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IMG 8100Foto: Alessandro Costa/Arquivo AdUFRJA vacinação na UFRJ segue em ótimo ritmo. Em duas semanas, cerca de 85% do pessoal da linha de frente no combate à covid-19 já receberam a primeira dose da vacina. Até o momento, a universidade recebeu aproximadamente quatro mil doses, a maior parte da Coronavac, da chinesa Sinovac, produzida em parceria com o Instituto Butantan. Mas algumas doses da vacina da AstraZeneca, feita em parceria com a Universidade de Oxford e com a Fiocruz já chegam à instituição. “Quando as primeiras doses da vacina chegaram, só havia 30% para o pessoal da linha de frente e nós decidimos acompanhar o critério de vacinação da Secretaria Municipal de Saúde”, explica a reitora Denise Pires de Carvalho. “Após os idosos, virão os profissionais de educação, então, em breve todos nós, profissionais da UFRJ, estaremos vacinados”.
Coordenador do Complexo Hospitalar, unidade que centraliza a vacinação do corpo social da universidade, o médico Leôncio Feitosa informa que já há 3.555 profissionais vacinados – entre trabahadores e voluntários da linha de frente e servidores da saúde com mais de 60 anos. “Na linha de frente, é importante destacar que não são só pessoas da saúde. O ascensorista do hospital foi imunizado, as pessoas da limpeza que atuam nas alas covid foram imunizadas, pessoal de laboratórios”, exemplifica o médico.
WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.41.44As vacinas estão sob a guarda da Central de Vacinação de Adultos, no Centro de Ciências da Saúde. O órgão é vinculado à Pró-reitoria de Pessoal. “Desde a semana passada, a UFRJ passou a vacinar também os profissionais de saúde acima de 60 anos. É um esforço para atingirmos todos os nossos profissionais da área de saúde”, afirma o doutor Leôncio Feitosa. “À medida que forem chegando novos lotes da vacina, vamos vacinando os profissionais, quer RJU, quer terceirizados da nossa universidade, além de residentes e estagiários dos hospitais”.
Mas atingir os 100% dos profissionais da linha de frente ainda é um desafio. Há quem esteja doente e não pode ser imunizado no momento. Outros estão de férias. E há, infelizmente, um pequeno grupo que tem se recusado a receber o imunizante. Um problema não só da UFRJ, mas de toda a sociedade. “Precisamos conversar, mostrar dados de outras doenças que foram erradicadas por conta de vacinas. Vacinação é pacto social, precisa haver essa consciência”, opina Feitosa.
“A UFRJ é a institutição que percentualmente mais vacinou, atendendo aos critérios estipulados pela Secretaria Municipal de Saúde”, acrescenta a reitora. “A UFRJ foi muito bem nessas primeiras semanas”, finaliza.

DRIVE-THRU NOS CAMPI
Numa parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, a UFRJ começa mais uma ação de enfrentamento à pandemia: dois postos de vacinação drive-thru (aqueles em que a imunização acontece sem que a pessoa saia do carro) serão instalados na universidade, um na Cidade Universitária e outro na Praia Vermelha. Esta vacinação será voltada para a sociedade. No próximo sábado, dia 6, a partir das 8h da manhã, mais de 300 doses da vacina Coronavac estarão disponíveis para o público prioritário do calendário de vacinação da Prefeitura do Rio. A universidade cederá o espaço, estudantes voluntários e o material necessário para a instalação dos postos.
Segundo o Prefeito da UFRJ, Marcos Maldonado, o espaço para o armazenamento da primeira remessa de vacinas ainda está sendo negociado, assim como a quantidade exata de doses disponíveis por dia. “Ainda não está confirmado quantas doses seriam, me parece que algo em torno de 300 a 500 doses”, acredita. Maldonado explica que os primeiros dias servirão de experiência para ajustar a logística dos próximos três meses de vacinação drive-thru. “O primeiro dia vai dizer se a ação realmente precisa de uma demanda maior ou menor. A gente vai fazer uma experiência para mais de 300 pessoas em cada campus”, explica o prefeito.
