A poluição da Baía de Guanabara pode ser vista a olhos nus, mas é na análise microscópica que se pode enxergar o tamanho da devastação ao ambiente aquático. Entre 225 peixes analisados pelo Laboratório de Ecologia Trófica, do Instituto de Biologia da UFRJ, 42% apresentaram microplásticos no estômago, conforme relatou a coordenadora, Gisela de Figueiredo. “Desde 2006, quando entrei na universidade, venho pesquisando a teia alimentar da baía, analisando o conteúdo dos peixes”, conta ela.
O laboratório pretende quantificar o microplástico nos animais da Baía de Guanabara, como as corvinas, os bagres e os mexilhões, e também na água. “É um problema sério, a baía está muito contaminada”, revela a professora. O projeto que investiga a questão do plástico faz parte de uma pesquisa maior, de longa duração, chamada Projeto Baías, financiado pelo CNPq e que procura desenvolver um retrato da situação na Baía de Guanabara. “Na minha linha de pesquisa quero entender a poluição, o dano aos organismos. A gente pode fazer algumas previsões, o quanto os organismos estão prejudicados e como pode deteriorar a saúde de quem come pescado e mexilhões”, explica Gisela. “Tem gente que vive pescando e comendo da baía”, completa.
REDUÇÃO DO CONSUMO
Apesar de já existirem tecnologias que permitem a retirada de plástico do oceano, com os microplásticos a situação é diferente. “A retirada de plástico do mar é possível, mas quando falamos de microplástico não tem como tirar, não tem como filtrar o mar inteiro”, afirma a professora. “É sobre entender o uso do plástico, compreender os malefícios, as pessoas precisam se sensibilizar com a questão do plástico e de outros poluentes”, reflete.
Gisela acredita ser urgente a redução do consumo. “A gente sabe que consumimos plástico, respiramos também, já estamos contaminados. Mas até quando isso vai afetar a saúde das pessoas?”, questiona. A professora também coordena o grupo de extensão Acessibilidade e Ciências do Mar, que reflete sobre o consumo e o impacto do plástico nos oceanos.
A estudante Izabela Maria Ramirez, graduanda em Biologia da PUC-Rio e orientanda de iniciação científica da professora Gisela de Figueiredo, investiga se ostras e mexilhões da Baía de Guanabara estão contaminados por microplásticos. “Fizemos todos os experimentos de digestão do tecido deles. De fato, encontramos microplásticos em todos. Isso mostra o nível da poluição no espelho d’água, mas também aponta para a insegurança alimentar de seres humanos”, considera a aluna. As consequências para os animais já são conhecidas. “Lesão nos órgãos, diminuição no crescimento, falsa sensação de saciedade, baixo nível de nutrientes. É bem grave”, diz a estudante, que recebeu o prêmio de melhor trabalho na seção de organização da JIC.
RISCO AO SER HUMANO
Para Vivianne Alves, doutoranda do Laboratório e coautora do trabalho apresentado por Izabela, ganhar o prêmio é muito bom para a propagação do estudo. “Eu acredito que ganhou pela relevância do tema microplástico nos últimos anos, e a importância de relacionar isso a animais que costumamos comer, que têm relevância comercial, como ostras e mexilhões”, acredita.
Na pesquisa desenvolvida por Vivianne, ela observa a adsorção (quando as moléculas ou íons de uma substância ficam fixados na superfície de sólidos por interações químicas e físicas) em organismos como a tainha e o bagre. “Estou identificando o tipo, cor e tamanho dos microplásticos. Além disso, queremos fazer experimentos de alimentação para saber se mexilhões e ostras selecionam o plástico durante sua alimentação”, explica. “No caso dos peixes identificamos o tipo de plástico, não basta ver o plástico na lupa. Fizemos uma análise de polímeros e identificamos o poliéster, que são fibras da indústria têxtil e das redes de pesca que poderia ser um indicativo da entrada de microplásticos na baía”, completa.
