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jair bolsonaro arthur lira video.jpgBolsonaro e Lira - Imagem: reprodução de redes sociaisCom farta distribuição de cargos na máquina pública — incluindo uma promessa de reforma ministerial — e de verbas para emendas parlamentares, o Palácio do Planalto joga todas as suas fichas na vitória de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados, na eleição que ocorre na próxima segunda-feira. Acuado pela queda de sua popularidade, pela inépcia de seu governo no combate à pandemia de covid-19 e pela crescente mobilização popular em defesa de seu impeachment, o presidente Jair Bolsonaro quer que Lira, líder do Centrão, faça exatamente o que fez o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): deixar na gaveta os 57 pedidos de impedimento que podem abreviar o fim de seu desgoverno.
Ou melhor, 58. Nesta quarta-feira (27), os partidos PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede apresentaram um novo pedido de impechment contra Bolsonaro por “crimes de responsabilidade em série” na condução do enfrentamento ao coronavírus. Foi o 63º requerimento em pouco mais de dois anos de governo — cinco foram arquivados. Na mesma quarta-feira, Arthur Lira se apressou em dizer que a pandemia “não pode ser usada para provocar o impeachment do presidente Jair Bolsanoro”.
A deflagração ou não de um processo de impeachment contra Bolsonaro é um tema central na eleição de segunda-feira. Se Lira tratou de sepultar previamente o assunto, seu principal oponente, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por Maia, pisou em ovos ao abordá-lo nas entrevistas que concedeu ao longo desta semana. Em uma delas, no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (25), foi evasivo e disse apenas que vai cumprir sua função como presidente da Câmara e, caso eleito, irá analisar os pedidos que estão na gaveta. É isso o que esperam os partidos que o apoiam, como os signatários do pedido número 63.
Marcada pela influência direta do Poder Executivo, que liberou ao menos R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores, segundo denúncia do Estadão nesta quinta-feira (28), a eleição de segunda-feira tem ainda uma marca indelével: a traição. Como já chega a ser “tradição” em votações secretas no Congresso, os dois lados tentam atrair dissidentes. O DEM, partido de Maia, fechado com Baleia Rossi, já computava deserções na bancada baiana esta semana. Já o PSL, que chegou a apoiar Baleia Rossi, se bandeou em peso para os lados de Arthur Lira, seduzido pelas promessas palacianas.
Até o fechamento desta edição, a disputa ainda mostrava certo equilíbrio. Baleia Rossi contava com o apoio de 11 legendas — em tese, 238 deputados. Lira também tinha a sustentação de 11 siglas, somando 259 parlamentares. O peso de cada bloco é importante porque define cargos na mesa diretora, nas comissões (como a poderosa CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo) e no Conselho de Ética da Casa. Disputa acirrada em que até parlamentares licenciados que estão em governos devem reassumir seus mandatos por um dia para votar — casos, por exemplo, do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (em Lira), e do secretário municipal de Cidadania do Rio, Marcelo Calero (em Baleia Rossi).
Partido de forte oposição ao governo Bolsonoro, o PSOL ficou de fora do bloco de apoio ao candidato do MDB. Os dez deputados da sigla se dividiram, parte defendendo a candidatura própria, e parte o apoio a Baleia Rossi. Venceu a tese da candidatura própria — a indicada é Luiza Erundina —, mas a paz não foi selada de imediato. A própria Erundina, pelo Twitter, criticou a posição dos que defendiam o apoio ao candidato do MDB já no primeiro turno, acusando-os de fisiologismo. Parlamentares da legenda, como Marcelo Freixo, Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna, por sua vez, criticaram a postura de Erundina.
Já no Senado Federal, que também elege seu próximo presidente na segunda-feira, a disputa está entre Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Bolsonaro e pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e Simone Tebet (MDB-MS). Pacheco está em franca vantagem e na quinta-feira (28), Simone Tebet perdeu o apoio do partido e manteve sua candidatura como independente no pleito. Em troca da rasteira, o MDB ficaria com mais espaço na mesa diretora, possivelmente ocupando a vice-presidência. Pacheco tem o apoio até de partidos de oposição a Bolsonaro, como o PT e o PDT, que não enxergaram em Simone um nome competitivo e decidiram marchar com o candidato do Planalto.
Nesse intrincado xadrez político, em que por vezes situação e oposição se confundem, uma coisa é certa: o peso da pressão popular, que cresce a cada dia, será fundamental para definir a pauta do Congresso a partir de 1º de fevereiro. As cenas da carreata de sábado (23) no Rio de Janeiro, que ilustram essas duas páginas, se repetiram em diversas cidades do país. E elas foram promovidas não só por partidos de oposição e movimentos de esquerda, mas também por grupos que lideraram atos pela derrubada da então presidente Dilma Rousseff em 2016, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua. Seja qual for o resultado da eleição de segunda-feira, o “Fora Bolsonaro” parece cada vez mais forte.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.16.12ESCOLA DE BELAS ARTES adaptou parte dos conteúdos de aulas práticas para o ensino virtual - Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJA suspensão das aulas práticas na pandemia ainda desafia professores e estudantes de vários cursos. A adaptação do conteúdo para o meio remoto — e com qualidade — não é fácil para quem ensina e exige compreensão e empenho de quem aprende. Quando a tarefa se revela impossível, as unidades reformulam a grade e deslocam estas disciplinas para o futuro.
Mas não sabem até quando.
“O aluno precisa ter a vivência do laboratório”, resume a professora Mônica Ferreira Moreira, do Instituto de Química. A docente se desdobra para adaptar as aulas experimentais ao cotidiano de ensino virtual. Arcou com a compra de microfones de lapela, luzes especiais para gravar os vídeos, mas reconhece que, apesar de ser o melhor que ela e sua equipe podem fazer, há limitações. “Não temos um suporte técnico. Estamos buscando uma forma de não atrasar os estudantes e de proporcionar o conteúdo que eles teriam no curso regular presencial, mas não é a mesma coisa”, pondera.
Na Escola de Belas Artes, a maior parte das aulas práticas foi adaptada, mas há conteúdos em que o encaixe se torna impossível. “Gravura, por exemplo, precisa de prensa. Não dá para fazer remotamente”, afirma a diretora Madalena Grimaldi.
“Compensamos oferecendo disciplinas eletivas e de extensão que os estudantes precisariam cursar em algum momento. É uma forma de adiantar essa parte da grade”, afirma.
“Os estudantes aderiram maciçamente. Mais à frente precisaremos resolver as lacunas deixadas pelo ensino remoto, mas não temos intenção por enquanto de voltar às aulas práticas”.
Na Escola de Educação Física, outra unidade em que a formação prática é essencial, professores, estudantes e técnicos montaram uma comissão para avaliar os impactos da pandemia. E criaram o fórum “Fluxograma Formandos 2020.2”. A ideia é mapear quem está prestes a se formar e quais disciplinas precisam para a conclusão de seus cursos.
“Não estamos fazendo ensino a distância, que é uma modalidade de ensino específica e requer ferramentas próprias e capacitação. Não fomos capacitados. Estamos em trabalho e em ensino remotos porque somos impelidos a este formato para salvar vidas”, sublinha a diretora Katya Gualter. Para os calouros e estudantes de outros períodos, a ideia é adiar as disciplinas práticas e substituí-las por disciplinas teóricas que seriam cursadas depois. “Uma forma de compensar a grade e não atrasá-los”, explica a diretora.
“Em relação aos concluintes, queremos viabilizar que se formem”, revela Katya. Para eles, serão oferecidas, de forma remota, todas as disciplinas necessárias à formatura. “Eles já passaram por um processo de experimentação bastante intenso ao longo de todo o curso”, argumenta. “A gente não pode comprometer a qualidade, não pode comprometer a vida das pessoas e nem represar esses alunos”.

