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O verbo é esperançar. Como é possível ter uma mensagem otimista diante do caos social, humanitário e econômico que passa bem diante dos nossos olhos? É difícil enxergar um alento, mas ele existe a cada ação desempenhada por pessoas — voluntárias ou profissionais — que atuam no combate à pandemia. E nas que recebem a vacina. Aos 72 anos e vacinado, o médico Leôncio Feitosa coordena o Complexo Hospitalar da UFRJ. Sua experiência de vida e de atuação na saúde nos ensina a olhar o mundo sob múltiplas perspectivas.

“Este é um ano de tristeza, são quase 300 mil mortos. Temos um governo inoperante, com um grau de iniquidade muito grande, negacionista. Mas o sentimento não é só de pessimismo”, ele diz. “Há um misto de satisfação pelo fato de a UFRJ ter tantas ações que mostram a universidade pujante”.

Uma dessas ações de impacto é a vacinação no Rio de Janeiro. A UFRJ coordena três postos drive-thru, em que a pessoa recebe a dose do imunizante no carro. Um deles é na Praia Vermelha, outro funciona no Fundão e, um terceiro, no Sambódromo. “A contribuição dos voluntários no drive-thru é fenomenal”, orgulha-se o médico. “Os postos são um sucesso. Mas falta vacina. Estamos com 5% da população (da cidade) vacinada, mas poderíamos estar com 30%, e já haveria redução importante no impacto da doença nos hospitais”.

A coordenadora dos postos é a professora Carla Araújo, diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery. Em sua equipe ela conta com 2.510 alunos voluntários de diferentes cursos e períodos, prontos a contribuir para a imunização da sociedade. “A vacinação vem como alento num mar de dor. A gente vê muito isso nos drive-thrus. Na semana passada, um senhor de 86 anos nada falava, mas quando aplicamos a vacina, ele chorou. Vimos ali a esperança, a vacina como possibilidade de manter-se vivo”, lembra a docente. “Neste contexto em que estamos vivendo, estar vacinado faz toda a diferença”.

A AdUFRJ fez uma campanha de auxílio a docentes sindicalizados de 80 anos ou mais para levá-los aos postos de vacinação, na primeira fase da imunização. Foram contactados cerca de 150 sindicalizados. “Eles ficaram muito surpresos e gratos, mas as famílias já estavam providenciando a locomoção e não foi preciso nossa atuação”, conta Belini Souza, funcionário do sindicato. “Somente uma, que morava sozinha, precisou de apoio. Chegamos a agendar o serviço, mas um dia antes ela caiu e acabou sendo vacinada em casa”, revela. A docente passa bem.

Aos 90 anos, o professor emérito Edwaldo Cafezeiro, um dos idealizadores da AdUFRJ, conta a emoção em receber o imunizante. “Eu me senti muito bem, aliviado. Estava com receio de não ter a vacina”, lembra. Totalmente imunizado, o docente continua se cuidando e deixa um recado. “Eu recomendo que todas as pessoas tomem a vacina para que tenhamos segurança e para que essa doença acabe logo”.

Alívio e esperança também são sentimentos que embalam o professor e ator José Steinberg. Ele recebeu a segunda dose da vacina no dia 16 de março, um ano após o início da quarentena no Brasil. “Tirei uma preocupação de mim. Tenho 88 anos e outras doenças, então estou muito aliviado”, conta o docente aposentado da Faculdade de Letras. “Embora a gente saiba que a vacinação não foi organizada como deveria, é um momento de todos fazerem o esforço de irem procurar a vacina”.
A esperança é uma via de mão dupla e a gratidão não é só dos vacinados. “É uma satisfação poder levar à população uma oportunidade mais eficaz de se proteger do vírus. Faz parte da função social da universidade e nossa, como servidores e profissionais de saúde”, avalia a professora Carla Araújo.

O momento também é de aprendizado. “Para os estudantes, é uma oportunidade maravilhosa. Um exercício de cidadania. Uma formação que está para além da academia. Atendemos pessoas com Alzheimer de diferentes perfis — prostrados, sem expressão, agressivos. Eles aprendem a humanização do cuidado”, exemplifica. “Trazer para esses estudantes a importância de medidas desenvolvidas na atenção primária e como elas reduzem os impactos e custos na saúde secundária e terciária, é algo fundamental”, afirma. “Eles estão ajudando a população e, por outro lado, estão adquirindo vivências, experiências que jamais teriam em sala de aula”.

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