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WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.09 1Silvana Sá e Renan Fernandes 

Preocupados com os impactos da greve estudantil na Escola de Belas Artes, professores se reuniram com a diretoria e com o Jornal da AdUFRJ na manhã de segunda-feira, 10, em busca de apoio. Não é possível acessar gabinetes, materiais de trabalho, salas de aula, corredores ou laboratórios. A situação foi capa deste Jornal na última semana. Professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais também participaram da atividade, já que o IFCS, a exemplo da EBA, é alvo de piquetes de estudantes em greve. A reunião foi chamada pela representante da EBA no Conselho de Representantes da AdUFRJ. Ao fim do encontro, ficou combinado que o jornal fará uma edição especial sobre as condições de trabalho na EBA e no IFCS-IH.
Integrante do Conselho de Representantes da AdUFRJ, a professora Cláudia Mourthé lembrou que a categoria docente não está em greve e que há uma cobrança da direção da EBA para que os professores estejam na universidade. “Apesar dessa necessidade, há uma impossibilidade concreta pelos bloqueios”, frisou. “Eu tive que mudar o endereço da defesa de uma pós-graduanda na sexta-feira (7), porque não dava para entrar”.
“É claro que o movimento tem causas legítimas”, ponderou o professor Gilberto Rangel, do curso de Design de Interiores. “Mas a gente não pode compactuar com a violência. Não quero mais ser hostilizado pelos alunos, como já fui, nem sofrer violência. Estão abrindo um precedente perigoso para a instituição”.
Embora o professor Gilberto tenha resumido o sentimento majoritário dos docentes que acompanharam a reunião, nem todos os presentes sentiam-se intimidados pelos alunos. “Hoje estou no Fundão, na minha sala, ou melhor, minha ‘sauna’ de aula. Eu não tenho essa percepção”, justificou a professora Martha Werneck, do curso de Pintura. “Os estudantes estão certos. Nós é que estamos errados de não estar em greve. Eles não têm o mínimo”, disse.
O clima de animosidade entre estudantes e professores fez com que alguns docentes pedissem à reportagem para não terem seus depoimentos identificados. “Houve uma professora que se dispôs a fazer atividade conjunta. Precisou submeter aos estudantes o material que apresentaria. Depois, foi denunciada”, contou uma docente. “Outra professora levou os alunos para o CT. O Comando de Greve descobriu o local e foi chamá-la de fascista”.
“É claro que as condições estão ruins, mas está errado professor ter que dar satisfação sobre conteúdo de aula para aluno. Ter que dizer para onde vai, consultar o que pode falar em sala de aula”, completou outro docente, indignado.
Diretora da AdUFRJ, a professora Veronica Damasceno explicou que tem tentado conversar com os estudantes que fazem parte do Centro Acadêmico da EBA. “Tenho tentado alertar sobre o período de avaliações. Muitos estudantes não querem aderir à greve. Muitos vão querer fazer as provas, outros não vão querer. E como ficaremos nós, docentes?”, questionou. “Lançamos nota? Não lançamos? O calendário acadêmico não está suspenso”, observou.
A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, passa por situações semelhantes na sua unidade, o IFCS. “Os relatos têm duas coisas em comum: a preocupação geral com as condições de trabalho e a frustração com a instrumentalização do movimento de greve na universidade”, destacou. “A direção da AdUFRJ diverge de que paralisar atividades é o melhor meio de lutar pelas condições de infraestrutura. Professor não pode sofrer hostilidade nem de aluno e nem de outros docentes”, pontuou. Ela colocou o sindicato à disposição dos colegas para coletar informações como forma de proteção laboral. “Vamos usar nossa estrutura de comunicação para que fique claro que nós queríamos dar aula, mas fomos impedidos. Estamos ao lado de vocês para passarmos por esse momento juntos”.