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
O GT Pós-Pandemia da UFRJ está mapeando todos os laboratórios e salas destinadas a aulas práticas para calcular o risco de transmissão do vírus nestes espaços e a lotação máxima segura. Os dados dependem do preenchimento, por parte das unidades, de uma longa e detalhada planilha. Cada espaço será classificado com as cores vermelho (alto risco), amarelo (risco médio) e verde (baixo risco).
“A depender da característica do espaço, do curso oferecido, das dimensões, teremos essas classificações e a indicação dos EPIs necessários a cada um deles”, explica a professora Fátima Bruno, coordenadora do GT. “Isto é um planejamento necessário para que a universidade tenha todos os protocolos prontos quando houver condições sanitárias para este retorno”, defende.
A decana do CCMN, professora Cássia Turci, conta que este levantamento foi realizado pelas unidades de seu centro e as informações, enviadas ao GT para análise. Muitos dos cursos possuem disciplinas experimentais que correspondem a até 40% da carga horária total de aulas. “Estamos pensando em 2020.2. Sobretudo os institutos de Química, Física, Geociências e o Observatório do Valongo têm muitos alunos que precisam dessas disciplinas práticas”, diz.
A professora enfrenta outra preocupação. “Mesmo que a gente consiga articular as aulas experimentais, ainda faltarão os trabalhos de campo. Enquanto não estiver todo mundo vacinado, como a gente vai colocar 30, 40 estudantes em um ônibus para percorrer horas de viagem? E depois se deslocarem numa cidade?”, questiona.

