUFRJ.

POSSIBILIDADE DE INCÊNDIO COMO O DO MUSEU NACIONAL

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 2Fotos: Fernando SouzaO receio que o IFCS-IH sofra um incêndio das mesmas proporções do Museu Nacional é constante. A rede elétrica defasada é o principal foco de preocupação de professores, técnicos e alunos que frequentam o prédio histórico do Largo de São Francisco.
“Já tivemos três princípios de incêndio em dois anos”, afirmou o estudante Washington Yuri, do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em um deles, no ano passado, começou a sair faísca de um disjuntor antigo do quarto andar. “Alguém, por pura sorte, viu e desligou o disjuntor”, disse.
No início deste semestre letivo, uma professora substituta do Instituto de História tomou um tremendo susto ao tentar ligar um dos ventiladores. O aparelho deu curto-circuito e a docente levou um choque muito forte. “Ela ficou muito assustada, mas continuou a aula mesmo assim, com o braço dormente ali na hora”, afirmou o professor João Paulo Rodrigues, do IH.
Se algum destes “sustos” fugir ao controle e o prédio pegar fogo nos pavimentos superiores, as pessoas terão apenas duas opções para alcançar a saída: uma elegante escadaria toda feita em madeira e um apertado acesso nos fundos.
O professor Antonio Saturnino Braga, do departamento de Filosofia, revelou preocupação com as rotas de fuga do edifício. “É um medo com que convivemos aqui. Um tópico que deveria ser atacado prioritariamente. São feitos treinamentos e manutenção dos extintores, mas isso é paliativo. A questão das rotas de escape é muito grave”, teme.

“SAUNAS” DE AULA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 3Não é fácil dar aulas em dias de calor. No verão, nem se fala. A rede elétrica antiga, somada à falta de recursos da universidade, impacta também a climatização do IFCS-IH. Não há aparelhos de ar-condicionado na maioria das salas. Parte dos que existem é apenas decorativa: os aparelhos estão completamente quebrados ou precisam de manutenção para voltar a operar.
A solução encontrada é a instalação de ventiladores. Muitos, mas insuficientes para refrescar as amplas salas do prédio histórico, com um pé direito altíssimo. Além de barulhentos, concorrendo com a voz dos professores.
“Os aparelhos de ar-condicionado que existem não funcionam e os ventiladores são velhos e ineficazes. Quando ligados, a gente se pergunta se é pior o barulho ou o calor”, lamentou o professor Saturnino Braga.
A professora Adriany Ferreira de Mendonça, da Filosofia, conconcorda. “Nos dias de calor, a gente passa mal. É desumano. Ainda temos medo de ligar os ventiladores, porque podem cair do teto”, disse.

INFILTRAÇÕES SÃO CONSTANTES

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.10 5As infiltrações estão por toda parte. Ao lado do Salão Nobre, no segundo pavimento, existe uma cratera no teto do banheiro feminino. Na biblioteca, perto de uma estante do setor de periódicos, uma das paredes está bastante descascada pela ação da umidade. As obras são protegidas por um plástico improvisado.
Diretor adjunto de graduação do Instituto de História, o professor João Paulo Rodrigues já teve a sala afetada por vazamentos duas vezes, em menos de seis meses: em novembro e abril. No episódio mais recente, detritos do teto ficaram espalhados pela mesa e pelo chão.
“O de novembro inundou a sala toda e vazou água para o corredor”, disse. “Os armários, com documentos, ficaram molhados. Tivemos que abrir para secar. Mas os armários estão deteriorados. E perdemos o filtro de água, que pifou”. O piso perdeu o sinteco e o cheiro de mofo só desapareceu por volta de maio, segundo o docente.
O mofo inviabiliza o uso de algumas salas do edifício. É o caso da sala 107, no térreo, que não tem janelas de ventilação para a rua. O professor Pedro Vitor, da Faculdade de Educação, que trabalha no prédio ministrando o curso de Didática especial em História, foi alocado na 107 no último período e precisou buscar outro local para dar aula. “É impraticável. A sala parece um calabouço. Tem um cheiro de mofo muito forte, ninguém consegue ficar mais de 15 minutos ali. Eu e os alunos começamos a espirrar e tive que interromper a aula para procurar outra sala”, contou.
A professora Isabele Mello, do IH, relacionou a falta de infraestrutura no prédio com um ambiente de desestímulo à continuidade nos cursos. “Por vezes, me sinto constrangida em sala de aula. Como promover a continuidade na carreira acadêmica, na pós-graduação, quando o estudante observa as condições em que ele está assistindo aula e que seu professor está trabalhando?”, questionou.

