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WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09 2Divulgação

Em 2016, um grupo de alunos de diversos cursos de Engenharia da UFRJ olhou para o céu e decidiu alçar novos voos. Literalmente. Nascia a Minerva Rockets, equipe criada para participar de disputas de desenvolvimento de foguetes. O grupo foi contemplado em um edital da Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (Funcate), da Agência Espacial Brasileira, e recebeu R$ 20 mil para a construção de um foguete que chegue a três quilômetros de altitude e tenha um motor de propulsão híbrido, que funcione com combustível sólido e oxidante líquido. Parece um grande desafio, mas é só mais uma etapa de uma empreitada bem-sucedida e feita de muito trabalho.
O foguete não vai ser o primeiro projetado pelo grupo, que já fez mais de uma dezena de lançamentos. O projeto que está sendo aperfeiçoado é o Aurora, que teve um protótipo lançado em 2019, quando a Minerva Rockets participou da Latin American Space Challenge, uma competição de desenvolvimento de foguetes voltada para estudantes. O Aurora terá, quando pronto, 3,5 metros de altura e aproximadamente 40 quilos.
“A Minerva Rockets foi criada para ser um projeto aeroespacial na UFRJ, que não tem um núcleo de pesquisas nesse campo”, contou Jonas Degrase, aluno do curso de Engenharia Eletrônica e um dos fundadores da Rockets. Desde que foi criada, já passaram pela Rockets mais de 170 alunos de 36 cursos diferentes da UFRJ. Grande parte vem das engenharias, mas alunos de Biotecnologia, Química, Jornalismo e Ciências Contábeis, entre outros, já passaram pela equipe. “Nosso projeto é multidisciplinar. Através da união de conhecimentos, temos diferentes perspectivas e o projeto se torna mais sólido e abrangente”, contou Jonas. O grupo hoje é formado por 54 alunos. Segundo Jonas, a ideia inicial era desenvolver apenas foguetes, mas o grupo de desdobrou e deu origem à Minerva Sat, equipe que desenvolve nano satélites, com peso de um a dez quilos, e formados por módulos cúbicos com arestas de dez centímetros.
Há dois anos a equipe de competição decidiu se tornar um grupo de pesquisa, processo que está em andamento. A ideia teve o apoio do professor Otto Corrêa Rotunno Filho, do Programa de Engenharia Civil da Coppe e um dos coordenadores da Minerva Rockets. Otto foi procurado pelos alunos por indicação da decania do Centro de Tecnologia e interessou-se pelo grupo imediatamente, enfatizando a autonomia dos alunos da Rockets. “O grupo é diferenciado porque ele se autogere. Eles têm um comprometimento diferente. Eu percebi essa excepcionalidade nesse grupo”, elogia o professor.
Agora, em conjunto, alunos e professores trabalham para que o grupo deixe um grande legado para a UFRJ. Para o professor Otto, a Minerva Rockets pode ser o primeiro passo para a abertura de um novo campo de estudos na UFRJ. “Eu não tenho dúvidas de que está se formando o embrião de uma área aeroespacial na UFRJ”, avaliou o professor, que faz um paralelo com a formação da área de Petróleo e Gás da universidade, que se formou a partir da articulação com a Petrobras e foi criado dentro do Programa de Engenharia Civil. “Acho que devíamos ter um hub no Parque Tecnológico voltado para a área aeroespacial, como já existe um voltado para petróleo e gás”, defendeu o professor. “Todo processo que é pioneiro precisa ser organizado”, avaliou.
E organização é uma das qualidades da equipe, reconhecida pelos seus professores coordenadores. Formada essencialmente por alunos, um dos obstáculos da Minerva Rockets é manter a sua curva de aprendizado, considerando que as mudanças na equipe serão constantes e que o tempo de permanência dos estudantes na universidade é finito. “É realmente um desafio. Para reter o conhecimento, tentamos trabalhar com uma documentação bem sólida de todos os nossos projetos em todas as suas fases. Também tentamos manter os membros por um tempo maior, de dois anos”, contou Kaio Siqueira de Brito, atual presidente da Minerva Rockets.
