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WhatsApp Image 2021 01 15 at 10.43.26AGLOMERAÇÃO na Uerj, no Enem/2019. MEC diz que haverá medidas de biossegurança. Entidades científicas dizem que não serão suficientes - Foto: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASILEm meio a uma nova onda de covid-19 e de saturação dos leitos hospitalares em todo o país, o Ministério da Educação decidiu manter o calendário para a realização das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão que coordena o Enem, 6,1 milhões de candidatos serão mobilizados nos dias 17 e 24 de janeiro.
“É óbvio que ninguém quer ficar adiando o Enem por tempo indeterminado, mas o MEC não se moveu como seria necessário para garantir segurança para a saúde da população e criou uma instabilidade entre os participantes, em um momento que cresce a contaminação”, afirmou o presidente da União Nacional dos Estudantes, Iago Montalvão, em seu perfil no Twitter. “Por isso, adia Enem 2020”, completou.
O apelo dos estudantes não é à toa. Em maio de 2020, quando os reitores de institutos e universidades federais do Rio de Janeiro — incluindo a UFRJ — solicitaram o adiamento do Enem, pela primeira vez, o Brasil contabilizava 120 mil infecções e oito mil mortos por covid. Agora, são mais de 200 mil mortos e oito milhões de infectados. A pandemia vitimou o próprio diretor de Avaliação da Educação Básica do INEP, Carlos Roberto Pinto de Souza, na segunda-feira (11).
Em alguns estados do Norte, a situação é dramática — a Justiça Federal do Amazonas decidiu suspender a aplicação do Enem naquele estado, mas o MEC avisou que vai recorrer.
Em nota assinada ao lado da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e da Associação Nacional de Pós-Graduandos, a UNE deixa claro que o Enem e os demais programas de acesso à universidade “são importantes e não podem ser enfraquecidos”. “Acreditamos que a necessidade de adiamento do Enem é fruto da falta de organização e transparência do MEC, e serviria para a criação de uma estratégia efetiva de garantia da segurança sanitária para realização da prova, sem prejuízos para os instrumentos de seleção como o SISu, Prouni e Fies”, diz o trecho final do texto.
A AdUFRJ participou da mobilização contra a realização das provas, no ano passado. Uma das ações foi a projeção da hashtag #AdiaEnem em paredões da cidade. Pressionado pela opinião pública, o pior ministro da história, Abraham Weintraub, também teve de recuar da aplicação do Enem em novembro.
O anúncio de retomada do calendário das provas em janeiro mobilizou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Com apoio de outras 45 entidades científicas e acadêmicas do país, elas enviaram uma carta ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, solicitando a postergação das provas. Segundo um dos trechos, para um momento em que os “índices de transmissão e a capacidade de resposta dos serviços de saúde estejam dentro de níveis aceitáveis”. A carta ressalta “a crescente incidência da covid-19 no último mês” e a previsão de que haverá um salto dos números nas próximas semanas, devido às festas de fim de ano.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Grupo de Trabalho de Educação Básica da SBPC, Eduardo Mortimer critica a exposição prolongada dos estudantes. “Estão falando em trinta pessoas por sala com uso de ventiladores. Quem conhece as escolas públicas sabe que as condições estão muito longe das ideais”. Para o docente, apesar de o ministro Milton Ribeiro garantir que todos os cuidados de biossegurança possíveis estão sendo tomados, “não há sinalizações de ações concretas nessa direção”.
Mortimer frisa que a consulta online promovida pelo próprio Ministério da Educação em 2020 apontou para o mês de maio de 2021 como nova data para a realização da prova. “Não faz sentido algum essa insistência com janeiro”, opina.