Na Cidade Universitária, o posto vai funcionar no Polo de Biotecnologia, ao lado do CCS. Já na Praia Vermelha, a entrada será pela Rua Lauro Müller, saindo pela Av. Venceslau Brás. A UFRJ também vai coordenar um terceiro posto drive-thru no Sambódromo, no Centro, que inicia as atividades no mesmo dia 6. Por conta de um problema interno da Secretaria de Saúde, o início desse sistema de vacinação atrasou em uma semana. “Não teve a ver com a UFRJ. A logística está pronta desde a primeira reunião, 30 dias atrás”, explica Maldonado.
“A ideia é atender aos idosos que não puderam comparecer aos postos de saúde no dia específico de sua idade”, informa o coordenador do Complexo Hospitalar, Leôncio Feitosa.
As equipes de voluntários estão sendo coordenadas pela professora Carla Araújo, diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery. “O trabalho do voluntariado se iniciou no começo da pandemia, em março de 2020. Desde então temos atuado em diversas frentes junto aos hospitais da UFRJ, ao Centro de Testagem”, afirma Carla. “Estamos atuando com os professores e estudantes da Escola de Enfermagem Anna Nery e da Faculdade de Medicina na condição de voluntários, em várias frentes nesses pontos, como vacinadores, organizadores de fila, escribas e apoio”, conta.
“Nós temos 2.451 voluntários para essa vacinação, para ajudarmos o município do Rio a imunizar sua população. E estamos também vacinando esses voluntários porque são da linha de frente”, finaliza a reitora Denise.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.02.57Foto: Alessandro CostaELEONORA ZILLER
Presidente da AdUFRJ, professora da Faculdade de Letras da UFRJ

Uma vez perguntaram ao Roberto Schwarz qual seria para ele o significado de “periferia”, por conta de seu livro Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. Ele respondeu de modo muito sintético algo como: país periférico é aquele que não engendra o seu próprio futuro. Não tenho certeza se a frase foi exatamente assim, mas lembro que na época me provocou certa irritação. Já não estávamos mais na década de 1990, quando o livro fora publicado, mas em pleno século XXI, com os promissores anos do governo do PT acenando para um novo posicionamento internacional do Brasil no concerto das nações, com as grandes articulações com os países do BRICS e o sonho de uma nova ordem mundial. Entretanto, a partir de 2013, com as revelações do Snowden sobre os programas secretos de vigilância dos EUA, e tudo que ocorreu a partir de 2016, a fala de Schwarz voltava a me instigar.
A eleição de Bolsonaro na esteira de Trump e Steve Bannon deu contornos ainda mais dramáticos ao que passamos a viver no Brasil. O bordão de sua campanha presidencial, “vamos acabar com tudo isso que está aí”, vem sendo cumprido à risca, num acelerado processo de destruição sistemática da nação, sem paralelo na história do país. A condição de subalternidade da política externa brasileira nunca esteve tão evidente, com a exposição orgulhosa de nossa condição periférica, ou pior, de província, colônia ou mesmo de quintal dos EUA, pelo arremedo de chanceler, o sr. Ernesto Araújo. O compasso de espera que se formou para a eleição do Biden deixou a sensação ainda mais forte de que o nosso futuro continua sendo jogado alhures.
Em recente artigo na edição 1162 do Jornal da Adufrj, Josué Medeiros ressaltou que a derrota eleitoral de Trump não significava a derrota política do trumpismo, e que ela, por si só também não tem força para resolver o imbróglio que estamos metidos por aqui com o bolsonarismo, e nisso estamos de acordo. Mas é inegável que, desde a posse do Biden, o barco do presidente furou e está entrando água. Para atravessar a tempestade e evitar o naufrágio, o vice-presidente já anunciou que é necessário jogar alguma carga ao mar, e ao que parece, o primeiro a ser lançado será Ernesto Araújo (isso se Mourão não estiver se arriscando numa articulação para jogar a carga mais pesada ao mar, ou seja, o capitão). Os conglomerados da mídia também acirram suas campanhas e é previsível que, se o governo conseguir emplacar Arthur Lira na presidência da Câmara, tenhamos mais homens ao mar. O fiel escudeiro da Saúde poderá ter também sua cabeça entregue para que o centrão ocupe seu lugar no restauro da embarcação.
