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WhatsApp Image 2021 06 04 at 18.54.10 3O Brasil vive o recrudescimento da pandemia, num cenário que pouco ajuda na preservação da vida. A vacinação avança a passos lentos, com apenas 10% da população alcançada com as duas doses do imunizante contra a covid. A crise sanitária foi “estabilizada” num patamar de quase duas mil mortes diárias e a cepa indiana foi identificada em território nacional. Alguns estados registram novo aumento do número de casos e de óbitos. O Mato Grosso do Sul, por exemplo, teve acréscimo de 79% nas mortes e de 40% no número de casos, na comparação com duas semanas atrás. Mais de 469 mil pessoas morreram de covid-19 no Brasil, desde o início da pandemia. Apesar do descontrole completo, o governo brasileiro resolveu trazer a Copa América para o país, depois de Argentina e Colômbia desistirem de sediar o evento. “Não tem o menor sentido fazer uma Copa dessa envergadura aqui no Brasil, neste momento”, criticou o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo. Diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o médico considera que estamos num cenário delicado. “Principalmente os estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul têm uma combinação complicada: flexibilização das cidades, período de inverno – que aumenta muito os riscos para doenças respiratórias – e baixa vacinação”. Chebabo concedeu entrevista ao Jornal da AdUFRJ e comentou o novo momento da crise sanitária no Brasil.

 

Jornal da AdUFRJ - O que o senhor acha da decisão do governo brasileiro, de realizar a Copa América?
Alberto Chebabo – Não tem o menor sentido fazer um torneio dessa envergadura aqui no Brasil, neste momento. Virão jogadores do mundo inteiro! As pessoas esquecem que os jogadores não estão vindo só de seus países de origem. Eles estão vindo de clubes de todo o mundo. A maioria deles não joga nos seus respectivos países.

Quais os riscos?
Há enorme risco para o nosso país, porque esses jogadores e suas equipes ficarão circulando. Eles não virão só jogar e voltarão. Eles permanecerão no Brasil ao longo do torneio. Num momento em que o recomendável é ter fronteiras fechadas, vai entrar um enorme contingente de pessoas de todas as partes do mundo, que podem trazer variantes. Nossa preocupação é conter a variante indiana e todas essas pessoas vão chegar ao mesmo tempo no Brasil. Há risco também para os jogadores, que poderão se infectar aqui, já que não há medidas de restrição da circulação de pessoas. E é risco também para os países para onde eles irão voltar, porque podem levar variantes daqui e contribuírem para o espalhamento de novas cepas pelo mundo.

Alguns estados voltam a apresentar novo aumento do número de casos e óbitos. Estamos vivendo a terceira onda?
A gente tem verificado em algumas cidades um aumento de casos, então é possível que a gente tenha até o final do mês, a partir da segunda quinzena, um novo aumento de casos em todo o país. Mas, em termos epidemiológicos, deveríamos usar [a expressão] “nova onda” quando houvesse um controle de 70% ou mais dos casos e só depois houvesse novo aumento. Aí sim é caracterizada, com clareza, uma nova onda. Nós nunca tivemos isso aqui no Brasil. Na verdade, é uma mesma onda esse tempo inteiro com repiques. Ficou popular chamar de nova onda porque fica mais didático.

A pandemia estabilizou num patamar muito alto, com quase 2 mil mortes diárias. Quais os riscos de uma nova onda nesse cenário?
Estamos num período crítico de inverno, de sazonalidade de doenças respiratórias. E precisamos levar em conta toda uma estrutura do país que não faz mais nenhuma restrição de movimentação. As cidades estão funcionando normalmente. Houve uma pequena redução de casos em março e em seguida se liberou tudo. Hoje nos estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul há uma combinação complicada: flexibilização das cidades, período de inverno – que aumenta muito os fatores de risco para doenças respiratórias – e baixa vacinação, o que pode agravar esse novo aumento de casos.