CAp é favorável ao adiamento
O Colégio de Aplicação da UFRJ tem 91 estudantes no terceiro ano do ensino médio. Os alunos farão a prova do INEP, mas a escola é favorável ao adiamento do exame. “Não é razoável aplicar uma prova de tantas horas, no calor do Rio de Janeiro, sem refrigeração. O Enem, em condições normais, já é um momento de muita tensão”, argumenta a vice-diretora da escola, professora Cristina Miranda. Em sua avaliação, o calendário do Enem atende à demanda da iniciativa privada para “garantir o fluxo de matrículas”.
Cristina lembra a posição do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) que solicitou ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, na terça-feira (12), o adiamento do Enem. “Se eles, que estão com as planilhas de transmissão nas mãos, pedem que a prova seja adiada é porque a situação é muito grave”, diz.
Além dos riscos de contaminação, há o risco de explosão da desigualdade educacional. Boa parte dos jovens brasileiros ficou sem aulas ao longo de 2020. “O CAp foi uma das poucas escolas públicas que conseguiu garantir as atividades de maneira remota”, acrescenta Cristina. A docente afirma que os dois editais de auxílio emergencial e para compra de equipamentos da reitoria foram importantes para garantir as atividades remotamente. Segundo o professor Ulisses Dias da Silva, da Direção Adjunta do CAp, oito alunos foram contemplados pelo benefício.

UFRJ não vai sediar exame

Caso sejam mantidas as datas do Enem, a UFRJ não estará entre os locais de aplicação das provas. De acordo com o prefeito universitário, Marcos Maldonado, a universidade chegou a ser sondada pela Fundação Cesgranrio para receber 2,5 mil estudantes em salas do Centro de Tecnologia, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza e Faculdade de Letras, no campus do Fundão. O plano logístico da Prefeitura Universitária incluía a redução do intervalo de circulação dos ônibus internos de dez em dez para três em três minutos, reforço da vigilância, sinalização com placas e distanciamento nas salas. Mas a negociação não avançou.

WhatsApp Image 2021 01 15 at 10.43.27As condições meteorológicas e oceanográficas se tornarão mais acessíveis para os portos do estado do Rio de Janeiro em 2021. A Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) firmou um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (SiMCosta), sob coordenação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e com o suporte da UFRJ. A parceria nasce da necessidade de aprimorar o monitoramento marítimo e de fortalecer a rotina de manutenção das boias meteo-oceanográficas, que são utilizadas pelo SiMCosta.
“Para atingir um outro padrão de certificação internacional dos portos do Rio de Janeiro, a CDRJ sugeriu fazer esse acordo técnico-científico. A FURG tem a propriedade física de todas as boias, coordena o SiMCosta a nível nacional, e dá todo o apoio logístico. A UFRJ faz a parte operacional de manutenção aqui no Rio. E Docas dará o apoio náutico”, explica o professor Mauro Cirano, do Departamento de Meteorologia da UFRJ. Os dados adquiridos pelos equipamentos são transmitidos via celular ou satélite para o servidor da FURG, e logo são disponibilizados gratuitamente e em tempo real no portal do SiMCosta (http://www.simcosta.furg.br/home).
Coordenador do SiMCosta no Rio de Janeiro, Mauro destaca que a parceria traz ganhos para ambas as partes. “A CDRJ vai prover as embarcações de apoio que a gente precisa para a manutenção estrutural dos fundeios. Em contrapartida, as universidades vão divulgar os dados”, conta. Os dados meteo-oceanográficos próximos da Baía de Guanabara serão importantes para a implementação do sistema de calado dinâmico no Porto do Rio de Janeiro.
A nova parceria promete contribuir muito com o cotidiano operacional dos serviços portuários. “Antes de qualquer operação para embarcar em um navio, a praticagem utiliza esses dados para saber em tempo real quais as condições de onda, vento e corrente”, exemplifica Mauro. “A outra função é para melhorar o que chamamos de calado dinâmico. Com base nessas medições, conseguimos otimizar a máxima profundidade permitida para os canais de acesso, fazendo com que navios de maior calado possam entrar no porto”, completa.
WhatsApp Image 2021 01 15 at 10.43.27 1FERNANDO BARBERINI, doutorando da Coppe-UFRJ, participa da equipe de manutenção das boias no litoral do Rio - Fotos: DivulgaçãoFernando Barberini, doutorando do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe-UFRJ, contribui com a operacionalização das boias no Rio. “Quando não há nenhuma emergência, a gente faz uma manutenção mensal. Mas dependemos sempre das condições do tempo e do mar”, aponta o pesquisador. A periodicidade mensal é adotada para que os sensores possam sempre realizar medições de qualidade. Além de consolidar essa revisão mensal dos equipamentos, o acordo com a CDRJ inclui a compra de mais uma boia, que fornecerá novos dados para o sistema.

