facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.13.37Fotos: Silvana SáBeatriz Coutinho e Silvana Sá

A sensação de insegurança ronda a estação do BRT Fundão. Há grades quebradas no entorno, o mato já atinge cerca de três metros de altura, falta iluminação e falta patrulhamento. É o que dizem os usuários do sistema de ônibus articulados e das linhas regulares que ligam a Cidade Universitária ao Centro, Tijuca, Niterói e Ilha do Governador.
“Se acontecer alguma coisa, não há ninguém para ajudar, para dar um suporte”, reclama Daniela Moreira, servidora do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. “O terminal é inóspito, completamente deserto, principalmente nos finais de semana. Por aqui passam pessoas de muitos lugares, muita gente bêbada e usuária de drogas acaba acessando também. Eu me sinto insegura”, relata.
O problema piora à noite. “Já arrombaram aqui uma vez e agora estão tentando arrombar a loja de novo, pelo outro lado”, revela uma vendedora que trabalha na plataforma externa ao BRT e prefere não se identificar, por medo de represália. Ela e parte da família moram na Vila Residencial e vivem um cotidiano de insegurança. “Sempre tinha alguém da família que se revezava para esperar minha sobrinha, para que ela não ficasse sozinha ao voltar do curso. Ela chegava sempre depois das 22h aqui no terminal”, relembra. “É muito perigoso. Até 20h, ainda tem mais movimento, mas à medida que fica mais tarde, fica mais estranho. Qualquer um pode estar escondido atrás do mato, passar pelas grades quebradas. É perigoso principalmente para mulher”.
Allan Santos, estudante de Artes Visuais e morador da Residência Estudantil, acredita que a área sofre os mesmos problemas do restante da cidade. “Outras partes do Rio também são perigosas, sobretudo à noite. Acho que o problema é mais complexo do que só colocar iluminação e segurança”, opina o aluno. Allan viu a estação BRT ser criada, em 2014, e é testemunha das mudanças ao longo do tempo. “Reconheço que piorou. No início, era mais iluminado e tinha sempre agentes de segurança, inclusive do próprio BRT. Hoje, a gente pode ver que não tem mais ninguém. Esse é o único ponto que faz uma conexão entre o BRT e meios de transporte para outras partes da cidade. Realmente precisa de mais atenção”, acredita.WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.13.37 1
O prefeito da Cidade Universitária, Marcos Maldonado, esclarece que a região não está sob a ingerência da universidade, mas afirma que busca soluções. “A UFRJ não tem controle sobre aquele espaço, mas temos mantido contato com diferentes agentes públicos para a realização de obras de manutenção, limpeza, capina e iluminação. Também falamos com a empresa que administra o BRT solicitando reforço na segurança, além das ações que já existem no campus”, relata Maldonado.
Carlos Chaves Barbosa, da Superintendência Regional da Ilha do Governador, antiga Subprefeitura da Ilha, confirmou que esteve no Fundão para fazer a vistoria solicitada por Maldonado. “A Comlurb e a Rioluz farão parte dessa força-tarefa de revitalização da área. A Comlurb precisa de 20 dias para fazer a poda baixa de toda a região em frente e nas laterais das plataformas, além da limpeza. O local receberá mais luzes de LED e haverá a troca das lâmpadas queimadas”, assegura o representante da prefeitura do Rio. “Também haverá o reparo das grades e colocaremos um gari fixo nas proximidades”, completa. Os serviços deverão ser concluídos até o dia 27 de dezembro.

