facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.142 Serge Haroche e May-Britt Moser Esgotamento energético, mudanças climáticas, fome. Nunca a Ciência foi tão necessária para garantir a sobrevivência humana no planeta. Paradoxalmente, talvez ela nunca tenha sido tão desprestigiada.  “Os próximos trinta anos não serão possíveis se não avançarmos em energia limpa”, alerta Serge Haroche, Nobel de Física em 2012. “Mas muitas pessoas não aceitam a realidade, são incapazes de respostas racionais”. A convite da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Nobel Prize Outreach (braço de comunicação da Fundação Nobel), Haroche discutiu o valor da Ciência com outros nomes de peso da comunidade científica internacional, na quinta-feira (8), no debate “O Valor da Ciência”. O evento é prévio do Diálogo Nobel Brasil 2022, que reunirá vencedores do Prêmio Nobel e outras lideranças intelectuais para discutir ‘O Futuro Que Queremos’. O conteúdo integral pode ser acessado pelo Youtube.
Na visão de Haroche, a Ciência tem sido muito atacada por teorias conspiratórias, mas “o negacionismo vai além da Ciência”. “Muitos consideram que a globalização fez com que parte da população se sinta disfuncional no sistema, se fechando em comunidades, compartilhando crenças que as mantêm juntas. A Ciência não é uma cola”, argumenta o físico, que nasceu em Casablanca, no Marrocos, e mudou-se aos 12 anos com os pais para a França, onde construiu sua vida acadêmica. Ele é naturalizado francês.
“Você não pode forçar o interesse de alguém que realmente não está interessado”, opina a neurocientista norueguesa May-Britt Moser sobre o tema. A Nobel de Medicina em 2014 concorda que o mal-estar contra a Ciência tem origens sociais mais profundas, relacionadas à exaltação do “medo” e da noção paranoica de “inimigo”. O caminho estaria em uma política educacional que estimulasse experiências positivas com o conhecimento científico, desde a educação básica, a partir da “curiosidade infantil” pela natureza.  
O papel do professor é central na visão de ambos os cientistas. “Os professores são muito importantes e não são reconhecidos. Muitas vezes realizam seu trabalho sob muitas adversidades. Eles deveriam estar em uma posição melhor”, critica Haroche.
Moser acrescenta à fórmula “antinegacionista” o componente “diversidade”, exemplificando com o caso do próprio laboratório de pesquisa: “A neurociência requer muito conhecimento específico, mas também muito conhecimento sobre cultura. Trabalhamos arduamente para termos pessoas com diferentes visões e ideias, porque assim podemos ter diferentes energias”.   
“E o que acontece com o Brasil hoje?”, questiona o mediador do debate, Adam Smith, diretor científico da Nobel Prize Outreach. A situação do país frente à pandemia finaliza o bloco de reflexões. “A situação no Brasil é terrível. Temos quatro mil mortes em 24 horas. Há um grande esforço para se obter uma vacina segura ao mesmo tempo em que vemos o patrocínio de drogas falsas e ineficientes”, resume o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, professor do Instituto de Física da UFRJ. O presidente da ABC destaca ainda a “recente e acelerada” desidratação financeira das universidades e das agências de financiamento à pesquisa. E arremata: “O negacionismo mata”.
Já a ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Helena Nader, frisa que formadores de opinião negacionista, no Brasil, “estão muito envolvidos com a política”. “De fato, o único caminho para mudar todo esse cenário é por meio da Educação e da Ciência”, conclui.

WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.145 de abril de 1832.  O navio britânico Beagle atraca no porto do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, e traz a bordo o cientista inglês Charles Darwin. Ele está na América do Sul para estudar terras e águas da região. Já passou pela Ilha de Fernando de Noronha e pela cidade de Salvador, onde ficou horrorizado com os desmandos escravagistas da elite local. Passados 189 anos do desembarque do pai do evolucionismo, pesquisadores da UFRJ realizaram o Darwin Day, no último dia 5.
Totalmente on line, o evento celebrou a importância da pesquisa científica e recuperou a histórica viagem de Darwin – só no Rio ele ficou quatro meses e realizou estudos fundamentais para as teorias que iria desenvolver anos depois. Organizado pela PR-5 e com a participação de pesquisadores das mais diversas áreas, o Darwin Day abordou assuntos como evolução, saúde pública, negacionismo e darwinismo social.
“A passagem do Darwin pelo Brasil foi muito importante para a construção posterior da Teoria da Evolução pela seleção natural”, destacou Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Professor da UFRJ, ele está finalizando um livro sobre a viagem de Darwin, com todos os textos escritos pelo cientista referentes ao percurso no Brasil. “A viagem trouxe para ele uma questão central, que era explicar a imensa diversidade de espécies de animais e plantas que viu no Brasil desde os primeiros dias aqui”.
No debate “Negacionismo, Criacionismo e Darwinismo”, Ildeu, Pablo Gonçalves (NUPEM/UFRJ) e Maria Isabel Landim (Museu Zoologia/USP) ressaltaram algumas das dificuldades que o britânico enfrentou ao apresentar a sua mais famosa teoria. “No século 19, defender as ideias do Darwin tinha o peso moral de confessar um assassinato. Ele sofreu muito, e teve muitas crises de ansiedade por isso”, contou a professora Maria Isabel.
Darwin tinha apenas 23 anos de idade quando veio ao Brasil – ao todo a viagem durou cinco anos e percorreu vários países. Cada um contribuiu para a formação da teoria de Darwin. Em terras brasileiras, ele fez o primeiro contato com a floresta tropical, anotou tudo, coletou materiais, que depois enviou para a Inglaterra. O mentor de Darwin, que o indicou para a viagem, o professor e botânico John Henslow, era quem recebia as amostras e as entregava para análise de especialistas. Devido à qualidade do material enviado, Darwin já era um famoso cientista quando voltou para a Inglaterra em 1836.
Essa nova forma de enxergar a vida motivou, posteriormente, outras pessoas a desenvolverem teorias como o “Darwinismo Social”, debatido na terceira mesa do Darwin Day. “O que nós chamamos de forma ampla de ‘Darwinismo Social’ é uma perspectiva que tenta aplicar esses princípios gerais apresentados por Darwin nas sociedades humanas, para além do contexto biológico”, comentou Claudia Carvalho, professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. “É uma visão em que as leis da natureza seriam análogas às leis da sociedade”.
O Darwin Day também foi provocado pelo aumento da onda negacionista no mundo, e particularmente no Brasil, onde autoridades tentam deslegitimar os esforços da ciência no enfrentamento da pandemia. “Variantes da covid-19 e Evolução” foi o tema do debate de encerramento do Darwin Day, que contou com a participação do virologista Amilcar Tanuri (UFRJ), do infectologista Roberto Medronho (UFRJ) e da biomédica Jaqueline Goes (USP), que apresentaram suas pesquisas relacionadas ao assunto. Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ, também esteve presente, e ressaltou as ações da Universidade durante a pandemia. “Com certeza Darwin estaria muito orgulhoso do que a nossa instituição tem feito pela ciência e pelo avanço do conhecimento no país e no mundo”, finalizou Denise.

MEMES DARWINISTAS

•A inventividade do jovem Darwin influencia até mesmo aspectos culturais da juventude atual. Essa é a aposta de pesquisadores da Escola de Comunicação da UFRJ.

“Darwin é o inspirador de uma nova teoria no campo da comunicação: a memética, decisiva para entender o mundo e as mídias pós-cultura digital”, ressaltou Ivana Bentes, professora da ECO e pró-reitora de Extensão, que debateu o tema na segunda mesa do evento “Darwin e a cultura dos memes: Memética e Neodarwinismo” com o professor Viktor Chagas (UFF) e Gabi Juns, coordenadora do Instituto Update.

•Além das lives, a programação do Darwin Day contou também com diversas atividades gravadas.