Segundo Vivianne, o problema não é o plástico em si, mas os componentes que estão adsorvidos na superfície do plástico e que podem aderir ao corpo humano. Ela acredita existir algo ainda mais complicado que o microplástico: o nanoplástico, que pode ser absorvido pelo tecido do organismo. “Se você ingere um peixe que tem aderido nanoplásticos ou metais pesados, pode trazer um grande malefício ao ser humano”, afirma.
Um projeto de lei estadual reacendeu a discussão sobre a Casa da Ciência da UFRJ. No começo do mês, a deputada Dani Monteiro (PSOL) protocolou uma proposição para que a Casa seja tombada como patrimônio histórico e cultural do Rio de Janeiro. A proposta tem como justificativa a importância da instituição — o segundo centro cultural do país voltado para Ciências —, fundada em 1995. A importância histórica do prédio é que ele integra o complexo do antigo Hospital Nacional de Alienados, no campus da Praia Vermelha. O projeto da parlamentar vincula o prédio histórico com sua vocação científica e cultural.
“Aquela é uma área de interesse para especulação imobiliária”, disse a deputada Dani Monteiro. “A Casa da Ciência é um espaço de difusão do conhecimento há mais de 20 anos. Entendemos que é importante tombar a Casa, para afastar qualquer especulação imobiliária”.
A parlamentar justificou que o tombamento por meio de Lei Estadual pretende preservar a Casa no seu local, mesmo que haja mudanças na gestão da universidade. “É importante a Casa ser mantida ali. A ideia é que o tombamento a resguarde, inclusive, de qualquer mudança na gestão que possa haver dentro da UFRJ também. O tombamento pretende a manutenção daquele espaço”.
REITORA DISCORDA
Para a reitora Denise Pires de Carvalho, o projeto de lei é uma intervenção na autonomia da UFRJ. “É um ato que fere a autonomia frontalmente. É uma atitude que se assemelha à daqueles monarquistas que querem fazer do nosso Museu Nacional um museu imperial, sem passar pelos colegiados da UFRJ”, diz a reitora. Para Denise, trata-se da defesa da autonomia universitária como princípio. “É um precedente perigosíssimo. Porque hoje é por uma boa causa, mas amanhã um deputado estadual pode propor transformar nosso Museu Nacional em um museu imperial. Ou pior, como a recente proposta daquele deputado que quis fechar a Uerj”, explicou.
“Fico preocupada que parlamentares estejam ferindo frontalmente a autonomia universitária. A reitora e o vice-reitor não foram procurados pela parlamentar. Ninguém da administração da UFRJ foi procurado”, disse. Denise defendeu que as decisões sobre a Casa da Ciência sejam tomadas pela universidade em seus colegiados deliberativos. “A UFRJ nunca discutiu o fechamento da Casa da Ciência. E a interferência externa no ambiente da UFRJ é temerária. Não podemos admitir que parlamentares, de nenhum partido político, interfiram na nossa autonomia, na democracia interna e na institucionalidade”.
Denise ressaltou também que a UFRJ tem interesse em expandir as ações da Casa da Ciência para a Cidade Universitária, próxima aos complexos do Alemao e da Maré, locais de comunidades vulneráveis e que precisam muito do contato com a Ciência e a produção de conhecimento. “Conseguir fomento para expandir as atividades nesta área do Rio seria uma ótima proposta da deputada”.
A polêmica em torno da Casa da Ciência é alimentada pelo projeto Viva UFRJ, criado ainda na gestão do professor Roberto Leher à frente da reitoria e que prevê a parceria com BNDES para o aproveitamento econômico dos ativos imobiliários da instituição. “Nos comprometemos em dar continuidade à discussão do Viva UFRJ porque interrompê-la geraria um custo para a universidade”, explicou a reitora. Segundo ela, caso a universidade rescinda o contrato com o BNDES terá que arcar com uma multa de cerca de R$ 2,5 milhões. Uma consultoria foi contratada para fazer um estudo do potencial imobiliário da área da universidade. A pandemia atrasou a entrega, e só em fevereiro deste ano a UFRJ recebeu o relatório final. De acordo com a reitora, o documento está sendo resumido pela equipe responsável pelo projeto, e será apresentado aos colegiados da universidade.