FORMATURA
“Para os formandos, as aulas práticas já eram uma preocupação antes mesmo do PLE (Período Letivo Excepcional) começar”, relata Antônia Velloso, do DCE Mário Prata. Uma das soluções acordadas entre unidades e corpo discente foi a quebra de requisito para cursar disciplinas que dependem de matérias práticas. “Consideramos que esse é um caminho muito importante, mas certamente precisamos ter outros meios de solucionar o problema”, afirma
Outra frente de atuação é o GT Volta às Aulas, do qual o DCE faz parte. “A partir dos dados do covidímetro (ferramenta que mede a taxa de transmissão da covid-19 no estado, formulada pela UFRJ), a gente discute o que é viável ser realizado pela universidade”, conta a estudante. “No momento, infelizmente, a transmissão está muito alta, o que impossibilita qualquer atividade presencial de grupo”.

FUTURO
Diretora da AdUFRJ e integrante do GT Pós-Pandemia, a professora Christine Ruta acredita que há impactos para a formação que não podem ser medidos no momento. “Temos majoritariamente dois cenários: unidades que suspenderam as aulas práticas e unidades que as adaptaram muito bem para o meio remoto e isto acontece porque há uma diversidade muito grande entre os cursos, entre as unidades. E também porque falta muitas vezes suporte tecnológico”, opina. “Com certeza, há impactos para esses alunos e futuros profissionais, mas a universidade precisa se preparar para cenários de outras pandemias, que — tudo indica —iremos enfrentar, e mudanças climáticas. Então, será que o futuro não será esse de pensar estratégias para se adaptar aos novos desafios?”, questiona. “A UFRJ vem fazendo um trabalho cuidadoso e exemplar, apesar de tantas incertezas”.

SEM TESTES DE HABILIDADE ESPECÍFICA EM 2021

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.16.13Com exceção da Escola de Música, todas as unidades da UFRJ que tradicionalmente exigem o Teste de Habilidade Específica (THE) cancelaram os exames para os candidatos que pretendem ingressar em 2021. A medida decorre do agravamento da pandemia. A Música fará as provas de maneira remota. A decisão foi divulgada pela Pró-reitoria de Graduação no último dia 20.
De acordo com o comunicado, os candidatos aos cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Belas Artes e Escola de Educação Física e Desportos (Bacharelado em Dança) estão dispensados do teste.
Os detalhes podem ser encontrados na página da Escola de Música ou no site acessograduacao.ufrj.br