O professor Claudio Miceli de Farias, da Engenharia de Sistemas e Computação, também elogia a organização e o comprometimento da Rockets. “É uma equipe extremamente organizada, disciplinada e com processos muito bem definidos”. Como foi criada como uma equipe de competições e não um projeto de pesquisa, ela tem bastante autonomia para atuar. Para Claudio Miceli essa autonomia é mais um aspecto positivo do grupo. “O trabalho é 100% deles. Nós, professores, somos consultados quando eles têm uma dúvida ou alguma dificuldade”, contou, destacando a independência dos estudantes. “Somos mais conselheiros do que propriamente orientadores”.

WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09VISTORIA em instalações da Cedae organizada pelo Ministério Público - Foto: MPRJÉ como um pesadelo que se repete. A população fluminense atravessa mais um verão com o sistema hídrico em crise. Moradores de diversos bairros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro voltaram a reclamar de alterações no cheiro e no gosto da água distribuída pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Mas, para especialistas da UFRJ, não existe nenhuma surpresa nesta história.
Há mais de um ano, quando a água que chegava às residências também assumiu características estranhas, a reitoria da universidade convidou um grupo de seis professores para avaliar a situação. São docentes que realizam pesquisas relacionadas à ecologia aquática, recursos hídricos, saneamento e saúde pública. Na ocasião, a UFRJ emitiu uma nota técnica com constatações e recomendações às autoridades municipais e estaduais sobre os problemas da água (veja quadro). Nenhuma das medidas mais efetivas saiu do papel.
“Todas as recomendações da nota técnica permanecem, porque não mudou absolutamente nada do ano passado pra cá”, disse Renata Picão, professora do Departamento de Biologia Médica do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e uma das integrantes do grupo de trabalho.
O texto do GT já apontava uma ameaça à segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A atual crise que vive a RMRJ é decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas. Como resultado, esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos Rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de captação de água do sistema produtor”, observaram os pesquisadores.
WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09 1A recorrência do problema na mesma época do ano não é por acaso. “No verão, a quantidade de água nos afluentes diminui, enquanto o lançamento de esgoto que chega ao Rio Guandu aumenta. Somando isso ao aumento do consumo de água, e o colapso do tratamento da água, surgem esses problemas que estamos vendo”, lembra o professor Francisco Esteves, do Nupem/UFRJ, também do GT.
O docente afirma que as autoridades responsáveis não procuraram o grupo para dialogar sobre as informações apresentadas na nota técnica. “A água não está sendo tratada adequadamente. Nós ainda seguimos o mesmo funcionamento do início do século 20”, critica
Após as reclamações este ano, a Cedae suspendeu na noite do dia 21 de janeiro a produção de água no Sistema Guandu. Em publicação no seu site, a empresa justificou a adoção desse protocolo em função de novas análises da contagem de algas nas proximidades da Estação de Tratamento. O sistema voltou a funcionar na manhã do dia seguinte (22), após cerca de 10 horas. Por conta da manutenção, moradores de vários pontos do Rio noticiaram falta d’água em casa. Até o fechamento dessa matéria, muitos continuam a relatar o recebimento de água turva, com gosto e odor de terra.

Investimentos são necessários
No dia 29 de dezembro, o governo do Rio publicou um edital de licitação de alguns dos serviços prestados pela Cedae. No projeto, o estado é dividido em quatro blocos, nos quais a distribuição da água, a coleta e o tratamento do esgoto passarão a ser responsabilidade de outras empresas. A captação e o tratamento de água continuam sob responsabilidade da companhia e do estado. “Independentemente de a empresa ser pública ou ser privada, há coisas a serem feitas. Enquanto aqueles esgotos não forem coletados e tratados devidamente, o problema continuará”, avalia o professor Isaac Volschan Jr, do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica. O leilão está marcado para o dia 30 de abril.
“A concessão não é aberta somente à iniciativa privada. A Sabesp, por exemplo, já demonstrou interesse em disputar os blocos do Rio de Janeiro”, explica Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, uma organização com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Segundo ele, as autoridades entendem que essa é a única forma capaz de resolver os problemas do estado. “Isso é fruto dessa falta histórica de investimentos sérios do estado do Rio, dos municípios e da Cedae, que culminou nessa fragilidade sanitária”, completa.