RISCO À SAÚDE NA BIBLIOTECA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12Com quatro pavimentos e um acervo de 135 mil documentos, a biblioteca Marina São Paulo de Vasconcellos é um dos destaques do prédio. Mas a beleza das paredes de pedra, originais da construção do século XIX, esconde um risco à saúde de quem estuda e trabalha no local.
“As paredes estão se desfazendo, soltando um pó que é respirado pelos frequentadores”, informa Sulamita Nicolau de Miranda, subchefe da biblioteca. “As pedras guardam o aspecto histórico dos anos 1800, mas estamos em 2024. É preciso um trabalho de recuperação, uma análise técnica de como estão essas paredes”, afirma.
A demanda por mais tomadas é outro problema do espaço. “Hoje, os alunos estudam com tablets e notebooks. Precisamos de uma rede elétrica estável, mas não temos nem tomadas suficientes para oferecer. E as que temos são do padrão antigo, de dois pinos”, conta Sulamita.
A falta de climatização também desafia quem trabalha e estuda no local. O aparelho de ar está quebrado. A reportagem do Jornal da AdUFRJ constatou o clima desconfortável na biblioteca na terça-feira, 18, dia em que a cidade registrou máxima de 34°C.
Mas as temperaturas altas também são prejudiciais ao acervo. “É uma questão de preservação do patrimônio da universidade. Os livros expostos ao calor e às janelas abertas se deterioram com o tempo”, aponta a bibliotecária.
O padrão determinado pelo manual de conservação de acervos bibliográficos da universidade estipula a temperatura ideal nas bibliotecas entre 19°C e 23°C e a umidade relativa do ar entre 50% e 60%.

ÁGUA CONTAMINADA

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 1O episódio recente da crise de infraestrutura foi a contaminação da água dos bebedouros. O problema foi causado por um vazamento da caixa de gordura do restaurante universitário, em maio. Nas redes sociais, estudantes relataram mal estar, vômito, dor de cabeça e de barriga. As aulas foram suspensas até a normalização do serviço.
O bicentenário prédio do Largo de São Francisco conta com quatro bebedouros (um por andar) para atender a uma “população” de 157 professores, 93 técnicos e mais de dois mil alunos com matrícula ativa. E isso contando apenas as graduações do IFCS e do IH.
Estudantes de Psicologia, Enfermagem e Odontologia também recebem aulas de Ciências Sociais ou Filosofia no local. Além disso, o bandejão localizado no térreo — que serve 800 refeições no almoço e 400 no jantar — serve o público das demais unidades da UFRJ no Centro.
Bem antes deste incidente, Adriany Ferreira, docente da Filosofia, já havia passado por uma experiência desagradável com os bebedouros. “Não tenho mais coragem de beber a água do IFCS. Tive problemas de saúde ano passado e nunca mais bebi”, revelou.
A professora destacou a qualidade da água como uma condição básica para a permanência de estudantes nos cursos. “A universidade tem que ser cada vez mais aberta e mais inclusiva. Agora, sem água potável, não tem restaurante universitário. O estudante, que por vezes vem de longe, fica sem água e sem comida”, concluiu.
O IFCS-IH comporta oito banheiros — um deles interditado —, que não estão em boas condições. Um aviso no sanitário feminino do segundo andar dá a dimensão de como o problema é antigo. “Em 2016, o IH gastou mais de R$ 6 mil com a manutenção dos banheiros. Em menos de seis meses, seis tampas de privada, um espelho e dois ganchos de bolsa foram quebrados”, diz um trecho.

MOBILIÁRIO ANTIGO E PRECÁRIO

WhatsApp Image 2024 06 21 at 20.45.12 2Kelvin MeloNo Salão Nobre, no segundo pavimento, um bonito relógio de parede marca sempre a mesma hora: cinco para as duas. O tempo parece ter parado também quando se trata de mobiliário e equipamentos básicos para as aulas no prédio. Em várias salas, os professores precisam trabalhar com o tradicional quadro negro a giz.
Há quadros brancos que só podem ser apagados, entre uma disciplina e outra, pelos funcionários terceirizados, usando produtos de limpeza mais fortes. “Comecei a trabalhar no ensino básico em 2016 e nunca dei aula em uma escola com quadro negro. Como o IFCS ainda tem salas sem quadro branco?”, questiona o professor Pedro Vitor dos Santos, da Faculdade de Educação.
Pedro foi aluno do IFCS, mas ainda é surpreendido com a falta de estrutura do edifício. “O IFCS funciona por meio de improviso e gambiarras. Os projetores instalados nas salas não funcionam. O departamento de Ensino de História tem um cedido pela Faculdade de Educação. Somos sete professores e a gente tem que fazer rodízio. Tenho uma aula sobre o uso da imagem na sala de aula e tenho que combinar com meus colegas para poder usar o projetor”, lamentou.