BIOSSEGURANÇA

A Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) realizou uma live sobre as possibilidades (e limites) para a retomada de atividades práticas, na terça-feira (27). Convidada especial, a coordenadora de Biossegurança do CCS, Bianca Ortiz tirou dúvidas, mas não prometeu milagres. “Nosso foco é a questão da preparação dos ambientes. Mas algumas atividades, por suas particularidades, não será possível retomar”, disse. “Será preciso avaliar caso a caso, curso a curso”. O bate-papo virtual teve como base o guia de Biossegurança lançado pela UFRJ em outubro passado. O documento (https://bit.ly/3clIjrt) enfatiza o tripé: higienização, ventilação e distanciamento físico. (Elisa Monteiro)

WhatsApp Image 2021 01 22 at 12.07.25O Cristo Redentor, a Turma da Mônica, o primeiro uniforme do Flamengo, os personagens Senninha e Zé Carioca, os colares de Carmen Miranda, as plantas do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e as joias da H. Stern. Pode não aparentar, mas eles possuem um denominador comum: fazem parte dos mais de 75 mil registros de imagens arquivados pela Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ ao longo do último século.
“É o único lugar do Brasil que faz registro de imagens. A grande importância é que o registro autoral é uma medida de cautela, que garante sobretudo a autoria de determinada criação”, afirma a diretora da EBA, Madalena Grimaldi. O setor de Direitos Autorais da Escola de Belas Artes existe desde 10 de março de 1917, mas o direito autoral de imagens só foi regulado no Brasil em 1998, pela Lei 9.610, que atribui à EBA a responsabilidade pelo registro de obras de artes visuais de todo o país.
“Isso possibilita a proteção da obra no campo das artes, para que ela não seja copiada, e, se alguém copiar, é possível impedir o plágio”, explica Madalena. Mesmo com o registro, já houve ocasiões de plágio de joias, de esculturas e de marcas. “A gente registra, não questionamos se é igual ou não, salvo o que é registro público. Por exemplo, se fizer o desenho do Batman e não estiver estilizado, a gente não pode registrar”, conta.
WhatsApp Image 2021 01 22 at 12.07.24A UFRJ possui papel fundamental no registro autoral do Brasil. Se uma pessoa, física ou jurídica, deseja registrar, por exemplo, uma partitura musical, a Escola de Música é a responsável. Para registrar joias, personagens de quadrinhos, logomarcas, fotografias, pinturas, aquarelas, gravuras, esculturas, desenhos e litografias, é só entrar no site da EBA, preencher os formulários e fazer o registro, tudo automatizado. “Mas é muito comum a gente receber essa papelada por advogados, ou seja, a pessoa está registrando uma empresa ou uma marca, procura um advogado. Fazemos o registro e retornamos para o cliente. Eles terceirizam o serviço e, é claro, cobram por isso”, conta Madalena. “Não há necessidade, qualquer pessoa pode fazer o registro diretamente”, pontua.
É cobrado o valor de R$ 150,00 por registro. O dinheiro é direcionado para a Fundação Universitária José Bonifácio, e pode ser utilizado para atividades de ensino, pesquisa e extensão. “Desde a compra de um software específico para programas gráficos, na compra de um mobiliário ou impressoras. A direção da EBA não tem acesso direto ao dinheiro, e, quando precisamos usar, fazemos um termo de referência como procedimento da UFRJ”, diz Madalena.
Hoje em dia, o processo é automatizado na EBA, por meio do SEI (Sistema Eletrônico de Informação), um sistema de gestão de processos eletrônicos. “É como abrir um processo, fica tudo registrado e a gente devolve para o cliente a certificação dessa imagem, por e-mail durante a pandemia, mas também fazemos o original em papel”, explica a diretora. A adoção do SEI agilizou muito o processo, que antigamente demorava cerca de dois meses para ficar pronto e agora, devido ao SEI, dura de três a cinco dias. O SEI também facilita a busca, que é paga, e pode ser feita por alguns assuntos e algumas razões, por exemplo, para verificar a existência de logomarcas parecidas ou já registradas.
Além disso, existem arquivos históricos que não estão digitalizados porque são papéis antigos, que necessitam de restauração. “Precisaríamos de verba para restaurar e fazer a digitalização”, admite Madalena. Na equipe do setor estão um arquivista, que ajuda na catalogação, e três técnicos administrativos que auxiliam na verificação dos documentos. “O SEI agiliza o processo, mas não é automático. É preciso conferir a documentação, então temos uma equipe para fazer esse trabalho”.
A falta de estrutura adequada para a guarda e restauração dos registros é apontada pela funcionária aposentada Eliane Espindola de Paiva, de 66 anos, como o principal problema do setor de Direitos Autorais da EBA, onde ela atuou por 35 anos. “Trabalhei lá assinando e verificando os registros, existem milhares de registros com o meu nome. A universidade tem um acervo muito rico e não cuidado. Tem obras lá que estão se desfazendo, como o desenho do Cristo Redentor. O papel não está aguentando”, diz. “Não tem ar-condicionado, as coisas estão se acabando. Depois do incêndio, a gente perdeu muito. É uma sala pequena, com apenas dois setores”, conta.
Eliane poderia ter se aposentado em 2009, mas decidiu ficar na EBA até maio de 2019. “Só me aposentei quando ví que não poderia fazer mais nada pelo setor. Tenho clientes que me ligam até hoje, pedindo orientações, inclusive o próprio setor me liga porque muitas vezes nem os próprios professores sabem”, explica. A ex-funcionária, que chegou a assinar mais de 500 registros por dia, durante muito tempo lutou por uma melhor especialização na área. “Participei de alguns eventos, mas a universidade não dava recursos para nos especializar em direitos autorais. Os funcionários fazem das tripas coração para fazer acontecer”, afirma.