•Professores e alunos da UFRJ produziram vídeos para discutir, a partir da figura de Charles Darwin, seus mais variados objetos de pesquisa.

Elisa Monteiro e Silvana Sá

WhatsApp Image 2020 05 15 at 19.10.03 1O professor Ricardo Berbara não foi nomeado pelo MEC - IMAGEM: REPRODUÇÃOA Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) é o mais novo alvo do governo federal. Na quarta-feira (31), Bolsonaro nomeou o terceiro colocado na lista tríplice da instituição. O professor Roberto de Souza Rodrigues era pró-reitor de Planejamento do reitor Ricardo Berbara, que foi reeleito pela comunidade acadêmica. O primeiro mandato de Berbara expirou na sexta-feira, dia 26. “Desde sábado ficamos com a reitoria vaga. Ontem (terça, 30), o Conselho Universitário designou um reitor interino. Hoje, a situação já mudou completamente”, lamentou a professora Marina Cordeiro, diretora da Adur, seção sindical dos professores da Rural. A lista tríplice foi enviada ao governo em dezembro.
O reitor Ricardo Berbara sinalizou que a administração central seguirá resignada e o nomeado tomará posse. “O professor Roberto é a pessoa que nos dará a tranquilidade institucional para seguir nossos projetos pelos próximos quatro anos”, afirmou. O reitor justificou seu posicionamento. Para ele, inicialmente, bastaria o segundo e o terceiro colocados da lista renunciarem ao cargo, para que o governo federal fosse obrigado a nomeá-lo. “Mas fomos alertados para o risco de o Executivo nos impor uma nova lista. Além disso, poderia recair sobre César (Cesar Augusto da Ros, o segundo colocado) e Roberto o crime de prevaricação. Quando a gente envia a lista para o governo, aceita que qualquer um dos nomes seja acatado. Esta legislação pode ser usada contra nós”, avaliou.
César Augusto da Ros pediu solidariedade ao reitor legitimamente eleito e ao reitor nomeado. “O projeto de gestão foi apreciado e aprovado pela maioria da comunidade universitária. E a partir dele foi montada a lista tríplice. O professor Berbara vai compor conosco a gestão”, garantiu. “O funcionamento da universidade não estará comprometido e a luta não estará excluída. A luta passa, também, pela revisão da lei da lista tríplice”, afirmou.
Roberto de Souza Rodrigues, o reitor nomeado, pediu compreensão da comunidade acadêmica “para que a universidade consiga passar por este momento de adversidade, mas também de bastante aprendizado”, ponderou. “Neste momento, nosso posicionamento foi ‘chapa eleita, chapa empossada’”.
No mesmo dia da nomeação, uma plenária virtual reuniu 390 pessoas da universidade. Os participantes entenderam que o reitor nomeado não é um interventor, mas que a ação do governo representa um ataque à autonomia da instituição. Por isso, vão continuar em campanha para que Berbara assuma a reitoria. Até lá, exigem que o docente participe da nova gestão. “Quem tem direito de escolher o reitor é a comunidade universitária”, justificou Ivanilda Reis, diretora do Sintur (sindicato dos técnicos). “Essa política que Bolsonaro adota, a gente rejeita”, diz ela. Para Rodrigo Sousa, do DCE, a autonomia foi desrespeitada. “Bolsonaro quer apenas colocar sua vontade acima de qualquer outra. Apesar de o terceiro colocado fazer parte do mesmo grupo político, devemos seguir na luta pelo direito de ter o reitor que nós elegemos”.