“O projeto é muito grande, então está no contrato que ele pode ser subdividido. Se conseguirmos pagar o que devemos ao BNDES em um ou dois projetos, não precisamos seguir com outros. Essa decisão não é minha, é da universidade”, disse Denise, que fez questão de reforçar sua mensagem para o corpo social da instituição. “A comunidade acadêmica tem que ter tranquilidade. Minha gestão não venderá nada nem fará nenhum negócio com os terrenos da UFRJ sem que a comunidade conheça os detalhes, discuta e decida. Muito menos na Praia Vermelha, um lugar que tem uma atividade acadêmica intensa e que o vice-reitor e eu respeitamos muito”, declarou.
Entre os estudos apresentados preliminarmente pela comissão do Viva UFRJ, há a possibilidade de transferência da Casa da Ciência e sua reconstrução em local próximo, e outras modificações bastante significativas no campus da Praia Vermelha. Segundo a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, é isso que vem motivando a mobilização em torno do tema: “Apesar de serem estudos preliminares, precisam ser compreendidos e debatidos por toda a universidade. A pandemia acabou por deixar o assunto em banho-maria, mas já é hora de conhecermos a totalidade da proposta, e como será encaminhada, para que a comunidade se posicione, pois só assim poderemos dirimir dúvidas e acabar com sobressaltos”, defende Eleonora.
DISCUSSÃO TÉCNICA
O projeto de lei apresentado pela deputada Dani Monteiro se apoia em uma pesquisa feita pela historiadora Monica Cristina de Moraes, técnica da Casa da Ciência. Em sua tese de doutorado, ela resgatou a história do prédio. “Ele foi construído entre 1925 e 1926, e era parte do Hospital Nacional de Alienados. Ali ficavam as internas acometidas de tuberculoso, em isolamento”, explicou Monica. Quando ela começou a estudar a historiografia do edifício, havia poucos registros sobre o Pavilhão Alaor Prata. “À medida que fui investigando, levantando material e fontes, fui entendendo que a história era mais profunda”, contou. Segundo a sua pesquisa, o pavilhão foi uma melhoria construída no hospital, para que os pacientes ficassem em isolamento, prática que começou a ser adotada no final do século XIX para tratamento da tuberculose.
Mas para a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ Andréa Borde, o projeto de lei não é suficiente para o tombamento da Casa da Ciência. “Tombamento é uma atribuição do poder Executivo”, explicou. Andréa ainda esclareceu que, caso o projeto seja aprovado na Alerj e sancionado pelo governador, ele não terá validade. Para ter validade, o tombamento precisa ser aprovado por um dos órgãos de tutela da área. No caso de uma proposta estadual, o pedido de tombamento deveria ter sido feito ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). “Uma pessoa pode propor a um órgão de tutela uma pesquisa, o órgão vai encaminhar e vai propor o tombamento ou não”.
A Casa da Ciência segue funcionando, enfrentando ainda os desafios de ser um centro cultural no meio de uma pandemia. “Seguimos planejando nossas exposições e ações educativas. Assim que tivermos mais segurança, do ponto de vista da pandemia, esperamos reabrir nossas exposições”, contou Ismar Carvalho, diretor da Casa. “Estamos discutindo de que maneira vamos voltar, e de que maneira poderemos retornar, com segurança, o quanto antes. As exposições estão montadas e continuamos trabalhando”.
O Brasil vive o recrudescimento da pandemia, num cenário que pouco ajuda na preservação da vida. A vacinação avança a passos lentos, com apenas 10% da população alcançada com as duas doses do imunizante contra a covid. A crise sanitária foi “estabilizada” num patamar de quase duas mil mortes diárias e a cepa indiana foi identificada em território nacional. Alguns estados registram novo aumento do número de casos e de óbitos. O Mato Grosso do Sul, por exemplo, teve acréscimo de 79% nas mortes e de 40% no número de casos, na comparação com duas semanas atrás. Mais de 469 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil, desde o início da pandemia. Apesar do descontrole completo, o governo brasileiro resolveu trazer a Copa América para o país, depois de Argentina e Colômbia desistirem de sediar o evento. “Não tem o menor sentido fazer uma Copa dessa envergadura aqui no Brasil, neste momento”, criticou o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo. Diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o médico considera que estamos num cenário delicado. “Principalmente os estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul têm uma combinação complicada: flexibilização das cidades, período de inverno – que aumenta muito os riscos para doenças respiratórias – e baixa vacinação”. Chebabo concedeu entrevista ao Jornal da AdUFRJ e comentou o novo momento da crise sanitária no Brasil.