O QUE DIZEM A SECRETARIA MUNICIPAL DE ORDEM PÚBLICA E A POLÍCIA MILITAR

A assessoria de imprensa do BRT Rio informou que a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) coordena atualmente toda a política de segurança nas estações que compõem o sistema BRT. Procurada, a SEOP afirmou que a Estação BRT do Fundão (Aroldo Melodia) “conta com rondas, tanto no período diurno quanto noturno, feitas por agentes do Programa BRT Seguro”. Criado em junho desse ano, o BRT Seguro opera com cerca de 85 policiais militares e 30 guardas municipais por dia, em média.
O custo estimado do Programa BRT Seguro, até o fim de 2021, é de R$ 10,14 milhões, que engloba o pagamento dos guardas municipais e o repasse ao Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis), da Polícia Militar. O programa atende aos três corredores do transporte (Transcarioca, Transolímpica e Transoeste) com objetivo de “coibir crimes, desordens, depredações e o calote de passagens” por meio do patrulhamento fixo nas estações e rondas.
WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.13.37 2Foto: SEOPA SEOP ainda informou que as rondas são ligadas ao Centro de Controle Operacional do BRT e que funcionam 24 horas por dia, inclusive de madrugada. No entanto, a reportagem não avistou qualquer carro da segurança ao longo das duas horas em que esteve na estação, no dia 14 de dezembro.
Também questionada sobre a insegurança na Estação BRT do Fundão, a assessoria da PMERJ deu poucos detalhes. Explicou apenas que “os batalhões das regiões empregam policiamento no local das estações e na malha de circulação das composições”, feita por meio do Proeis. Alegou ainda que “quem define e pode se pronunciar sobre a necessidade de emprego de reforço na segurança em cada estação do BRT é a concessionária que administra o sistema”. Todas as outras estratégias de policiamento relatadas pela assessoria são voltadas para a Linha Vermelha e suas adjacências, como parte do Programa Expresso Turístico – que tem por objetivo fortalecer o planejamento de segurança em corredores turísticos –, inaugurado no último dia 11 pelo governador Cláudio Castro (PL).

WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.15.21 1Em tempos tão difíceis para as universidades brasileiras, pelo menos uma data do ano que se encerra será guardada com muito carinho por mais de quatro mil professores, estudantes e técnicos da UFRJ: 8 de julho. Após um longo processo de institucionalização, esta comunidade passou a fazer parte do Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé, aprovado em uma sessão remota do Conselho Universitário. Para entender os impactos da mudança, o Jornal da AdUFRJ conversou com o decano pro tempore do mais novo Centro, professor Irnak Marcelo Barbosa. “Saímos de uma situação provisória e nos tornamos, de fato, institucionalizados”, afirma o docente do curso de Medicina, alçado ao cargo por ser o diretor do campus em julho.

Jornal da Adufrj – O que é o Centro Multidisciplinar de Macaé?
Irnak Marcelo Barbosa – A UFRJ tinha seis centros, e nós somos o sétimo. Ele surge do anseio dos nossos seis institutos, também recém-criados, que eram cursos: Medicina, Nutrição, Enfermagem, Farmácia, Química e as engenharias mecânica, civil e de produção. É um grupo com 3,6 mil alunos, 360 docentes e 180 técnicos-administrativos. Um coletivo que já vinha batalhando para que pudéssemos ser um centro.

O que diferencia o Centro de Macaé?
Os outros seis são como centros de uma área afim. Aqui em Macaé, não. Antes mesmo de sermos um centro, já nascemos com essa temática, com essa característica que os tempos contemporâneos pedem, que é a multidisciplinaridade. Hoje em dia, mais do que cursos e institutos separados, o interessante é que você tenha uma boa pergunta. As respostas dessa pergunta vão se dar em várias áreas.

Quais são as consequências da transformação?
Saímos de uma situação provisória e nos tornamos, de fato, institucionalizados. Isso é o mais importante. Significa participar de todas as representações da UFRJ, como o CEG (Conselho de Ensino de Graduação), CEPG (Conselho de Ensino para Graduados) e CEU (Conselho de Extensão Universitária), mas também fazendo parte da CPPD (Comissão Permanente de Pessoal Docente), por exemplo. Aumentou o número de representações no Consuni, que era de apenas dois docentes, e agora, com a decania, tem três participantes. Já era de direito e agora, de fato, temos uma localização correta dentro do estatuto, do regimento geral da universidade, fazendo parte como o novo centro.

