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WhatsApp Image 2021 01 08 at 11.33.30 1Foto: Fernando Souza / Arquivo AdUFRJTodos os 27 leitos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho para pacientes com covid-19 estão ocupados. A situação reflete o recente aumento dos casos da doença, que pressiona o sistema de saúde do estado. No dia 4, segundo o governo fluminense, estavam preenchidas 87% das vagas de enfermaria e 92% das vagas de CTI da capital voltadas para o combate à pandemia.
O avanço do contágio pelo coronavírus também coincidiu com a diminuição da capacidade de atendimento da unidade, por falta de pessoal. Em junho, o HU chegou a ativar 48 leitos de CTI e 32 de enfermaria, exclusivos para o tratamento da doença. Mas, no início de novembro, foram encerrados os contratos de profissionais temporários, pagos com recursos do MEC. De outubro até o fim de dezembro, o efetivo contratado com verbas do Ministério da Saúde sofreu uma redução de 50%. Hoje, há 15 leitos de CTI e 12 de enfermaria para covid-19.
“Em dezembro, voltaram a aparecer muitos pacientes. Só que o HU ainda não conseguiu expandir o número de leitos”, explica o médico intensivista Pedro Tibúrcio. “Para quem está na batalha desde o início, a fadiga é absurda”, completa.
“O hospital se adequou tanto quanto possível às circunstâncias do recrudescimento de casos. Houve a descontinuidade de alguns contratos de pessoal e isso sobrecarrega os que continuaram trabalhando”, reforça o professor Alexandre Cardoso, pneumologista e ex-diretor do HU. “Não têm sido momentos fáceis para nós no hospital, mas estamos dando conta do recado”.
Além do cansaço, os profissionais de saúde convivem com o risco de infecção. Segundo o Serviço de Saúde do Trabalhador do hospital (Sesat), já foram registrados 3.221 casos suspeitos sintomáticos: 2.171 foram afastados por até cinco dias enquanto aguardavam resultados e negativaram; 1.050 casos positivos foram afastados por 12 ou mais dias. Cerca de 15 ainda estão afastados. Não há casos de reinfecção.
Em compensação, Pedro destaca que a expertise da equipe cresceu após quase dez meses de pandemia — o HU começou a receber os primeiros casos confirmados e suspeitos de covid-19 na segunda quinzena de março. “Lá atrás, nós não tínhamos know-how. Nossa atuação hoje é muito mais eficaz. Mas estamos trabalhando com menos gente”.
O médico reafirma os cuidados que a população deve seguir. “As medidas de não aglomeração, de uso de máscaras e higiene das mãos deverão ser mantidas na nossa rotina”, alerta. “Esperamos que a vacinação comece o mais rapidamente possível e que tenha adesão maciça, qualquer que seja a vacina oferecida”, completa.
A mensagem é acompanhada pelo diretor-geral do HUCFF, professor Marcos Freire: “A pandemia não acabou. Estamos todos ansiosos pela vacina e conscientes de que é importante seguir as regras de ouro”, afirma.
Alexandre Cardoso cobra a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro: “Ele dá maus exemplos em todos os níveis, não usa máscara e algumas pessoas acabam seguindo isso”, diz. “E não tem ainda um plano de vacinação estruturado”, critica.

NOVAS CONTRATAÇÕES
“Para 2021, as perspectivas são boas. Temos um hospital abastecido e uma direção mobilizada para manter seu corpo funcional”, acrescenta Marcos Freire, destacando a integração entre o HU, o Complexo Hospitalar e as esferas federal, estadual e municipal.
Para expandir o número de vagas para covid-19, o hospital conta com uma nova contratação de profissionais temporários via Fiotec, a fundação de apoio à Fiocruz, com verba do Ministério da Saúde. O prazo de trabalho será de seis meses. “Desta forma, o cronograma de abertura progressiva de leitos, para oferta de CTI e enfermaria, foi iniciado esta semana com o acolhimento destes profissionais. Até o momento, recebemos 245. Está prevista a chegada de um total de 495 profissionais da Fiotec”, informa a assessoria de imprensa do HU.
Com recursos humanos adequados, a unidade diz que teria capacidade de até 350 leitos (hoje, são 283), sendo 74 leitos para atendimento de pacientes com covid-19.