Jornal da AdUFRJ - O que o senhor acha da decisão do governo brasileiro, de realizar a Copa América?
Alberto Chebabo – Não tem o menor sentido fazer um torneio dessa envergadura aqui no Brasil, neste momento. Virão jogadores do mundo inteiro! As pessoas esquecem que os jogadores não estão vindo só de seus países de origem. Eles estão vindo de clubes de todo o mundo. A maioria deles não joga nos seus respectivos países.
Quais os riscos?
Há enorme risco para o nosso país, porque esses jogadores e suas equipes ficarão circulando. Eles não virão só jogar e voltarão. Eles permanecerão no Brasil ao longo do torneio. Num momento em que o recomendável é ter fronteiras fechadas, vai entrar um enorme contingente de pessoas de todas as partes do mundo, que podem trazer variantes. Nossa preocupação é conter a variante indiana e todas essas pessoas vão chegar ao mesmo tempo no Brasil. Há risco também para os jogadores, que poderão se infectar aqui, já que não há medidas de restrição da circulação de pessoas. E é risco também para os países para onde eles irão voltar, porque podem levar variantes daqui e contribuírem para o espalhamento de novas cepas pelo mundo.
Alguns estados voltam a apresentar novo aumento do número de casos e óbitos. Estamos vivendo a terceira onda?
A gente tem verificado em algumas cidades um aumento de casos, então é possível que a gente tenha até o final do mês, a partir da segunda quinzena, um novo aumento de casos em todo o país. Mas, em termos epidemiológicos, deveríamos usar [a expressão] “nova onda” quando houvesse um controle de 70% ou mais dos casos e só depois houvesse novo aumento. Aí sim é caracterizada, com clareza, uma nova onda. Nós nunca tivemos isso aqui no Brasil. Na verdade, é uma mesma onda esse tempo inteiro com repiques. Ficou popular chamar de nova onda porque fica mais didático.
A pandemia estabilizou num patamar muito alto, com quase 2 mil mortes diárias. Quais os riscos de uma nova onda nesse cenário?
Estamos num período crítico de inverno, de sazonalidade de doenças respiratórias. E precisamos levar em conta toda uma estrutura do país que não faz mais nenhuma restrição de movimentação. As cidades estão funcionando normalmente. Houve uma pequena redução de casos em março e em seguida se liberou tudo. Hoje nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul há uma combinação complicada: flexibilização das cidades, período de inverno – que aumenta muito os fatores de risco para doenças respiratórias – e baixa vacinação, o que pode agravar esse novo aumento de casos.
Temos 10% da população brasileira imunizada com as duas doses e cerca de 20% que tomaram pelo menos uma dose. É possível imaginar alguma suavização da nova onda com esse índice de vacinação?
n Com esse índice não é possível que haja impacto geral, mas a gente consegue observar nas faixas etárias que já foram imunizadas, como os idosos, algum impacto. Mas ainda é muito pouco. Ainda mais porque a imunização está sendo feita de maneira assimétrica. Tem cidades que ainda estão vacinando idosos, tem cidades que já vacinaram com ao menos uma dose as pessoas com comorbidades.
Essa baixa velocidade da imunização pode desencadear novas mutações no vírus, que consigam burlar os efeitos da vacina?
Quanto maior a replicação geral, quanto mais o vírus se espalha, mais riscos de novas variantes. Agora a gente tem mais preocupação com a variante indiana, que já está no Brasil, mas são casos, até agora, importados. Ainda não foi identificada a transmissão local.
Como o senhor avalia a velocidade da vacinação e a pandemia no estado e na cidade do Rio de Janeiro?