Como isso ajuda Macaé?
A institucionalização dá certa tranquilidade para que o servidor, técnico ou docente, saiba que tem representatividade nas instâncias superiores da universidade. Aí se resgata uma justiça para que um centro do interior possa ter uma representação dentro das decisões estratégicas da universidade. Por exemplo, a discussão sobre orçamento. Só para fazer uma comparação: nós recebemos o equivalente à decania do CCS. O orçamento hoje aqui é de R$ 687 mil por ano. Agora tem que mudar, para haver uma certa proporcionalidade, que leve em consideração o número de alunos, a distância, uma série de coisas. Acho que o orçamento também tende a se atualizar.

Já era uma vontade antiga essa mudança de status?
Houve uma tentativa, já no finalzinho da gestão do reitor Carlos Levi (2011-2015). Nos quatro anos da gestão do reitor Roberto Leher, ele já havia colocado isso em discussão, mas a questão era saber quantos institutos seriam. Vai ser um instituto, por exemplo, da Saúde, já que ali tem a Medicina, ou vai ser o instituto das Exatas? Isso não implicava só a questão organizacional, mas também uma questão política. Como seria a organização de direções, funções gratificadas e na Cotav (Comissão Temporária de Alocação de Vagas), onde se batalha pelo número de docentes? Ou até mesmo na PR-4 (pró-reitoria de Pessoal), para batalhar pelo número de técnicos? Essa discussão levou um tempo. Logo que a reitora Denise Pires assumiu, ela prometeu que iria lutar para que o nosso campus se tornasse um centro. Nosso papel era fazer o trabalho de casa: preparar uma proposta para ser enviada à Comissão de Legislação e Normas (CLN) do Consuni. E 2020 foi um ano dificílimo, com a pandemia, e o os colegas trabalhando de maneira remota. Mas eles fizeram uma caminhada interna, passando pelas congregações e pelos conselhos de centro para poder ouvir opiniões. Passando por isso tudo, com essa costura política, o pessoal se sentiu à vontade, no final do ano passado, para enviar a proposta à CLN. Nós, da diretoria, tomamos posse no dia 8 de março. No nosso plano de trabalho, nossa prioridade zero era a institucionalização do campus.

Como está a volta das aulas presenciais em Macaé?
Está lenta. Como costumamos dizer nas nossas reuniões, está sendo gradual e responsável. Entre nossos estudantes, há um percentual, que não é pequeno, carente. Precisam de alimentação, de transporte, moradia. Há os casos em que o aluno perdeu entes queridos, e a família está empobrecida. O Brasil está um país mais inflacionado, o custo de vida está mais alto. Percebemos aqui que muitos alunos optaram pelo remoto por força das circunstâncias. Mas, para cursos essenciais, como a Medicina e a Enfermagem, que precisam de atividades práticas, a vacinação nos deu uma tranquilidade. Somado a isso, há um conhecimento de biossegurança, sobre os espaços, o uso de máscara, o distanciamento, e ainda a questão da exigência do comprovante vacinal. Isso tudo veio para ficar. Estamos tomando precauções, como criar uma identificação visual dos espaços, além de medir quantos cabem em cada sala e ver se temos o quantitativo suficiente de EPIs para poder lidar com o aumento da frequência do uso das nossas instalações. Temos mantido rigor com setores da limpeza que são terceirizados, especialmente com a questão dos banheiros. Separamos as cadeiras com fitas. Salas onde cabiam 80, 90, 100 pessoas hoje em dia cabem 50, 40, 30, o que nos obriga a ter uma disponibilidade maior de espaços. É um enorme desafio. Não basta falar “ah, voltou o presencial”, por mais que haja uma liminar, que um desembargador tenha mandado voltar.

calendar 1763587 640A UFRJ aprovou o calendário acadêmico para o ano letivo de 2022. As datas foram apresentadas no Conselho Universitário, dia 9, e representam um avanço em relação aos dois últimos anos: o calendário é unificado para educação infantil, graduação e pós-graduação. Outro ponto positivo é que há mais proximidade entre as datas dos atos acadêmicos da graduação e da pós. Apesar disso, as datas ainda não estão totalmente casadas. A resolução que estabelece o ano letivo foi aprovada por unanimidade no colegiado. Veja abaixo:WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.35.07

WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.10.31Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJOs atendimentos de emergência no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) estão parcialmente suspensos desde o dia 27 de novembro. A medida é resultado da falta de pessoal e do subfinanciamento da unidade. Um comunicado na página do instituto na internet diz que “só é possível oferecer assistência aos pacientes sob risco imediato de morte, pacientes em tratamento de leucemias, linfomas e doenças em uso de medicamentos causadores de imunossupressão”.
“O déficit de recursos humanos para compor a equipe é muito grande. Sem quantitativo, tenho que reduzir de alguma forma o atendimento”, explicou o diretor do IPPMG, Bruno Leite Moreira. O instituto tem 540 servidores e 117 extraquadros, mas 48 servidores não estão trabalhando, em função da pandemia. “São muitos funcionários afastados por conta de comorbidades, o que está previsto nas resoluções da UFRJ, mas a situação causa muitos impactos aqui”, completou. Dos 54 leitos de enfermaria, apenas 30 estão funcionando. Na UTI, dos dez leitos, oito estão abertos.
“Não pude, por exemplo, manter a classificação de risco da emergência funcionando por 24 horas por falta de enfermeiros”, relatou Bruno. Se houver alguma mudança nas resoluções que regulam o trabalho durante a pandemia, pode haver alguma melhora neste cenário, mas não seria uma solução definitiva. “O ideal seria ter concurso público”, defendeu o diretor. Bruno calcula que seria necessário aumentar em 35% a equipe da emergência pediátrica — hoje composta por 90 profissionais.
O orçamento também é motivo de preocupação e só ganhou algum fôlego neste fim de ano. “Em 2021, o Rehuf (Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais) teve uma redução drástica. Só o IPPMG recebia R$ 7 milhões, que, este ano, foi o valor que toda a UFRJ recebeu”, informou. O instituto, desde abril, sofreu para comprar insumos. “Mas isso, agora no final do ano, foi solucionado porque veio um orçamento do governo federal para suporte dos hospitais. Então, vamos conseguir equilibrar as contas”, relatou o diretor. Desde 11 de novembro, chegaram ao instituto repasses totalizando R$ 5,2 milhões.

“TENDÊNCIA É PIORAR”
A sobrecarga no sistema de saúde pública do estado também influenciou a decisão da equipe do IPPMG. “Está havendo uma crise geral nos atendimentos dos hospitais. Há duas semanas, o sistema de regulação estava com cerca de 30 crianças na fila para UTI pediátrica”, contou Bruno. Com esta sobrecarga, não há como transferir pacientes para outras unidades.
Para o coordenador do Complexo Hospitalar da UFRJ, Leôncio Feitosa, o que acontece no IPPMG é um retrato da crise pela qual passam as unidades hospitalares da UFRJ. “Essa crise vem de algum tempo, e a tendência é piorar. O HU, por exemplo, já teve 550 leitos, e em janeiro terá 200, talvez 180”, ilustrou.
Leôncio ainda joga uma nova luz sobre o problema da falta de pessoal nas unidades do complexo. Com a falta de concursos, o quadro de profissionais vai envelhecendo, o que torna certas tarefas mais difíceis de serem executadas. “Nossas enfermeiras estão ficando velhas, algumas com dores nas costas e doenças como reumatismo. Você não pode querer que uma enfermeira com quase 60 anos, dor nas costas e hipertensa levante um paciente da cama, leve ao banheiro. Ela não aguenta. Então às vezes parece que há um bom número de profissionais para atender, mas só alguns conseguem fazer trabalhos mais pesados”, explicou.
O cenário atual de cortes no orçamento e falta de concursos tornou o trabalho de administrar os hospitais, na opinião de Leôncio, uma “luta pela sobrevivência”. “Nós estamos o tempo inteiro administrando a penúria”, disse Leôncio. Para ele, é importante que a UFRJ possa negociar com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), mas a empresa não é a solução dos problemas, e sim uma “boia de salvação”. “Ganhamos a decisão no Consuni e vamos poder negociar com a Ebserh. Vamos montar um grupo para discutir as necessidades da UFRJ para esta negociação. Nossa perspectiva é não morrer”, esclareceu.
O vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha, comentou que a administração central está ciente das dificuldades do instituto, e lamentou o fechamento parcial da emergência. “O IPPMG tem uma importância no atendimento pediátrico no Rio de Janeiro, é um prejuízo grande para a população”, disse.
O docente reconheceu que não só o IPPMG, mas o HU e outras unidades de saúde estão passando por um momento extremamente delicado. Mas o problema não começou agora. “Esse problema vem desde antes de 2013, quando se discutiu pela primeira vez a possibilidade de contratar a Ebserh. O que se espera agora é que as conversas com a empresa prosperem e consigamos suprir essa deficiência”, comentou.