SETOR JURÍDICO
À DISPOSIÇÃO
No mesmo dia, à tarde, a diretoria da AdUFRJ ouviu professores no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais sobre as condições de trabalho durante a greve estudantil. Depois de três semanas sem aulas devido à falta de água potável na unidade, os alunos do IFCS-IH deflagraram greve de ocupação e ergueram piquetes com cadeiras nas entradas das salas de aulas.
O investimento na manutenção do prédio histórico do Largo de São Francisco de Paula é uma das principais reivindicações. O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, participou do encontro e mostrou otimismo com o andamento do processo junto ao Iphan para a liberação das reformas da fachada e das instalações elétricas. “O parecer técnico da reforma da fachada foi liberado e as obras começam este mês. A obra será realizada pela prefeitura do Rio de Janeiro, com a supervisão da Coordenação de Preservação em Imóveis Tombados (Coprit)”, celebrou.
O professor Cesar de Miranda e Lemos, do Instituto de História, defendeu o diálogo entre professores e alunos. O docente concordou com as demandas dos alunos e classificou o IFCS-IH como “um prédio de terrores”. “Entrei com um inquérito no Ministério Público Federal para garantir os direitos de uma aluna com doença degenerativa que passa por situações humilhantes por causa da falta de acessibilidade”, afirmou Lemos, que também possui formação em Direito.
Um professor que preferiu não se identificar revelou preocupação por estar em estágio probatório e não conseguir entrar em sala de aula para trabalhar. O docente contou que o combinado com os estudantes era que os professores poderiam entrar em sala para cumprir seus horários. “Contando a falta de água e a greve, já são quatro semanas sem dar aulas. Queria dar mais duas aulas para fechar o período sem prejuízo para os alunos”, disse.
O advogado Renan Teixeira, da assessoria jurídica da AdUFRJ, deu orientações para os professores não sofrerem penalidades administrativas. “É importante comparecer ao prédio em seus dias de trabalho, documentar a impossibilidade de dar aula e informar à chefia imediata”, explicou.

53782558248 b921736d5a w Foto: Ricardo Stuckert / PRDiante da pressão da greve de professores do magistério superior e do EBTT, que já dura dois meses e abarca 62 IFES em todo o país, o governo federal se moveu em várias frentes esta semana para acelerar o fim do movimento paredista. Foram acionados três ministérios para contemplar itens da pauta de reivindicações do Andes e do Sinasefe, e dar amparo legal ao acordo assinado com o Proifes em 27 de maio — no qual o governo sacramentou a sua proposta final de reajuste.
O “rolo compressor” começou na segunda-feira (10), em cerimônia no Palácio do Planalto, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dividiu a mesa com os dois ministros diretamente envolvidos na negociação com os docentes — Camilo Santana, do MEC, e Esther Dweck, do MGI. Foram anunciados R$ 5,5 bilhões do novo PAC para a Educação, que inclui a construção de dez novos campi (tabela ao lado), e uma recomposição orçamentária de R$ 400 milhões para as IFES, esta uma reinvindicação incorporada pelos sindicatos durante a campanha salarial (veja matéria abaixo).
Na ocasião, Lula e Camilo deixaram claro que o governo não mais avançaria na pauta econômica além do que já fora acordado em 27 de maio. O ministro afirmou que as propostas feitas aos docentes e aos TAEs representam um impacto de mais de R$ 10 bilhões. “Há um enorme esforço do governo para a gente sair desse impasse e garantir a retomada das aulas para os nossos alunos”, disse Santana.WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.15.29
Em seu discurso, o presidente Lula reafirmou que o governo chegara ao limite na pauta econômica: “O montante de recursos que a companheira Esther colocou à disposição é um montante não recusável, só quero que levem isso em conta”, frisou. Lula ainda lembrou seus tempos de sindicalista para dar uma “aula” aos dirigentes que lideram a greve nas federais.
“A greve tem um tempo para começar e tem um tempo para terminar. A única coisa que não se pode permitir é que ela termine por inanição. O dirigente sindical tem que ter coragem de tomar decisões que muitas vezes não são o tudo ou nada que ele apregoou. Muitas vezes eu fiquei com nada. Não há razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor, quem está perdendo é o Brasil e os estudantes. Não é por causa de 3% ou 4% que a gente fica a vida inteira em greve”, pontificou o presidente.

