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Este é um número especial de nosso jornal. Para fazer um retrospecto desse ano da pandemia, buscamos o olhar de quem viveu o dia a dia da universidade, numa batalha silenciosa e dedicada. Acompanhando o depoimento dos professores e as reportagens, uma linha do tempo nos lembra os principais eventos desses meses: as batalhas que travamos e os desastres negacionistas do governo, as perdas e os crescentes números de uma tragédia que, infelizmente, ainda irá nos desafiar por um bom tempo. As ilustrações são de nossas alunas e de nossos alunos do 5º ano do CAp, numa colaboração inédita e que nos enche de esperança. O profundo desalento que muitas vezes experimentamos ao vivermos trancados em nossas casas só encontra remédio ao firmarmos os olhos no futuro. No futuro que se gesta em cada criança e em cada sopro de vida que teima em não se apagar. É aí que buscamos a força para permanecer. Talvez o objetivo seja grande demais, mas queríamos um jornal que afirmasse a vida em cada uma de suas páginas, num momento em que mergulhamos num dramático e desastroso quadro de crise sanitária jamais visto em nossa história.

Depois faremos um balanço mais detalhado das políticas institucionais, de como a UFRJ atuou e do que precisamos para avançar ainda mais. Também precisamos rever com mais cuidado o que conseguimos criar nessa nossa militância sindical virtual, o que ficará de lição para o futuro, o que poderemos levar para o nosso cotidiano, quando voltarmos a ocupar os campi e as ruas.

Mas, nesse momento, escolhemos dividir o espaço com quem fez a universidade existir, seja por quem mal chegou e teve que encarar o ensino remoto, ou por quem estava afastado para pós-doc, para quem tem filhos pequenos, para quem acumula suas atividades acadêmicas com cargos administrativos, porque a universidade se faz principalmente por quem nela trabalha. O vazio dos prédios contrasta com a intensa atividade de cada um de nós e tentamos dar voz a essa nova forma de vida que nos moldou nos últimos doze meses.

Fizemos uma outra escolha difícil: o principal do nosso assunto não é o presidente da República nem seus crimes. Ao menos nesta edição, não será ele e nem suas estúpidas declarações que irão ocupar o centro de nossas páginas. Não podemos silenciar nossa experiência e deixar que se escute apenas as sandices do pior governo do planeta. Mesmo que seja para criticá-las. Faremos isso, sim, mas não aqui. Aqui falam os que lutaram para manter a universidade funcionando. Na maior parte das vezes, anonimamente. Essa é a nossa homenagem. Também aos nossos mortos, vítimas da fatalidade, mas também da insensatez que parece reger a vida pública nacional. Na próxima semana, voltaremos à carga. O governo é responsável por uma política genocida, sim! Dezenas de milhares de mortes poderiam ter sido evitadas no país. Repetindo: dezenas de milhares de mortes poderiam ter sido evitadas no país. Não recuaremos, seguiremos lutando por autonomia e pela liberdade de cátedra nas universidades, pelas liberdades democráticas e pela vida em nosso país.

No momento, a tarefa maior é abraçar as iniciativas unitárias, reencontrar parcerias, construir ainda mais pontes e abrir portas. Temos a convicção de que o horror passará. A vitalidade das forças sociais que construíram a universalidade do SUS, que defenderam a educação pública e gratuita, garantiram a Constituição de 1988 irá se sobrepor à pulsão de morte que hoje, como se fosse uma rede, cai sobre nossas cabeças e tolhe nossos movimentos. A questão
 principal é: quantas vidas poderemos poupar, quantas pessoas poderão encontrar abrigo e segurança nas próximas semanas?

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