Cenário era previsto
Na segunda-feira (29), os professores, técnicos e estudantes fizeram uma primeira reunião para debater estratégias para garantir a autonomia universitária. Além de uma frente jurídica, os movimentos da universidade vão se inserir na campanha nacional “Reitor eleito, reitor empossado”, que reúne Andes, Fasubra e instituições que sofreram intervenção. “Desde o início, o governo Bolsonaro não está nomeando o primeiro nome da lista ou simplesmente coloca um interventor”, argumentou o professor Marcelo Fernandes, diretor da Adur.
WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.46.001A Adufrj acompanha a mobilização. “Mais uma vez o governo Bolsonaro apronta das suas e ofende mais uma comunidade universitária. O objetivo, todos sabemos, é causar confusão, inviabilizar a universidade”, avalia o vice-presidente Felipe Rosa. “Tenho certeza de que nossos colegas ruralinos saberão lidar com esse desmando e manter a UFRRJ na sua missão universitária, que é justamente o que este sujeito mesquinho, que alguns chamam de presidente, quer evitar”, acrescentou.
A Rural realizou Consulta Pública Virtual sobre a gestão 2021-2025 nos dia 24, 25 e 26 de novembro.  O então reitor, professor Ricardo Berbara, ficou em primeiro lugar com 3.993 votos. O docente do Instituto de Economia, José Antônio Veiga, ficou em segundo, com 3.182 votos, e reconheceu a vitória do concorrente. A lista, então, foi montada com integrantes da chapa vencedora.

Alexandre Medeiros e Ana Beatriz Magno

ENTREVISTA I FRANCISCO CARLOS TEIXEIRA, PROFESSOR TITULAR APOSENTADO DE HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA DA UFRJ E PROFESSOR EMÉRITO DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (ECEME)

francisco carlos teixeira da silvaProfessor Francisco Carlos Teixeira - IMAGEM: REPRODUÇÃOProfessor do Instituto de História da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira tem longa convivência com os círculos militares. Foi assessor do Ministério da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional. Generais e almirantes hoje em postos de comando foram seus orientandos de mestrado e doutorado na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército ou seus alunos na Escola Superior de Guerra. Nesta entrevista, ele fala sobre a maior crise militar da história do país, com a demissão do ministro da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas, da “fábrica” de crises e do ímpeto autoritário do presidente Jair Bolsonaro.

Jornal da AdUFRJ - A decisão do presidente Jair Bolsonaro de criar essa crise com os militares às vésperas do dia 31 de março foi só uma coincidência?
Francisco Carlos Teixeira - Não foi uma coincidência. Na verdade, essa crise militar não tem uma causa só. Mas o fato desencadeador foi a pressão de Bolsonaro sobre o ministro Fernando de Azevedo e Silva para que ele “bombasse” uma nota das Forças Armadas, e talvez até promovendo uma parada, um desfile no 31 de março e o Fernando e o Pujol (general Edson Leal Pujol, ex-comandante do Exército) terem se recusado. Essa crise ter se desencadeado no 31 de março é, portanto, muito significativo.

O senhor não acha que, vencendo a queda de braço com os comandantes militares, Bolsonaro poderia ter provocado uma Ordem do Dia mais dura do que a que foi divulgada pelo novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto?
A nota não deveria nem existir. Nós deveríamos transformar o 31 de março num dia em honra à democracia, aos mortos e aos desaparecidos. Se é para fazer alguma coisa no dia 31 de março, essa tinha que ser a tônica. Mas sempre houve, por parte dos militares, uma nota celebratória do 31 de março pela visão das Forças Armadas. E essa Ordem do Dia era lida dentro dos quartéis. Eles nunca deixaram de comemorar o 31 de março, nem mesmo nos governos de esquerda, como o de Lula. Mas, em geral, era uma coisa muito discreta. Eles foram se assanhando a partir do governo Temer e, este ano, era para ser algo com muita pompa por causa do Bolsonaro. Mas deu esse chabu. A nota emitida foi muito contida mesmo, e isso deve ter desagradado profundamente o Bolsonaro. Com certeza, ele queria uma coisa glorificadora.

A nota fala até em democracia. Foi uma nota hesitante?
Sim, a nota fala que o movimento dependeu da conjuntura, em celebração, em pacificação, entre outras coisas inaceitáveis. Mas, na verdade, a nota mostra uma diferença ou, pelo menos, uma autonomia das Forças Armadas em relação ao que o Bolsonaro pretendia fazer. Daí a irritação muito grande dele, principalmente contra o Pujol. Essa nota passou pelo alto-comando do Exército, é uma nota de consenso. O Braga Netto pegou essa nota praticamente pronta, ele assina porque é o ministro, mas ela vem do alto-comando, que é composto por 17 generais da ativa, sendo 16 generais de Exército, mais o comandante.  