LEGADO OLÍMPICO
O monitoramento na costa do Rio de Janeiro começou em 2015. “Essas boias são um legado dos Jogos Olímpicos de 2016, adquiridas com recursos do Fundo Clima”, lembra Mauro. As manutenções, realizadas pela equipe técnica do SiMCosta-RJ desde o lançamento das boias, se caracterizam pelo desligamento e retirada dos sensores oceanográficos para a manutenção em terra. Já a inspeção é qualquer tipo de atividade realizada no local do fundeio, desde a limpeza dos sensores até o reparo de algum equipamento. Durante esse procedimento, todos os sensores permanecem ligados.
Inicialmente posicionadas na Baía de Guanabara, as duas boias do Rio de Janeiro foram então identificadas como RJ-1 e RJ-2. Com a transferência de uma para perto do Forte de Copacabana, e da outra para as cercanias da Ilha de Cotunduba, passaram a ser chamadas de RJ-3 e RJ-4, respectivamente. Além delas, o estado do Rio também conta com um marégrafo, equipamento que faz o monitoramento do nível do mar, instalado pelo SiMCosta na Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN), em Niterói.
Segundo Mauro, os dados fornecidos podem beneficiar a população em geral, com diferentes aplicações. “Depois que a ciclovia Tim Maia fechou, em razão do acidente, a prefeitura fez todo um estudo para utilizar as boias como um sistema de alerta para abertura e fechamento da ciclovia”, aponta. “Indiretamente, esses dados são utilizados por diversas pessoas. Isso inclui aquelas que os utilizam para a prática de esportes náuticos, como stand-up paddle, surf e iatismo”, comenta o professor.
Além desta nova parceria, o SiMCosta-RJ já vem sendo apoiado por três importantes parceiros locais associados aos terminais portuários do Rio de Janeiro: Multi-Rio Operações Portuárias S/A; Libra Terminal Rio S/A; e Triunfo Logística Ltda, o que vem permitindo a manutenção destas boias desde 2017. O projeto está sendo implementado em fases no país, por meio de recursos que são oriundos do Fundo Clima/Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Em sua primeira fase, a iniciativa buscou atender à região Sul-Sudeste (nos estados do RS, SC, PR, SP e RJ). Em sua segunda fase, o SiMCosta pretende expandir para os demais estados brasileiros, localizados na zona costeira.