WhatsApp Image 2021 01 08 at 10.59.29No penúltimo dia de 2020, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro oficializou o repasse de R$ 20 milhões para ações de combate à pandemia nas favelas. Os recursos foram destinados à Fiocruz, que formulou, em conjunto com a UFRJ, a Uerj, a PUC-Rio e lideranças comunitárias, um plano de ação para o enfrentamento da covid-19 voltado para essas áreas de maior vulnerabilidade.
Professor do Núcleo de Estudos e Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH) e coordenador executivo do Plano de Enfrentamento da Covid-19 nas Favelas, Richarlls Martins foi convidado para assumir o posto pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade. “Essa ação deriva da articulação da comunidade científica, entidades de profissionais de saúde e lideranças de territórios de favela. O escopo central é pensar ações que auxiliem na mitigação de efeitos de saúde, sanitários e econômicos da pandemia”, explica o pesquisador.
Nos próximos dias, o grupo lançará uma seleção pública para financiar 140 projetos voltados para articular ações de vigilância em saúde de base territorial. O edital vai abranger favelas de todo o estado do Rio de Janeiro e prevê o apoio de R$ 17 milhões. “É o maior do país na área”, revela Martins.
Outra vertente do plano é o fomento à pesquisa científica para enfrentamento da pandemia e promoção à saúde nas favelas. Uma terceira área de atuação é o financiamento de ações de comunicação que articulem as favelas dos 92 municípios do estado para a promoção da saúde desses territórios. “Só na cidade do Rio de Janeiro, mais de 12% de todos os domicílios estão nas favelas. No estado, aproximadamente 17% da população fluminense vive em favelas”, destaca o professor. “Além disso, há um impacto social com a mudança de paradigmas na execução de políticas públicas para populações de favelas. Pode mudar a cultura da participação social de vigilância em saúde”, acredita o pesquisador.
A lei que possibilitou o repasse dos recursos é de autoria da deputada estadual Renata Souza (PSOL). “A ideia de criar a lei surgiu das lideranças comunitárias que me procuraram para pedir uma intervenção do poder público em ações que pudessem mitigar os efeitos da pandemia nessas regiões”, explica a deputada. “Fizemos, então, a primeira lei, que corresponde ao Plano de Enfrentamento à covid-19 nas favelas, um programa que busca cobrir ações de combate à pandemia”.
Esta lei foi aprovada ainda em agosto, mas era preciso mais. “A partir do plano, surgiu o desafio de como financiar as ações desta lei. E por isso propus a segunda lei, também aprovada em agosto, que previu o repasse dos R$ 20 milhões”, conta. “A coordenação de ações que possibilitem intervenção mais concreta vem da expertise das instituições”, afirma a parlamentar. “A UFRJ já tem uma relação muito próxima com a Maré. A gente quer partir dessa relação já estruturada, por meio de seus projetos de extensão, para provocar ainda mais essa interação e troca de saberes”, revela a deputada, que é ex-aluna de mestrado e doutorado da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e morou ao longo de toda a sua vida na Maré.
Pró-reitora de Extensão, a professora Ivana Bentes, da ECO, endossa a fala da deputada. “Esses recursos são fundamentais para darmos visibilidade às ações de extensão já realizadas pela universidade no entorno do campus, mas não só”, afirma. A ideia da PR-5 é consolidar a ideia de “campus UFRJ” nos territórios. “Criar o Campus Alemão, o Campus Maré, para territorializarmos ainda mais as ações da universidade. Já são espaços de troca de conhecimento, de saberes. Já são lugares de prática, já são campi avançados”, destaca a pró-reitora. “Nomear esses espaços é uma afirmação política e, ao mesmo tempo, a gente concretiza o que já existe”.
Vantuil Pereira, diretor do Núcleo de Estudos e Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), também concorda que o dinheiro permite o aprofundamento do contato da universidade com a sociedade neste momento tão delicado. “Possibilita a realização de ações efetivas no enfrentamento da pandemia, através, sobretudo, da extensão. Mas há também outras áreas atuando de forma paralela. Esse dinheiro vai apoiar muito essas atividades. Há projetos da Escola de Serviço Social, do IESC, do Nides, do NEPP-DH, do Instituto de Psicologia”, destaca.