SAIR OU NÃO DA GREVE?
Na estratégia do governo, o “tiro de misericórdia” foi disparado na sexta-feira (14), na mesa temporária com o Andes, o Sinasefe e o Proifes. No encontro, os negociadores do MEC aceitaram duas reivindicações não econômicas basilares das entidades.
A primeira é que o governo passará a reconhecer o direito dos professores aposentados de incorporar benefícios por meio do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC). Atualmente, os aposentados têm buscado o Judiciário para poder garantir esse direito. O governo anunciou que abrirá mão de recorrer das decisões, implementando o benefício.
A segunda é a revogação imediata da Portaria 983, do governo Bolsonaro, que estabelecia carga horária mínima e controle de ponto para os docentes do EBTT, o que restringia as atividades de pesquisa e extensão.
O governo também sinalizou com a revogação da IN 66/2022, que limita a progressão funcional de docentes federais.
Dirigentes do Andes e do Sinasefe, embora ainda sustentem o discurso de manutenção da greve, já começam a esboçar falas que destacam os avanços conquistados.
“A revogação imediata da portaria 983 e a garantia do RSC para os aposentados são duas vitórias que temos que comemorar muito. Isso é produto de greve”, disse após a reunião de sexta a coordenadora-geral do Sinasefe, Artemis Martins.
“Por certo, sem a nossa luta, nenhum tipo de movimentação por parte do governo federal seria realizado”, completou Gustavo Seferian, presidente do Andes.
O dilema agora é sair ou não da greve com reajuste zero em 2024. Sem novas mesas de negociação marcadas e sem perspectivas de novos avanços, a greve tende a perder força a partir de agora, em um processo de desgaste natural para o qual contribuem ainda o fim do período letivo e o início das férias de julho. Assembleias de base serão realizadas ao longo da próxima semana.

A 'REDENÇÃO' DO PROIFES
Se com o anúncio da recomposição orçamentária de R$ 400 milhões o governo deu uma resposta — ainda tímida — a uma das pautas dos docentes em greve, em outra frente trabalhou para anular um dos trunfos do Andes e do Sinasefe para deslegitimar o acordo de 27 de maio. Em despacho publicado na segunda-feira (10), o Ministério do Trabalho e Emprego deferiu o registro sindical definitivo do Proifes. A entidade passou a ter plenos poderes para representar sindicatos de docentes do magistério superior e do EBTT.
De acordo com a advogada Andréia Munemassa, assessora jurídica do Proifes, caiu por terra a ofensiva contra o acordo. “Perdem o objeto as 17 ações ajuizadas pelas seções sindicais que compõem a base da Andes perante a Justiça Federal, assim como as duas reclamações trabalhistas de autoria do Sinasefe”, explicou a advogada.
Segundo ela, duas liminares de um juiz federal de Sergipe, que suspendiam o acordo, não mais se sustentam. “A fundamentação utilizada pelo juiz federal para a concessão das liminares ocorreu unicamente devido à inexistência de registro da Federação”.
Da defesa ao contra-ataque, o Proifes ingressou esta semana com ação “contra condutas antissindicais” do Andes. Ela tramita na 4ª Vara do Trabalho de Brasília e se baseia na ação planejada pelo sindicato junto às suas seções para que judicializassem o acordo de 27 de maio. “A prática de atos antissindicais encontra vedação expressa tanto no Ordenamento Jurídico Brasileiro, quanto em convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho, sendo, portanto, prática inaceitável por parte de entidades sindicais que agem como se fossem 'donas' da categoria”, diz o Proifes.

ANÚNCIOS DE R$ 5,5 BILHÕES DO NOVO PAC E DE RECOMPOSIÇÃO PÕEM ÁGUA NA FERVURA

WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.15.29 1A estratégia de abrandar o ímpeto do movimento grevista teve início na segunda-feira (10) e colocou em campo o próprio presidente Lula. Em reunião com reitores e reitoras de universidades e institutos federais, o governo anunciou investimentos de R$ 5,5 bilhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nessas instituições. Serão R$ 3, 17 bilhões para consolidação e R$ 600 milhões para expansão de universidades, e mais R$ 1,75 bilhão destinado a hospitais universitários. Os recursos de consolidação serão aplicados em 338 obras — 223 novas, 20 em andamento e 95 retomadas. Já os R$ 600 milhões para expansão contemplam a criação de 10 novos campi.
O governo também anunciou uma complementação orçamentária de R$ 400 milhões para custeio das IFES. São R$ 279,2 milhões para as universidades e R$ 120,7 milhões para os institutos. Os recursos se somam aos R$ 347 milhões recompostos pelo MEC de janeiro a maio deste ano.
No Consuni de quinta-feira (13), o reitor Roberto Medronho informou que, na primeira suplementação, de R$ 347 milhões, couberam à UFRJ R$ 13 milhões. "Foi muito aquém dos R$ 198 milhões que pedimos. Nessa agora, de R$ 400 milhões, sendo R$ 280 milhões para as universidades e R$ 120 milhões para os institutos, esperamos de R$ 8 a 10 milhões", disse o reitor.
Em relação aos recursos do novo PAC, Medronho informou que o MEC pediu à UFRJ uma lista de obras inacabadas do Reuni e de assistência estudantil. Para essas obras, o novo PAC reservou R$ 40 milhões. Entre as obras contempladas estão dois alojamentos estudantis no campus do Fundão: o alojamento atrás do CCMN, e o modular (em estruturas metálicas, como contêineres), onde, segundo ele, já foram gastos R$ 15 milhões.