A Cedae continuará estatal e estadual, mas sua atuação se limitará a captar água no meio ambiente, tratá-la, e então vendê-la para as empresas concessionárias distribuírem. “Se houver uma crise ligada apenas ao fornecimento da água, caberá a essas novas empresas. No entanto, se acontecer uma crise ligada à escassez hídrica na natureza ou à produção da água potável, o problema continuará nas mãos do estado”, aponta Édison. “Então, é fundamental que se façam investimentos na Estação de Tratamento do Guandu, para que a Cedae não forneça água ruim para essas empresas, que só têm o dever de distribuí-la para a população”, finaliza.

IMG 8100Foto: Alessandro Costa/Arquivo AdUFRJA vacinação na UFRJ segue em ótimo ritmo. Em duas semanas, cerca de 85% do pessoal da linha de frente no combate à covid-19 já receberam a primeira dose da vacina. Até o momento, a universidade recebeu aproximadamente quatro mil doses, a maior parte da Coronavac, da chinesa Sinovac, produzida em parceria com o Instituto Butantan. Mas algumas doses da vacina da AstraZeneca, feita em parceria com a Universidade de Oxford e com a Fiocruz já chegam à instituição. “Quando as primeiras doses da vacina chegaram, só havia 30% para o pessoal da linha de frente e nós decidimos acompanhar o critério de vacinação da Secretaria Municipal de Saúde”, explica a reitora Denise Pires de Carvalho. “Após os idosos, virão os profissionais de educação, então, em breve todos nós, profissionais da UFRJ, estaremos vacinados”.
Coordenador do Complexo Hospitalar, unidade que centraliza a vacinação do corpo social da universidade, o médico Leôncio Feitosa informa que já há 3.555 profissionais vacinados – entre trabahadores e voluntários da linha de frente e servidores da saúde com mais de 60 anos. “Na linha de frente, é importante destacar que não são só pessoas da saúde. O ascensorista do hospital foi imunizado, as pessoas da limpeza que atuam nas alas covid foram imunizadas, pessoal de laboratórios”, exemplifica o médico.
WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.41.44As vacinas estão sob a guarda da Central de Vacinação de Adultos, no Centro de Ciências da Saúde. O órgão é vinculado à Pró-reitoria de Pessoal. “Desde a semana passada, a UFRJ passou a vacinar também os profissionais de saúde acima de 60 anos. É um esforço para atingirmos todos os nossos profissionais da área de saúde”, afirma o doutor Leôncio Feitosa. “À medida que forem chegando novos lotes da vacina, vamos vacinando os profissionais, quer RJU, quer terceirizados da nossa universidade, além de residentes e estagiários dos hospitais”.
Mas atingir os 100% dos profissionais da linha de frente ainda é um desafio. Há quem esteja doente e não pode ser imunizado no momento. Outros estão de férias. E há, infelizmente, um pequeno grupo que tem se recusado a receber o imunizante. Um problema não só da UFRJ, mas de toda a sociedade. “Precisamos conversar, mostrar dados de outras doenças que foram erradicadas por conta de vacinas. Vacinação é pacto social, precisa haver essa consciência”, opina Feitosa.
“A UFRJ é a institutição que percentualmente mais vacinou, atendendo aos critérios estipulados pela Secretaria Municipal de Saúde”, acrescenta a reitora. “A UFRJ foi muito bem nessas primeiras semanas”, finaliza.

DRIVE-THRU NOS CAMPI
Numa parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, a UFRJ começa mais uma ação de enfrentamento à pandemia: dois postos de vacinação drive-thru (aqueles em que a imunização acontece sem que a pessoa saia do carro) serão instalados na universidade, um na Cidade Universitária e outro na Praia Vermelha. Esta vacinação será voltada para a sociedade. No próximo sábado, dia 6, a partir das 8h da manhã, mais de 300 doses da vacina Coronavac estarão disponíveis para o público prioritário do calendário de vacinação da Prefeitura do Rio. A universidade cederá o espaço, estudantes voluntários e o material necessário para a instalação dos postos.