Então, num primeiro olhar, é possível que Bolsonaro possa restaurar o seu governo? Bom, ele ainda tem alguma popularidade e tem a chave do cofre, embora esta não seja uma operação fácil. Ocorrendo o pior cenário, que é a vitória de Arthur Lira, e uma recomposição do governo numa reforma ministerial que acalme a voracidade do centrão por cargos e verbas, ainda haveria a possibilidade de impeachment? Para aqueles que possuem um mínimo de consciência democrática e compromisso com a sociedade, esse governo é uma excrescência que ultrapassou há tempos todos os limites aceitáveis. Mas, ao que parece, ele não ultrapassou a linha principal que o mantém no cargo: a defesa do laissez-faire para a concentração de renda e a manutenção da impopular agenda neoliberal no Congresso. Se ele mantiver o avanço privatista, faz o serviço sujo e libera alguns candidatos de levantar bandeiras eleitoralmente inconvenientes em 2022. Mas para esses candidatos, para que o plano desse certo, seria preciso deixar que o presidente sangrasse até ser inviabilizado como candidato à reeleição, o que parece ser hoje um risco muito grande.
Apesar de termos muita convicção sobre a necessidade do impeachment, ainda temos muitos empecilhos pela frente. Como confrontar os exércitos de robôs que sedimentam o consenso ultraconservador e mantêm viva a circulação de fake news que destilam ódio, desinformação e confundem a população? Como enfrentar o poderio crescente das milícias e dos pastores nas comunidades? Como organizar protestos e dar forma à nossa insatisfação sem provocar grandes aglomerações? Há caminhos e precisamos descobrí-los. A combinação de inépcia e perversidade do governo no enfrentamento à pandemia é única no mundo. O que ocorreu em Manaus é matéria mais do que suficiente para caracterizar a responsabilidade do governo federal diante de tantas mortes, além de ser um alerta muito plausível do risco que todos corremos com um governo como esse. Mas parece que a campanha lava-jatista deixou marcas indeléveis em nossa cultura, fazendo com que a compra do leite condensado tenha efeitos mais devastadores na base bolsonarista do que as mortes evitáveis por falta de oxigênio hospitalar.
A carreata do dia 23 apontou alguns caminhos. As frentes que hoje reúnem as centrais sindicais, confederações, federações, sindicatos e os movimentos sociais ainda podem render um movimento da maior significação nesse momento. Cresce o entendimento de que é necessária a construção de grandes bandeiras nacionais propositivas, que sejam percebidas pela população como a possibilidade de reversão da fragilidade e da miserabilidade a que todos vão sendo constrangidos a vivenciar. Vacina já, universal e gratuita, e a volta do auxílio emergencial são fundamentais nesse momento, pois vão além das bandeiras corporativas de cada categoria profissional. Cabe a nós a responsabilidade de encarnarmos essa grande tarefa de unidade, dar forma e cor a ela, de ponta a ponta nesse imenso país. Ainda que não tenhamos todas as cartas nas mãos e que parte do jogo esteja sendo jogado sem a gente.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.16.12ESCOLA DE BELAS ARTES adaptou parte dos conteúdos de aulas práticas para o ensino virtual - Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJA suspensão das aulas práticas na pandemia ainda desafia professores e estudantes de vários cursos. A adaptação do conteúdo para o meio remoto — e com qualidade — não é fácil para quem ensina e exige compreensão e empenho de quem aprende. Quando a tarefa se revela impossível, as unidades reformulam a grade e deslocam estas disciplinas para o futuro.