DEPOIMENTO I Tomaz Pinheiro da Costa, vice-diretor do IPPMG (1985-1989), diretor do instituto (1989-1993) e diretor da AdUFRJ (1983-1985)

WhatsApp Image 2021 12 17 at 14.11.08A emergência do IPPMG foi criada quando eu era vice-diretor do instituto, ainda no começo da gestão do professor Luiz Carlos Siqueira como diretor. Tínhamos cerca de 25 leitos ativos na época. Ainda não havia o Sistema Único de Saúde, mas sim o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (Suds), e iniciava-se uma política mais integrada de assistência, que envolvia todos os equipamentos públicos, inclusive as unidades universitárias. Os recursos do Ministério da Saúde e Previdência Social para a manutenção do hospital eram destinados de acordo com o porte do equipamento — um hospital de pequeno porte não recebia praticamente nada. Tínhamos que crescer para virar um hospital de médio porte, o que significava ter pelo menos 90 leitos. Para crescer esse tanto não podíamos ficar dependendo da procura espontânea ou de eventuais encaminhamentos.
A emergência foi criada para ser uma potente porta de entrada para a área de internação (enfermarias) do hospital. Além de cumprir um papel no ensino e na capacitação de pessoal para a rede pública, que é papel da universidade no nosso setor, a emergência também cumpriu o papel de expandir a unidade. Foi assim que conseguimos aumentar a capacidade do hospital para 90 leitos em quatro anos.
Com a emergência aberta, o IPPMG tinha clientela para assegurar o aumento da capacidade. A emergência abriu uma pressão de demanda interna para internação. Isso fez com que os recursos vindos do setor público, na época o Suds, aumentassem. Tivemos também o apoio de uma reitoria muito ousada. Para ter a emergência aberta era preciso, por exemplo, ter uma ambulância bem equipada, o que, na época, era um investimento muito dispendioso para a unidade. Isso nós conseguimos não só com o recurso da produção, mas com o apoio da reitoria. A captação de recursos, como de resto para todas as unidades, foi uma das nossas grandes dificuldades na empreitada. Uma questão muito difícil que enfrentamos foi um pouco de resistência da academia. Na época, havia uma grande corrente na universidade que achava que emergência, digamos assim, não era uma atividade nobre para a academia.
A abertura da emergência trouxe muitos ganhos para o IPPMG, tanto na área de internação, com a abertura de novos leitos, quanto na sustentação do projeto, mas também no atendimento ambulatorial, expandindo para mais de 20 as especialidades ambulatoriais na Pediatria. Essas duas expansões, de leitos e de especialidades, trouxeram enormes ganhos acadêmicos para o IPPMG.
E a iniciativa também permitiu que construíssemos uma integração maior com o que viria a ser o SUS. Porque com uma emergência aberta e atendendo a demanda de uma população, o IPPMG pôde fazer articulações e negociações com o Suds, que trouxe mais recursos para o instituto. Quando o Sistema Único de Saúde foi criado, o IPPMG já estava pronto para lidar com ele.
E ainda houve ganhos para a população da região onde fica o IPPMG. Essa área se beneficiou muito com uma nova emergência pediátrica aberta, o que era até então uma carência local. E acho que a população sempre teve um carinho muito grande pelo IPPMG, nós tínhamos um nome, uma adesão afetiva à unidade que passou a estar aberta 24 horas por dia para atender suas demandas.