Em reunião na manhã desta segunda-feira (10) com reitores de universidades e institutos federais, o governo anunciou investimentos da ordem de R$ 5,5 bilhões do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nessas instituições. Serão R$ 3,17 bilhões para consolidação e R$ 600 milhões para expansão de universidades, e mais R$ 1,75 bilhão destinados a hospitais universitários. Os recursos de consolidação serão aplicados em 338 obras — 223 novas, 20 em andamento e 95 retomadas. Já os R$ 600 milhões para expansão contemplam a criação de 10 novos campi.

O governo também anunciou a complementação orçamentária de R$ 400 milhões para custeio das IFES. Serão R$ 279,2 milhões para as universidades e R$ 120,7 milhões para os institutos. De acordo com o ministro da Educação, Camilo Santana, esses recursos se somam aos R$ 347 milhões já recompostos pelo MEC de janeiro a maio deste ano. O ministro divulgou ainda um novo aporte de R$ 35 milhões para ampliação do Programa Bolsa Permanência, voltados para estudantes indígenas e quilombolas de universidades e institutos federais.

Embora não tenha sido o principal foco do encontro, a greve dos docentes federais e TAEs foi o pano de fundo do encontro. Após o anúncio dos investimentos, feito pelo ministro Camilo Santana, tanto a presidenta da Andifes e reitora da UnB, professora Márcia Abraão, quanto o presidente do Conif e reitor do IF Goiano, Elias Monteiro, defenderam a legitimidade da greve e apelaram ao governo que busque uma solução negociada com os sindicatos. Depois dessas falas, o governo deu duas claras sinalizações de que não vai mais avançar na proposta salarial já apresentada aos docentes.

A primeira veio do ministro Camilo Santana. Ele retomou a palavra para defender a proposta feita pelo governo, sentado ao lado da ministra Esther Dweck, do MGI. "Amanhã haverá uma nova reunião com os TAEs, já houve a reunião com os professores. Com a última proposta negociada com os docentes, inclusive um dos sindicatos assinou a negociação, a variação de reajuste até 2026 varia de 23% a 43%. Em um ano e meio nós não podemos recompor todo um processo histórico de anos. A proposta feita aos docentes, junto com a que será apresentada aos TAEs, representa um impacto de mais de R$ 10 bilhões. Há um enorme esforço do governo para a gente sair desse impasse e garantir a retomada das aulas para os nossos alunos".

No encerramento do encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a segunda sinalização. Em tom enfático, e relembrando suas origens de líder sindical, Lula disse que é preciso ter coragem para decretar uma greve, mas que também é preciso ter coragem para sair dela.

"A greve tem um tempo para começar e tem um tempo para terminar. A única coisa que não se pode permitir é que ela termine por inanição. O dirigente sindical tem que ter coragem de tomar decisões que muitas vezes não é o tudo ou nada que ele apregoou. Muitas vezes eu fiquei com nada. Nesse caso da educação, se vocês analisarem o conjunto da obra, vão perceber que não há razão para essa greve estar durando o que está durando, porque quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor, quem tá perdendo é o Brasil e os estudantes. Não é por causa de 3%, 4% que a gente fica a vida inteira em greve. O montante de recursos que a companheira Esther colocou à disposição é um montante não recusável, só quero que levem isso em conta", disse o presidente.

Além das duas falas, o governo deu um terceiro sinal. Ontem, em despacho da Secretaria de Relações do Trabalho do MGI, o governo deferiu o registro sindical definitivo do Proifes. Assim, a entidade que assinou com o governo o acordo do dia 27 de maio, passa a ter plenos poderes para representar sindicatos de docentes do magistério superior e do EBTT. De acordo com o diretor de Assuntos Jurídicos da federação, Osvaldo Negrão, a liminar de um juiz federal de Sergipe que suspendia o acordo perde a sustentação.

Veja aqui a íntegra da apresentação do governo federal para as universidades e institutos federais.

WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.09Dona de vozeirão com carregado sotaque português e dotada de uma impressionante capacidade de articular e comunicar ideias. Mas, acima de tudo, uma professora de extenso currículo, exigente e zelosa com seus alunos. Maria da Conceição Tavares, que faleceu aos 94 anos no último dia 8, deixou uma legião de admiradores.
“Ela não tinha nenhuma tolerância com pensamento tecnocrático, burocrático, com o jeito amesquinhado de usar a razão como uma forma de escapar aos desafios centrais do país”, disse o professor emérito Carlos Medeiros, um desses muitos admiradores, na homenagem à mestra realizada na segunda-feira (10), no Instituto de Economia. O ato, organizado pelo centro acadêmico Stuart Angel, lotou o Salão Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha, com colegas e estudantes de várias gerações.
“Afinal, o que tornava a Conceição, em suas aulas, tão especial? Era exatamente a capacidade dela de comunicar, de falar ao âmago, ao coração, ao sentimento das pessoas que estão ali”, prosseguiu Medeiros. “Mas, ao mesmo tempo, não pensem que queria apenas adeptos que concordassem com ela. Era a primeira a puxar o tapete, se dissessem uma bobagem. Não podia falar qualquer coisa. Tinha que seguir uma tradição lógica conceitual rigorosa”.WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.10 1
O professor falou com a experiência de ter sido orientado pela homenageada no doutorado. “E eu digo que não é fácil ser orientando da Conceição Tavares. Conceição lia uma frase e dizia: ‘Tá errado! Tá errado!’. E aí você tinha que refazer, mexer”. Apesar do jeito explosivo, a mestra era generosa e paciente, sempre instigando os alunos a crescer. “A Conceição odiava mediocridade, o mais ou menos, a coisa estável, meio plana. Isso não era com ela. Nunca foi”, afirmou.
Tanto não foi que alcançou um status sem igual entre os pares. “Estes aspectos centrais fizeram da Conceição, talvez, a intelectual mais criativa ou produtiva nessa área, entre economistas, com um pensamento próprio, orgulhoso de si, que não está pagando homenagem e buscando publicação para pontinhos na Capes. Essa era a Conceição, uma grande e apaixonada intelectual”, concluiu Medeiros.
Uma intelectual de esquerda. Conceição nunca escondeu seu posicionamento forjado inicialmente no marxismo e depois refinado com a influência de autores desenvolvimentistas e do trabalho junto à Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). Esta formação, porém, nunca contaminou a análise rigorosa dos acontecimentos.
O exemplo mais claro aconteceu em 1970, quando Conceição lançou, ao lado de José Serra — ambos trabalhavam na Cepal, em Santiago —, o ensaio “Além da Estagnação”. “Para mim, o melhor trabalho sobre economia brasileira se você pensar nos recursos disponíveis em cada momento do tempo”, disse o diretor do Instituto de Economia, professor Carlos Frederico Leão Rocha.
“Ela faz uma previsão bastante ousada para a época, ainda mais para quem vinha da esquerda. Dizia que o milagre econômico iria dar certo. O que tem de problemático é que é excludente”, lembrou Fred. “O que Conceição estava anunciando era que os planos daquele governo iriam dar certo. Ia contra as ideias que estavam na esquerda, mostrando a importância da isenção científica”, completou.
Tomando o “Além da Estagnação” como uma das referências, o diretor do Instituto recordou ter chamado a mestra para dar uma aula sobre economia brasileira, em 2004. Talvez uma das últimas ministradas na graduação. “A minha turma era grande. Devia ter uns 60 alunos. E nós dávamos aulas na parte dos fundos do Palácio, onde há salas para 80 pessoas. E aquela sala ficou cheia, com gente sentada nas janelas. Foi um espetáculo. E ela falava sem parar”.
WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.11 1A maneira de lecionar impressionava. “Não segue uma linha reta. Vai e volta muitas vezes. A segunda coisa é que você pensa no contra-argumento que vai apresentar. E ela já ia falando: ‘Você não vai pensar besteira, porque eu já tenho aqui a resposta para a besteira que você está pensando’”, lembrou Fred, divertido. “Devemos dar continuidade ao trabalho da Conceição. Essa é a nossa missão. É a maneira de homenageá-la”, concluiu o diretor.
Diretor executivo do Centro Acadêmico Stuart Angel, Danilo Ponciano concorda. “Conceição Tavares nos ensinou a importância de entender a economia não como um conjunto de números frios, mas como um instrumento de transformação social”, disse. “Ela nos mostrou que por trás de cada dado econômico existe uma pessoa, uma família, uma comunidade. Nos ensinou a olhar para além dos gráficos e estatísticas, ela nos ensinou a enxergar o rosto do povo brasileiro, mas especialmente o rosto dos mais pobres”.