Mas não sabem até quando.
“O aluno precisa ter a vivência do laboratório”, resume a professora Mônica Ferreira Moreira, do Instituto de Química. A docente se desdobra para adaptar as aulas experimentais ao cotidiano de ensino virtual. Arcou com a compra de microfones de lapela, luzes especiais para gravar os vídeos, mas reconhece que, apesar de ser o melhor que ela e sua equipe podem fazer, há limitações. “Não temos um suporte técnico. Estamos buscando uma forma de não atrasar os estudantes e de proporcionar o conteúdo que eles teriam no curso regular presencial, mas não é a mesma coisa”, pondera.
Na Escola de Belas Artes, a maior parte das aulas práticas foi adaptada, mas há conteúdos em que o encaixe se torna impossível. “Gravura, por exemplo, precisa de prensa. Não dá para fazer remotamente”, afirma a diretora Madalena Grimaldi.
“Compensamos oferecendo disciplinas eletivas e de extensão que os estudantes precisariam cursar em algum momento. É uma forma de adiantar essa parte da grade”, afirma.
“Os estudantes aderiram maciçamente. Mais à frente precisaremos resolver as lacunas deixadas pelo ensino remoto, mas não temos intenção por enquanto de voltar às aulas práticas”.
Na Escola de Educação Física, outra unidade em que a formação prática é essencial, professores, estudantes e técnicos montaram uma comissão para avaliar os impactos da pandemia. E criaram o fórum “Fluxograma Formandos 2020.2”. A ideia é mapear quem está prestes a se formar e quais disciplinas precisam para a conclusão de seus cursos.
“Não estamos fazendo ensino a distância, que é uma modalidade de ensino específica e requer ferramentas próprias e capacitação. Não fomos capacitados. Estamos em trabalho e em ensino remotos porque somos impelidos a este formato para salvar vidas”, sublinha a diretora Katya Gualter. Para os calouros e estudantes de outros períodos, a ideia é adiar as disciplinas práticas e substituí-las por disciplinas teóricas que seriam cursadas depois. “Uma forma de compensar a grade e não atrasá-los”, explica a diretora.
“Em relação aos concluintes, queremos viabilizar que se formem”, revela Katya. Para eles, serão oferecidas, de forma remota, todas as disciplinas necessárias à formatura. “Eles já passaram por um processo de experimentação bastante intenso ao longo de todo o curso”, argumenta. “A gente não pode comprometer a qualidade, não pode comprometer a vida das pessoas e nem represar esses alunos”.

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
O GT Pós-Pandemia da UFRJ está mapeando todos os laboratórios e salas destinadas a aulas práticas para calcular o risco de transmissão do vírus nestes espaços e a lotação máxima segura. Os dados dependem do preenchimento, por parte das unidades, de uma longa e detalhada planilha. Cada espaço será classificado com as cores vermelho (alto risco), amarelo (risco médio) e verde (baixo risco).
“A depender da característica do espaço, do curso oferecido, das dimensões, teremos essas classificações e a indicação dos EPIs necessários a cada um deles”, explica a professora Fátima Bruno, coordenadora do GT. “Isto é um planejamento necessário para que a universidade tenha todos os protocolos prontos quando houver condições sanitárias para este retorno”, defende.
A decana do CCMN, professora Cássia Turci, conta que este levantamento foi realizado pelas unidades de seu centro e as informações, enviadas ao GT para análise. Muitos dos cursos possuem disciplinas experimentais que correspondem a até 40% da carga horária total de aulas. “Estamos pensando em 2020.2. Sobretudo os institutos de Química, Física, Geociências e o Observatório do Valongo têm muitos alunos que precisam dessas disciplinas práticas”, diz.
A professora enfrenta outra preocupação. “Mesmo que a gente consiga articular as aulas experimentais, ainda faltarão os trabalhos de campo. Enquanto não estiver todo mundo vacinado, como a gente vai colocar 30, 40 estudantes em um ônibus para percorrer horas de viagem? E depois se deslocarem numa cidade?”, questiona.