Temos 10% da população brasileira imunizada com as duas doses e cerca de 20% que tomaram pelo menos uma dose. É possível imaginar alguma suavização da nova onda com esse índice de vacinação?
n Com esse índice não é possível que haja impacto geral, mas a gente consegue observar nas faixas etárias que já foram imunizadas, como os idosos, algum impacto. Mas ainda é muito pouco. Ainda mais porque a imunização está sendo feita de maneira assimétrica. Tem cidades que ainda estão vacinando idosos, tem cidades que já vacinaram com ao menos uma dose as pessoas com comorbidades.

Essa baixa velocidade da imunização pode desencadear novas mutações no vírus, que consigam burlar os efeitos da vacina?
Quanto maior a replicação geral, quanto mais o vírus se espalha, mais riscos de novas variantes. Agora a gente tem mais preocupação com a variante indiana, que já está no Brasil, mas são casos, até agora, importados. Ainda não foi identificada a transmissão local.

Como o senhor avalia a velocidade da vacinação e a pandemia no estado e na cidade do Rio de Janeiro?
O Rio de Janeiro teve uma onda diferente de outros estados em novembro e dezembro. Aqui, houve forte aumento, enquanto outros estados não tiveram isso. Tivemos aumento importante e reduziu. Em fevereiro chegamos ao menor nível, desde o começo da pandemia. Há possibilidade, portanto, de, se houver uma “terceira onda”, o Rio se enquadrar numa quarta. Em relação à vacinação, a cidade do Rio de Janeiro está um pouco mais adiantada do que a média do país, mas ainda é um patamar muito baixo, cerca de 15%. É preciso pelo menos 40% da população vacinada com as duas doses para começarmos a ver algum efeito concreto no controle da doença.

A prefeitura do Rio iniciou esta semana um calendário de imunização por idade, que chega aos 18 anos em outubro. O calendário é factível ou pode sofrer atrasos?
É difícil dizer. O calendário está organizado, com capacidade de vacinação de 30 mil pessoas por dia. É possível, inclusive, fazer mais, porém, isso depende de termos vacina. Dentro do calendário, é completamente factível, mas se o Ministério da Saúde vai entregar as doses necessárias dentro do cronograma acordado, é outra história.

WhatsApp Image 2021 06 04 at 18.54.10Foto: Arquivo AdUFRJAinda em recuperação de uma dura batalha contra a covid, o decano do Centro de Tecnologia, professor Walter Suemitsu, encontrou forças para emocionar os colegas, no último dia 25. Depois de passar 11 dias intubado e inconsciente no CTI, Walter falou à plenária de decanos e diretores no dia seguinte à alta hospitalar. Disse que, se tinha sobrevivido, era para ajudar as pessoas. O docente também afirmou que um dos seus objetivos seria fazer pela UFRJ tudo que ela precisa e merece para se tornar a melhor universidade da América Latina. “Naquela hora, os olhos de todo mundo se encheram de lágrimas”, afirma a diretora do campus Duque de Caxias, professora Juliany Rodrigues.

Nesta entrevista ao Jornal da AdUFRJ, entrecortada por soluços de emoção, Walter relata sua experiência e transmite uma mensagem de esperança à comunidade da UFRJ. O professor, que ainda não retomou as atividades administrativas, respondeu a parte das perguntas por mensagens, pois não tem condições de falar por um período muito longo de tempo.

Jornal da AdUFRJ – O que o senhor sentiu, quando contraiu a doença?
Walter Suemitsu - Eu não senti sintomas, no início. Fui infectado por um amigo que estava na festa de aniversário do meu filho, no dia 10 de abril. Havia apenas sete pessoas na reunião: quatro vacinadas e três jovens. E eu achava que, tendo tomado a primeira dose há dez dias, tinha alguma imunidade. Eu havia tomado a primeira dose da Coronavac no dia 1º.