“TIKTOKER”
Em depoimento gravado para o canal do Instituto de Economia no Youtube, o professor Carlos Pinkusfeld se juntou às homenagens e, entre outros aspectos, destacou o perfil da mestra como comunicadora. “A Conceição não mandava um e-mail. Mas, apesar de a Conceição ser completamente afastada do mundo digital, ela virou tiktoker antes de existir o Tiktok. Pela sua formação de empatia com as pessoas. Tinha esse lado de divulgadora, de formadora de um sentimento político ligado à economia”. Era algo tão intenso que a economista segue viralizando nas redes desde 2020, com a divulgação de trechos de aulas ou entrevistas.
Intensidade que se revelava também nos momentos difíceis da vida do país ou do mundo. “A Conceição gostava de dizer que era pessimista na razão e otimista na vontade. Tinha duas frases padrão: ‘Perdemos’ e ‘estamos mal’. Eram dois clássicos. Acabei de ver o resultado da eleição do parlamento europeu e me veio a Maria da Conceição Tavares à cabeça”, disse Pinkusfeld, em referência ao avanço da extrema-direita.
“Mas esse ‘Perdemos’ ou ‘estamos mal’ durava apenas o tempo de tomar um café e acender o primeiro cigarro. Porque, daí a dez minutos, ela já estava pensando que nem uma locomotiva e tentando explicar porque perdemos”, observou. “Deve haver um reconhecimento das dificuldades que o mundo nos coloca e uma motivação para continuar pensando. Mais do que pensando, no caso dela, criando instituições, formando alunos e criando ideias para tentar reverter isso”.
Conceição ajudou a criar as pós-graduações do Instituto de Economia da Unicamp e do Instituto de Economia da UFRJ e formou gerações de economistas, que hoje agradecem o legado deixado. “Mas a gratidão não se restringe ao mundo acadêmico. Conceição não só sempre mexeu com a cabeça dos alunos e dos colegas economistas; o fez com a intelectualidade brasileira em geral, com os tecnocratas, os políticos e os governantes, os sindicalistas e empresários. Sempre obrigou todo mundo a ‘pensar grande’. Obrigou o Brasil a se pensar grande”, avaliou o professor titular Ricardo Bielschowsky.
“E somos gratos pela energia que empregou e que transmitiu, como guerreira que foi no front intelectual da luta política por uma sociedade mais democrática, melhor e mais justa”, completou.

DA PRAÇA MAUÁ AO
CONGRESSO NACIONAL

WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.11 2Na homenagem organizada no Pedro Calmon, uma das mais emocionadas era a professora Hildete Pereira, uma das amigas mais próximas de Conceição. As duas foram vizinhas, no Cosme Velho, durante 28 anos.
Hildete contou que a velha amiga se apaixonou pelo Brasil assim que desembarcou do navio, na Praça Mauá, fugindo da ditadura salazarista. “Conceição chegou ao Rio de Janeiro numa segunda-feira de carnaval, em 1954. Grávida, recém-casada e correndo da polícia de Portugal”. Naquela época, o desfile das escolas de samba acontecia ali pertinho, na avenida Rio Branco. “Ela disse que ficou enlouquecida com a alegria do povo brasileiro”.
Conceição ainda não era professora. Carregava o diploma de matemática da Universidade de Lisboa e só arranjou emprego prestando concurso para o então Instituto Nacional de Imigração e Colonização, que tratava da questão das terras no país. A alegria que sentia se transformou em indignação ao constatar a enorme concentração fundiária do Brasil. “Foi a virada de chave na vida dela”, afirmou Hildete.
A indignação e a coragem no debate público levaram Conceição ao PMDB de Ulysses Guimarães e, posteriormente, ao PT. Hildete coordenou a campanha que elegeu a colega como deputada federal, em 1994, com 40 mil votos. Mas a vida no parlamento não agradou. “A negociação política vai e vem, vai e vem, até que se chega a um mínimo de acordo. A Conceição dizia que não dava para isso”. O resultado é que acabou se tornando professora da bancada petista. “Ela disse que ia ensinar economia para quem quisesse”, completou Hildete.

LINHA DO TEMPO

1930. 24 de abril, Maria da Conceição de Almeida Tavares nasce em Anadia, Portugal.