A POLÊMICA DO
CRISTO REDENTOR
Cartão-portal do país, o Cristo Redentor foi doado à Arquidiocese do Rio de Janeiro em 1934. A igreja registrou a imagem na EBA e possui os direitos autorais de reprodução, apesar de normalmente não cobrar pelo uso. Quem quiser usá-la comercialmente tem apenas que pedir autorização à arquidiocese, que pode aceitar ou vetar a exibição. Em 2010, mesmo com a negativa da igreja, o filme “2012”, do cineasta alemão Roland Emmerich, reproduziu a imagem do Cristo Redentor destruído, junto com outras construções famosas ao redor do mundo. A arquidiocese, então, decidiu pedir uma indenização à distribuidora Columbia Pictures pelo uso indevido da imagem da estátua.
Segundo o professor Luiz Neves, da Escola de Belas Artes, a Columbia havia pago uma fortuna pelos direitos autorais a um agente na Europa. “A arquidiocese, que tem o direito dessa imagem, entrou com um processo. Eles foram na universidade, viram que o registro estava lá e o dinheiro foi devolvido”, conta. “Para isso que serve o direito de imagem”, conclui.

SERVIÇO

O que pode ser registrado: Joias, personagens de quadrinhos, logomarcas, fotografias, pinturas, aquarelas, gravuras, esculturas, desenhos e litografias.
Onde: O setor está trabalhando de forma remota. Para solicitar um registro, é necessário enviar um e-mail com as informações para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Custo por registro: R$ 150,00.
Tempo: de três a cinco dias úteis.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.23.29 1MARIANA PATRÍCIO FERNANDES
Professora adjunta do Departamento de Ciência da Literatura