WhatsApp Image 2021 01 08 at 11.29.26A PROFESSORA Elizabeth Zucolotto com o meteorito Campinorte, que pode ser comprado e incorporado ao acevo do Museu da Geodiversidade da UFRJA UFRJ está fazendo uma campanha de arrecadação de recursos para comprar o meteorito Campinorte, o terceiro maior do Brasil, peça importante nos estudos da formação do planeta Terra. A campanha precisa arrecadar R$ 400 mil, valor que inclui os custos de transporte do meteorito que está no estado de Goiás, onde foi encontrado. As doações estão sendo recebidas por meio da Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COPPETEC), instituição de direito privado, sem fins lucrativos, destinada a apoiar a realização de projetos de desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, de ensino e de extensão da COPPE e demais unidades da UFRJ.
O meteorito já está à venda há alguns anos, mas o proprietário nunca encontrou um comprador que pagasse o preço pedido. Caso a UFRJ consiga reunir os recursos para comprar a peça, ela será abrigada no Museu da Geodiversidade, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN). “A ideia era que o meteorito fosse comprado pelo Museu Nacional, mas a unidade não conseguiu, no meio da sua reconstrução, dispor desse dinheiro”, explicou a professora Kátia Mansur, diretora do Museu da Geodiversidade.
Segundo Kátia, o Brasil não tem uma legislação para a aquisição de meteoritos, o que faz com que muitos dos objetos encontrados sejam vendidos para fora do país. “Nós entendemos que esse meteorito não deve sair do Brasil. Deve ficar aqui, acessível para quem quiser pesquisá-lo, e em um museu onde possa ser visitado”, contou a Kátia Mansur.
Até o fechamento desta edição, a campanha havia arrecadado R$ 16 mil de 85 doadores. Caso a compra seja efetivada, a peça vai ficar exposta com uma placa com o nome de todos os doadores. “Alguns doaram R$ 10, outros doaram R$ 2 mil. Cada doação é importante. Falta muito, mas a gente acredita que vai conseguir encontrar mais pessoas que se interessem em manter esse objeto científico no nosso país”, reforçou Kátia, que não tem informações sobre outros possíveis compradores, mas informou que o proprietário do Campinorte está dando prioridade à UFRJ. “Creio que a gente consiga reunir o valor para a compra até o fim do mês. É difícil, mas a gente vai tentar”.
WhatsApp Image 2021 01 08 at 11.29.27 2Quem explica a importância do Campinorte para a ciência é a professora Elizabeth Zucolotto, do Museu Nacional, uma das maiores especialistas em meteoritos do Brasil e quem propôs ao Museu da Geodiversidade que comprasse o objeto. Ela explica que a Geologia só consegue recolher amostras das camadas mais externas da Terra. “Um meteorito como esse, que é do tipo metálico, tem uma composição similar à do núcleo da Terra”.
Os meteoritos são formados pelos mesmos materiais que formam a Terra. O Campinorte tem ainda uma peculiaridade: ele é não agrupado, ou seja, os estudos preliminares que foram feitos mostraram que ele não se enquadra em nenhuma das classificações hoje existentes. “Ele não se enquadra em nenhum dos grupos químicos. Pode ser que, no futuro, ele faça parte de um novo grupo. Mas para isso é preciso que outros como ele sejam encontrados”, explicou Elizabeth. Esse fator torna o Campinorte ainda mais valioso do ponto de vista científico.
Com 1,5 tonelada e medindo 75 centímetros de diâmetro, o Campinorte é o terceiro maior meteorito encontrado no Brasil (os dois primeiros, Bendegó e Santa Luzia, fazem parte do acervo do Museu Nacional). A estimativa da professora é que o objeto tenha 4,56 bilhões de anos, e tenha caído há milhares de anos no local onde hoje é a cidade goiana de Campinorte. O meteorito foi encontrado por mineradores em 1992, mas só foi desenterrado nos anos 2000. Em 2009, o Museu Nacional foi contactado para reconhecer o artefato, e Elizabeth Zucolotto recebeu um pedaço do objeto para confirmar sua autenticidade.
“O meteorito é mais uma peça para estudar a formação e a evolução do Sistema Solar”, explicou Elizabeth. “Um meteorito só não vai contar uma grande história, mas ele é diferente dos outros, então ele pode trazer novas informações”, detalhou. Mas para a professora o Campinorte tem também uma importância simbólica, se exposto em um museu. “Esse meteorito é mais antigo que a Terra. Quando uma criança encostar nela, ela vai estar diante da coisa de mais longe e mais velha que alguém pode tocar. E isso é algo que mexe com a cabeça das crianças”, defendeu a professora.

WhatsApp Image 2021 01 15 at 10.53.57 1Josué Medeiros
Diretor da AdUFRJ, cientista político e coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira

Em 20 de janeiro, o democrata Joe Biden toma posse como presidente dos Estados Unidos. A Era Trump chega formalmente ao fim. Mas os perigos fascistas e autoritários que ele representa e impulsiona terão cessado com essa saída do poder? 

Obviamente, a resposta é não. Trump teve 75 milhões de votos, dez milhões a mais do que em 2016. Algumas das vitórias democratas mais importantes para retirar Trump da presidência se deram por margem estreita de votos. Na Geórgia, por exemplo, foi por 11 mil votos.
WhatsApp Image 2021 01 15 at 10.53.57Os ataques que marcaram a invasão do Capitólio em 6 de janeiro são mais um sintoma da força do trumpismo nos EUA. No dia que deveria ser a consagração da sua derrota, Trump rouba a cena, desafia as instituições e mostra que seu ciclo político não acabou. Os apoios que recebeu no Partido Republicano são outra demonstração de força. Seu recuo posterior não muda isso, pois é o padrão típico das lideranças autoritárias. Recuam para disfarçar e, depois, voltam ao ataque.
Por tudo isso, o desafio de Biden é gigante e complexo. Se ele repetir o padrão dos últimos governos democratas, jogará água no moinho da descrença na democracia e fortalecerá as energias do trumpismo. Se não cumprir suas promessas, Biden alimentará toda a narrativa de Trump e, ao mesmo tempo, desmobilizará a parcela mais ativa da sociedade civil dos EUA que se engajou por ele. Trump conta com isso e vai manter seu movimento vivo atacando cada erro ou inação do governo.
Trump só foi derrotado porque, além de um processo de enfrentamento institucional organizado e coerente (impeachment tramitando no Congresso, Justiça barrando ações radicais do presidente, empresas bloqueando a circulação de informações e recursos para as milícias digitais e de rua do trumpismo), ocorreu nos EUA um grande processo de mobilização social que não só sustentou os movimentos institucionais, mas avançou na cobrança por mais direitos e por uma democracia mais substantiva.
Os movimentos antirracistas reunidos sob a insígnia “Black Lives Matter” e a ação da ativista Stacey Abrams na Geórgia, que coordenou um processo de registro eleitoral de negros e migrantes, são a melhor expressão da força dessas lutas, cujas demandas deveriam ser prioritárias para o novo governo, se quiser, de fato, acabar com o trumpismo.