O Rio de Janeiro teve uma onda diferente de outros estados em novembro e dezembro. Aqui, houve forte aumento, enquanto outros estados não tiveram isso. Tivemos aumento importante e reduziu. Em fevereiro chegamos ao menor nível, desde o começo da pandemia. Há possibilidade, portanto, de, se houver uma “terceira onda”, o Rio se enquadrar numa quarta. Em relação à vacinação, a cidade do Rio de Janeiro está um pouco mais adiantada do que a média do país, mas ainda é um patamar muito baixo, cerca de 15%. É preciso pelo menos 40% da população vacinada com as duas doses para começarmos a ver algum efeito concreto no controle da doença.
A prefeitura do Rio iniciou esta semana um calendário de imunização por idade, que chega aos 18 anos em outubro. O calendário é factível ou pode sofrer atrasos?
É difícil dizer. O calendário está organizado, com capacidade de vacinação de 30 mil pessoas por dia. É possível, inclusive, fazer mais, porém, isso depende de termos vacina. Dentro do calendário, é completamente factível, mas se o Ministério da Saúde vai entregar as doses necessárias dentro do cronograma acordado, é outra história.
Nos últimos meses, o ocupante do Palácio do Planalto tem ultrapassado todos os limites, dando sinais de que não recuará nem cederá qualquer espaço para o bom senso em seu governo. O quadro que se apresenta, de alta inflacionária e aumento de desemprego, aponta para um governo de alta concentração de renda e potencial explosivo do ponto de vista social. Em relação às universidades, permanece o estrangulamento orçamentário e, no Congresso, ensaiam-se tentativas de retomada da discussão da reforma administrativa, assim como tentam dar continuidade a excrescências como o homeschooling. Também permanecem as intimidações e tentativas de processos contra docentes e técnicos-administrativos, mas que até agora não prosperaram.
Como se já não bastassem os documentos que estão paulatinamente confirmando a ação antivacina da Presidência da República, ao fecharmos esta edição nos deparamos com o disparate da recomendação para a não obrigatoriedade do uso de máscara para quem já teve covid-19 ou já está vacinado. A ação, que parece estapafúrdia, não só ajuda a criar tumulto no debate nacional e atende aos seus nichos mais fiéis, mas busca atrair aquela faixa da população exausta de tanta discussão, cansada de restrições e cuja vida já é uma permanente roleta russa. Assim, o pior presidente de nossa história se confirma como o porta-voz da insensatez e da ignorância. Por isso, reafirmamos nossa disposição para irmos às ruas no dia 19 de junho. Com todos os cuidados, e para aqueles que estão em risco, se poupem! Ainda teremos muito chão pela frente, muitas caminhadas e outros encontros nas ruas. Estaremos lá, os que puderem, pedagogicamente como no dia 29 de maio: 100% dos manifestantes de máscaras, buscando manter o distanciamento recomendado.
No dia 16 de junho entraremos numa nova etapa da pandemia: todos os trabalhadores da UFRJ — docentes, técnicos, terceirizados — terão tomado a primeira dose da vacina. É um passo importante, um reconhecimento de nosso papel social, mas que não significa um salvo-conduto para o retorno das atividades presenciais sem os procedimentos de biossegurança estabelecidos pela própria universidade. Entendemos que a vacina, um direito que deveria ser universal, se constituiu numa conquista diante de um governo negacionista e irresponsável. Queremos celebrar esse dia, mas também insistir que precisamos rever nossas resoluções de 2020, quando a vacina ainda não era sequer cogitada. Quais são os protocolos de segurança a serem mantidos e quais procedimentos devem ser acrescentados? O que muda em relação às atividades presenciais consideradas essenciais? Quais devem ser autorizadas após a segunda dose? Como nos proteger de um retorno desorganizado? Para tudo isso, esperamos que a universidade trilhe a mesma estrada que nos trouxe até aqui: diálogo com a comunidade e amplo debate institucional.
