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WhatsApp Image 2021 02 05 at 05.43.56PROTEÍNA S do coronavírus é injetada nos cavalos do Instituto Vital Brazil - Foto: DivulgaçãoUFRJ, Instituto Vital Brazil e Fiocruz protagonizam mais um importante passo da ciência no combate à covid-19. Pesquisadores desenvolveram um soro anticovid, que pode neutralizar o vírus em pessoas infectadas. O produto é obtido a partir do plasma de cavalos “vacinados” com a proteína S do Sars-Cov-2. Os pesquisadores descobriram que este plasma é até 50 vezes mais potente do que o de pessoas que tiveram a doença.
A pesquisa começou a ser realizada em maio do ano passado. Agora, os cientistas estão nos últimos trâmites para solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para testes clínicos. Jerson Lima Silva, professor titular do Instituto de Bioquímica Médica e presidente da Faperj, coordena o estudo. “O Conselho Nacional de Ética em Pesquisa já aprovou e estamos nos reunindo com a Anvisa para fundamentar a dose que vamos usar para os testes de segurança do produto”, explica.
A inoculação da Proteína S, desenvolvida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe, coordenado pela professora Leda Castilho, é feita nos cavalos do Instituto Vital Brazil. A etapa pré-clínica do estudo incluiu a vacinação dos cavalos, a extração do plasma dos animais com os anticorpos para o novo coronavírus, o processamento do soro. A partir daí, foi testado em amostras isoladas (em laboratórios da Fiocruz e da UFRJ) de diferentes indivíduos infectados e observada a eficácia. Passada esta fase, houve a injeção do soro em mamíferos como hamsters e coelhos. “Após três dias percebemos que houve a neutralização do vírus nos animais”, revela o docente.
Com os testes realizados, documentados e publicados, os pesquisadores precisam passar para as fases 1 e 2 da etapa clínica. Primeiro, para atestar a segurança do produto. Depois, com mais voluntários, para garantir a eficácia no combate à doença. “Queremos pegar pacientes voluntários internados com no máximo dez dias de sintomas, pois é quando a replicação viral ainda está acontecendo. Precisamos testar a eficácia do soro nesta etapa para sabermos se haverá redução de necessidade de ventilação mecânica, intubação e morte”, explica Jerson Lima Silva.
Sete pessoas serão testadas na fase 1 e 34 na fase 2. A aplicação do soro será intravenosa. Os voluntários serão pacientes da Rede D’Or. “Fizemos esta parceria porque é uma rede que possui hospitais em diferentes regiões do país e fica mais fácil fazer toda a padronização necessária ao estudo”, argumenta o professor.
O cientista Luiz Eduardo Ribeiro da Cunha, que lidera a equipe de pesquisadores do Instituto Vital Brazil, reforça que essa sequência de questionamentos da Anvisa é uma etapa anterior ao pedido de estudo clínico. “Mesmo produzindo soro há muitos anos, é necessário todo esse procedimento para que tenhamos garantidos os parâmetros de segurança e eficácia do produto”, diz. “A gente só dá entrada no pedido depois que todo esse ‘check list’ é realizado”, justifica.
“Já estamos com o soro pronto, concentrado. Vamos passar à fase de formulação e envase enquanto terminamos de preparar toda a documentação”, explica Cunha. Para cada lote de soro, são necessários 150 litros de plasma dos cavalos. Ele prevê a fabricação de até 3 mil ampolas neste primeiro lote. “O produto é voltado para pacientes doentes, então a gente calcula alguns milhares de ampolas, não milhões, como acontece com os imunizantes”.

Produto patenteado
Em agosto, os pesquisadores depositaram o pedido de patente do soro. Assinam pela invenção, além de Luiz Eduardo Cunha e Jerson Lima Silva, os cientistas Adilson Stolet e Marcelo Strauch (Instituto Vital Brazil) e Leda Castilho e Amilcar Tanuri (UFRJ).
O caminho entre a bancada e a patente de um produto é longo e muitas vezes difícil de ser percorrido. “Sem a parceria e a expertise dessas três instituições centenárias e públicas, este trabalho não seria possível”, reconhece Cunha. “Nós somos uma instituição de ciência e tecnologia, mas também produzimos. A universidade não tem fábrica. Transformar conhecimento em produto é uma tarefa difícil. Por isso parcerias como essa são fundamentais”, analisa o pesquisador.
“Num contexto de pandemia completamente descontrolada, poder ter um soro que salve vidas é muito importante. É realmente gratificante poder entregar este trabalho para a sociedade”, completa o professor Jerson Lima Silva. O produto deve chegar à etapa de testes clínicos até março.

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