E o Brasil nisso tudo?
Subestimar a força de Trump – ou de Bolsonaro – é um erro que não podemos mais cometer.
No Brasil, também temos a energia cívica do movimento negro, como nos EUA, e ainda do feminismo, que na Argentina conquistou a legalização do aborto, mas ainda não conseguimos consolidar um amplo movimento de cidadania para enfrentar o avanço do projeto autoritário de Bolsonaro. Na Educação, depois da grande mobilização de 15 de Maio de 2019, que deu um freio no então ministro Weintraub, conquistamos recentemente a histórica vitória de renovação do Fundeb. Trata-se do primeiro direito que conquistamos desde 2015, quando os direitos trabalhistas para empregadas domésticas foram incluídos na Constituição.
Todavia, seguimos na defensiva, sem entender a lógica de Bolsonaro e sem conseguir transformar nossa comoção com os mais de 200 mil mortos e com o fim do auxílio emergencial em resistência organizada.
O perigo autoritário segue mais vivo do que nunca, embora ele agora não conte com o apoio do presidente dos EUA, o que é bastante importante. Os ataques contra a sociedade civil, a destruição da natureza, o processo de desmonte do Estado, a asfixia das universidades, tudo segue seu curso sem maiores obstáculos.
O fato é que Bolsonaro mantém um nível de popularidade suficiente para garantir uma vaga no segundo turno; aumentou seu controle sobre instituições-chave tal qual a PF; indicou um ministro do STF, indicará outro em 2021, além de estar bem colocado no STJ e em outras instâncias; tem procurado organizar uma rede de policiais, bombeiros e militares de baixa patente; tem ao seu lado grande parte do empresariado brasileiro; e, por fim, pode sacramentar sua força emplacando um aliado na presidência da Câmara.
A vitória de Arthur Lira para o comando dos deputados terá duas consequências para a consolidação do projeto bolsonarista: primeiro, a hipótese do impeachment estará sepultada em definitivo. O afastamento de Bolsonaro é uma construção difícil para 2021, por conta de todos os elementos da conjuntura que já falamos. Mas com Lira na presidência da Câmara, mesmo que algumas daquelas condições mudem – por exemplo, mobilizações sociais contra o governo impulsionadas pela insatisfação popular diante da piora de vida – não terão como ser canalizadas no parlamento.
A segunda consequência é a possibilidade que Bolsonaro terá para fazer avançar sua agenda autoritária em projetos de armamento da população, aumento do poder das forças repressoras (excludente de ilicitude) contra a população negra e contra os movimentos sociais e ataque aos direitos das mulheres e LGBTs.
Bolsonaro sequer precisa ter maioria para aprovar essa agenda. Para ele, basta que ela tramite e vá para votação em plenário. Em caso de rejeição, o bolsonarismo usará o resultado negativo para insuflar suas milícias contra as instituições e reforçar o sentimento antissistema.
Outro agenda que pode avançar é o questionamento à lisura do processo eleitoral brasileiro. Com isso, Bolsonaro vai preparando o terreno para consolidar uma institucionalidade autoritária em um futuro segundo mandato.
Em resumo, os perigos para a democracia seguem vivos nos EUA e no Brasil. Aqui, o momento institucional chave para isso será a eleição da presidência da Câmara. É fundamental uma frente ampla que impeça Bolsonaro de controlar o Legislativo.
Esse momento institucional precisa ser sustentado e impulsionado por mobilizações sociais de vulto que organizem as energias democráticas da sociedade brasileira. As instituições não conseguirão resistir por muito tempo sem que as ruas apareçam para (re)fazer a história da democracia brasileira.