E quando o senhor precisou ser internado?
Alguns dias depois da festa, este amigo nos reportou que estava infectado e, mesmo sem sintomas, resolvi fazer o exame por precaução, no dia 17. O doutor Márcio Ananias, meu clínico geral há 15 anos, me internou assim que soube do resultado positivo. Ele disse que, me conhecendo, se eu ficasse em casa, não iria cumprir as ordens médicas. Fui internado no Copa d’Or, dia 20, onde ele poderia ter mais controle sobre minha situação. O que foi bom, pois na hora que precisou, eu já estava lá. Imagina eu passar mal em casa, chegar lá e não ter vaga na emergência?

O que ocorreu em seguida?
Depois de três dias, eu comecei a piorar e apaguei. Eles nem tiveram tempo de me avisar da intubação. Foi tudo às pressas. Só quando eu acordei , em 4 de maio, descobri ter ficado 11 dias dormindo.

Naquele momento, após acordar, o que o senhor pensava?
Tudo que eu pensava é que eu não podia desistir. Eu tinha tido uma chance única. Por mim, pelos meus filhos, pela minha família, pelos meus amigos, eu só pensava que tinha de lutar. Eu ainda reflito sobre isso. Todo dia.

Quando o senhor conseguiu retomar o contato com a família e amigos?
Quando saí da ala covid, fui para um andar de recuperação e podia receber visitas. Meu filho ficou me acompanhando. Minha filha veio de Campinas depois. E ficaram se alternando. A comunicação com os colegas de universidade começou quando eu fui para esta ala. Tive alta no dia 24.

Como foi receber o carinho dos colegas, por mensagens e naquela plenária do dia 25?
Eu fico emocionado. É muito bom saber que tanta gente gosta de mim. Me deixou muito feliz. Uma mensagem da professora Julianny (Rodrigues), diretora do campus Duque de Caxias, me tocou muito. Porque ela disse que eu era como um pai para ela. Eu estou ajudando nas questões do campus.

Que mensagem o senhor deixa para a comunidade da UFRJ?
Celebrem a vida, celebrem o amor. Vivam o seu dia a dia.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Nós não escolhemos o tempo em que vivemos, mas somos parte dele, podemos transformá-lo, mas não do modo nem com a rapidez que desejamos. Essa equação pode se tornar muito dolorosa e difícil se esse tempo nos exigir decisões e posicionamentos que não gostaríamos ou não nos sentimos em condições de tomar. Esse é o nó que o tempo presente nos apresenta. Enfrentamos uma pandemia sem uma diretriz nacional coerente. Ao contrário, a cada dia fica mais explícito o equívoco da política sanitária do governo federal, que insistiu numa solução mirabolante que nos colocou no topo entre os países com o maior índice de mortalidade por milhão de habitantes. Os estados e municípios buscaram caminhos para a proteção de sua população, mas a ausência de uma coordenação clara a nível nacional, tendo que enfrentar ainda a hostilidade e o mau exemplo do presidente da República, acaba por jogar nos ombros dos indivíduos a parte maior da responsabilidade pela sua própria proteção e a de seus entes queridos. Assim, muitos de nós acabam se envolvendo na produção de quentinhas, distribuição de máscaras, campanhas para ficarmos em casa, enfrentando também a decepção de parentes que nos querem em suas festas e encontros.
Foi por isso que em nosso editorial da semana do dia 7 de maio já estávamos apontando para a necessidade de darmos um novo e corajoso passo — “A variável que falta para consolidar um quadro de avanço das forças democráticas contra Bolsonaro é ocuparmos as ruas. Não podemos mais esperar. Vamos de máscaras PFF2, álcool em gel, em um lugar amplo e arejado tal qual o Aterro do Flamengo, por exemplo, mas vamos às ruas!” —, um recado que já estava há tempos também rondando os estudantes, que não esperaram muito e, por conta do grito de alerta que a universidade havia dado sobre a insuficiência de recursos, foram às ruas no dia 14, em ato histórico no Largo de São Francisco.
Ninguém quer sair às ruas e provocar aglomerações, ninguém quer correr riscos ou colocar seus entes queridos em risco. Mas há momentos que a decisão a ser tomada não é aquela que consideramos a melhor, mas justamente a que se impõe como necessária. O governo federal avança contra as universidades, estrangulando-as do ponto de vista orçamentário, depois de ter desrespeitado sistematicamente a vontade da comunidade em pelo menos duas dezenas de instituições que tiveram reitores nomeados. Além disso, assistimos ao desmonte do sistema nacional de fomento à pesquisa, com o esvaziamento do CNPq e da Capes. Que ninguém duvide: o resultado final desse desgoverno que vivemos é a aniquilação da universidade pública brasileira. E foi por termos a exata consciência do risco que corremos que não tivemos dúvida em abraçar desde o primeiro momento a proposta de ato dos estudantes no dia 14, e todas as mobilizações de lá para cá.
Temos caminhado junto com as entidades da UFRJ: DCE, APG, SINTUFRJ e ATTUFRJ. Tem sido uma experiência importante, que esperamos que se aprofunde mais a cada dia. Também temos acertado o passo a nível nacional, com nossas entidades nacionais, frentes sindicais e movimentos sociais. Mas ainda não é o suficiente. Podemos muito mais. Que esse jornal seja um incentivo, um momento de reflexão para cada professor, professora. Nenhum de nós estará a salvo se os planos autoritários de Bolsonaro prosperarem. A universidade, seus métodos, seus princípios, seus pilares fundamentais estarão ameaçados. Já temos uma data para o nosso reencontro: 19 de junho. Precisamos de todo mundo na rua. E isso não é uma contradição. Uma manifestação com dezenas de milhares de pessoas, com 100% delas usando máscara é, antes de tudo, pedagógica. Estamos dizendo para a população que está obrigada a se expor — porque não pode optar pelo trabalho remoto — que estamos ao lado dela. E mais, estamos pelo exemplo e pelo cuidado, nos contrapondo às provocações bolsonaristas, que desafiam todas as orientações sanitárias e se apresentam em público sem qualquer medida protetiva.
Todos sonhamos com um país melhor. Só que hoje precisamos mais do que isso: acreditemos nos nossos sonhos e tenhamos a coragem de fazê-los realidade!