Beatriz Coutinho e Silvana Sá

WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.28.25Isis Nem de Oliveira Souza, autora da tese premiada

É da UFRJ uma das três melhores teses do Brasil, em 2021, eleita pelo Grande Prêmio Capes de Teses. Isis Nem de Oliveira Souza foi a vencedora do Grande Prêmio Carlos Chagas Filho, oferecido ao Colégio de Ciências da Vida, Agrárias, Biológicas e da Saúde. Doutora egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, ela desenvolveu uma pesquisa sobre as consequências neurológicas da infecção por Zika vírus em camundongos neonatos e adultos. Sua investigação antecipou possíveis consequências tardias da infecção pelo vírus principalmente em crianças – mesmo aquelas que não apresentavam microcefalia – depois do primeiro ano de nascimento. A tese foi defendida em dezembro de 2020 e diferentes artigos ao longo do estudo foram publicados em revistas científicas renomadas, como Science e Nature.
Isis conta que sua hipótese inicial era o aumento do risco de bebês recém-nascidos desenvolverem doenças neurodesenvolvimentais, como a esquizofrenia. Para a investigação, ela desenvolveu o estudo em camundongos. Bem no início da pesquisa, a jovem cientista percebeu alterações motoras nos animais. “Mostrei para minhas orientadoras, e a Gilda [Neves. co-orientadora] falou que eles estavam convulsionando”, explica Isis. O estudo acabou caracterizando a epilepsia e as mudanças de longo prazo causadas pelo Zika. “Anos depois, em artigos publicados, vimos que nossas previsões parecem estar bem corretas. Realmente há risco de algumas alterações a longo prazo nesses bebês, como prejuízo no desenvolvimento motor, social, de linguagem e alta incidência de epilepsia”, afirma.
A orientadora Julia Clarke, professora da Faculdade de Farmácia, foi uma das coordenadoras do trabalho. “Realmente conseguimos antecipar o que poderia acontecer com as crianças infectadas no útero da mãe, mas que haviam nascido sem microcefalia. E, portanto, eram consideradas ‘saudáveis’”, argumenta. “Alguns anos depois, o que foi observado no estudo começou a aparecer na clínica médica, com essas crianças”, conta.
Cinco anos depois da epidemia que assolou o Brasil, o projeto não para. Atualmente, Isis Souza é pesquisadora visitante na Université Paris-Saclay, na área de neurociência. “Pretendo levar esse conhecimento que estou adquirindo para o Brasil e aplicá-lo na pesquisa com Zika”, garante. A jovem doutora também espera o resultado de financiamento para jovens pesquisadores da Faperj. “Dedos cruzados!”, ela brinca. Das muitas conquistas, ainda há a recente aprovação para o quadro permanente da UFRJ, como professora adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas.WhatsApp Image 2021 12 10 at 20.28.25 1PROFESSORAS Claudia Figueiredo, coordenadora do PPG Ciências Farmacêuticas, e Julia Clarke, orientadora de Isis