INSEGURANÇA NA SAÍDA DO NOTURNO

Três cursos noturnos — bacharelado e licenciatura em História e a licenciatura em Ciências Sociais — funcionam no Largo de São Francisco, com disciplinas até 21h40 ou 22h. Mas não é incomum que os professores liberem as turmas antes por conta da insegurança no centro do Rio.
A professora Isabele Mello, do Instituto de História, expôs o medo de alunos com a violência no entorno do prédio. “A questão da insegurança afeta principalmente os alunos do noturno. Vários estudantes já relataram assaltos no trajeto até os pontos de ônibus ou o metrô”, revelou.
Uma alternativa para reduzir os riscos seria a abertura do portão dos fundos do prédio, que dá acesso ao Largo Alexandre Herculano, próximo à Praça Tiradentes. “A liberação do portão facilitaria a vida dos estudantes. Mas por limitação de segurança e por necessidade de reformas não podemos usar a saída”, acrescentou.

 

53782558248 b921736d5a w Foto: Ricardo Stuckert / PRDiante da pressão da greve de professores do magistério superior e do EBTT, que já dura dois meses e abarca 62 IFES em todo o país, o governo federal se moveu em várias frentes esta semana para acelerar o fim do movimento paredista. Foram acionados três ministérios para contemplar itens da pauta de reivindicações do Andes e do Sinasefe, e dar amparo legal ao acordo assinado com o Proifes em 27 de maio — no qual o governo sacramentou a sua proposta final de reajuste.
O “rolo compressor” começou na segunda-feira (10), em cerimônia no Palácio do Planalto, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dividiu a mesa com os dois ministros diretamente envolvidos na negociação com os docentes — Camilo Santana, do MEC, e Esther Dweck, do MGI. Foram anunciados R$ 5,5 bilhões do novo PAC para a Educação, que inclui a construção de dez novos campi (tabela ao lado), e uma recomposição orçamentária de R$ 400 milhões para as IFES, esta uma reinvindicação incorporada pelos sindicatos durante a campanha salarial (veja matéria abaixo).
Na ocasião, Lula e Camilo deixaram claro que o governo não mais avançaria na pauta econômica além do que já fora acordado em 27 de maio. O ministro afirmou que as propostas feitas aos docentes e aos TAEs representam um impacto de mais de R$ 10 bilhões. “Há um enorme esforço do governo para a gente sair desse impasse e garantir a retomada das aulas para os nossos alunos”, disse Santana.WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.15.29
Em seu discurso, o presidente Lula reafirmou que o governo chegara ao limite na pauta econômica: “O montante de recursos que a companheira Esther colocou à disposição é um montante não recusável, só quero que levem isso em conta”, frisou. Lula ainda lembrou seus tempos de sindicalista para dar uma “aula” aos dirigentes que lideram a greve nas federais.
“A greve tem um tempo para começar e tem um tempo para terminar. A única coisa que não se pode permitir é que ela termine por inanição. O dirigente sindical tem que ter coragem de tomar decisões que muitas vezes não são o tudo ou nada que ele apregoou. Muitas vezes eu fiquei com nada. Não há razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor, quem está perdendo é o Brasil e os estudantes. Não é por causa de 3% ou 4% que a gente fica a vida inteira em greve”, pontificou o presidente.

SAIR OU NÃO DA GREVE?
Na estratégia do governo, o “tiro de misericórdia” foi disparado na sexta-feira (14), na mesa temporária com o Andes, o Sinasefe e o Proifes. No encontro, os negociadores do MEC aceitaram duas reivindicações não econômicas basilares das entidades.
A primeira é que o governo passará a reconhecer o direito dos professores aposentados de incorporar benefícios por meio do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC). Atualmente, os aposentados têm buscado o Judiciário para poder garantir esse direito. O governo anunciou que abrirá mão de recorrer das decisões, implementando o benefício.
A segunda é a revogação imediata da Portaria 983, do governo Bolsonaro, que estabelecia carga horária mínima e controle de ponto para os docentes do EBTT, o que restringia as atividades de pesquisa e extensão.
O governo também sinalizou com a revogação da IN 66/2022, que limita a progressão funcional de docentes federais.
Dirigentes do Andes e do Sinasefe, embora ainda sustentem o discurso de manutenção da greve, já começam a esboçar falas que destacam os avanços conquistados.
“A revogação imediata da portaria 983 e a garantia do RSC para os aposentados são duas vitórias que temos que comemorar muito. Isso é produto de greve”, disse após a reunião de sexta a coordenadora-geral do Sinasefe, Artemis Martins.
“Por certo, sem a nossa luta, nenhum tipo de movimentação por parte do governo federal seria realizado”, completou Gustavo Seferian, presidente do Andes.
O dilema agora é sair ou não da greve com reajuste zero em 2024. Sem novas mesas de negociação marcadas e sem perspectivas de novos avanços, a greve tende a perder força a partir de agora, em um processo de desgaste natural para o qual contribuem ainda o fim do período letivo e o início das férias de julho. Assembleias de base serão realizadas ao longo da próxima semana.