FORMATURA
“Para os formandos, as aulas práticas já eram uma preocupação antes mesmo do PLE (Período Letivo Excepcional) começar”, relata Antônia Velloso, do DCE Mário Prata. Uma das soluções acordadas entre unidades e corpo discente foi a quebra de requisito para cursar disciplinas que dependem de matérias práticas. “Consideramos que esse é um caminho muito importante, mas certamente precisamos ter outros meios de solucionar o problema”, afirma
Outra frente de atuação é o GT Volta às Aulas, do qual o DCE faz parte. “A partir dos dados do covidímetro (ferramenta que mede a taxa de transmissão da covid-19 no estado, formulada pela UFRJ), a gente discute o que é viável ser realizado pela universidade”, conta a estudante. “No momento, infelizmente, a transmissão está muito alta, o que impossibilita qualquer atividade presencial de grupo”.

FUTURO
Diretora da AdUFRJ e integrante do GT Pós-Pandemia, a professora Christine Ruta acredita que há impactos para a formação que não podem ser medidos no momento. “Temos majoritariamente dois cenários: unidades que suspenderam as aulas práticas e unidades que as adaptaram muito bem para o meio remoto e isto acontece porque há uma diversidade muito grande entre os cursos, entre as unidades. E também porque falta muitas vezes suporte tecnológico”, opina. “Com certeza, há impactos para esses alunos e futuros profissionais, mas a universidade precisa se preparar para cenários de outras pandemias, que — tudo indica —iremos enfrentar, e mudanças climáticas. Então, será que o futuro não será esse de pensar estratégias para se adaptar aos novos desafios?”, questiona. “A UFRJ vem fazendo um trabalho cuidadoso e exemplar, apesar de tantas incertezas”.

SEM TESTES DE HABILIDADE ESPECÍFICA EM 2021

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.16.13Com exceção da Escola de Música, todas as unidades da UFRJ que tradicionalmente exigem o Teste de Habilidade Específica (THE) cancelaram os exames para os candidatos que pretendem ingressar em 2021. A medida decorre do agravamento da pandemia. A Música fará as provas de maneira remota. A decisão foi divulgada pela Pró-reitoria de Graduação no último dia 20.
De acordo com o comunicado, os candidatos aos cursos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Belas Artes e Escola de Educação Física e Desportos (Bacharelado em Dança) estão dispensados do teste.
Os detalhes podem ser encontrados na página da Escola de Música ou no site acessograduacao.ufrj.br


BIOSSEGURANÇA

A Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) realizou uma live sobre as possibilidades (e limites) para a retomada de atividades práticas, na terça-feira (27). Convidada especial, a coordenadora de Biossegurança do CCS, Bianca Ortiz tirou dúvidas, mas não prometeu milagres. “Nosso foco é a questão da preparação dos ambientes. Mas algumas atividades, por suas particularidades, não será possível retomar”, disse. “Será preciso avaliar caso a caso, curso a curso”. O bate-papo virtual teve como base o guia de Biossegurança lançado pela UFRJ em outubro passado. O documento (https://bit.ly/3clIjrt) enfatiza o tripé: higienização, ventilação e distanciamento físico. (Elisa Monteiro)

jair bolsonaro arthur lira video.jpgBolsonaro e Lira - Imagem: reprodução de redes sociaisCom farta distribuição de cargos na máquina pública — incluindo uma promessa de reforma ministerial — e de verbas para emendas parlamentares, o Palácio do Planalto joga todas as suas fichas na vitória de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados, na eleição que ocorre na próxima segunda-feira. Acuado pela queda de sua popularidade, pela inépcia de seu governo no combate à pandemia de covid-19 e pela crescente mobilização popular em defesa de seu impeachment, o presidente Jair Bolsonaro quer que Lira, líder do Centrão, faça exatamente o que fez o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): deixar na gaveta os 57 pedidos de impedimento que podem abreviar o fim de seu desgoverno.