LONGA ESTRADA
No campo pessoal, a conquista tem ainda mais significados para a nova professora da UFRJ. “Minha avó era semianalfabeta. Minha mãe dormia quatro horas por noite pra conseguir fazer a faculdade e trabalhar. Foi uma escadinha de muito sacrifício, de muito trabalho não só meu, mas de toda minha família, para eu conseguir chegar até aqui”, reconhece. “Por um lado, é muito bonito ver que o Brasil é capaz de dar suporte pra que alguém chegue nesse ponto. Mas ainda tem muito trabalho de base para ser feito, para que um número maior de pessoas tenha ao menos comida no prato três vezes ao dia”.
A orientadora de Isis é só elogios. “Acredito que uma série de fatores influenciaram no diferencial da tese. Um deles, que eu gostaria de destacar, é que a Isis é realmente uma aluna diferenciada, é brilhante”, pontua a professora Julia Clarke. “Isis chegou até mim muito madura, sabendo bem o que queria”, sublinha a pesquisadora.
A docente também credita a conquista do prêmio a fatores como o apoio do Estado para a realização das pesquisas e à estrutura da UFRJ. “Éramos um grupo de neurocientistas voltados a entender os mecanismos do Zika durante a epidemia de 2016, e ter recursos para esse projeto foi muito importante. Eu diria fundamental para os avanços que tivemos”, diz. “Outro ponto é a estrutura da UFRJ, que tem vários equipamentos que são multiusuários em diferentes laboratórios. Sem dúvidas, a colaboração com grupos de pesquisa mais estabelecidos contribuiu para a qualidade desse trabalho”, agradece a orientadora.
A professora Andrea da Poian, do Instituto de Bioquímica Médica, foi uma das responsáveis pela construção da rede de colaborações na UFRJ. O projeto Rede Zika contou com robusto financiamento da Finep e da Faperj. “Como era um problema novo da virologia, a formação de redes ajudaria a lidar de uma forma mais rápida com o problema em termos de pesquisa científica”, justifica a professora Andrea, uma das coordenadoras da Rede Zika do estado do Rio. “Era preciso juntar as expertises de vários lados, o que acabou resultando em um trabalho bastante bom e isso se reflete no prêmio que a Isis ganhou”, argumenta.

FINANCIAMENTO É ESSENCIAL
Para a professora Julia Clarke, a Ciência brasileira precisa ser mais apoiada para cumprir sua missão social. “O Zika foi um episódio muito triste e agora vivenciamos outro, a covid-19, com intervalo de tempo muito curto entre os dois. A Ciência precisa conseguir, de maneira rápida, responder aos questionamentos que surgem durante essas emergências. Para isso, precisamos de financiamento. Há um descaso muito grande com a universidade e com a Ciência”, critica.
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, a professora Cláudia Figueiredo também se divide entre comemoração e reivindicação. “Os programas em consolidação precisam de uma atenção maior porque eles têm muito potencial a oferecer”, alerta. Nota 5 na Capes, o programa que formou Isis Souza não consegue suprir a demanda por bolsa. “Há muitas outras Isis que poderiam gerar futuros prêmios Capes, mas que não conseguem fazer o mestrado e o doutorado aqui. É revoltante”, desabafa.
Da graduação à pós, o curso de Farmácia é multidimensional. “Formamos cientistas, profissionais para a indústria, profissionais para os hospitais públicos, além da iniciativa privada”, explica a professora Cláudia. Ela argumenta que a avaliação da Capes, que confere nota aos Programas, não abrange todas essas dimensões. “Temos uma produção científica importante, tanto que ganhamos esse prêmio, mas temos também outras frentes de formação. Essas coisas não têm um peso tão grande para a agência”, argumenta. Os atrasos na Avaliação Quadrienal acabam também se tornando um empecilho. “Já poderíamos ter evoluído na nota. Quando a gente não evolui, a gente tem menos bolsa, menos recurso”, observa.

Os passos
da pesquisa

1. Quando os camundongos completavam 3 dias de vida, recebiam o vírus da zika no dorso do pescoço, causando uma infecção subcutânea.

2. O vírus absorvido passava para circulação sanguínea. Nesta etapa, buscava-se acompanhar o neurodesenvolvimento ainda próximo ao nascimento.

3. Na infância, eram realizadas avaliações de convulsão: quantos do grupo apresentavam a enfermidade, quando e em que momento do dia.

4. Na adolescência e na fase adulta, a investigação buscava mapear a cognição e a memória desses animais. São realizados também experimentos comportamentais.

5. A última etapa investigava o tecido cerebral dos animais. Neste ponto, a pesquisadora descobriu que um grupo de indivíduos apresentava modificações estruturais ou indícios de inflamação no tecido, como desorganização do hipocampo, focos de necrose (morte celular), calcificações e outras condições.

Topo