No domingo de manhã, antes de ficar completamente consciente, acordei pensando na polêmica, que acompanhei de longe e que se destacou na minha vigília de imagens confusas em meio à tempestade de notícias que desabam sobre as nossas cabeças nos últimos tempos. O famoso youtuber Felipe Neto fez um tuíte criticando o ensino de Literatura no Ensino Médio.
Dentro de uma corrente na rede social que se chama “crie uma treta literária e saia”, Neto postou que Machado de Assis e Álvares de Azevedo não são para adolescentes e que seria errado forçá-los à leitura nas escolas. Forçar qualquer coisa que seja nunca pode dar certo, mas por que é que o youtuber acha que esses autores não são para adolescentes?
WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.23.29A voz do Felipe Neto tem sido uma constante aqui em casa durante essa infinita quarentena. No seu canal de YouTube, ele joga online um jogo chamado Minecraft no qual, pelo que entendi, a ideia é construir um mundo onde tudo é quadrado: cachorro quadrado, nuvem quadrada, imagine algo e será quadrado. Nesse mundo idílico, uns zumbis de cabeça quadrada também aparecem de vez em quando, não se entende bem porquê, já que a paisagem parece pacífica.
Enquanto joga, ao mesmo tempo em que destrói zumbis e passeia com seu simpático cachorrinho quadrado, ele vai comentando sobre a atualidade , fala muito em dinheiro, ficar rico e etc, critica o Bolsonaro.
O que chama a atenção no Minecraft é sua estranheza. Não há o menor desejo de se conectar com a realidade. Não cessa de me espantar o fascínio das crianças por esse universo pixelado. E essa estranheza é certamente o que faz o jogo interessante.
Parece que o youtuber conseguiu a proeza de capitalizar criando uma comunidade de pequeninos que compartilham do fascínio por esse mundo estranho, não só do universo quadrado, mas também esse dos adultos, da política, da economia, da grana.
Durante a pandemia, então, a solidão das crianças pôde encontrar uma fuga nesse outro mundo compartilhado, capitaneado pelo Peter Pan milionário, que ensina como é viver nesse mundo louco, ao mesmo tempo em que joga Minecraft.
É notável que, nesses tempos turbulentos, Felipe Neto consiga criar esse canal entrelaçando jogo, reflexão e entretenimento. Entretanto, penso que existem várias maneiras de aprender a viver na estranheza muitas vezes violenta do mundo, e a literatura certamente também é uma delas.
Há, na minha opinião, uma leitura equivocada de que a escola ou qualquer conteúdo dedicado aos jovens precisa ensinar às crianças e adolescentes questões da realidade, como se a realidade fosse algo mensurável, unitário e imutável
Às vezes, esse desejo de concretude faz alusão a uma interpretação do método Paulo Freire que também não concordo.
O que estamos vendo, mais do que nunca, é que aprender a lidar com a realidade é aprender a lidar com o que ela tem de bizarro, de estrangeiro, reconhecer a alteridade da qual, inclusive, somos parte. Apropriar-se das palavras e ligá-las ao cotidiano significa disputar a alienação da própria vida produzida por esse mundo mercadoria onde os objetos e os sentidos que circulam não são menos estranhos que as palavras.
Aprender a ler e a escrever é também poder estar nesse mundo de coisas estrangeiras, em que somos todos estranhos diante de uma norma que, para incluir alguns, precisa excluir a imensa maioria.
Fala-se mal do ensino de literatura e história na escola, mas a verdade é que ele me salvou e acredito que a muita gente, quando a solidão profunda de se sentir uma criança /jovem deslocada em um mundo onde tudo parece hostil podia ser enfrentada abrindo um livro. Como um portal pra longe dali. Pra mim, quanto mais longe no tempo, melhor. Aprendi com Oscar Wilde que era possível odiar as pessoas que amávamos e, com Machado de Assis, que era possível amar as pessoas que odiamos. Foi uma virada e tanto e imagino que minha adolescência teria sido muito pior sem eles, com as quais me sentia acompanhada diante do profundo sentimento de desajuste.
Verdade que José de Alencar sempre foi meio bizarro, mas também de maneiras tortas ensinou muito sobre o modo esquizofrênico de amar do homem branco rico brasileiro, com argumentos insanos como “não estamos preparados para acabar com a escravidão”, explicitando todo o sentimento de superioridade de uma elite que acha que os “de baixo” nunca estão devidamente preparados para serem livres. Como seria ser jovem e não entender onde estamos, em que chão pisamos, e percorrer outras trilhas?
É também com o livro que muitos adolescentes podem formar suas próprias comunidades, quando não se encaixam nem se sentem pertencentes às hegemônicas, encontrar seus pares ainda que distantes no espaço-tempo, seu estilo, e começarem a construir seu próprio caminho. Se a escola não está lá para abrir essa possibilidade, quase certamente ninguém estará, em um mundo cada vez mais dominado pelo impulso de dominação e pelo horror ao pensamento crítico.
É verdade que, com a ânsia de preparação para o ENEM e o desejo de resultados rápidos, muitas escolas não fazem isso. Não foi com a escola, mas com a minha mãe e minha avó, que aprendi que era normal ser estranho e a lidar com isso, apesar de ter tido excelentes professoras e professores de história e literatura que encontravam suas brechas para nos fazer pensar.
Agora voltamos ao problema que o tuíte do youtuber levanta sem revelar. A escola tem muitos problemas, e a maioria deles não começa com ela, mas com a sociedade brutalmente desigual e violenta em que vivemos, que inclusive desvaloriza o ensino e o professor. Em um mundo em que a desigualdade é a norma, a escola muitas vezes reforça os fossos que o estruturam, preocupada menos com a vida dos estudantes e mais com a manutenção do status quo. Não só a literatura, mas todas as disciplinas são embaladas e cronometradas de acordo com a necessidade de passar nos exames.
É, no entanto, justamente nesse mundo em que o óbvio é silenciado, a desigualdade naturalizada, que a literatura desponta como um dos canais (evidentemente não o único) que pode fazer circular as vozes e os sentidos que são abafados nessa ordem das coisas. Saber que existem outros modos de pensar, de escrever, de viver, de amar, em outras dimensões do espaço-tempo é coisa de adolescente, sim. Um pouco da sofrência de Álvares de Azevedo pode ajudar a pôr em questão o que diante desse mundo tão bruto andamos chamando de amor. A ironia machadiana é quase tão importante para viver no Brasil como a vacina contra a Covid-19.
Será que, no fundo, Felipe Neto tem medo de que ao encontrarem outros modos de fuga, ele perca seus jovens seguidores e seu lugar de a única voz que compreende a juventude nesse mundo insano? Ou será que com a força e a abrangência de sua voz nos colocou para pensar em como anda nosso sistema de ensino? Talvez seja preciso mais que um tuíte para sabermos.
E uma última pergunta: se Machado de Assis estivesse vivo, como daria vida a esses personagens cada vez mais presentes em nossos cotidianos, os influenciadores da internet, sempre cheios de certezas contundentes sobre todos os assuntos? Provavelmente, a essa altura já estariam todos devidamente encaminhados à Casa Verde de Itaguaí. No fim das contas, o que a literatura pode fazer em um país de tendências autoritárias tão fortes é manter aberto o benefício da dúvida, ajudar a fazer passar o ar onde anda quase impossível respirar.