WhatsApp Image 2021 06 04 at 18.54.09 1CRISTINA REGO-MONTEIRO DA LUZ
Doutora em Comunicação e Cultura e professora associada do Departamento de Expressão e Linguagens da ECO-UFRJ

 

“Papai, se uma árvore cai na floresta e a mídia não cobrir, ela caiu mesmo?”
PERGUNTA DE UM CARTOON DE ROBERT MANKOFF, publicado na década de 1970 no jornal Saturday Review, in Newman, E.N – A espiral do silêncio,198

 

Uma onda de reações criticando a cobertura das manifestações do dia 29 de maio alimentou embates de polarização, críticas a respeito dos valores envolvidos na escolha da capa de dois jornais que costumavam ter grande circulação, e uma incompletude importante na interpretação do que vai além da evidente parcialidade política que salta (ou não salta) das primeiras páginas de suas edições impressas.
De uma maneira geral, a prática jornalística é constituída de três pilares básicos — sua deontologia (razão de ser da atividade), o jornalista enquanto indivíduo profissional na atividade e as estruturas de intermediação e distribuição do produto notícia. Nesse caso, partimos da hipótese de que estamos diante de uma situação mais centrada no terceiro pilar: as estruturas empresariais de intermediação.
WhatsApp Image 2021 06 04 at 18.54.09Omitir imagens e informações a respeito de algo visto e vivenciado por milhares de pessoas no jornalismo impresso pode estar denunciando mais do que exclusões editoriais questionáveis. Um gargalo cada vez mais estreito no consumo de noticiosos impressos — o expediente das assinaturas, como resultado da velha lei da oferta e procura, que estão sendo vendidas a surpreendentes R$ 15 ao mês em sites onde, se o internauta sair sem fechar negócio, verá um anuncio piscante pular na tela dizendo “Não se vá ainda! Oferecemos 30 dias grátis!”.
A grande imprensa pode dar a impressão a um público historicamente analógico, mais velho e ainda à frente de empresas e lideranças sociais, de que o destaque (ou a falta dele) na forma de publicação dessa reportagem impacta fortemente a sociedade. Será? Ou revela bastidores de empresas midiáticas que cambaleiam na função deontológica primordial, de informar e contextualizar fatos reais, sejam quais forem? A publicidade governamental ainda é um dos principais canais de subsistência de grandes veículos de imprensa. Apesar da queda vertiginosa de leitores e assinantes, a pauta dos veículos ainda sofre imensa pressão política, especialmente através do controle das verbas publicitárias. Afinal, primeiras páginas continuam sendo referenciais indicativos para análises de representação de valor social da informação. Mas será que essa arena permanece sendo um lugar de destaque e impacto no embate das narrativas que mantêm efetiva capacidade de influência junto a um grande público?
As modificações no processo de produção da notícia em função da velocidade das mudanças tecnológicas ainda são extremamente subestimadas pelo público em geral. Uma imensa transformação paradigmática dos modelos de captação, produção, edição, distribuição e tratamento tecnoeditorial dado às notícias vem sacudindo o monopólio da pauta social da chamada “grande imprensa”. Em pesquisa informal junto às mais recentes turmas do Curso de Jornalismo da Escola de Comunicação da UFRJ, de um universo recortado de jovens que se propuseram a enfrentar a seleção do vestibular para serem profissionais da informação noticiosa, os professores vêm constatando uma ausência quase total de leitura de jornais impressos.
A internet, ao possibilitar a pulverização dos acessos de entrada de informações circulando em rede, arrebentou diques de controle dos fluxos de discursos organizados por elites econômicas, políticas e sociais, abrindo-se à participação de milhões de pessoas, com toda complexidade que isso traz. Significa agregação de novos públicos, não de substituição. Os mecanismos de tentativas de manutenção de poder de influência estão em mutação, mas não saíram de cena. Qualquer análise a respeito da atividade jornalística (no caso, a brasileira) hoje precisa sofrer uma mudança de perspectiva na mesma proporção das alterações provocadas pelo crescente aumento de acesso à plataforma digital.