Ou melhor, 58. Nesta quarta-feira (27), os partidos PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede apresentaram um novo pedido de impechment contra Bolsonaro por “crimes de responsabilidade em série” na condução do enfrentamento ao coronavírus. Foi o 63º requerimento em pouco mais de dois anos de governo — cinco foram arquivados. Na mesma quarta-feira, Arthur Lira se apressou em dizer que a pandemia “não pode ser usada para provocar o impeachment do presidente Jair Bolsanoro”.
A deflagração ou não de um processo de impeachment contra Bolsonaro é um tema central na eleição de segunda-feira. Se Lira tratou de sepultar previamente o assunto, seu principal oponente, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por Maia, pisou em ovos ao abordá-lo nas entrevistas que concedeu ao longo desta semana. Em uma delas, no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (25), foi evasivo e disse apenas que vai cumprir sua função como presidente da Câmara e, caso eleito, irá analisar os pedidos que estão na gaveta. É isso o que esperam os partidos que o apoiam, como os signatários do pedido número 63.
Marcada pela influência direta do Poder Executivo, que liberou ao menos R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores, segundo denúncia do Estadão nesta quinta-feira (28), a eleição de segunda-feira tem ainda uma marca indelével: a traição. Como já chega a ser “tradição” em votações secretas no Congresso, os dois lados tentam atrair dissidentes. O DEM, partido de Maia, fechado com Baleia Rossi, já computava deserções na bancada baiana esta semana. Já o PSL, que chegou a apoiar Baleia Rossi, se bandeou em peso para os lados de Arthur Lira, seduzido pelas promessas palacianas.
Até o fechamento desta edição, a disputa ainda mostrava certo equilíbrio. Baleia Rossi contava com o apoio de 11 legendas — em tese, 238 deputados. Lira também tinha a sustentação de 11 siglas, somando 259 parlamentares. O peso de cada bloco é importante porque define cargos na mesa diretora, nas comissões (como a poderosa CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo) e no Conselho de Ética da Casa. Disputa acirrada em que até parlamentares licenciados que estão em governos devem reassumir seus mandatos por um dia para votar — casos, por exemplo, do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (em Lira), e do secretário municipal de Cidadania do Rio, Marcelo Calero (em Baleia Rossi).
Partido de forte oposição ao governo Bolsonoro, o PSOL ficou de fora do bloco de apoio ao candidato do MDB. Os dez deputados da sigla se dividiram, parte defendendo a candidatura própria, e parte o apoio a Baleia Rossi. Venceu a tese da candidatura própria — a indicada é Luiza Erundina —, mas a paz não foi selada de imediato. A própria Erundina, pelo Twitter, criticou a posição dos que defendiam o apoio ao candidato do MDB já no primeiro turno, acusando-os de fisiologismo. Parlamentares da legenda, como Marcelo Freixo, Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna, por sua vez, criticaram a postura de Erundina.
Já no Senado Federal, que também elege seu próximo presidente na segunda-feira, a disputa está entre Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Bolsonaro e pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e Simone Tebet (MDB-MS). Pacheco está em franca vantagem e na quinta-feira (28), Simone Tebet perdeu o apoio do partido e manteve sua candidatura como independente no pleito. Em troca da rasteira, o MDB ficaria com mais espaço na mesa diretora, possivelmente ocupando a vice-presidência. Pacheco tem o apoio até de partidos de oposição a Bolsonaro, como o PT e o PDT, que não enxergaram em Simone um nome competitivo e decidiram marchar com o candidato do Planalto.
Nesse intrincado xadrez político, em que por vezes situação e oposição se confundem, uma coisa é certa: o peso da pressão popular, que cresce a cada dia, será fundamental para definir a pauta do Congresso a partir de 1º de fevereiro. As cenas da carreata de sábado (23) no Rio de Janeiro, que ilustram essas duas páginas, se repetiram em diversas cidades do país. E elas foram promovidas não só por partidos de oposição e movimentos de esquerda, mas também por grupos que lideraram atos pela derrubada da então presidente Dilma Rousseff em 2016, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua. Seja qual for o resultado da eleição de segunda-feira, o “Fora Bolsonaro” parece cada vez mais forte.

WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.23.29 1MARIANA PATRÍCIO FERNANDES
Professora adjunta do Departamento de Ciência da Literatura

No domingo de manhã, antes de ficar completamente consciente, acordei pensando na polêmica, que acompanhei de longe e que se destacou na minha vigília de imagens confusas em meio à tempestade de notícias que desabam sobre as nossas cabeças nos últimos tempos. O famoso youtuber Felipe Neto fez um tuíte criticando o ensino de Literatura no Ensino Médio.
Dentro de uma corrente na rede social que se chama “crie uma treta literária e saia”, Neto postou que Machado de Assis e Álvares de Azevedo não são para adolescentes e que seria errado forçá-los à leitura nas escolas. Forçar qualquer coisa que seja nunca pode dar certo, mas por que é que o youtuber acha que esses autores não são para adolescentes?
WhatsApp Image 2021 01 28 at 23.23.29A voz do Felipe Neto tem sido uma constante aqui em casa durante essa infinita quarentena. No seu canal de YouTube, ele joga online um jogo chamado Minecraft no qual, pelo que entendi, a ideia é construir um mundo onde tudo é quadrado: cachorro quadrado, nuvem quadrada, imagine algo e será quadrado. Nesse mundo idílico, uns zumbis de cabeça quadrada também aparecem de vez em quando, não se entende bem porquê, já que a paisagem parece pacífica.
Enquanto joga, ao mesmo tempo em que destrói zumbis e passeia com seu simpático cachorrinho quadrado, ele vai comentando sobre a atualidade , fala muito em dinheiro, ficar rico e etc, critica o Bolsonaro.
O que chama a atenção no Minecraft é sua estranheza. Não há o menor desejo de se conectar com a realidade. Não cessa de me espantar o fascínio das crianças por esse universo pixelado. E essa estranheza é certamente o que faz o jogo interessante.
Parece que o youtuber conseguiu a proeza de capitalizar criando uma comunidade de pequeninos que compartilham do fascínio por esse mundo estranho, não só do universo quadrado, mas também esse dos adultos, da política, da economia, da grana.
Durante a pandemia, então, a solidão das crianças pôde encontrar uma fuga nesse outro mundo compartilhado, capitaneado pelo Peter Pan milionário, que ensina como é viver nesse mundo louco, ao mesmo tempo em que joga Minecraft.
É notável que, nesses tempos turbulentos, Felipe Neto consiga criar esse canal entrelaçando jogo, reflexão e entretenimento. Entretanto, penso que existem várias maneiras de aprender a viver na estranheza muitas vezes violenta do mundo, e a literatura certamente também é uma delas.
Há, na minha opinião, uma leitura equivocada de que a escola ou qualquer conteúdo dedicado aos jovens precisa ensinar às crianças e adolescentes questões da realidade, como se a realidade fosse algo mensurável, unitário e imutável
Às vezes, esse desejo de concretude faz alusão a uma interpretação do método Paulo Freire que também não concordo.
O que estamos vendo, mais do que nunca, é que aprender a lidar com a realidade é aprender a lidar com o que ela tem de bizarro, de estrangeiro, reconhecer a alteridade da qual, inclusive, somos parte. Apropriar-se das palavras e ligá-las ao cotidiano significa disputar a alienação da própria vida produzida por esse mundo mercadoria onde os objetos e os sentidos que circulam não são menos estranhos que as palavras.
Aprender a ler e a escrever é também poder estar nesse mundo de coisas estrangeiras, em que somos todos estranhos diante de uma norma que, para incluir alguns, precisa excluir a imensa maioria.