 

WhatsApp Image 2020 12 18 at 10.44.17Em 1942, no meio da Segunda Guerra Mundial, o governo do Reino Unido decidiu pensar quais seriam as bases do país quando a guerra acabasse. Era um dos momentos mais difíceis da história da Inglaterra, e mesmo assim eles escolheram ter a ousadia de planejar o futuro. Essa história inspirou os professores João Sicsú, do Instituto de Economia da UFRJ, Gilberto Bercovici, da USP e Renan Aguiar, da UFF, a organizar o livro “Utopias para Reconstruir o Brasil” (Quartier Latin, 788 páginas), uma profunda reflexão sobre o país que o Brasil precisa ser depois da pandemia. O livro foi lançado na última segunda-feira (14), em um evento virtual que contou com a presença de professores da UFRJ que participam da edição.
“A ideia central do livro é que cada autor faça um desenho de um mundo ideal, para ele, dentro da sua área”, contou o professor João Sicsú. “O livro não é apenas de crítica ao atual governo, embora essas críticas apareçam em diagnósticos e análises dos autores”, detalhou.
Como na história do Reino Unido na Segunda Guerra, a proposta é que o livro seja um norte durante um dos períodos mais difíceis da história do Brasil. “Nós temos que desenhar o mundo que queremos, e caminhar até ele. Porque senão ficaremos apenas enfrentando as batalhas cotidianas”, explicou o organizador da publicação, que também assina um capítulo.
Além do professor João Sicsú, a UFRJ está representada também pelos professores Carlos Frederico Leão Rocha, Daniel Negreiros Conceição, Fabiana Rodrigues Barletta, Flávio Martins, Ligia Bahia e Marcos Dantas. Ao todo, 54 autores assinam o livro, que também conta com artigos do ex-chanceler Celso Amorim e do ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão.
Para Flávio Martins, professor da Faculdade Nacional de Direito e decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, há dois aspectos importantes do livro. “O primeiro é olhar para frente e apresentar perspectivas. O segundo é sabermos que a pandemia foi uma situação extraordinária, mas que mostra a importância de termos políticas públicas planejadas”. Em parceria com a professora Fabiana Rodrigues Barletta, também da FND, Flávio escreveu um capítulo sobre direitos fundamentais no contexto da pandemia.
No seu artigo, o vice-reitor da UFRJ e professor do Instituto de Economia, Carlos Frederico Leão Rocha, tratou da crise de emprego causada pela automação do trabalho. “Aqui ainda não chegou essa automação toda, mas vai chegar da pior forma possível, quando nós não pudermos mais competir”, explicou o professor.
“Vamos ter um desemprego, especialmente na área de serviços, que não era visto antes”, declarou. Nesse cenário, o vice-reitor chama a atenção para a responsabilidade da universidade. “As universidades capacitam as pessoas, então temos um importante papel a desempenhar”.

PERFIS

Carlos Frederico Leão Rocha
Vice-reitor da UFRJ e professor do Instituto de Economia. Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ. Mestre e doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia pela UFRJ. Ex-vice-presidente da AdUFRJ

Daniel Negreiros Conceição
Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (IPPUR/UFRJ). Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ. Mestre em Master of Arts pela University of Missouri System. Doutorando em Economia e Ciências Sociais pela University of Missouri System

Fabiana Rodrigues Barletta
Professora da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Graduada em Direito pela UFJF. Mestre em Direito pela UERJ. Doutora em Direito pela PUC-Rio

Flávio Martins
Professor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Graduado em Direito pela UFRJ. Mestre em Ciências Jurídicas pela UFRJ. Doutor em Filosofia pela UFRJ

João Sicsú
Professor do Instituto de Economia da UFRJ. Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ. Mestre em Economia pela UFRJ. Doutor em Economia pela UFF

Ligia Bahia
Professora da Faculdade de Medicina da UFRJ. Graduação em Medicina pela UFRJ. Mestre e doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Ex-vice-presidente da AdUFRJ

Marcos Dantas
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ. Graduado em Comunicação pela FACHA. Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ. Doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ. Diretor da AdUFRJ