Qual a sua visão sobre o general Braga Netto?
É um general respeitável do Exército brasileiro. Foi destacado para fazer a intervenção fedral no Rio de Janeiro. Mas qual foi o resultado dessa intervenção? Foi durante a intervenção que a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados. Qual a prestação de contas que o general Braga Netto deu a respeito da morte da Marielle? Por que ele vai para dentro do palácio presidencial após a eleição de Bolsonaro? Por que, no meio da crise militar mais aguda da Nova República, ele é nomeado ministro da Defesa para controlar essa crise? Por que a Polícia Civil do Rio de Janeiro até hoje não requisitou os dados da inteligência da intervenção do Exército sobre a morte da Marielle. São perguntas que me faço.   

Da forma como foi feita, a saída coletiva dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica é inédita. O senhor vê paralelo com a demissão, em 1977, do então ministro do Exército, Sylvio Frota, pelo presidente Ernesto Geisel?
Algumas pessoas têm feito essa comparação, ou mesmo com a queda do Viegas em 2004 (José Viegas Filho, diplomata e ministro da Defesa no governo Lula em 2003 e 2004). Cada crise tem seu desenrolar. E essa agora é muito original porque ela é provocada pelo presidente da República. É ele que provoca a crise, por isso é inédita. As crises anteriores sempre foram contra os presidentes da República.

Mais uma crise provocada pelo Bolsonaro, não é?
Há um historiador inglês, Ian Kershaw (autor de várias obras sobre Adolf Hitler e um dos principais estudiosos do nazismo, do fascismo e das ditaduras), que fala que alguns ditadores só conseguem governar através de crises. É o que ele chama de radicalização cumulativa. Esses ditadores mantêm suas bases coesas de crise em crise. O estilo do Bolsonaro é o de gerar crises. Esse é seu processo. Se ele mantiver um governo minimanente organizado, administrando a pandemia, o desemprego e a fome que volta ao país, ele vai ter que apresentar resultados. Como ele não tem resultados para apresentar, ele governa gerando crises. Nós estamos há vários dias discutindo generais e patentes enquanto a pandemia está matando três mil ou mais pessoas por dia. Isso é vergonhoso.

A crise militar gerada por Bolsonaro é também uma crise de autoridade nas Forças Armadas? Não parece que ele está mandando um recado para as baixas patentes retirando comandantes que não lhe agradam em instituições que são marcadas pela hierarquia, criando uma fenda, uma divisão?  
Essa crise favorece Bolsonaro. Não sou daqueles que acham que ele está fraco, acuado ou para cair. Eu acho que isso é projeção do próprio desejo. Ele não enfrentaria as Forças Armadas se ele estivesse fraco. Ele já sabia que o alto-comando não o apoiava mais. Ele não esperou para ver o resultado disso, ele foi lá e atacou. Ele dividiu a alta oficialidade, da qual sempre teve uma desconfiança, das baixas patentes. Afinal de contas, ele foi expulso do Exército como tenente, só foi a capitão por causa da reforma. Ele nunca gostou da alta oficialidade, essa nunca foi a sua turma. Ele falou para baixo, para a turma dele. Ele cravou uma cunha no meio das Forças Armadas.