Não é novidade, mas as injunções que envolvem grandes corporações e hábitos sociais são de lenta deglutição. Bancos de dados podem ser considerados os bancos e financeiras de ontem. Detêm a principal commodity contemporânea, a informação objetiva e subjetiva de cada indivíduo, em escala global. Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima. Mensura-se informação como base de uma nova economia. Dados estão configurando-se como moeda. Um acontecimento tecnológico de grande repercussão social certamente entrou para a história tanto no campo da Comunicação quanto da Sociologia e da Psicologia Social — tornou-se pública a existência de mensagens geradas por robots algorítmicos para milhares de pessoas selecionadas nas redes sociais em função de padrões psicológicos, no período imediatamente anterior ao das eleições norte-americanas. Terminadas as eleições, milhões de contas falsas que enviavam mensagens com conteúdo influenciador foram fechadas, desapareceram da rede. A constatação de que esse mecanismo pode ter influenciado o resultado das urnas (possivelmente não só as norte-americanas, já que o processo tornou-se um produto disponível no mercado internacional) levou Mark Zuckerberg a depor no Congresso norte-americano por cinco horas — e admitir que houve vazamento de dados dos usuários do Facebook. Milhares de aplicativos são alimentados por bases de dados que identificam os perfis psicossociais dos usuários da internet. Quem nunca procurou um produto na rede e começou quase imediatamente a receber publicidade de produtos semelhantes? A publicidade algorítmica envia mensagens para quem buscou por ela antes — e, caiu na rede, é peixe. Gostos e tendências estão sendo cadastrados, e muito utilizados.
Se uma comunicação tão direcionada já foi testada, mostrando-se precisa e comprovadamente eficaz, qual é o lugar atual de eficiência na construção do imaginário público de um veículo que dispersa custos de produção e vem perdendo precisão no alvo?
Consumidores analógicos e digitais, alvos de narrativas desfalcadas, informações incompletas e dados distorcidos que podem atender aos interesses daquele que narra (não do público) — é possivel que estejamos dando muita atenção à arena errada.
As capas dos impressos são decididas por um grupo bastante reduzido de pessoas, e as circunstâncias que pesam nessa decisão são de natureza diversa. Mas em escala, a participação de muitos em plataformas onde milhões podem captar, editar e distribuir notícias, apesar de real, não tem ainda o valor de impacto reconhecido. Ainda prevalece a percepção condicionada de velhos padrões políticos e sociais de importância.
Talvez o descompasso entre acontecimento e notícia esteja indicando outras coisas importantes — que estamos descuidando da mais preciosa matéria-prima do Jornalismo, da principal área de qualificação de informações contextualizadas que chegam massivamente à sociedade: o jornalista. O indivíduo, sua adequada formação e estrutura legal para exercício profissional. Esse que pode mobilizar não uma edição, mas milhões delas, em rede. O que é necessário? Aval social, credibilidade, uma legislação que permita o exercício do questionamento sem que levantar a verdade comprovável seja um risco.
Desvalorizado pela suspensão da exigência do diploma para o exercício da profissão, o bom jornalista é um antídoto para programações algorítmicas capciosas, em um front distante das disputas expressas no modelo já arcaico do jornalismo impresso. Nada substitui homens e mulheres intelectualmente bem preparados para atuar em defesa de metas passíveis de interpretação, sutileza, revisão de paradigmas e de aproveitamento de oportunidades anteriormente desconhecidas.

