CULTURA O Boi Garantido, que rivaliza com o Caprichoso no Festival de Parintins, recepcionou os 313 docentes de 83 seções sindicais de todo o país na abertura do 68º Conad - Fotos: Eline Luz/AndesAlém do forte componente ambiental e da mobilização contra a privatização da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), o 68º Conselho (Conad) do Andes certamente ficará marcado como um “case” da exaustão da metodologia de debates e decisões nos conselhos e congressos do Andes. O encontro, realizado no campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, reuniu 313 docentes de 83 seções sindicais, de 11 a 13 de julho. E gerou, de forma inédita, um consenso em torno da necessidade de mudança da metodologia que transforma conselhos e congressos do Andes em longas e cansativas provas de resistência.
As longas e exaustivas jornadas — os trabalhos começam às 9h e podem se estender até 23h59 — são uma prática recorrente do grupo que há décadas controla a direção do sindicato nacional. Mas foram alvo de severas críticas no 68º Conad. O auge se deu no sábado (12), quando a plenária da noite, que deveria ser dedicada à atualização dos planos de luta, teve de se debruçar sobre questões ainda pendentes — os chamados “cabides” — do congresso do Andes realizado em janeiro. A pauta central da plenária sequer foi apreciada.
A professora Elisa Guaraná, presidenta da Adur, chegou a apresentar uma questão de encaminhamento propondo a imediata suspensão da análise dos “cabides”, mas a sugestão não foi acatada pela mesa. A plenária chegou ao fim sem que todas as pendências do congresso fossem resolvidas. Na manhã do domingo (13), diante da insatisfação generalizada com a condução desta questão, grupos de oposição e da situação chegaram a um acordo e a análise dos “cabides” foi suspensa.
“Esse episódio expõe a exaustão desse método de trabalho dos Conads e dos congressos do Andes. Uma metodologia que não melhora a qualidade do debate e acaba virando uma prova insensata de resistência”, criticou a vice-presidenta da AdUFRJ, professora Nedir do Espirito Santo, integrante da delegação do sindicato ao 68º Conad. As críticas à metodologia dos encontros nacionais do Andes são recorrentes nos grupos de oposição à atual direção do sindicato nacional.
QUESTÕES AMBIENTAIS
Afora as críticas ao método, a defesa do meio ambiente teve destaque no 68º Conad. O principal alvo foi o chamado PL da Devastação, em tramitação no Congresso. O projeto (PL 2159/2021) altera as normas de licenciamento ambiental no Brasil e é um retrocesso. Entre as medidas propostas está o “autolicenciamento”, pelo qual empreendimentos podem obter licenças automaticamente, sem análise prévia por órgãos ambientais.
“Isso pode resultar em mais desmatamento, poluição e impactos negativos sobre comunidades tradicionais e áreas protegidas. Trazer o Conad para cá tem muito simbolismo. Devemos lutar por uma Amazônia livre do desmatamento criminoso, do genocídio dos povos indígenas, da mineração desenfreada e da brutal violência contra seus defensores”, defendeu a presidenta da Associação dos Docentes da Ufam (Adua), professora Ana Lúcia Gomes.
O PL também é criticado por não considerar a emergência climática e por ignorar a necessidade de consulta prévia a comunidades indígenas e quilombolas.
O encontro de Manaus marcou a posse da nova diretoria do Andes para o biênio 2025-2027. A gestão é encabeçada pelos professores Cláudio Mendonça (presidente), da UFMA, Fernanda Vieira (secretária-geral), da UFRJ, e Sérgio Barroso (tesoureiro), da UESB. A delegação da AdUFRJ ao 68º Conad foi composta por 15 docentes, tendo à frente à presidenta Mayra Goulart (delegada).
O encontro também aprovou as contas de 2024 do Andes e decidiu que o 69º Conad será realizado em São Luís (MA).
CANTOS, RIMAS E BATUQUES MOSTRAM A FORÇA DA AMAZÔNIA
Foi difícil resistir ao apelo da menina Yará Sateré-Mawé. Aliás, foi impossível. Jovem cantora da etnia que primeiro desenvolveu o beneficiamento do guaraná, Yará separou a plateia em grupos por região e fez todos cantarem a “Farinhada” (Watynum U’i), de pé e batendo palmas, levando à plateia do 68º Conad um clima de alegria e emoção.
“Vocês gostam de farinha, não é? Então ajudem a gente a fazer a farinha?”, disse a cantora, com voz suave e marcante. Acompanhada pelo pai Natan (ao violão) e pela mãe Iaro e a irmâ Inara (na percussão), Yará proporcionou o momento cultural mais emblemático do encontro do sindicato nacional.
Sob a organização impecável da Adua, o 68º Conad trouxe às delegações de todo o país fortes expressões da cultura amazônica. Além do grupo Porating, formado por Yará e sua família, o encontro foi brindado com apresentações de maracatu, rap e toadas.
O grupo de maracatu Pedra Encantada, fundado em 2016, arrancou aplausos da plateia. Apadrinhado pela centenária Nação do Maracatu Porto Rico, fundada em 7 de setembro de 1916, o grupo trouxe canções do chamado “maracatu de baque virado”, que tem origem nos terreiros de candomblé. A força dos atabaques, gonguês e caixas fez os docentes ficarem de pé e acompanhar com palmas as canções.
O rapper W MC também não deixou ninguém ficar sentado. Com suas rimas de improviso que falam do cotidiano de um jovem de periferia em Manaus, o cantor expôs nos versos cantados o preconceito racial e as dificuldades de sobrevivência de boa parte dos brasileiros.
Já o grupo “Wotchimaücü”, da etnia ticuna, mostrou suas tradições culturais em forma de canto. O grupo foi formado em 2005 por indígenas de Tabatinga (AM) e hoje faz apresentações por todo o país.