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WhatsApp Image 2021 01 22 at 11.47.05FILHO DO EX-REITOR, Rodrigo Lessa exibe um livro do historiador Luis da Câmara Cascudo sobre lendas brasileiras - Fotos: Alessandro Costa“Estamos vivendo um esvaziamento de bibliotecas e de fontes de consulta. Mesmo a biblioteca do estado não tem uma coleção sobre Rio de Janeiro como deveria”. Este é um dos argumentos da ex-coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, professora Beatriz Resende, para defender a permanência do acervo de 17 mil volumes do ex-reitor Carlos Lessa na cidade.
Conforme divulgou a edição anterior do Jornal da AdUFRJ, a família do docente — que faleceu em junho do ano passado — anunciou a intenção de vender a biblioteca no fim de dezembro, mas recuou após apelos de amigos e admiradores do ex-reitor. Existe a preocupação com uma venda em “pedaços” para particulares ou, ainda, que a coleção seja adquirida por alguma instituição estrangeira.
Beatriz, professora Titular da Faculdade de Letras, reivindica um esforço conjunto das várias instituições da cidade para preservar este tesouro intelectual em solo carioca. A docente recorre ao título de “O Rio de Todos os Brasis — uma reflexão em busca de autoestima”, um dos mais famosos livros de Lessa: “Seria uma ação do Rio de Janeiro em busca da autoestima”, afirma. “Queremos que fique aqui, que não seja esfacelada, a principal biblioteca sobre o Rio de Janeiro”.
WhatsApp Image 2021 01 22 at 11.47.06A ideia é inspirada em um exemplo ocorrido em São Paulo, há pouco tempo. A professora lembra que a biblioteca do casal José Mindlin e Guita, com mais de 60 mil volumes, foi comprada por um consórcio de instituições e acomodada em um prédio próprio no campus da USP, em 2013.
Professora emérita da Escola de Comunicação, Heloísa Buarque de Hollanda reforça a iniciativa. “Hoje contamos com tecnologias novas para a compra compartilhada”, diz. A docente afirma que todas as universidades, órgãos de cultura e patrimônio do estado deveriam participar.
WhatsApp Image 2021 01 22 at 11.47.05 1“Poderiam se mobilizar para evitar essa evasão dos livros”. O BNDES, que ajudou a USP com a biblioteca Mindlin, também deve ser procurado. Lessa presidiu o banco entre 2003 e 2004. “Neste caso, o BNDES poderia dar uma cota”, afirma
Prima do Lessa, Heloísa visitou a biblioteca algumas vezes. “É extraordinária. Não é só um monte de livros sobre o Rio. É uma biblioteca com curadoria forte, de uma pessoa apaixonada pelo Rio”, atesta.
Vice-reitor da UFRJ, o professor Carlos Frederico Leão Rocha também apoia a permanência da biblioteca. “Lessa era um dos principais pensadores do Rio de Janeiro, além de um professor e um economista de grandes dimensões”. O dirigente vai além da compra dos livros. “O local de destino do acervo deve ser planejado e negociado previamente, dado o valor extraordinário das obras ali presentes”.

