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WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09VISTORIA em instalações da Cedae organizada pelo Ministério Público - Foto: MPRJÉ como um pesadelo que se repete. A população fluminense atravessa mais um verão com o sistema hídrico em crise. Moradores de diversos bairros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro voltaram a reclamar de alterações no cheiro e no gosto da água distribuída pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Mas, para especialistas da UFRJ, não existe nenhuma surpresa nesta história.
Há mais de um ano, quando a água que chegava às residências também assumiu características estranhas, a reitoria da universidade convidou um grupo de seis professores para avaliar a situação. São docentes que realizam pesquisas relacionadas à ecologia aquática, recursos hídricos, saneamento e saúde pública. Na ocasião, a UFRJ emitiu uma nota técnica com constatações e recomendações às autoridades municipais e estaduais sobre os problemas da água (veja quadro). Nenhuma das medidas mais efetivas saiu do papel.
“Todas as recomendações da nota técnica permanecem, porque não mudou absolutamente nada do ano passado pra cá”, disse Renata Picão, professora do Departamento de Biologia Médica do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e uma das integrantes do grupo de trabalho.
O texto do GT já apontava uma ameaça à segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A atual crise que vive a RMRJ é decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas. Como resultado, esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos Rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de captação de água do sistema produtor”, observaram os pesquisadores.
WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.50.09 1A recorrência do problema na mesma época do ano não é por acaso. “No verão, a quantidade de água nos afluentes diminui, enquanto o lançamento de esgoto que chega ao Rio Guandu aumenta. Somando isso ao aumento do consumo de água, e o colapso do tratamento da água, surgem esses problemas que estamos vendo”, lembra o professor Francisco Esteves, do Nupem/UFRJ, também do GT.
O docente afirma que as autoridades responsáveis não procuraram o grupo para dialogar sobre as informações apresentadas na nota técnica. “A água não está sendo tratada adequadamente. Nós ainda seguimos o mesmo funcionamento do início do século 20”, critica
Após as reclamações este ano, a Cedae suspendeu na noite do dia 21 de janeiro a produção de água no Sistema Guandu. Em publicação no seu site, a empresa justificou a adoção desse protocolo em função de novas análises da contagem de algas nas proximidades da Estação de Tratamento. O sistema voltou a funcionar na manhã do dia seguinte (22), após cerca de 10 horas. Por conta da manutenção, moradores de vários pontos do Rio noticiaram falta d’água em casa. Até o fechamento dessa matéria, muitos continuam a relatar o recebimento de água turva, com gosto e odor de terra.

Investimentos são necessários
No dia 29 de dezembro, o governo do Rio publicou um edital de licitação de alguns dos serviços prestados pela Cedae. No projeto, o estado é dividido em quatro blocos, nos quais a distribuição da água, a coleta e o tratamento do esgoto passarão a ser responsabilidade de outras empresas. A captação e o tratamento de água continuam sob responsabilidade da companhia e do estado. “Independentemente de a empresa ser pública ou ser privada, há coisas a serem feitas. Enquanto aqueles esgotos não forem coletados e tratados devidamente, o problema continuará”, avalia o professor Isaac Volschan Jr, do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica. O leilão está marcado para o dia 30 de abril.
“A concessão não é aberta somente à iniciativa privada. A Sabesp, por exemplo, já demonstrou interesse em disputar os blocos do Rio de Janeiro”, explica Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, uma organização com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Segundo ele, as autoridades entendem que essa é a única forma capaz de resolver os problemas do estado. “Isso é fruto dessa falta histórica de investimentos sérios do estado do Rio, dos municípios e da Cedae, que culminou nessa fragilidade sanitária”, completa.
A Cedae continuará estatal e estadual, mas sua atuação se limitará a captar água no meio ambiente, tratá-la, e então vendê-la para as empresas concessionárias distribuírem. “Se houver uma crise ligada apenas ao fornecimento da água, caberá a essas novas empresas. No entanto, se acontecer uma crise ligada à escassez hídrica na natureza ou à produção da água potável, o problema continuará nas mãos do estado”, aponta Édison. “Então, é fundamental que se façam investimentos na Estação de Tratamento do Guandu, para que a Cedae não forneça água ruim para essas empresas, que só têm o dever de distribuí-la para a população”, finaliza.

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