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WhatsApp Image 2021 02 11 at 21.10.47“As tarefas são de grande monta, precisamos de todos para resistir ao que está por vir, como a reforma administrativa, que está na ordem do dia”. Com essa convocação, a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, abriu a primeira reunião do Conselho de Representantes de 2021, na terça-feira (9). O encontro foi remoto. Eleonora destacou que a tarefa principal, neste momento, é a mobilização dos professores para as carreatas que vão acontecer por todo o país, no dia 21, em defesa da vacinação para todos e pelo impeachment de Bolsonaro.
A professora Norma Menezes, da Escola de Belas Artes, chamou atenção para a gravidade do momento político que o país atravessa. Ela estuda movimentos autoritários e vê com preocupação a situação do Brasil e as disputas dentro do campo progressista. “Estive em 2019 na Universidade de Boğaziçi (Turquia). Nossos colegas hoje estão presos ou mortos. Eu acompanhei o que aconteceu lá e nós estamos só alguns aninhos atrasados nesse processo”, afirmou. “Nós temos muito pouco tempo. Vamos tentar imprimir nas nossas divergências esse poder do diálogo. Nossas diferenças são muito pequenas diante do que nos aguarda”.
Um dos passos para alcançar a unidade é ampliar a participação e a organização dos docentes. Por isso, a diretoria propôs realizar novas eleições para o Conselho de Representantes, para completar a representação das unidades. O mandato desses novos conselheiros duraria até setembro, quando vão acontecer as eleições para a gestão 2021-2023. “Queremos ampliar a participação, chamar mais pessoas para que nos ajudem na condução das lutas deste ano, que são muitas”, justificou Eleonora. A ideia era fazer um processo eleitoral mais simples, com indicação dos candidatos em reuniões das unidades que quisessem compor o conselho.
A professora Luciana Boiteux, da Faculdade de Direito, ponderou: “Do ponto de vista jurídico, eu acho complicado criar uma exceção, em especial neste cenário em que estamos vivendo”, disse. “Se for o caso, (sugiro) pedir um parecer jurídico”, disse. Já a professora Cleusa Santos, do Serviço Social, lembrou que talvez não valesse a pena formalizar a participação de conselheiros com voz e voto porque essas pessoas seriam impedidas de se reelegerem nas eleições de setembro. “É muito pouco tempo para ‘queimar’ uma representação que poderia durar dois anos”, disse. Ficou acertado que a diretoria vai encaminhar uma proposta para permitir a ampliação das representações. Uma das unidades interessadas é Macaé. Hoje o campus é representado por professores do Nupem, que se tornou um instituto recentemente e, portanto, separado da Cidade Universitária de lá.

Progressões
As questões referentes às progressões múltiplas e à insalubridade seguem dependendo de ações da reitoria. No caso das progressões, a resolução aprovada pelo Consuni trouxe dois problemas: a exigência de dez anos de doutoramento para formação da banca de avaliação da progressão e a paralisação dos processos que já tinham sido abertos antes da resolução e que só chegaram à Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD) após a publicação do texto. “Nós vamos pedir a revisão desta decisão sobre o doutoramento, porque a regra inviabiliza a progressão em algumas unidades que são mais novas. Na questão dos processos, a AdUFRJ está fazendo um levantamento de casos que já tinham sido iniciados antes da nova resolução, porque ficaram sem regra de transição. Queremos resolver o problema internamente, mas, se houver necessidade, nós vamos judicializar”, afirmou Eleonora.
Em relação à insalubridade, a diretoria ainda aguarda o posicionamento formal da universidade sobre a incapacidade de a Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador (CPST) avaliar os ambientes insalubres onde os professores atuam. Algumas unidades chegam a ter 30% do corpo docente sem receber o adicional devido, por inteira responsabilidade da UFRJ. “Em dezembro, fizemos uma reunião, apresentamos inclusive uma proposta para solucionar o problema e que não foi acatada. O setor jurídico já está de sobreaviso para trabalhar a partir da resposta que a universidade nos encaminhar”.
Os docentes também tiraram dúvidas sobre o Observatório do Conhecimento. A diretoria esclareceu que se trata de um fórum que reúne 12 associações e seções sindicais, algumas do Andes, outras do Proifes e independentes para elaborar materiais sobre Educação, Ciência e Tecnologia. “Não é uma instância sindical. A ideia é ter um grupo que pense, discuta, paute a imprensa, faça campanhas, ajude a pressionar o Congresso em tudo o que se relaciona às universidades”, esclareceu Eleonora.