 

ARTIGO

DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

WhatsApp Image 2020 12 18 at 10.44.17 1Daniel Negreiros Conceição Professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (IPPUR/UFRJ). Graduado em Ciências Econômicas pela UFRJ. Mestre em Master of Arts pela University of Missouri System. Doutorando em Economia e Ciências Sociais pela University of Missouri System

O texto que escrevi chama-se “Gasto Público e Criação de Dinheiro como Dois Lados da Mesma Moeda (Soberana)”. Tento mostrar que todas as propostas contidas neste livro para reconstruir a nossa sociedade, que está devastada pela pandemia, são econômica e financeiramente viáveis, se forem materialmente viáveis, para um governo monetariamente soberano como o brasileiro. Se elas forem materialmente viáveis e socialmente desejáveis, creio que não as realizar é o maior fracasso da nossa ciência econômica atualmente. Principalmente se isso vier do medo de que nosso Estado possa ficar sem dinheiro, porque nesse caso os economistas estão colocando empecilhos em coisas que são plenamente viáveis, por conta de um medo que não se justifica. E esse fracasso de impor limites que são puramente arbitrários, artificiais, nas realizações que são materialmente viáveis, nunca foi tão evidente para os economistas.
Logo antes da pandemia, o Brasil, supostamente, já estava na sua maior crise de endividamento. “A mais grave da sua história”, falavam. Era a desculpa de quem defendia o saneamento das contas públicas para controlar a dívida do governo brasileiro.
Diziam que a capacidade de realizarmos resultados deficitários tinha acabado. O Estado estava falido, sem dinheiro, na pindaíba. Veio a pandemia, e os defensores da austeridade foram obrigados a admitir que as coisas não são bem assim. Na verdade, o governo tinha dinheiro para gastar muito mais para combater a pandemia e a destruição econômica que ela produziu, mesmo com o colapso da arrecadação de impostos. O que ele não tinha era autorização legal. E bastou decretar o estado de calamidade e aprovar a emenda do Orçamento de Guerra, que a autorização apareceu, e descobrimos que a falta de dinheiro que nosso governo dizia enfrentar era totalmente autoimposta. O governo tinha tanto dinheiro, que desde o início da pandemia ele foi capaz de gastar quase um trilhão de reais a mais do que os impostos arrecadados só em despesas primárias.
Mas de onde veio esse dinheiro? Será que o governo raspou o seu “cofrinho”, que é a Conta Única do Tesouro? Isso seria muito ruim, porque se raspar o “cofrinho”, depois não vai ter mais. Não. O saldo da Conta Única foi e vai continuar sendo recomposto sem nenhuma dificuldade, através da venda de títulos públicos, graças ao sistema que descrevo no artigo. Então a taxa de juros deve ter explodido, porque se o governo está praticando este resultado deficitário gigantesco vendendo títulos para recompor o saldo da Conta Única, o que aconteceu com os juros? A taxa básica, que remunera as dívidas de curto prazo do governo, nunca esteve tão baixa. Podemos até dizer que ela está baixa demais. E as taxas longas até podem subir em momentos de agitação, normalmente alimentados por um certo terrorismo fiscal, mas elas sempre acabam caindo, atraídas pela taxa curta. Então o governo deve estar criando moeda, e isso normalmente dá inflação, pode não dar agora porque estamos no meio da pandemia.
O que tento explicar no artigo é que, na verdade, o governo já cria e sempre criou moeda quando faz seus pagamentos. Isso não é uma novidade, é assim que as coisas acontecem. Logo no início da pandemia, alguns economistas, eu mesmo fiz isso, sugeriam que o governo contasse com o financiamento direto do Tesouro pelo Banco Central para financiar o combate à pandemia. Foi um avanço quando as pessoas admitiram que isso era possível. Mas agora proponho que sejamos mais ambiciosos no enfrentamento dos dogmas econômicos que eu acho que têm que ser superados.
A boa notícia que trago no texto é que a criação de moeda não é uma alternativa possível que pode ser utilizada para o governo financiar a reconstrução do Brasil. Na verdade, é assim que o governo gasta.
O governo já financia o Tesouro, portanto já gasta criando moeda. E o Banco Central já financia o Tesouro indiretamente, apesar da restrição constitucional, que não tem como ser respeitada. A confusão talvez venha, em parte, da maneira como os economistas aprendemos a ler uma equação da restrição orçamentária do governo, como se o dinheiro que o governo usa para fazer um pagamento viesse da cobrança de impostos, da venda de dívidas remuneradas ou fosse criado de maneira nova, o que seria criação de base monetária. Mas o que tento mostrar é que, por definição, quando um pagamento estatal acontece – e o mesmo raciocínio que pode ser feito para um pagamento estatal, pode ser feito para o resultado deficitário do governo ao longo de um período – este pagamento é necessariamente acompanhado da criação de pagamento estatal, de base monetária e de moeda bancária associada a criação de base monetária. Isso ocorre porque as reservas bancárias que são debitadas na reserva do Tesouro na ocasião de cada pagamento não fazem parte de agregado monetário nenhum, elas são um passivo não monetário do Banco Central. Então, quando o governo gasta, ele cria base monetária, porque transfere créditos contra o Banco Central para um banco comercial. E esse banco comercial cria a moeda quando credita na conta corrente do recebedor do pagamento.
Ou seja, cada pagamento feito pelo Estado é sempre acompanhado primeiro da criação de base monetária, que já é uma dívida estatal, embora fique escondida no passivo do Banco Central. Depois é que essa moeda estatal que foi criada por um pagamento se transforma em uma dívida remunerada. E isso acontece porque o Banco Central está sempre tentando garantir que pelo menos a taxa básica referencial da economia não caia quando o governo faz um pagamento.
Porque quando o governo faz um pagamento, ele coloca mais dinheiro na economia, e isso pressionaria os juros para baixo. Na verdade, quem primeiro vende o título público para garantir que os juros não caiam é o Banco Central. E essa venda é garantida porque quem tem reserva sobrando já quer aplicar em títulos públicos. Primeiro entra a moeda estatal, depois ela pode ser reconfigurada em base monetária ou dívidas públicas.
O que estou dizendo aqui, e o texto entra em detalhes nessa argumentação, é que não precisamos reinventar a roda para pagar pela reconstrução do Brasil. Operacionalmente já é possível financiar tudo que for necessário e materialmente viável, até o limite inflacionário da nossa economia, que podemos falar depois qual é. O governo brasileiro não é como uma dona de casa. Falta de dinheiro não é um problema para um Estado que gasta criando moeda, como é o Estado brasileiro.
Espero que esse texto sirva para aumentar a nossa ambição.