A 'REDENÇÃO' DO PROIFES
Se com o anúncio da recomposição orçamentária de R$ 400 milhões o governo deu uma resposta — ainda tímida — a uma das pautas dos docentes em greve, em outra frente trabalhou para anular um dos trunfos do Andes e do Sinasefe para deslegitimar o acordo de 27 de maio. Em despacho publicado na segunda-feira (10), o Ministério do Trabalho e Emprego deferiu o registro sindical definitivo do Proifes. A entidade passou a ter plenos poderes para representar sindicatos de docentes do magistério superior e do EBTT.
De acordo com a advogada Andréia Munemassa, assessora jurídica do Proifes, caiu por terra a ofensiva contra o acordo. “Perdem o objeto as 17 ações ajuizadas pelas seções sindicais que compõem a base da Andes perante a Justiça Federal, assim como as duas reclamações trabalhistas de autoria do Sinasefe”, explicou a advogada.
Segundo ela, duas liminares de um juiz federal de Sergipe, que suspendiam o acordo, não mais se sustentam. “A fundamentação utilizada pelo juiz federal para a concessão das liminares ocorreu unicamente devido à inexistência de registro da Federação”.
Da defesa ao contra-ataque, o Proifes ingressou esta semana com ação “contra condutas antissindicais” do Andes. Ela tramita na 4ª Vara do Trabalho de Brasília e se baseia na ação planejada pelo sindicato junto às suas seções para que judicializassem o acordo de 27 de maio. “A prática de atos antissindicais encontra vedação expressa tanto no Ordenamento Jurídico Brasileiro, quanto em convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho, sendo, portanto, prática inaceitável por parte de entidades sindicais que agem como se fossem 'donas' da categoria”, diz o Proifes.

ANÚNCIOS DE R$ 5,5 BILHÕES DO NOVO PAC E DE RECOMPOSIÇÃO PÕEM ÁGUA NA FERVURA

WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.15.29 1A estratégia de abrandar o ímpeto do movimento grevista teve início na segunda-feira (10) e colocou em campo o próprio presidente Lula. Em reunião com reitores e reitoras de universidades e institutos federais, o governo anunciou investimentos de R$ 5,5 bilhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nessas instituições. Serão R$ 3, 17 bilhões para consolidação e R$ 600 milhões para expansão de universidades, e mais R$ 1,75 bilhão destinado a hospitais universitários. Os recursos de consolidação serão aplicados em 338 obras — 223 novas, 20 em andamento e 95 retomadas. Já os R$ 600 milhões para expansão contemplam a criação de 10 novos campi.
O governo também anunciou uma complementação orçamentária de R$ 400 milhões para custeio das IFES. São R$ 279,2 milhões para as universidades e R$ 120,7 milhões para os institutos. Os recursos se somam aos R$ 347 milhões recompostos pelo MEC de janeiro a maio deste ano.
No Consuni de quinta-feira (13), o reitor Roberto Medronho informou que, na primeira suplementação, de R$ 347 milhões, couberam à UFRJ R$ 13 milhões. "Foi muito aquém dos R$ 198 milhões que pedimos. Nessa agora, de R$ 400 milhões, sendo R$ 280 milhões para as universidades e R$ 120 milhões para os institutos, esperamos de R$ 8 a 10 milhões", disse o reitor.
Em relação aos recursos do novo PAC, Medronho informou que o MEC pediu à UFRJ uma lista de obras inacabadas do Reuni e de assistência estudantil. Para essas obras, o novo PAC reservou R$ 40 milhões. Entre as obras contempladas estão dois alojamentos estudantis no campus do Fundão: o alojamento atrás do CCMN, e o modular (em estruturas metálicas, como contêineres), onde, segundo ele, já foram gastos R$ 15 milhões.

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