Além dessa turma de baixas patentes, Bolsonaro tem forte influência também entre policiais federais, civis e militares. Isso não é um risco para quem tem inclinações autoritárias?
Bolsonaro continua sendo o mito para cabos, sargentos, soldados. E ele tem fortíssimo apoio nas polícias militares. As PMs têm hoje no Brasil 430 mil homens armados. Isso é muito mais do que o conjunto do Exército, que tem 290 mil homens de tropa, entre os quais 70 mil recrutas. O equipamento efetivo para a luta não é totalmente utilizável, algumas avaliações dão conta de que não temos condições de suportar mais do que algumas horas de combate. As PMs estão muito mais bem equipadas e preparadas para um tipo de combate próprio a um golpe de estado ou um levante, que é o combate de rua. Não é combate de selva, batalha naval, bombardeio aéreo. São 430 mil homens das PMs e 411 mil das guardas municipais. Sendo que das 26 cidades que têm Guarda Municipal, 19 são armadas.  

Bolsonaro tentou emplacar esta semana, em regime de urgência, um projeto que lhe dava amplos poderes, inclusive o controle das polícias militares dos estados. Seria como institucionalizar esse “exército” paralelo?
Ele já avisou que só perde a eleição em 2022 se houver fraude, à la Trump. Isso é uma ameaça terrível à democracia. E também já disse que, quando terminar o mandato, ele e sua família vão ter que sair do Brasil, porque sabe que vai ser preso. Essas duas coisas juntas criam um clima extremamente ruim para a democracia. Eu acho que a gente às vezes banaliza a questão do estado de sítio ou de defesa, que para vigorarem devem ser aprovados pelo Congresso. Tenho um bom diálogo com almirantes e generais, muitos deles meus alunos na Eceme. Não acho, nas condições atuais, que militares em comando tenham intenção de apoiar um golpe. Vejo alguns militares da reserva, como o general Heleno (Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional), tramando dentro do Palácio do Planalto. O general Heleno é uma das pessoas mais nefastas da Nova República. Ele era o capitão oficial do gabinete do Sylvio Frota, ele conspirou contra o Geisel, contra a abertura política. Ele conspirava contra generais na ditadura. É um golpista.

Mas se os militares em comando não apoiariam qualquer tentativa de golpe, pode-se dizer o mesmo desse “exército paralelo” de policiais?
O grande risco hoje no Brasil é a via boliviana. Corremos o risco de repetir aqui o que ocorreu na Bolívia, como já se esboçou no Ceará e, há poucos dias, na Bahia. Estabelecida a desordem, com a Polícia Militar amotinada, vem o segundo passo: as Forças Armadas são obrigadas a ir para as ruas para o pretenso restabelecimento da ordem. Foi isso que aconteceu na Bolívia, quando milícias e polícias atacaram o Congresso e as instituições de esquerda, e aí o Exército foi para a rua, mas já com o Congresso fechado, com os deputados de esquerda presos ou refugiados no exterior. Se esse cenário se repetisse aqui, no Ceará ou na Bahia, os dois governadores, que são de oposição, já estariam depostos. A história é totalmente indeterminada, não é possível prever se a via boliviana ocorrerá aqui. Mas há o risco.

Como a oposição pode fazer frente a essas ameaças?
A gente não tem hoje uma oposição articulada para enfrentar uma situação crítica como essa. Há desde gente achando que o Bolsonaro está fraco e pronto para cair até pessoas que acreditam que ele saiu mais fortalecido dessa crise militar. É muito difícill unir a oposição. O fato de a gente não conseguir reunir um grupo para fazer uma vigília, de máscara, na porta do Ministério da Saúde, é uma vergonha. Estamos sendo massacrados por um genocida sem reação. Parece que estamos vivendo num conto de realismo fantástico.

WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.59A pandemia aumenta, a tensão se multiplica e o ensino remoto não dá trégua. O semestre mal começou e o clima já é de exaustão na UFRJ. Em maior ou menor grau, conforme a unidade. É uma fadiga acumulada e potencializada pelos diminutos intervalos de recesso desde o começo do PLE em agosto. Mas o pior ainda está por vir. O segundo período de 2020 termina em junho e o calendário prevê apenas duas semanas de pausa antes do início do 2021.1. Diante de tão pouco tempo de descanso, a AdUFRJ pede uma revisão imediata das datas.
“É preciso ampliar o intervalo entre os anos letivos de 2020 e 2021”, propõe a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. “Ao minguar todos os argumentos, que nos reste ao menos a compaixão, a solidariedade e a empatia num momento de tanto sofrimento que o agravamento da pandemia tem trazido para todos nós. São muitas e pesadas perdas, precisamos respirar”.
Em nota publicada (leia a íntegra abaixo) na última terça-feira, 30, a diretoria da AdUFRJ relata os múltiplos problemas enfrentados pela comunidade acadêmica nos semestres remotos anteriores. E defende ainda uma decisão rápida do Consuni para impedir o prolongamento da discussão por vários meses, como ocorreu em 2020. O tema será debatido também na próxima reunião do Conselho de Representantes do sindicato, dia 7.
A diretoria lembra que o sindicato apresentou – e perdeu – proposta de ampliação do recesso para três semanas entre os períodos remotos. “Afirmamos, na ocasião, que duas semanas seriam insuficientes para lançar notas, avaliar a experiência remota, preparar os cursos do próximo semestre e ainda exercer o direito a um descanso mínimo”, diz trecho da nota, escrita na terça-feira, um dia antes da última reunião do Conselho de Ensino e Graduação.
No CEG, a pró-reitora de Graduação, professora Gisele Pires, afirmou que a ideia inicial da reitoria é manter os mesmos 15 dias de pausa entre os períodos 2020.2 e 2021.1, mas defendeu um recesso de 30 dias antes de 2021.2. Ela disse que medida está sendo preparada e vai ser discutida no CEG na semana que vem. “Não tínhamos conhecimento do calendário proposto pela PR-1 quando escrevemos a nossa nota, mas ela insiste numa solução que sobrecarrega docentes e técnicos em junho. Precisamos de um alívio, estamos exaustos”.  
O “alívio” no calendário, segundo a proposta da PR-1, só aconteceria nos recessos seguintes. Seriam 30 dias de intervalo entre o primeiro e o segundo semestres de 2021 (de 9 de outubro a 8 de novembro), um curto recesso de fim de ano (entre 24 de dezembro e 2 de janeiro de 2022) e intervalo maior entre o segundo semestre de 2021 e 2022 (de 26 de fevereiro a 5 de abril). O documento será apreciado na próxima sessão do colegiado.WhatsApp Image 2021 04 02 at 08.45.591

CANSAÇO É A TÔNICA
“Para todo mundo, está sendo muito cansativo”, contou o professor Antônio Carlos Jucá, diretor do Instituto de História. “Os semestres ficam muito próximos. Não dá tempo de descansar, não dá para tirar férias. No final do semestre, o professor precisa corrigir as provas e trabalhos, lançar as notas e já está na hora de começar outro semestre”, explicou. O diretor ainda mencionou que o curto espaço entre os períodos gera uma sobrecarga do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA). “As 12 semanas de aula são poucas, mas o que está afetando mais os professores é o espaço muito curto de 15 dias, que não dá nem para chamar de recesso”, defendeu Jucá.
O esgotamento físico e mental também causa grande preocupação ao diretor adjunto de Ensino e Graduação da Faculdade de Letras, professor Humberto Soares. “A preparação administrativa do semestre sobrecarregou todo mundo. Precisamos pedir ajuda para funcionários de fora da Faculdade de Letras para fazer inscrição de calouros, regularização de inscrição, abertura de turmas”, contou o professor. “Sempre é muito corrido, mas com duas semanas entre os semestres é quase impossível. No meu entendimento, estamos no limite”, relatou
Para Humberto, o aumento do período de recesso é fundamental para preservar a saúde dos professores e técnicos, mas outras melhorias podem ser feitas. “Precisamos que as coisas sejam mais automatizadas no SIGA”, resume. De acordo com o professor, a Faculdade de Letras tem 4.300 alunos, quase 10% de todos os alunos de graduação da UFRJ, e apenas seis funcionários na seção de ensino e secretaria acadêmica.
Em outros cursos o cansaço é menor, mas ainda assim o recesso pequeno cria dificuldades. “Nós da coordenação estamos muito apertados com os prazos. O calendário ficou muito apertado em termos administrativos”, contou Carolina Pizoeiro, coordenadora de Graduação da Faculdade Nacional de Direito. “Estamos nos desdobrando para acertar o calendário, entendendo que estamos em um período excepcional”, disse. “Trabalhamos para evitar perder vagas do Sisu 2021”.
A professora explicou que, no Direito, o período 2020.1 foi tranquilo por conta da alta participação de professores e alunos no PLE. “A FND teve adesão de 100% dos professores e 95% dos alunos no PLE”, contou. “Em 2020.1 tivemos turmas bem menores”. O ensino remoto também facilitou a oferta de atividades extras no planejamento das aulas, o que compensou o tempo mais curto de aulas. Ela avalia que o período 2020.2 também deve ser um pouco mais fácil na FND. “Muitos professores gravaram as aulas no PLE, então as coisas devem ser mais tranquilas agora”.
 