1953. Cola grau em Licenciatura de Ciências Matemáticas e Estatísticas na Universidade de Lisboa.

1954. Emigra para o Brasil, radicando-se no Rio de Janeiro.

1956. Aprovada no vestibular, ingressa na Faculdade de Ciências Econômicas e Administração (FEA) da Universidade do Brasil, atual UFRJ.

1960. Cola grau como bacharel em Ciências Econômicas.WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.11

1961. Inicia sua carreira docente como professora auxiliar de ensino na Universidade do Brasil.

1970. Publica em coautoria com José Serra o ensaio “Além da estagnação: uma discussão sobre o estilo de desenvolvimento recente do Brasil”.

1972. Convidada pela recém-fundada Universidade de Campinas (Unicamp), assume a coordenação da Pós-Graduação de Economia.

1972 – Publica o livro “Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira”.
1973. Reassume sua função como professora da FEA/UFRJ, exercida simultaneamente com a docência na Unicamp.

1975. Coordena a Graduação da FEA/UFRJ até o ano de 1977. Defende a tese “Acumulação de capital e industrialização no Brasil” e obtém o título de doutora e livre-docente.

1978. Aprovada no concurso público para a vaga de professora titular na UFRJ, com a tese “Ciclo e Crise: o movimento recente da economia brasileira”.

1979 . Nomeada coordenadora do Instituto de Economia Industrial da UFRJ.

1986. Dirige o Instituto de Economia da UFRJ no quadriênio 1986/1989.

1990. Aposenta-se como professora titular da UFRJ.

1993. Recebe do Conselho Universitário da UFRJ o título de professora emérita.

1994. 15 de novembro, Maria da Conceição Tavares é eleita deputada federal pelo PT/RJ, com 40.409 votos.

1998. Recebe o “Prêmio Jabuti – Economia, Administração, Negócios e Direito”, pelo livro Poder e Dinheiro – uma economia política da globalização, organizado por ela em parceria com José Luís Fiori.

2017. Escreve o artigo “Restaurar o Estado é preciso”, sobre o papel-chave do Estado na retomada do crescimento do Brasil.

2018. Lançamento do filme Livre Pensar – Cinebiografia de Maria da Conceição Tavares. O filme foi lançado no Salão Pedro Calmon do Instituto de Economia da UFRJ.

2024 . Falecimento, no dia 8 de junho, aos 94 anos, em Nova Friburgo (RJ).

WhatsApp Image 2024 06 07 at 18.18.02 4Foto: AndesTrês reuniões previstas para a semana de 10 a 14 de junho podem definir o futuro da greve dos docentes federais, iniciada em 15 de abril. São 62 IFES paralisadas em todo o país (veja quadro abaixo). A primeira delas, logo na segunda-feira (10), foi convocada pelo presidente Lula e pode contemplar uma reivindicação não apenas das entidades representativas da categoria, mas também dos reitores das universidades federais: a recomposição orçamentária. A expectativa é que Lula anuncie a liberação de verbas e, com isso, ponha água na fervura da greve nacional da educação.
A segunda reunião, na terça-feira (11), não tem a ver diretamente com a pauta de reivindicações dos docentes. Trata-se da 6ª mesa específica temporária dos trabalhadores técnico-administrativos em educação (TAEs). O encontro foi convocado pelo MGI. Três entidades representativas dos trabalhadores federais em educação — Andes, Sinasefe e Fasubra — têm um pacto político de manter docentes e técnicos mobilizados de forma conjunta, e com isso pressionar o governo a negociar. O lema desse pacto é “Sem TAEs não tem acordo”.
O encontro mais cercado de expectativa é o de sexta-feira (14) no MEC. Agendado a contragosto pelo governo, que já pontuou ter chegado ao limite na proposta salarial aos docentes, é uma “rodada extra” de negociação, na qual Andes e Sinasefe tentarão pressionar para ter algum reajuste em 2024 — o MGI sinalizou com zero por cento para este ano. Há também a previsão de que o MEC avance em questões não econômicas, como a revogação da portaria 983/2020 — que ataca o tripé ensino, pesquisa e extensão e estabelece o ponto eletrônico para a carreira EBTT.
Na quarta-feira (5), os professores da UFMG decidiram encerrar a greve depois de 51 dias de paralisação. As aulas serão retomadas na próximaWhatsApp Image 2024 06 07 at 19.23.35 segunda-feira (10). Foram 201 votos pelo fim da greve, 179 pela continuidade e 16 abstenções. Para o diretor de Assuntos Educacionais do Magistério Superior do Proifes, Geci Silva, o recuo da UFMG pode simbolizar um esgotamento dos docentes com a greve. “O pessoal mais sensato vai cansando e acaba criando força para ir na assembleia e aguardar todas as oratórias sem fim para votar”, acredita Geci.

