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jair bolsonaro arthur lira video.jpgBolsonaro e Lira - Imagem: reprodução de redes sociaisCom farta distribuição de cargos na máquina pública — incluindo uma promessa de reforma ministerial — e de verbas para emendas parlamentares, o Palácio do Planalto joga todas as suas fichas na vitória de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados, na eleição que ocorre na próxima segunda-feira. Acuado pela queda de sua popularidade, pela inépcia de seu governo no combate à pandemia de covid-19 e pela crescente mobilização popular em defesa de seu impeachment, o presidente Jair Bolsonaro quer que Lira, líder do Centrão, faça exatamente o que fez o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): deixar na gaveta os 57 pedidos de impedimento que podem abreviar o fim de seu desgoverno.
Ou melhor, 58. Nesta quarta-feira (27), os partidos PCdoB, PDT, PSB, PSOL, PT e Rede apresentaram um novo pedido de impechment contra Bolsonaro por “crimes de responsabilidade em série” na condução do enfrentamento ao coronavírus. Foi o 63º requerimento em pouco mais de dois anos de governo — cinco foram arquivados. Na mesma quarta-feira, Arthur Lira se apressou em dizer que a pandemia “não pode ser usada para provocar o impeachment do presidente Jair Bolsanoro”.
A deflagração ou não de um processo de impeachment contra Bolsonaro é um tema central na eleição de segunda-feira. Se Lira tratou de sepultar previamente o assunto, seu principal oponente, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por Maia, pisou em ovos ao abordá-lo nas entrevistas que concedeu ao longo desta semana. Em uma delas, no programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (25), foi evasivo e disse apenas que vai cumprir sua função como presidente da Câmara e, caso eleito, irá analisar os pedidos que estão na gaveta. É isso o que esperam os partidos que o apoiam, como os signatários do pedido número 63.
Marcada pela influência direta do Poder Executivo, que liberou ao menos R$ 3 bilhões para 250 deputados e 35 senadores, segundo denúncia do Estadão nesta quinta-feira (28), a eleição de segunda-feira tem ainda uma marca indelével: a traição. Como já chega a ser “tradição” em votações secretas no Congresso, os dois lados tentam atrair dissidentes. O DEM, partido de Maia, fechado com Baleia Rossi, já computava deserções na bancada baiana esta semana. Já o PSL, que chegou a apoiar Baleia Rossi, se bandeou em peso para os lados de Arthur Lira, seduzido pelas promessas palacianas.
Até o fechamento desta edição, a disputa ainda mostrava certo equilíbrio. Baleia Rossi contava com o apoio de 11 legendas — em tese, 238 deputados. Lira também tinha a sustentação de 11 siglas, somando 259 parlamentares. O peso de cada bloco é importante porque define cargos na mesa diretora, nas comissões (como a poderosa CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça, por exemplo) e no Conselho de Ética da Casa. Disputa acirrada em que até parlamentares licenciados que estão em governos devem reassumir seus mandatos por um dia para votar — casos, por exemplo, do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (em Lira), e do secretário municipal de Cidadania do Rio, Marcelo Calero (em Baleia Rossi).
Partido de forte oposição ao governo Bolsonoro, o PSOL ficou de fora do bloco de apoio ao candidato do MDB. Os dez deputados da sigla se dividiram, parte defendendo a candidatura própria, e parte o apoio a Baleia Rossi. Venceu a tese da candidatura própria — a indicada é Luiza Erundina —, mas a paz não foi selada de imediato. A própria Erundina, pelo Twitter, criticou a posição dos que defendiam o apoio ao candidato do MDB já no primeiro turno, acusando-os de fisiologismo. Parlamentares da legenda, como Marcelo Freixo, Sâmia Bomfim e Fernanda Melchionna, por sua vez, criticaram a postura de Erundina.
Já no Senado Federal, que também elege seu próximo presidente na segunda-feira, a disputa está entre Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiado por Bolsonaro e pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e Simone Tebet (MDB-MS). Pacheco está em franca vantagem e na quinta-feira (28), Simone Tebet perdeu o apoio do partido e manteve sua candidatura como independente no pleito. Em troca da rasteira, o MDB ficaria com mais espaço na mesa diretora, possivelmente ocupando a vice-presidência. Pacheco tem o apoio até de partidos de oposição a Bolsonaro, como o PT e o PDT, que não enxergaram em Simone um nome competitivo e decidiram marchar com o candidato do Planalto.
Nesse intrincado xadrez político, em que por vezes situação e oposição se confundem, uma coisa é certa: o peso da pressão popular, que cresce a cada dia, será fundamental para definir a pauta do Congresso a partir de 1º de fevereiro. As cenas da carreata de sábado (23) no Rio de Janeiro, que ilustram essas duas páginas, se repetiram em diversas cidades do país. E elas foram promovidas não só por partidos de oposição e movimentos de esquerda, mas também por grupos que lideraram atos pela derrubada da então presidente Dilma Rousseff em 2016, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua. Seja qual for o resultado da eleição de segunda-feira, o “Fora Bolsonaro” parece cada vez mais forte.

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