TATIANA ROQUE ENTREVISTA THOMAS PIKETTY

WhatsApp Image 2020 12 18 at 10.49.27“Em muitas nações, inclusive no Brasil, se diz que é preciso esperar o país ficar mais rico para possibilitar a redução das desigualdades. Na verdade, é exatamente o contrário”, explicou o economista francês Thomas Piketty, no evento de encerramento do centenário da UFRJ, na quarta-feira (9). A live foi transmitida pelo canal do Youtube do Fórum de Ciência e Cultura, e mais de 400 pessoas assistiram à palestra ao vivo.
Aos 49 anos de idade e um best-seller mundial — “O Capital no século XXI”, com mais de um milhão de exemplares vendidos em todo o planeta — Piketty acaba de lançar Capital e Ideologia, em que analisa a história das desigualdades. A participação do economista no evento da UFRJ foi gravada anteriormente no formato de entrevista, sob a condução da professora Tatiana Roque, coordenadora do Fórum, e ex-presidente da AdUFRJ.
Para Tatiana, o evento mostrou que a desigualdade é a questão mais urgente da sociedade brasileira. “A universidade precisa dar uma resposta para isso. A UFRJ mostrou essa face no enfrentamento da covid-19, e também neste evento, em que a discussão se deu muito em torno da renda básica”, contou.
“A renda básica segurou um pouco a situação dos mais pobres durante a pandemia. A gente queria conversar com um grande pensador desse momento atual, e alguém que pensasse a desigualdade. Era para ele ter vindo presencialmente ao Brasil, mas por causa da pandemia não deu”, contou Tatiana.
Confira a entrevista:

TATIANA ROQUE: No seu livro ‘Capital e Ideologia’, o senhor analisa as séries históricas de preferências eleitorais de diversos países, e gostaria de estender a reflexão para o caso do Brasil. Tivemos eleições este ano e, novamente, a esquerda não se saiu muito bem. Observa-se uma nítida preferência eleitoral pela direita entre os trabalhadores informais. Isso explica, aliás, a dificuldade para administrar a pandemia, e as pesquisas indicam claramente uma preferência pela esquerda ou pela direita de acordo com este critério da formalidade do trabalho. Diante disso, poderíamos dizer que é preciso estimular o crescimento e a geração de emprego formal, mas isso nunca funcionou aqui de forma estável, como na Europa. Será que para nós não seria o caso de construir uma nova filosofia de proteção social, incluindo a renda básica, que não precisa estar vinculado ao emprego formal?
THOMAS PIKETTY: Primeiro, quero dizer que, quando proponho que a renda básica seja depositada no contracheque, é apenas para as pessoas que possuem contracheque. Não proponho que seja aplicado sistematicamente a 100% da população. Quando existe a relação salarial, penso que em vez de a renda básica ser paga por uma administração pública de seguro social, ou seja, por um pagador diferente do empregador principal, me parece preferível aumentar o salário pago no contracheque. Na imensa maioria dos casos, as contribuições sociais e os tributos pagos pelo trabalhador são maiores do que a renda básica que irá complementar o salário.
Também penso que a relação salarial deve ser preservada enquanto objetivo importante, mas, ao mesmo tempo, concordo plenamente: é preciso atender todos os trabalhadores informais, todos aqueles que estão fora da relação salarial e acho que foi um erro historicamente gravíssimo da esquerda em geral focar muito no ‘salariato’ como única forma possível de organização do trabalho. Essa visão única e completamente focada no salário prejudicou muito a esquerda historicamente em todos os países, e eu não compartilho dessa visão. Por isso procuro valorizar a propriedade privada, inclusive a pequena propriedade, com compartilhamento do poder entre os trabalhadores e todas as partes interessadas na empresa. Essa valorização da pequena propriedade privada e, depois, do trabalhador independente, me parece muito relevante para renovar o software socialista ou social-democrata, para chegar a uma visão diferente. Não podemos desistir de puxar o setor informal para uma maior formalidade no futuro, mas concordo que, até lá, precisamos nos adaptar às situações das pessoas tais como existem, e propor soluções de renda básica e transferência de renda que não foque apenas nos trabalhadores do setor formal.

Como sabe, temos um problema eleitoral no Brasil. Bolsonaro foi eleito e tem o apoio expressivo de pessoas que não estão entre os mais pobres, mas que são relativamente pobres. A sua análise de esquerda, que chama de “brâmane” — um adjetivo interessante aliás — separa os votos das classes populares dos votos dos diplomados. No Brasil, a situação é um pouco mais complexa, porque temos os mais pobres que preferiam o PT e o Lula, e temos essa camada intermediária que pode ser chamada de classe média, mas que é relativamente pobre e que, penso eu, também é um pouco esquecida pela esquerda. Essa pode ser uma forma de entender os fenômenos eleitorais dos últimos tempos, que fortalecem a extrema-direita?
O que percebi, analisando os dados que pude ler, é que a passagem do PT pelo poder permitiu ampliar o seu apoio eleitoral nas camadas mais pobres, o que não era historicamente o caso do seu primeiro eleitorado, voltado para classes de trabalhadores formais, urbanos, e não necessariamente com um alto nível educativo, embora houvesse grupos desse tipo, mas que não eram os mais pobres na geografia social do Brasil. O PT foi conquistando esse apoio, em parte, graças às politicas implementadas. Foi se constituindo uma coalizão relativamente popular, através dessas politicas, que tiveram suas limitações, como a falta de reformas tributárias estruturais, de reformas da propriedade, mas, obviamente, vai muito além disso.
Sempre procuro insistir que parte da esquerda, os partidos social-democratas, socialistas, trabalhistas, renunciem de lutar por uma transformação econômica, por uma passagem para outro sistema econômico. Essa recusa em colocar a agenda de outro sistema econômico para a redução das desigualdades, esse comedimento excessivo, contribuiu para abrir o caminho para narrativas de direita autoritária, nacionalista e identitária.
Quando você repete o discurso de que não se pode ser muito ousado quanto à redistribuição da propriedade e redução das desigualdades sociais, contribui para uma narrativa de que o Estado não pode muito, que só existe uma politica econômica possível, e também contribui para focar o debate politico nessas questões de identidade e de segurança. Há uma demanda por segurança e um discurso do tipo Bolsonaro ou Trump, autoritário e xenófobo que, infelizmente, tem certa força.