BATALHA JURÍDICA
Em um circuito paralelo aos encontros em Brasília, a disputa judicial em torno do acordo assinado entre o governo e o Proifes no dia 27 de maio promete agitar a semana. Anulado em 29 de maio por decisão do juiz Edmilson da Silva Pimenta, da 3ª Vara Federal de Sergipe, o acordo pode voltar a valer caso a decisão seja revertida. É o que espera o Proifes, que ajuizou um agravo de instrumento contra a decisão.
Para o Andes, o Proifes é uma “entidade cartorial burocrática sem registro sindical”. Depois da assinatura do acordo, o presidente do sindicato nacional, Gustavo Seferian, atacou o Proifes: “O anúncio de assinatura de acordo com a Proifes, entidade sem nenhuma legitimidade e que tem em sua base nem 10% da categoria docente, em uma reunião secreta, expressa uma atitude antidemocrática e antissindical do governo”.
No agravo, a federação sustenta que tem legitimidade para participar das negociações e assinar acordos: “Impedir a participação do Proifes nas negociações e, por conseguinte, na assinatura de Termo de Acordo, significa deixar à margem do processo de negociação, que é coletivo e democrático, milhares de servidores que não se sentem representados pela Andes”.
O Proifes alega que vem participando das mesas de negociação desde 2006, e que assinou todos os acordos desde então, sendo três deles como única entidade sindical, em 2007, 2012 e 2015. Segundo o diretor de Assuntos Jurídicos do Proifes, Osvaldo Negrão, o Andes promoveu uma ação judicial coordenada de suas seções sindicais para contestar o acordo. Foram 16 ações ajuizadas — só a de Sergipe obteve liminar. Negrão lembrou ainda que, mesmo sem acordo assinado, o governo pode levar a proposta, no formato de PL, para apreciação no Congresso Nacional.

DEBATE NO SBT NEWS EXPÕE DUAS VISÕES SOBRE A GREVE

A campanha salarial e o movimento grevista dos docentes federais foram os temas do programa Poder Expresso, do canal SBT News, na terça-feira (4), que reuniu os professores Gustavo Seferian, presidente do Andes-SN, e Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ. Seferian defendeu a manutenção da greve que já dura quase dois meses. Já Mayra ponderou que as universidades foram duramente atacadas durante o governo Bolsonaro e que, neste momento, é preciso resgatar o papel das instituições públicas de educação junto à sociedade.
Ao ser perguntado pelo apresentador Leo Cavalcanti sobre a ausência de greves docentes nos quatro anos do governo anterior, o presidente do Andes lembrou que, no 39º congresso da entidade, no início de 2020, a greve estava no horizonte da categoria. “Naquele momento, nós apontamos a necessidade de construção de uma grave nacional por melhores salários e pelo ‘fora, Bolsonaro’. Mas logo depois veio a pandemia da covid-19 e tudo parou”, recordou.
Seferian disse que a greve atual não prejudica os estudantes. “O que atrapalha os estudantes é o congelamento dos investimentos nas IFES. Há prédios ruindo, com ventiladores caindo na cabeça dos estudantes, como no IFCS da UFRJ, onde trabalha a professora Mayra. Reitores colocam que, sem investimentos, as universidades não chegam a setembro. Precisamos de recomposição orçamentária para pagar contas de luz e água, contratos de terceirizados e até as bolsas estudantis”.
A professora Mayra Goulart concordou com a necessidade de complementação orçamentária para as IFES, mas discordou quanto à eficácia da greve. “Não estamos em um contexto confortável o suficiente para fragilizarmos o governo e nem para tensionar nossa relação com a sociedade civil. A gente tem que abrir as portas das universidades e mostrar à sociedade os motivos pelos quais precisamos de mais recursos”, disse ela. E completou: “O prédio do IFCS, onde eu leciono, está caindo aos pedaços e estamos fazendo o possível para formar alunos excelentes ali, para que eles devolvam o que estão aprendendo à sociedade. Precisamos de recursos, mas vamos batalhar por eles de portas abertas, convencendo a sociedade de que ela precisa acreditar na universidade pública”.

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