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Lucas Abreu
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Quando todos procuraram se isolar, eles foram ao trabalho. Profissionais de saúde da linha de frente de combate à pandemia têm se desdobrado pelo Brasil para salvar vidas. Na UFRJ não foi diferente. Desde a criação do GT Coronavírus, a universidade assumiu seu papel social na defesa da vida, e preparou-se para receber pacientes com a covid-19. Leitos de CTI foram abertos no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, outras unidades de saúde se prepararam para o aumento da demanda e a universidade criou o Centro de Triagem Diagnóstica (CTD).

No Hospital Universitário, as adequações para receber os pacientes de covid-19 no começo da pandemia não foram simples. “Pouco se sabia sobre como seria a evolução da doença, qual seria o pico de casos, quanto tempo durava. Então fazíamos mudanças constantes, quase que diárias, no fluxo de trabalho e nas estratégias”, contou o professor Marcos Freire, diretor do HU. Ele explicou que houve uma adaptação do espaço, para que os setores de atendimento de pacientes com covid-19 ficassem  isolados dos demais. O hospital chegou a abrir 60 leitos de CTI para o atendimento durante a pandemia. Hoje, são 32 de CTI, todos ocupados até o fechamento desta edição, e 34 de enfermaria exclusivos para a doença. “Estamos nos preparando para abril e maio, que devem ser meses complicados”, informou o professor.

Para Marcos Freire, o trabalho feito pelo HU no último ano foi muito importante, especialmente se analisados os resultados. Com base nos dados do painel informativo criado pelo HU, até a quarta-feira (17), haviam sido atendidos 997 pacientes com suspeita de covid-19, dos quais 760 foram confirmados. O índice de letalidade de pacientes internados com a doença na unidade foi de 32,5%. “Fomos uma das únicas unidades do país a ter essa transparência nos dados, e uma das menores mortalidades”, exaltou o professor. “Acredito que somos uma das melhores unidades na pronta resposta ao atendimento na pandemia”, defendeu o professor, que aproveitou a ocasião para exaltar toda a equipe do hospital.

A diretora médica adjunta do HU, Rosana Lopes Cardoso, também engrandeceu o empenho de toda a equipe. “Não só a equipe assistencial, que brilhou e fez um ótimo trabalho, mas toda a estrutura administrativa, que é gigantesca, teve um comprometimento enorme”, defendeu a professora. “O sistema público é tão desacreditado, mas esses servidores públicos e terceirizados exerceram um serviço público sob as maiores adversidades”, contou Rosana, que atribui ao empenho de todos os funcionários do HU o êxito no atendimento durante a pandemia.

“Sabemos da pressão no sistema de saúde. Entramos na guerra porque sabíamos que a guerra chegaria até nós, mas também por entender o nosso papel social. O papel do hospital público é atender a população”, contou Rosana, lembrando que a decisão de receber pacientes com coronavírus foi da UFRJ. Médica intensivista, a diretora médica adjunta é chefiada pelo infectologista Alberto Chebabo, diretor médico do hospital. “São as especialidades mais afins ao enfrentamento da pandemia”, disse a médica.

Rosana Lopes Cardoso falou também do trabalho intenso da equipe médica do HU no último ano. “A rotina de quem está no CTI de covid-19 é exaustiva. Os pacientes têm um quadro grave, a taxa de mortalidade dos pacientes em ventilação mecânica chega a 60%. Então é muito pesado”, desabafou. “Ter que tomar a decisão de intubar um paciente, ou outros horrores que vemos nas redes sociais, são coisas que acontecem diuturnamente”. As condições de saúde de um paciente de covid-19 exigem atenção permanente da equipe. “A taxa de ventilação mecânica em um CTI é normalmente 30%. Em um CTI de covid-19, de 80% a 100% dos pacientes estão intubados, e quanto mais suportes avançados de vida, maior o trabalho para os profissionais de saúde.  Nesse cenário não há perspectiva de descompressão. Se acontecer no Rio o que está acontecendo no resto do país, vamos passar por muita pressão”.  Ventilação mecânica é o suporte oferecido, por meio de um aparelho, ao paciente que não consegue respirar espontaneamente.

Em março do ano passado, a UFRJ montou o Centro de Triagem Diagnóstica (CTD), que funciona em parceria com o Laboratório de Virologia Molecular, e atende a profissionais da rede pública de saúde e a comunidade universitária. “A implementação do CTD mostra que a universidade é capaz de dar uma boa resposta à sociedade”, disse Rafael Galliez, coordenador adjunto da unidade e professor de Infectologia na Faculdade de Medicina.

O CTD funciona no Bloco N do Centro de Ciências da Saúde (CCS). As atividades são mantidas por professores, alunos, técnicos e voluntários de outros centros. Em um ano, já foram feitos mais de 30 mil testes e 25 mil atendimentos. “Respondemos do ponto de vista do acesso ao diagnóstico para os profissionais de saúde que precisaram manter suas atividades durante esse período, e desenvolvendo uma série de pesquisas, o que é o papel da universidade”, contou Rafael, que também mencionou que as amostras coletadas no CTD ajudaram a identificar a variante do coronavírus que tornou-se mais comum no Rio de Janeiro.

Fez diferença a velocidade com que a UFRJ agiu. Essa é a avaliação de Leôncio Feitosa, coordenador do Complexo Hospitalar. “Antes mesmo de a OMS decretar a pandemia, a reitoria já tinha criado um comitê de crise sobre o coronavírus, que se tornou um grupo de trabalho coordenado pelo professor Roberto Medronho”, explicou.

O GT Coronavírus foi criado em fevereiro do ano passado. Iniciativas como o CTD, a preparação do HU para receber pacientes com covid-19 e as pesquisas de tratamentos e testes diagnósticos começaram a ser discutidas dentro do grupo. “O grande papel da UFRJ é aprofundar o conhecimento e desenvolver linhas de pesquisas para contribuir para o melhor entendimento dessa doença. Produzir conhecimento e oferecer assistência à saúde dos pacientes infectados pelo vírus”, explicou o professor Roberto Medronho, que coordena o GT.

Para Leôncio Feitosa, a UFRJ teve uma atuação exemplar entre as universidades públicas, e mais poderia ter sido feito se houvesse apoio do governo federal. “A UFRJ talvez tenha sido a universidade que melhor agiu no combate à covid-19, justamente pela quantidade de suas frentes de atuação. Abrir dezenas de leitos de CTI específicos para a covid-19 não é pouca coisa. É um feito. Imagina fazer tudo isso e ter um governo apoiando as ações?”, indagou o dirigente.

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