Segundo o Prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado, o espaço para o armazenamento da primeira remessa de vacinas ainda está sendo negociado, assim como a quantidade exata de doses disponíveis por dia. “Ainda não está confirmado quantas doses seriam, me parece que algo em torno de 300 a 500 doses”, acredita. Maldonado explica que os primeiros dias servirão de experiência para ajustar a logística dos próximos três meses de vacinação drive-thru. “O primeiro dia vai dizer se a ação realmente precisa de uma demanda maior ou menor. A gente vai fazer uma experiência para mais de 300 pessoas em cada campus”, explica o prefeito.
Na Cidade Universitária, o posto vai funcionar no Polo de Biotecnologia, ao lado do CCS. Já na Praia Vermelha, a entrada será pela Rua Lauro Müller, saindo pela Av. Venceslau Brás. A UFRJ também vai coordenar um terceiro posto drive-thru no Sambódromo, no Centro, que inicia as atividades no mesmo dia 6. Por conta de um problema interno da Secretaria de Saúde, o início desse sistema de vacinação atrasou em uma semana. “Não teve a ver com a UFRJ. A logística está pronta desde a primeira reunião, 30 dias atrás”, explica Maldonado.
“A ideia é atender aos idosos que não puderam comparecer aos postos de saúde no dia específico de sua idade”, informa o coordenador do Complexo Hospitalar, Leôncio Feitosa.
As equipes de voluntários estão sendo coordenadas pela professora Carla Araújo, diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery. “O trabalho do voluntariado se iniciou no começo da pandemia, em março de 2020. Desde então temos atuado em diversas frentes junto aos hospitais da UFRJ, ao Centro de Testagem”, afirma Carla. “Estamos atuando com os professores e estudantes da Escola de Enfermagem Anna Nery e da Faculdade de Medicina na condição de voluntários, em várias frentes nesses pontos, como vacinadores, organizadores de fila, escribas e apoio”, conta.
“Nós temos 2.451 voluntários para essa vacinação, para ajudarmos o município do Rio a imunizar sua população. E estamos também vacinando esses voluntários porque são da linha de frente”, finaliza a reitora Denise.

WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.43.56PROTEÍNA S do coronavírus é injetada nos cavalos do Instituto Vital Brazil - Foto: DivulgaçãoUFRJ, Instituto Vital Brazil e Fiocruz protagonizam mais um importante passo da ciência no combate à covid-19. Pesquisadores desenvolveram um soro anticovid, que pode neutralizar o vírus em pessoas infectadas. O produto é obtido a partir do plasma de cavalos “vacinados” com a proteína S do Sars-Cov-2. Os pesquisadores descobriram que este plasma é até 50 vezes mais potente do que o de pessoas que tiveram a doença.
A pesquisa começou a ser realizada em maio do ano passado. Agora, os cientistas estão nos últimos trâmites para solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para testes clínicos. Jerson Lima Silva, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica e presidente da Faperj, coordena o estudo. “O Conselho Nacional de Ética em Pesquisa já aprovou e estamos nos reunindo com a Anvisa para fundamentar a dose que vamos usar para os testes de segurança do produto”, explica.
A inoculação da Proteína S, desenvolvida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe, coordenado pela professora Leda Castilho, é feita nos cavalos do Instituto Vital Brazil. A etapa pré-clínica do estudo incluiu a vacinação dos cavalos, a extração do plasma dos animais com os anticorpos para o novo coronavírus, o processamento do soro. A partir daí, foi testado em amostras isoladas (em laboratórios da Fiocruz e da UFRJ) de diferentes indivíduos infectados e observada a eficácia. Passada esta fase, houve a injeção do soro em mamíferos como hamsters e coelhos. “Após três dias percebemos que houve a neutralização do vírus nos animais”, revela o docente.
Com os testes realizados, documentados e publicados, os pesquisadores precisam passar para as fases 1 e 2 da etapa clínica. Primeiro, para atestar a segurança do produto. Depois, com mais voluntários, para garantir a eficácia no combate à doença. “Queremos pegar pacientes voluntários internados com no máximo dez dias de sintomas, pois é quando a replicação viral ainda está acontecendo. Precisamos testar a eficácia do soro nesta etapa para sabermos se haverá redução de necessidade de ventilação mecânica, intubação e morte”, explica Jerson Lima Silva.