WhatsApp Image 2021 01 08 at 11.07.19O ano é novo. Mas o semestre, não. O retorno das aulas remotas de 2020.1, em pleno janeiro, traz novos desafios para professores e alunos. Além das dificuldades inerentes ao ensino remoto, eles agora têm que lidar um verão dentro de casa, sem férias ou descanso, e ainda sujeitos às quedas de energia durante o período, por causa da forte demanda da estação, e ao aumento nas contas de luz.
Para a chefe do Departamento de Ciência Política do IFCS, Thais Florencio de Aguiar, é ao menos estranho voltar a dar aulas no dia 4 de janeiro. “Dei aula até a véspera de Natal. Percebo que um grande desafio é superar o cansaço e o desgaste que estamos vivenciando, com a pandemia e a implementação do ensino remoto emergencial”, afirma. “Nosso corpo estava habituado a ter um período de descanso nessa época, de aproveitar o verão”, lembra.
Thais acredita que a fórmula adotada pela UFRJ, com períodos com 12 semanas e 60 horas obrigatórias, traz um cansaço muito maior. “Os professores passam muitas atividades para fazer em casa, mas os alunos não dão conta, fica muito acelerado. Estamos numa tentativa, mantendo certas exigências, mas não está fácil”, diz. Na semana de retorno, a disciplina ministrada por Thais teve alta no comparecimento estudantil. “Inclusive de muitos alunos que foram faltosos em dezembro”, conta.
No tempo que teve para desfrutar o recesso, a professora do IFCS se manteve dentro de casa e procurou dar mais atenção à família. Entretanto, Thais não conseguiu se desconectar dos afazeres do trabalho. “Recebi ligação na véspera do Natal, e depois de professores tentando resolver seus problemas. Não foi possível desconectar. Por exaustão mesmo, consegui não trabalhar, embora tivesse muitas demandas”, explica. Para Thais, o calendário acadêmico sem férias penaliza as crianças filhas de pais universitários e estudantes. “Elas já tiveram um ano muito complicado, com frustrações e limitações, desenvolvendo inclusive doenças mentais, e agora seus pais ficam sem possibilidade de se dedicar a elas e proporcionar uma vivência saudável ao menos nesse período”, afirma. Na Ciência Política, alguns professores têm férias marcadas para o atual momento e estão oferecendo aulas. “Me questiono como essas férias serão aproveitadas. Não tem como o professor tirar um mês de férias nessa situação”, opina.
Os alunos também se ressentem de um tempo maior para descanso. “O estudante divide os anos por períodos, 2020.1 ou 2020.2, por exemplo. Sempre olhamos o verão como um tempo para descansar e se preparar para o próximo período, e agora estamos aqui tendo que estudar,“ afirma a estudante Júlia Vilhena, diretora do DCE Mário Prata. “Os principais desafios são de ordem acadêmica, já que não estamos tendo a mesma qualidade de conteúdo que a UFRJ oferece no ensino presencial, e também a questão da pandemia”, diz. Ela lembra que, por muitas vezes, o Diretório Central dos Estudantes colocou a necessidade de um tempo maior de recesso nos conselhos universitários. “Duas semanas é um tempo curto para conseguir se recuperar e dar conta de muito conteúdo. Mas nossas demandas não foram contempladas”, explica.
No Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) há um consenso sobre o principal desafio a ser enfrentado. Para os coordenadores do Instituto de Química, Ricardo Michel, Rosane San Gil e Thiago Cardozo, o curto recesso não é suficiente para se recuperar após o excesso de trabalho de um primeiro período remoto. Além disso, segundo eles, parte do trabalho de preparação de aulas acabou sendo feito durante o recesso.
A chegada do verão certamente dificulta o ensino remoto para os professores que não possuem ar-condicionado. “O verão, independentemente do formato das aulas, é sempre um grande desafio quando estamos em período de aula”, lembra a coordenadora do curso de Gastronomia, Ceci Figueiredo. “O consumo de energia é sempre maior, ocasionando uma sobrecarga no sistema elétrico com prováveis quedas de energia, perda nas conexões e desconforto térmico. Tudo isso dificulta o acesso e a concentração dos alunos”, afirma.

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