Vamos começar um recesso que há muito aguardávamos, mas ainda assim estamos longe de uma “normalização” de nossas atividades, com os calendários da graduação e da pós ainda desencontrados. Também temos arrastado mais lentamente do que gostaríamos a resolução da questão da insalubridade, com anos de acúmulos burocráticos e negativas. Num quadro de incertezas e desmontes, de pressão externa e cortes arbitrários, com um governo que tenta a todo custo nos vigiar e punir, é preciso redobrar a atenção e valorizar os espaços que conquistamos. Tanto no que diz respeito ao reforço à democracia interna da nossa instituição, quanto à sua defesa na vida política do país. É disto que trata essa edição do nosso jornal, é essa a nossa luta cotidiana.
Ainda em recuperação de uma dura batalha contra a covid, o decano do Centro de Tecnologia, professor Walter Suemitsu, encontrou forças para emocionar os colegas, no último dia 25. Depois de passar 11 dias intubado e inconsciente no CTI, Walter falou à plenária de decanos e diretores no dia seguinte à alta hospitalar. Disse que, se tinha sobrevivido, era para ajudar as pessoas. O docente também afirmou que um dos seus objetivos seria fazer pela UFRJ tudo que ela precisa e merece para se tornar a melhor universidade da América Latina. “Naquela hora, os olhos de todo mundo se encheram de lágrimas”, afirma a diretora do campus Duque de Caxias, professora Juliany Rodrigues.
Nesta entrevista ao Jornal da AdUFRJ, entrecortada por soluços de emoção, Walter relata sua experiência e transmite uma mensagem de esperança à comunidade da UFRJ. O professor, que ainda não retomou as atividades administrativas, respondeu a parte das perguntas por mensagens, pois não tem condições de falar por um período muito longo de tempo.
Jornal da AdUFRJ – O que o senhor sentiu, quando contraiu a doença?
Walter Suemitsu - Eu não senti sintomas, no início. Fui infectado por um amigo que estava na festa de aniversário do meu filho, no dia 10 de abril. Havia apenas sete pessoas na reunião: quatro vacinadas e três jovens. E eu achava que, tendo tomado a primeira dose há dez dias, tinha alguma imunidade. Eu havia tomado a primeira dose da Coronavac no dia 1º.
E quando o senhor precisou ser internado?
Alguns dias depois da festa, este amigo nos reportou que estava infectado e, mesmo sem sintomas, resolvi fazer o exame por precaução, no dia 17. O doutor Márcio Ananias, meu clínico geral há 15 anos, me internou assim que soube do resultado positivo. Ele disse que, me conhecendo, se eu ficasse em casa, não iria cumprir as ordens médicas. Fui internado no Copa d’Or, dia 20, onde ele poderia ter mais controle sobre minha situação. O que foi bom, pois na hora que precisou, eu já estava lá. Imagina eu passar mal em casa, chegar lá e não ter vaga na emergência?
O que ocorreu em seguida?
Depois de três dias, eu comecei a piorar e apaguei. Eles nem tiveram tempo de me avisar da intubação. Foi tudo às pressas. Só quando eu acordei , em 4 de maio, descobri ter ficado 11 dias dormindo.
Naquele momento, após acordar, o que o senhor pensava?
Tudo que eu pensava é que eu não podia desistir. Eu tinha tido uma chance única. Por mim, pelos meus filhos, pela minha família, pelos meus amigos, eu só pensava que tinha de lutar. Eu ainda reflito sobre isso. Todo dia.
Quando o senhor conseguiu retomar o contato com a família e amigos?
Quando saí da ala covid, fui para um andar de recuperação e podia receber visitas. Meu filho ficou me acompanhando. Minha filha veio de Campinas depois. E ficaram se alternando. A comunicação com os colegas de universidade começou quando eu fui para esta ala. Tive alta no dia 24.
Como foi receber o carinho dos colegas, por mensagens e naquela plenária do dia 25?
Eu fico emocionado. É muito bom saber que tanta gente gosta de mim. Me deixou muito feliz. Uma mensagem da professora Julianny (Rodrigues), diretora do campus Duque de Caxias, me tocou muito. Porque ela disse que eu era como um pai para ela. Eu estou ajudando nas questões do campus.
Que mensagem o senhor deixa para a comunidade da UFRJ?
Celebrem a vida, celebrem o amor. Vivam o seu dia a dia.