PR-1 DEFENDE CALENDÁRIO
Oferecer vagas no Sisu 2021 era uma das preocupações da Pró-Reitoria de Graduação durante a discussão do calendário. Segundo o superintendente geral da PR-1, professor Marcelo de Pádula, o resultado foi positivo neste aspecto. “O calendário permitiu atender, simultaneamente, ao retorno das atividades didáticas e à adesão ao Sisu ofertando 100% das vagas”, disse o superintendente. “A UFRJ vai oferecer 9.280 vagas”.

Nota da AdUFRJ sobre o Calendário Acadêmico

A diretoria da ADUFRJ vem conduzindo a entidade em meio aos desafios impostos pela pandemia da covid-19. Reconhecida em março de 2020 pela OMS, a pandemia impôs à universidade uma mudança radical na sua forma de organização e efetivação da sua missão, com a adoção da modalidade remota para o ensino, pesquisa, extensão, grande parte da administração, assim como para as atividades associativas e sindicais. Desde então buscamos nos somar às lutas em defesa da vida e da democracia, assim como da educação e do conhecimento produzido pela universidade pública brasileira. Ao mesmo tempo, buscamos fortalecer a nossa organização sindical como um escudo e um lugar de acolhimento para todas e todos os docentes da UFRJ, com suas mais variadas demandas e necessidades.
Foi com esse espírito que nos posicionamos ainda em 2020 sobre o calendário acadêmico universitário e apresentamos um recurso ao Consuni no dia 8 de outubro, propondo ampliar o recesso entre os períodos de 2020 de duas para três semanas, amparado em parecer de nosso serviço jurídico. Afirmamos, na ocasião, que duas semanas seriam insuficientes para lançar notas, avaliar a experiência remota, preparar os cursos do próximo semestre e ainda exercer o direito a um descanso mínimo.
De fato, não foram poucos os problemas que tivemos nesses dois semestres: em muitas unidades as/os docentes não sabiam sequer quais eram suas turmas. A sobreposição com a Jornada de Iniciação Científica no começo de 2020.2 agravou a situação, pressionando ainda mais a nossa categoria. E, mais grave do que todos os problemas acadêmicos e burocráticos, tivemos o violento agravamento da crise sanitária, que vem nos impondo pesadas perdas individuais e coletivas.
Na semana passada, o problema já foi tema em congregações e grupos de professores se movimentam para fazer valer suas propostas. Precisamos de uma resposta imediata, por isso entendemos que essa discussão deve ir direto ao Consuni: é mister evitar que a deliberação se arraste por meses (como ocorreu em 2020), o que só vai aumentar os desgastes internos e a ansiedade sobre como será o nosso ano acadêmico de 2021. Além disso, não se trata mais de mera questão relativa ao ensino, mas de um tema que envolve toda a comunidade em suas múltiplas dimensões. No dia 7 de abril, em nossa reunião mensal do Conselho de Representantes, o assunto estará em pauta para que possamos discutir uma estratégia comum, que nos unifique e fortaleça.

Topo