Sete pessoas serão testadas na fase 1 e 34 na fase 2. A aplicação do soro será intravenosa. Os voluntários serão pacientes da Rede D’Or. “Fizemos esta parceria porque é uma rede que possui hospitais em diferentes regiões do país e fica mais fácil fazer toda a padronização necessária ao estudo”, argumenta o professor.
O cientista Luiz Eduardo Ribeiro da Cunha, que lidera a equipe de pesquisadores do Instituto Vital Brazil, reforça que essa sequência de questionamentos da Anvisa é uma etapa anterior ao pedido de estudo clínico. “Mesmo produzindo soro há muitos anos, é necessário todo esse procedimento para que tenhamos garantidos os parâmetros de segurança e eficácia do produto”, diz. “A gente só dá entrada no pedido depois que todo esse ‘check list’ é realizado”, justifica.
“Já estamos com o soro pronto, concentrado. Vamos passar à fase de formulação e envase enquanto terminamos de preparar toda a documentação”, explica Cunha. Para cada lote de soro, são necessários 150 litros de plasma dos cavalos. Ele prevê a fabricação de até 3 mil ampolas neste primeiro lote. “O produto é voltado para pacientes doentes, então a gente calcula alguns milhares de ampolas, não milhões, como acontece com os imunizantes”.

Produto patenteado
Em agosto, os pesquisadores depositaram o pedido de patente do soro. Assinam pela invenção, além de Luiz Eduardo Cunha e Jerson Lima Silva, os cientistas Adilson Stolet e Marcelo Strauch (Instituto Vital Brazil) e Leda Castilho e Amilcar Tanuri (UFRJ).
O caminho entre a bancada e a patente de um produto é longo e muitas vezes difícil de ser percorrido. “Sem a parceria e a expertise dessas três instituições centenárias e públicas, este trabalho não seria possível”, reconhece Cunha. “Nós somos uma instituição de ciência e tecnologia, mas também produzimos. A universidade não tem fábrica. Transformar conhecimento em produto é uma tarefa difícil. Por isso parcerias como essa são fundamentais”, analisa o pesquisador.
“Num contexto de pandemia completamente descontrolada, poder ter um soro que salve vidas é muito importante. É realmente gratificante poder entregar este trabalho para a sociedade”, completa o professor Jerson Lima Silva. O produto deve chegar à etapa de testes clínicos até março.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.02.57Foto: Alessandro CostaELEONORA ZILLER
Presidente da AdUFRJ, professora da Faculdade de Letras da UFRJ

Uma vez perguntaram ao Roberto Schwarz qual seria para ele o significado de “periferia”, por conta de seu livro Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. Ele respondeu de modo muito sintético algo como: país periférico é aquele que não engendra o seu próprio futuro. Não tenho certeza se a frase foi exatamente assim, mas lembro que na época me provocou certa irritação. Já não estávamos mais na década de 1990, quando o livro fora publicado, mas em pleno século XXI, com os promissores anos do governo do PT acenando para um novo posicionamento internacional do Brasil no concerto das nações, com as grandes articulações com os países do BRICS e o sonho de uma nova ordem mundial. Entretanto, a partir de 2013, com as revelações do Snowden sobre os programas secretos de vigilância dos EUA, e tudo que ocorreu a partir de 2016, a fala de Schwarz voltava a me instigar.
A eleição de Bolsonaro na esteira de Trump e Steve Bannon deu contornos ainda mais dramáticos ao que passamos a viver no Brasil. O bordão de sua campanha presidencial, “vamos acabar com tudo isso que está aí”, vem sendo cumprido à risca, num acelerado processo de destruição sistemática da nação, sem paralelo na história do país. A condição de subalternidade da política externa brasileira nunca esteve tão evidente, com a exposição orgulhosa de nossa condição periférica, ou pior, de província, colônia ou mesmo de quintal dos EUA, pelo arremedo de chanceler, o sr. Ernesto Araújo. O compasso de espera que se formou para a eleição do Biden deixou a sensação ainda mais forte de que o nosso futuro continua sendo jogado alhures.