“Caiu, meu filho”.
RESPOSTA AO CARTOON DE ROBERTO MANKOFF , em maio de 2021

WhatsApp Image 2021 05 27 at 19.27.20 1A covid-19 mais uma vez trouxe dor e silêncio para o mundo das artes. O samba atravessou na manhã desta quinta-feira (27) com a morte do bamba Nelson Sargento. Aos 96 anos, ele foi uma das primeiras pessoas do Rio de Janeiro a ser imunizada contra a doença. Apesar da vacina no braço, o vírus foi mais forte e decretou o final da trajetória do baluarte da Mangueira. Sargento foi autor de grandes sambas-enredo da escola do coração, compôs mais de 400 músicas, escreveu livro, pintou quadros. Um artista em múltiplas dimensões. A arte, hoje, fica mais cinza.

DEPUTADO PROPÕE EXTINÇÃO DA UERJ

Num arroubo autoritário, Anderson Moraes (PSL) protocolou projeto de lei na Alerj para extinguir a Uerj e passar seus bens a faculdades privadas. A universidade é prevista na Constituição do Estado. O delírio do deputado bolsonarista é, portanto, inconstitucional. A assembleia arquivou o pedido. “Enquanto eu for presidente, não vota”, declarou André Ceciliano (PT), presidente da casa.

POLÍTICA DE INOVAÇÃO APROVADA

O Consuni aprovou uma política de inovação para a UFRJ. A resolução recebeu 43 votos favoráveis e duas abstenções, em sessão realizada neste dia 27. As diretrizes não se restringem às áreas de saúde, ciência e tecnologia, incluindo também as humanidades e ciências sociais aplicadas. A política estimula ainda uma estrutura de produção descentralizada, a partir dos Centros e das unidades. Os conselheiros comemoraram a iniciativa. “Nossos estudantes pedem por inovação e empreendedorismo”, afirmou a professora Juliany Rodrigues, diretora do campus Duque de Caxias. “Eles não querem mais ser empregados da Petrobras ou da Shell. Eles querem desenvolver suas ideias”.

REFORMA ADMINISTRATIVA APROVADA NA CCJ

Por 39 votos a favor e 26 contrários, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou, no dia 25, o relatório da reforma administrativa. A medida ameaça o serviço público e é uma das bandeiras da campanha de Bolsonaro. O texto cria cinco tipos de vínculos de trabalho para os servidores públicos e acaba com a estabilidade, como a conhecemos, mas deixa de fora “carreiras típicas de Estado”. Ainda há previsão de legislação complementar para detalhar que carreiras ficarão de fora da reforma. A proposta agora segue para análise em comissão especial.

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