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WhatsApp Image 2024 06 14 at 20.11.09 1Silvana Sá e Renan Fernandes 

Preocupados com os impactos da greve estudantil na Escola de Belas Artes, professores se reuniram com a diretoria e com o Jornal da AdUFRJ na manhã de segunda-feira, 10, em busca de apoio. Não é possível acessar gabinetes, materiais de trabalho, salas de aula, corredores ou laboratórios. A situação foi capa deste Jornal na última semana. Professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais também participaram da atividade, já que o IFCS, a exemplo da EBA, é alvo de piquetes de estudantes em greve. A reunião foi chamada pela representante da EBA no Conselho de Representantes da AdUFRJ. Ao fim do encontro, ficou combinado que o jornal fará uma edição especial sobre as condições de trabalho na EBA e no IFCS-IH.
Integrante do Conselho de Representantes da AdUFRJ, a professora Cláudia Mourthé lembrou que a categoria docente não está em greve e que há uma cobrança da direção da EBA para que os professores estejam na universidade. “Apesar dessa necessidade, há uma impossibilidade concreta pelos bloqueios”, frisou. “Eu tive que mudar o endereço da defesa de uma pós-graduanda na sexta-feira (7), porque não dava para entrar”.
“É claro que o movimento tem causas legítimas”, ponderou o professor Gilberto Rangel, do curso de Design de Interiores. “Mas a gente não pode compactuar com a violência. Não quero mais ser hostilizado pelos alunos, como já fui, nem sofrer violência. Estão abrindo um precedente perigoso para a instituição”.
Embora o professor Gilberto tenha resumido o sentimento majoritário dos docentes que acompanharam a reunião, nem todos os presentes sentiam-se intimidados pelos alunos. “Hoje estou no Fundão, na minha sala, ou melhor, minha ‘sauna’ de aula. Eu não tenho essa percepção”, justificou a professora Martha Werneck, do curso de Pintura. “Os estudantes estão certos. Nós é que estamos errados de não estar em greve. Eles não têm o mínimo”, disse.
O clima de animosidade entre estudantes e professores fez com que alguns docentes pedissem à reportagem para não terem seus depoimentos identificados. “Houve uma professora que se dispôs a fazer atividade conjunta. Precisou submeter aos estudantes o material que apresentaria. Depois, foi denunciada”, contou uma docente. “Outra professora levou os alunos para o CT. O Comando de Greve descobriu o local e foi chamá-la de fascista”.
“É claro que as condições estão ruins, mas está errado professor ter que dar satisfação sobre conteúdo de aula para aluno. Ter que dizer para onde vai, consultar o que pode falar em sala de aula”, completou outro docente, indignado.
Diretora da AdUFRJ, a professora Veronica Damasceno explicou que tem tentado conversar com os estudantes que fazem parte do Centro Acadêmico da EBA. “Tenho tentado alertar sobre o período de avaliações. Muitos estudantes não querem aderir à greve. Muitos vão querer fazer as provas, outros não vão querer. E como ficaremos nós, docentes?”, questionou. “Lançamos nota? Não lançamos? O calendário acadêmico não está suspenso”, observou.
A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, passa por situações semelhantes na sua unidade, o IFCS. “Os relatos têm duas coisas em comum: a preocupação geral com as condições de trabalho e a frustração com a instrumentalização do movimento de greve na universidade”, destacou. “A direção da AdUFRJ diverge de que paralisar atividades é o melhor meio de lutar pelas condições de infraestrutura. Professor não pode sofrer hostilidade nem de aluno e nem de outros docentes”, pontuou. Ela colocou o sindicato à disposição dos colegas para coletar informações como forma de proteção laboral. “Vamos usar nossa estrutura de comunicação para que fique claro que nós queríamos dar aula, mas fomos impedidos. Estamos ao lado de vocês para passarmos por esse momento juntos”.

SETOR JURÍDICO
À DISPOSIÇÃO
No mesmo dia, à tarde, a diretoria da AdUFRJ ouviu professores no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais sobre as condições de trabalho durante a greve estudantil. Depois de três semanas sem aulas devido à falta de água potável na unidade, os alunos do IFCS-IH deflagraram greve de ocupação e ergueram piquetes com cadeiras nas entradas das salas de aulas.
O investimento na manutenção do prédio histórico do Largo de São Francisco de Paula é uma das principais reivindicações. O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, participou do encontro e mostrou otimismo com o andamento do processo junto ao Iphan para a liberação das reformas da fachada e das instalações elétricas. “O parecer técnico da reforma da fachada foi liberado e as obras começam este mês. A obra será realizada pela prefeitura do Rio de Janeiro, com a supervisão da Coordenação de Preservação em Imóveis Tombados (Coprit)”, celebrou.
O professor Cesar de Miranda e Lemos, do Instituto de História, defendeu o diálogo entre professores e alunos. O docente concordou com as demandas dos alunos e classificou o IFCS-IH como “um prédio de terrores”. “Entrei com um inquérito no Ministério Público Federal para garantir os direitos de uma aluna com doença degenerativa que passa por situações humilhantes por causa da falta de acessibilidade”, afirmou Lemos, que também possui formação em Direito.
Um professor que preferiu não se identificar revelou preocupação por estar em estágio probatório e não conseguir entrar em sala de aula para trabalhar. O docente contou que o combinado com os estudantes era que os professores poderiam entrar em sala para cumprir seus horários. “Contando a falta de água e a greve, já são quatro semanas sem dar aulas. Queria dar mais duas aulas para fechar o período sem prejuízo para os alunos”, disse.
O advogado Renan Teixeira, da assessoria jurídica da AdUFRJ, deu orientações para os professores não sofrerem penalidades administrativas. “É importante comparecer ao prédio em seus dias de trabalho, documentar a impossibilidade de dar aula e informar à chefia imediata”, explicou.

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