Em recente artigo na edição 1162 do Jornal da Adufrj, Josué Medeiros ressaltou que a derrota eleitoral de Trump não significava a derrota política do trumpismo, e que ela, por si só também não tem força para resolver o imbróglio que estamos metidos por aqui com o bolsonarismo, e nisso estamos de acordo. Mas é inegável que, desde a posse do Biden, o barco do presidente furou e está entrando água. Para atravessar a tempestade e evitar o naufrágio, o vice-presidente já anunciou que é necessário jogar alguma carga ao mar, e ao que parece, o primeiro a ser lançado será Ernesto Araújo (isso se Mourão não estiver se arriscando numa articulação para jogar a carga mais pesada ao mar, ou seja, o capitão). Os conglomerados da mídia também acirram suas campanhas e é previsível que, se o governo conseguir emplacar Arthur Lira na presidência da Câmara, tenhamos mais homens ao mar. O fiel escudeiro da Saúde poderá ter também sua cabeça entregue para que o centrão ocupe seu lugar no restauro da embarcação.
Então, num primeiro olhar, é possível que Bolsonaro possa restaurar o seu governo? Bom, ele ainda tem alguma popularidade e tem a chave do cofre, embora esta não seja uma operação fácil. Ocorrendo o pior cenário, que é a vitória de Arthur Lira, e uma recomposição do governo numa reforma ministerial que acalme a voracidade do centrão por cargos e verbas, ainda haveria a possibilidade de impeachment? Para aqueles que possuem um mínimo de consciência democrática e compromisso com a sociedade, esse governo é uma excrescência que ultrapassou há tempos todos os limites aceitáveis. Mas, ao que parece, ele não ultrapassou a linha principal que o mantém no cargo: a defesa do laissez-faire para a concentração de renda e a manutenção da impopular agenda neoliberal no Congresso. Se ele mantiver o avanço privatista, faz o serviço sujo e libera alguns candidatos de levantar bandeiras eleitoralmente inconvenientes em 2022. Mas para esses candidatos, para que o plano desse certo, seria preciso deixar que o presidente sangrasse até ser inviabilizado como candidato à reeleição, o que parece ser hoje um risco muito grande.
Apesar de termos muita convicção sobre a necessidade do impeachment, ainda temos muitos empecilhos pela frente. Como confrontar os exércitos de robôs que sedimentam o consenso ultraconservador e mantêm viva a circulação de fake news que destilam ódio, desinformação e confundem a população? Como enfrentar o poderio crescente das milícias e dos pastores nas comunidades? Como organizar protestos e dar forma à nossa insatisfação sem provocar grandes aglomerações? Há caminhos e precisamos descobrí-los. A combinação de inépcia e perversidade do governo no enfrentamento à pandemia é única no mundo. O que ocorreu em Manaus é matéria mais do que suficiente para caracterizar a responsabilidade do governo federal diante de tantas mortes, além de ser um alerta muito plausível do risco que todos corremos com um governo como esse. Mas parece que a campanha lava-jatista deixou marcas indeléveis em nossa cultura, fazendo com que a compra do leite condensado tenha efeitos mais devastadores na base bolsonarista do que as mortes evitáveis por falta de oxigênio hospitalar.
A carreata do dia 23 apontou alguns caminhos. As frentes que hoje reúnem as centrais sindicais, confederações, federações, sindicatos e os movimentos sociais ainda podem render um movimento da maior significação nesse momento. Cresce o entendimento de que é necessária a construção de grandes bandeiras nacionais propositivas, que sejam percebidas pela população como a possibilidade de reversão da fragilidade e da miserabilidade a que todos vão sendo constrangidos a vivenciar. Vacina já, universal e gratuita, e a volta do auxílio emergencial são fundamentais nesse momento, pois vão além das bandeiras corporativas de cada categoria profissional. Cabe a nós a responsabilidade de encarnarmos essa grande tarefa de unidade, dar forma e cor a ela, de ponta a ponta nesse imenso país. Ainda que não tenhamos todas as cartas nas mãos e que parte do jogo esteja sendo jogado sem a gente.

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