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O último Conselho de Representantes da AdUFRJ em 2020 — o 15º realizado durante o isolamento social — confirmou uma característica do colegiado de debater os grandes temas que afetam os professores e a universidade. No encontro do dia 14, os conselheiros trataram da progressão na carreira, orçamento e a concessão do adicional de insalubridade.
Os professores manifestaram preocupação após recentes mudanças na legislação interna da UFRJ pelo Conselho Universitário. Uma resolução publicada em 19 de novembro deu fim às progressões múltiplas, sem definir uma regra de transição. A medida prejudica docentes que contavam com vários períodos anteriores acumulados para progressão na carreira.
Em outra decisão, publicada na mesma data, o colegiado definiu que todos os integrantes das comissões de avaliação devem ser portadores do título de doutor há pelo menos dez anos — antes, só existia a exigência do título. Os professores avaliaram que a deliberação vai dificultar a formação das bancas, principalmente em cursos ou unidades novas, nos quais a pós-graduação ainda não está consolidada.
A direção do sindicato vai organizar, em parceria com a Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), um seminário para debater os problemas e elaborar propostas. O objetivo é consolidar um documento para levar ao Consuni, na primeira sessão do ano que vem, marcada para fevereiro — o colegiado entra em recesso durante o mês de janeiro. “Queremos chegar a consensos e encaminhar o resultado o mais rapidamente possível para a primeira sessão do Consuni”, afirmou a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, que solicitou contribuições dos integrantes do Conselho de Representantes.

INSALUBRIDADE
O sindicato aguarda a resposta oficial da Pró-reitoria de Pessoal (PR-4) para o ofício apresentado na reunião de 10 de dezembro com a reitoria e a Coordenação de Políticas de Saúde do Trabalhador (CPST). O encontro discutiu as dificuldades dos professores para obter os adicionais de insalubridade, periculosidade e radiação, e foi noticiado na última edição do Jornal da AdUFRJ.
As principais reivindicações são: evitar o corte dos adicionais dos que assumem alguma função de chefia ou coordenação de curso e obter o percentual mínimo, nos casos em que os peritos constatam a exposição, mas não podem medir os agentes nocivos à saúde. Também foi solicitada a formação de uma força-tarefa pela PR-4 para dar agilidade aos mais de mil processos parados no setor. No caso de uma resposta negativa da administração central, a AdUFRJ vai à Justiça para garantir os direitos dos professores.
O formulário eletrônico criado pelo sindicato para cadastrar os professores que estão sem o adicional continua ativo em bit.ly/cadastropeloadicional.

ORÇAMENTO
O professor Josué Medeiros, diretor da AdUFRJ, informou que o Observatório do Conhecimento — rede de sindicatos e associações docentes que defende as universidades públicas — segue monitorando a proposta orçamentária do governo para 2021, no Congresso Nacional. “A Lei Orçamentária vai ficar para o ano que vem, provavelmente só para depois da eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado”.
Josué também citou a tramitação de um projeto de lei para proteger o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) de contingenciamentos. “E a PEC emergencial que tem como uma das propostas cortar os nossos salários foi adiada para o ano que vem”, completou.
Na reunião do CR, a diretoria reforçou o posicionamento contrário à portaria do MEC que tentou impor o retorno presencial às aulas para o início do ano que vem. “A portaria foi tão desmoralizada que o próprio MEC autorizou a resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) do ensino remoto durante 2021”, disse Eleonora. Está sendo elaborada uma nota conjunta de repúdio de todas as entidades representativas dos professores, técnicos, alunos e terceirizados da UFRJ.

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