Kelvin Melo e Lucas Abreu

img20210210115538488MEDReunião de instalação da CMO - Foto: Gustavo Sales/Câmara dos DeputadosUma dura batalha pelo futuro da Educação e da Ciência começou no último dia 10 no Congresso Nacional. A data marcou a instalação da Comissão Mista de Orçamento, grupo com 31 deputados e 11 senadores, a maioria absoluta integrante da base de apoio do governo. Há somente nove deputados e um senador de partidos de esquerda.
A comissão tem até 30 de março para produzir um relatório sobre o Projeto de Lei Orçamentária do governo que corta verbas das universidades e agências de fomento à pesquisa. O documento será decisivo para a votação posterior no plenário do Congresso.
“Quando a CMO se acerta e manda uma proposta para o plenário, a capacidade de intervenção diminui muito”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, professor Ildeu Moreira, destacando que a entidade atua e vai atuar em todos os níveis do Congresso.
Mas as circunstâncias não são nada favoráveis. A Comissão será presidida pela deputada Flávia Arruda (PL/DF), aliada de Arthur Lira (PP-AL), novo presidente da Câmara, eleito com o apoio de Jair Bolsonaro. Um sinal da simbiose com o Executivo ocorreu na própria reunião de instalação na Comissão: Flávia não ficou até o final, pois precisava “sair correndo para uma agenda no ministério”.
O “amém” ao que vem do Executivo não é novidade. O presidente da SBPC, que há anos dialoga com parlamentares para aumentar as verbas da Ciência, tem escutado bastante o argumento de que é preciso “consultar a Economia”. “Claro que a avaliação do ministério é importante. Mas não pode ser decisiva. Senão, não precisa do Congresso para aprovar o orçamento”, critica Ildeu.
O professor observa que o Parlamento brasileiro segue uma tradição diferente dos congressos de outros países. Em vez de discutir o orçamento global, os políticos ficam mais preocupados com mudanças menores, via emendas parlamentares. “A discussão fica muito mais no varejo e não no atacado”, completa.
É a mesma opinião de Marcus Vinicius David, economista por formação e vice-presidente da associação de reitores das federais, a Andifes. “O orçamento federal enviado para o Congresso Nacional é um orçamento fechado à força. Ele foi fechado sem retratar, efetivamente, os gastos necessários para as atividades estatais”, diz. “Ele é inviável para garantir o funcionamento mínimo da Saúde no país. Isso se a pandemia tivesse terminado, e ela não terminou. O orçamento do Ministério da Educação não dá para manter a rede de universidades funcionando. É um orçamento fictício”, avalia.
A “canetada” do governo, para o dirigente da Andifes, tem o objetivo de atender à emenda constitucional do teto de gastos públicos — o dispositivo, implantado em 2017, limita as despesas à correção pela inflação. “Ou o Congresso vai ter coragem de dizer que não dá para cumprir o teto de gastos e que teremos de ampliar os gastos públicos, e buscar outras formas de reequilibrar contas públicas em médio e longo prazo, ou nós vamos criar um verdadeiro caos no funcionamento do Estado em 2021”, conta.
Na reunião de instalação da CMO, houve muitos discursos favoráveis à prorrogação do necessário auxílio-emergencial e apenas dois deputados se manifestaram brevemente em defesa da Educação e da Ciência. Já existe a negociação para retirar as verbas destinadas ao benefício do limite do teto de gastos, mas, caso isso não seja possível, haverá ainda menos orçamento para todas as áreas.
O professor Josué Medeiros, cientista político e diretor da AdUFRJ, acredita que a continuidade do auxílio vai se transformar em uma chantagem para retirar ainda mais direitos dos servidores públicos, via proposta de reforma administrativa. “Ocorre que a inflação dos alimentos, o desemprego e a segunda onda da pandemia estão produzindo uma necessidade do auxílio agora, e a reforma administrativa teria uma tramitação muito longa. Então acredito que essa chantagem não vá funcionar”, diz.
“É incrível como as nossas elites, desde o teto de gastos, vêm atacando todos os processos que formam um projeto de nação”, critica Josué. “Precisamos mobilizar muito, conscientizar muito, tanto a comunidade da UFRJ, quanto a sociedade, para que a gente possa reverter esses ataques e esse projeto de destruição que estamos vendo”.