CCJE recebeu parte do acervo
Uma parte da biblioteca está com futuro definido. E melhor: sob a guarda da UFRJ. Quem explica é o diretor do Instituto de Economia (IE), professor Fabio Neves Peracio de Freitas. “A doação foi feita para a biblioteca Eugênio Gudin, que é do CCJE (Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas), mas serve ao IE”, explica. “Todo o processo foi realizado pela decania e pelos dedicados funcionários da biblioteca que ainda estão catalogando o material recebido. Tenho certeza de que o acervo doado será de grande importância para os discentes, docentes e pesquisadores do IE, bem como para o corpo social de outras unidades e instituições de ensino”, completa.
Ex-aluno de Lessa no final da década de 80, o diretor não chegou a conhecer a biblioteca do mestre. “Mas soube por colegas e amigos que era maravilhosa, em particular no que diz respeito a obras sobre o Rio de Janeiro, uma grande paixão dele”, diz. “Seria muito importante manter acessível aos cariocas a coleção que cobre a história e a realidade do Rio de Janeiro. Vamos ver o que pode ser feito para tornar isso possível”, conclui.

Biblioteca Mindlin é exemplo a ser seguido

Doada em 2006 para a USP, a coleção do bibliófilo José Mindlin e de sua esposa Guita é formada por mais de trinta mil títulos, que correspondem a aproximadamente sessenta mil volumes de livros e documentos. Entre eles, cerca de dez mil obras raras. Para abrigar a preciosa coleção, um moderno edifício foi inaugurado dentro da universidade, em 2013. O BNDES destinou R$ 17,2 milhões para a obra, compra de mobiliário e serviços de pesquisa nas coleções.

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