Fala-se mal do ensino de literatura e história na escola, mas a verdade é que ele me salvou e acredito que a muita gente, quando a solidão profunda de se sentir uma criança /jovem deslocada em um mundo onde tudo parece hostil podia ser enfrentada abrindo um livro. Como um portal pra longe dali. Pra mim, quanto mais longe no tempo, melhor. Aprendi com Oscar Wilde que era possível odiar as pessoas que amávamos e, com Machado de Assis, que era possível amar as pessoas que odiamos. Foi uma virada e tanto e imagino que minha adolescência teria sido muito pior sem eles, com as quais me sentia acompanhada diante do profundo sentimento de desajuste.
Verdade que José de Alencar sempre foi meio bizarro, mas também de maneiras tortas ensinou muito sobre o modo esquizofrênico de amar do homem branco rico brasileiro, com argumentos insanos como “não estamos preparados para acabar com a escravidão”, explicitando todo o sentimento de superioridade de uma elite que acha que os “de baixo” nunca estão devidamente preparados para serem livres. Como seria ser jovem e não entender onde estamos, em que chão pisamos, e percorrer outras trilhas?
É também com o livro que muitos adolescentes podem formar suas próprias comunidades, quando não se encaixam nem se sentem pertencentes às hegemônicas, encontrar seus pares ainda que distantes no espaço-tempo, seu estilo, e começarem a construir seu próprio caminho. Se a escola não está lá para abrir essa possibilidade, quase certamente ninguém estará, em um mundo cada vez mais dominado pelo impulso de dominação e pelo horror ao pensamento crítico.
É verdade que, com a ânsia de preparação para o ENEM e o desejo de resultados rápidos, muitas escolas não fazem isso. Não foi com a escola, mas com a minha mãe e minha avó, que aprendi que era normal ser estranho e a lidar com isso, apesar de ter tido excelentes professoras e professores de história e literatura que encontravam suas brechas para nos fazer pensar.
Agora voltamos ao problema que o tuíte do youtuber levanta sem revelar. A escola tem muitos problemas, e a maioria deles não começa com ela, mas com a sociedade brutalmente desigual e violenta em que vivemos, que inclusive desvaloriza o ensino e o professor. Em um mundo em que a desigualdade é a norma, a escola muitas vezes reforça os fossos que o estruturam, preocupada menos com a vida dos estudantes e mais com a manutenção do status quo. Não só a literatura, mas todas as disciplinas são embaladas e cronometradas de acordo com a necessidade de passar nos exames.
É, no entanto, justamente nesse mundo em que o óbvio é silenciado, a desigualdade naturalizada, que a literatura desponta como um dos canais (evidentemente não o único) que pode fazer circular as vozes e os sentidos que são abafados nessa ordem das coisas. Saber que existem outros modos de pensar, de escrever, de viver, de amar, em outras dimensões do espaço-tempo é coisa de adolescente, sim. Um pouco da sofrência de Álvares de Azevedo pode ajudar a pôr em questão o que diante desse mundo tão bruto andamos chamando de amor. A ironia machadiana é quase tão importante para viver no Brasil como a vacina contra a Covid-19.
Será que, no fundo, Felipe Neto tem medo de que ao encontrarem outros modos de fuga, ele perca seus jovens seguidores e seu lugar de a única voz que compreende a juventude nesse mundo insano? Ou será que com a força e a abrangência de sua voz nos colocou para pensar em como anda nosso sistema de ensino? Talvez seja preciso mais que um tuíte para sabermos.
E uma última pergunta: se Machado de Assis estivesse vivo, como daria vida a esses personagens cada vez mais presentes em nossos cotidianos, os influenciadores da internet, sempre cheios de certezas contundentes sobre todos os assuntos? Provavelmente, a essa altura já estariam todos devidamente encaminhados à Casa Verde de Itaguaí. No fim das contas, o que a literatura pode fazer em um país de tendências autoritárias tão fortes é manter aberto o benefício da dúvida, ajudar a fazer passar o ar onde anda quase impossível respirar.

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