REAÇÃO
As entidades sindicais nacionais dos docentes também prometem muito empenho para reverter os cortes nas universidades.
Presidente do Andes, a professora Rivânia Moura é enfática: “O projeto de lei orçamentária prevê um corte que significa inviabilizar o funcionamento das nossas instituições. A gente vive uma pandemia e pressão para o retorno presencial, o que exige maior investimento para que universidades e institutos possam se adequar às condições sanitárias. E o movimento do orçamento tem sido inverso”, afirma.
O Andes tem dialogado com outras entidades para realizar uma luta conjunta em defesa do orçamento da Educação, com pressão junto aos parlamentares em cada estado. “Estamos elaborando documentos para encaminhar aos deputados”, completa.
“A pandemia dificulta a mobilização”, diz Nilton Brandão, presidente do Proifes. A saída encontrada tem sido denunciar os problemas pelas redes sociais. E unir forças com outros sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais e Andifes, entre outras entidades. “Essa é uma tarefa nossa, uma tarefa conjunta, porque ninguém vai conseguir fazer isso sozinho”.

DISCUSSÃO ATRASADA
Não existe registro recente de atraso tão grande na discussão do orçamento. Desde 2002, pelo menos, a CMO sempre foi instalada no ano anterior ao da lei orçamentária em discussão. Um impasse quanto à presidência da comissão adiou os trabalhos por meses.
A expectativa agora é de uma tramitação acelerada da matéria. “Tivemos uma dificuldade a mais nesse ciclo orçamentário porque a LDO foi votada e aprovada apenas no último dia das atividades parlamentares em dezembro. Passamos o recesso de janeiro sem a discussão, e só agora o Congresso reinicia as suas atividades”, afirma o professor Marcus Vinicius David, vice-presidente da Andifes. “É um cenário bastante difícil”.

PERFIL
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FLÁVIA ARRUDA (PL-DF)
PRESIDENTE DA CMO
Apoiada pelo presidente da Câmara, tornou-se a primeira deputada a presidir a CMO, logo em seu primeiro mandato. É casada com o ex-governador cassado do Distrito Federal, José Roberto Arruda.

WhatsApp Image 2021 02 11 at 21.23.57 1MÁRCIO BITTAR (MDB-AC)
RELATOR GERAL DA CMO
Em seu primeiro mandato como senador, assumiu a função de relator geral da comissão. Um dia antes, tuitou foto de uma reunião com Eduardo Bolsonaro “para uma conversa muito produtiva a respeito das estratégias para o Orçamento 2021”.

WhatsApp Image 2021 02 11 at 21.23.57 2EDUARDO BOLSONARO (PSL-SP)
O filho “03” do presidente, em seu segundo mandato como deputado federal, integra a CMO como um dos representantes titulares do maior bloco da Câmara. Dele não se espera nem mais um centavo para as universidades.

WhatsApp Image 2021 02 11 at 21.23.58PAULO ROCHA (PT-PA)
Também senador em primeiro mandato, é o líder do Bloco Parlamentar da Resistência Democrática. Tuitou que “lutaremos por um orçamento que garanta recursos para a saúde e os trabalhadores”

 

WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09VISTORIA em instalações da Cedae organizada pelo Ministério Público - Foto: MPRJÉ como um pesadelo que se repete. A população fluminense atravessa mais um verão com o sistema hídrico em crise. Moradores de diversos bairros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro voltaram a reclamar de alterações no cheiro e no gosto da água distribuída pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Mas, para especialistas da UFRJ, não existe nenhuma surpresa nesta história.
Há mais de um ano, quando a água que chegava às residências também assumiu características estranhas, a reitoria da universidade convidou um grupo de seis professores para avaliar a situação. São docentes que realizam pesquisas relacionadas à ecologia aquática, recursos hídricos, saneamento e saúde pública. Na ocasião, a UFRJ emitiu uma nota técnica com constatações e recomendações às autoridades municipais e estaduais sobre os problemas da água (veja quadro). Nenhuma das medidas mais efetivas saiu do papel.
“Todas as recomendações da nota técnica permanecem, porque não mudou absolutamente nada do ano passado pra cá”, disse Renata Picão, professora do Departamento de Biologia Médica do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e uma das integrantes do grupo de trabalho.
O texto do GT já apontava uma ameaça à segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A atual crise que vive a RMRJ é decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas. Como resultado, esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos Rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de captação de água do sistema produtor”, observaram os pesquisadores.
WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09 1A recorrência do problema na mesma época do ano não é por acaso. “No verão, a quantidade de água nos afluentes diminui, enquanto o lançamento de esgoto que chega ao Rio Guandu aumenta. Somando isso ao aumento do consumo de água, e o colapso do tratamento da água, surgem esses problemas que estamos vendo”, lembra o professor Francisco Esteves, do Nupem/UFRJ, também do GT.
O docente afirma que as autoridades responsáveis não procuraram o grupo para dialogar sobre as informações apresentadas na nota técnica. “A água não está sendo tratada adequadamente. Nós ainda seguimos o mesmo funcionamento do início do século 20”, critica
Após as reclamações este ano, a Cedae suspendeu na noite do dia 21 de janeiro a produção de água no Sistema Guandu. Em publicação no seu site, a empresa justificou a adoção desse protocolo em função de novas análises da contagem de algas nas proximidades da Estação de Tratamento. O sistema voltou a funcionar na manhã do dia seguinte (22), após cerca de 10 horas. Por conta da manutenção, moradores de vários pontos do Rio noticiaram falta d’água em casa. Até o fechamento dessa matéria, muitos continuam a relatar o recebimento de água turva, com gosto e odor de terra.

Investimentos são necessários
No dia 29 de dezembro, o governo do Rio publicou um edital de licitação de alguns dos serviços prestados pela Cedae. No projeto, o estado é dividido em quatro blocos, nos quais a distribuição da água, a coleta e o tratamento do esgoto passarão a ser responsabilidade de outras empresas. A captação e o tratamento de água continuam sob responsabilidade da companhia e do estado. “Independentemente de a empresa ser pública ou ser privada, há coisas a serem feitas. Enquanto aqueles esgotos não forem coletados e tratados devidamente, o problema continuará”, avalia o professor Isaac Volschan Jr, do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica. O leilão está marcado para o dia 30 de abril.
“A concessão não é aberta somente à iniciativa privada. A Sabesp, por exemplo, já demonstrou interesse em disputar os blocos do Rio de Janeiro”, explica Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, uma organização com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Segundo ele, as autoridades entendem que essa é a única forma capaz de resolver os problemas do estado. “Isso é fruto dessa falta histórica de investimentos sérios do estado do Rio, dos municípios e da Cedae, que culminou nessa fragilidade sanitária”, completa.
A Cedae continuará estatal e estadual, mas sua atuação se limitará a captar água no meio ambiente, tratá-la, e então vendê-la para as empresas concessionárias distribuírem. “Se houver uma crise ligada apenas ao fornecimento da água, caberá a essas novas empresas. No entanto, se acontecer uma crise ligada à escassez hídrica na natureza ou à produção da água potável, o problema continuará nas mãos do estado”, aponta Édison. “Então, é fundamental que se façam investimentos na Estação de Tratamento do Guandu, para que a Cedae não forneça água ruim para essas empresas, que só têm o dever de distribuí-la para a população”, finaliza.

WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09 2Divulgação

Em 2016, um grupo de alunos de diversos cursos de Engenharia da UFRJ olhou para o céu e decidiu alçar novos voos. Literalmente. Nascia a Minerva Rockets, equipe criada para participar de disputas de desenvolvimento de foguetes. O grupo foi contemplado em um edital da Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (Funcate), da Agência Espacial Brasileira, e recebeu R$ 20 mil para a construção de um foguete que chegue a três quilômetros de altitude e tenha um motor de propulsão híbrido, que funcione com combustível sólido e oxidante líquido. Parece um grande desafio, mas é só mais uma etapa de uma empreitada bem-sucedida e feita de muito trabalho.
O foguete não vai ser o primeiro projetado pelo grupo, que já fez mais de uma dezena de lançamentos. O projeto que está sendo aperfeiçoado é o Aurora, que teve um protótipo lançado em 2019, quando a Minerva Rockets participou da Latin American Space Challenge, uma competição de desenvolvimento de foguetes voltada para estudantes. O Aurora terá, quando pronto, 3,5 metros de altura e aproximadamente 40 quilos.
“A Minerva Rockets foi criada para ser um projeto aeroespacial na UFRJ, que não tem um núcleo de pesquisas nesse campo”, contou Jonas Degrase, aluno do curso de Engenharia Eletrônica e um dos fundadores da Rockets. Desde que foi criada, já passaram pela Rockets mais de 170 alunos de 36 cursos diferentes da UFRJ. Grande parte vem das engenharias, mas alunos de Biotecnologia, Química, Jornalismo e Ciências Contábeis, entre outros, já passaram pela equipe. “Nosso projeto é multidisciplinar. Através da união de conhecimentos, temos diferentes perspectivas e o projeto se torna mais sólido e abrangente”, contou Jonas. O grupo hoje é formado por 54 alunos. Segundo Jonas, a ideia inicial era desenvolver apenas foguetes, mas o grupo de desdobrou e deu origem à Minerva Sat, equipe que desenvolve nano satélites, com peso de um a dez quilos, e formados por módulos cúbicos com arestas de dez centímetros.
Há dois anos a equipe de competição decidiu se tornar um grupo de pesquisa, processo que está em andamento. A ideia teve o apoio do professor Otto Corrêa Rotunno Filho, do Programa de Engenharia Civil da Coppe e um dos coordenadores da Minerva Rockets. Otto foi procurado pelos alunos por indicação da decania do Centro de Tecnologia e interessou-se pelo grupo imediatamente, enfatizando a autonomia dos alunos da Rockets. “O grupo é diferenciado porque ele se autogere. Eles têm um comprometimento diferente. Eu percebi essa excepcionalidade nesse grupo”, elogia o professor.
Agora, em conjunto, alunos e professores trabalham para que o grupo deixe um grande legado para a UFRJ. Para o professor Otto, a Minerva Rockets pode ser o primeiro passo para a abertura de um novo campo de estudos na UFRJ. “Eu não tenho dúvidas de que está se formando o embrião de uma área aeroespacial na UFRJ”, avaliou o professor, que faz um paralelo com a formação da área de Petróleo e Gás da universidade, que se formou a partir da articulação com a Petrobras e foi criado dentro do Programa de Engenharia Civil. “Acho que devíamos ter um hub no Parque Tecnológico voltado para a área aeroespacial, como já existe um voltado para petróleo e gás”, defendeu o professor. “Todo processo que é pioneiro precisa ser organizado”, avaliou.
E organização é uma das qualidades da equipe, reconhecida pelos seus professores coordenadores. Formada essencialmente por alunos, um dos obstáculos da Minerva Rockets é manter a sua curva de aprendizado, considerando que as mudanças na equipe serão constantes e que o tempo de permanência dos estudantes na universidade é finito. “É realmente um desafio. Para reter o conhecimento, tentamos trabalhar com uma documentação bem sólida de todos os nossos projetos em todas as suas fases. Também tentamos manter os membros por um tempo maior, de dois anos”, contou Kaio Siqueira de Brito, atual presidente da Minerva Rockets.
O professor Claudio Miceli de Farias, da Engenharia de Sistemas e Computação, também elogia a organização e o comprometimento da Rockets. “É uma equipe extremamente organizada, disciplinada e com processos muito bem definidos”. Como foi criada como uma equipe de competições e não um projeto de pesquisa, ela tem bastante autonomia para atuar. Para Claudio Miceli essa autonomia é mais um aspecto positivo do grupo. “O trabalho é 100% deles. Nós, professores, somos consultados quando eles têm uma dúvida ou alguma dificuldade”, contou, destacando a independência dos estudantes. “Somos mais conselheiros do que propriamente orientadores”.

WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.43.56PROTEÍNA S do coronavírus é injetada nos cavalos do Instituto Vital Brazil - Foto: DivulgaçãoUFRJ, Instituto Vital Brazil e Fiocruz protagonizam mais um importante passo da ciência no combate à covid-19. Pesquisadores desenvolveram um soro anticovid, que pode neutralizar o vírus em pessoas infectadas. O produto é obtido a partir do plasma de cavalos “vacinados” com a proteína S do Sars-Cov-2. Os pesquisadores descobriram que este plasma é até 50 vezes mais potente do que o de pessoas que tiveram a doença.
A pesquisa começou a ser realizada em maio do ano passado. Agora, os cientistas estão nos últimos trâmites para solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para testes clínicos. Jerson Lima Silva, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica e presidente da Faperj, coordena o estudo. “O Conselho Nacional de Ética em Pesquisa já aprovou e estamos nos reunindo com a Anvisa para fundamentar a dose que vamos usar para os testes de segurança do produto”, explica.
A inoculação da Proteína S, desenvolvida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe, coordenado pela professora Leda Castilho, é feita nos cavalos do Instituto Vital Brazil. A etapa pré-clínica do estudo incluiu a vacinação dos cavalos, a extração do plasma dos animais com os anticorpos para o novo coronavírus, o processamento do soro. A partir daí, foi testado em amostras isoladas (em laboratórios da Fiocruz e da UFRJ) de diferentes indivíduos infectados e observada a eficácia. Passada esta fase, houve a injeção do soro em mamíferos como hamsters e coelhos. “Após três dias percebemos que houve a neutralização do vírus nos animais”, revela o docente.
Com os testes realizados, documentados e publicados, os pesquisadores precisam passar para as fases 1 e 2 da etapa clínica. Primeiro, para atestar a segurança do produto. Depois, com mais voluntários, para garantir a eficácia no combate à doença. “Queremos pegar pacientes voluntários internados com no máximo dez dias de sintomas, pois é quando a replicação viral ainda está acontecendo. Precisamos testar a eficácia do soro nesta etapa para sabermos se haverá redução de necessidade de ventilação mecânica, intubação e morte”, explica Jerson Lima Silva.
Sete pessoas serão testadas na fase 1 e 34 na fase 2. A aplicação do soro será intravenosa. Os voluntários serão pacientes da Rede D’Or. “Fizemos esta parceria porque é uma rede que possui hospitais em diferentes regiões do país e fica mais fácil fazer toda a padronização necessária ao estudo”, argumenta o professor.
O cientista Luiz Eduardo Ribeiro da Cunha, que lidera a equipe de pesquisadores do Instituto Vital Brazil, reforça que essa sequência de questionamentos da Anvisa é uma etapa anterior ao pedido de estudo clínico. “Mesmo produzindo soro há muitos anos, é necessário todo esse procedimento para que tenhamos garantidos os parâmetros de segurança e eficácia do produto”, diz. “A gente só dá entrada no pedido depois que todo esse ‘check list’ é realizado”, justifica.
“Já estamos com o soro pronto, concentrado. Vamos passar à fase de formulação e envase enquanto terminamos de preparar toda a documentação”, explica Cunha. Para cada lote de soro, são necessários 150 litros de plasma dos cavalos. Ele prevê a fabricação de até 3 mil ampolas neste primeiro lote. “O produto é voltado para pacientes doentes, então a gente calcula alguns milhares de ampolas, não milhões, como acontece com os imunizantes”.

Produto patenteado
Em agosto, os pesquisadores depositaram o pedido de patente do soro. Assinam pela invenção, além de Luiz Eduardo Cunha e Jerson Lima Silva, os cientistas Adilson Stolet e Marcelo Strauch (Instituto Vital Brazil) e Leda Castilho e Amilcar Tanuri (UFRJ).
O caminho entre a bancada e a patente de um produto é longo e muitas vezes difícil de ser percorrido. “Sem a parceria e a expertise dessas três instituições centenárias e públicas, este trabalho não seria possível”, reconhece Cunha. “Nós somos uma instituição de ciência e tecnologia, mas também produzimos. A universidade não tem fábrica. Transformar conhecimento em produto é uma tarefa difícil. Por isso parcerias como essa são fundamentais”, analisa o pesquisador.
“Num contexto de pandemia completamente descontrolada, poder ter um soro que salve vidas é muito importante. É realmente gratificante poder entregar este trabalho para a sociedade”, completa o professor Jerson Lima Silva. O produto deve chegar à etapa de testes clínicos até março.

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