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WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.03.15 2Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJA virada de ano veio acompanhada de uma má notícia para servidores, estudantes e pacientes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Com o fim de um convênio firmado com o Ministério da Saúde até 31 de dezembro passado, 850 profissionais contratados de forma temporária deixaram a unidade de saúde e 110 leitos foram desativados. Apenas 200 estão abertos, no momento.
“Mantivemos estes profissionais com o orçamento suplementar do Ministério da Saúde destinado à demanda Covid, que serviu para contratar pessoal e assegurar os leitos de referência abertos no Rio de Janeiro”, explicou, em nota, o diretor geral do HU, professor Marcos Freire.
De acordo com a mesma nota, os leitos agora fechados atendiam a diversas especialidades clínicas e cirúrgicas. Além disso, o hospital não conta mais com leitos exclusivos para pacientes infectados com o coronavírus. A unidade só atende pacientes que testem positivo e tenham prontuário ativo na unidade ou já estejam internados. Os espaços reformados para receber pacientes da pandemia estão sendo utilizados em outros atendimentos, exceto a área do CTI covid, que está desativada.
O diretor do hospital explica que a unidade sofre com um déficit significativo de pessoal, especialmente considerando sua capacidade ideal de funcionamento. “Para manter o atendimento e a qualidade de ensino, o ideal é que o hospital tenha 400 leitos. Mas, para isso, são necessários cerca de 1,9 mil profissionais — médicos, enfermeiros, outras especialidades e administrativos — além do efetivo atual, que é de 2,6 mil”, afirma Marcos Freire.
Para o coordenador do Complexo Hospitalar da UFRJ, Leôncio Feitosa, o fechamento dos leitos é “terrível para o sistema de saúde pública, para o SUS, para a universidade e para a sociedade”. Segundo ele, o hospital tentou renovar o convênio com o Ministério da Saúde, mas recebeu uma resposta negativa do governo federal. “Nosso desejo é que fosse renovado, mas, quando fizemos a solicitação, o momento era outro. Agora estamos vendo um recrudescimento da pandemia”, contou Leôncio, em referência ao avanço da variante ômicron no país.
A prefeitura do Rio pediu que o governo do Estado abra novas vagas para pacientes de covid-19 na sua rede de saúde. Leôncio afirma que o HU está pronto para abrir vagas, desde que haja um aporte de recursos na unidade. “A reitoria já apresentou ao governo federal, quando fez a proposta para a renovação do convênio, os valores necessários para a manutenção desse pessoal e dos leitos abertos”, contou.
Para Gerly Miceli, coordenadora do Sintufrj, não só o HU, mas todas as unidades de saúde que abriram novas vagas para atendimento de pacientes de covid-19, deveriam se empenhar para preservar estes leitos, de forma permanente. “Todos esses hospitais que tiveram um incremento de recursos para o enfrentamento da pandemia deveriam, via Complexo Hospitalar e reitoria, fazer uma forte campanha para que esses leitos fossem agregados aos da universidade para atendimento das especialidades”, defendeu a dirigente.
Gerly entende que seria uma nova oportunidade de unir a sociedade civil em defesa da UFRJ, como aconteceu em maio do ano passado, quando a reitoria denunciou o desmonte orçamentário da universidade. “Isso daria autoridade à UFRJ, junto à sociedade, para reivindicar concursos públicos, para servidores em RJU, dado que a universidade está oferecendo mais estes serviços”, explicou.
Diante da crise de recursos e de pessoal do Complexo Hospitalar da UFRJ, o Consuni aprovou, no fim do ano passado, a abertura de negociações com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que administra 40 hospitais universitários por todo o país.

Painel Covid-19: mais de 2,5 mil atendidos

WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.03.14ReproduçãoDesde que começou a receber pacientes com suspeita de contágio pela covid-19, no ano retrasado, o HU já atendeu 2.504 pessoas, das quais 1.656 foram internadas. Os dados são de um painel elaborado pela equipe de vigilância epidemiológica em conjunto com a equipe de Tecnologia da Informação (TI) do hospital, que informa em tempo real o número de casos, por sexo e faixa etária, atendidos e internados no hospital e os principais desfechos (altas, óbitos), além de indicadores hospitalares, como tempo médio da internação e taxa de mortalidade.
O painel surgiu a partir de um projeto que buscava utilizar ciência de dados para subsidiar a gestão na tomada de decisões. “Quando veio a pandemia, a programadora Ana Rangel desenvolveu um sistema de informação para o monitoramento dos casos de covid-19 que chamamos de VisualizaCOVID, e é integrado ao prontuário eletrônico do hospital”, contou Henrique de Castro Rodrigues, chefe do Serviço de Epidemiologia e Avaliação (SEAV) do hospital. “Nós adaptamos ao covid-19 para que, durante a pandemia, tanto a direção médica quanto a direção geral do hospital tivessem informação útil em tempo real para controle da situação e tomada de decisão”, explicou Henrique. “Graças ao painel, os gestores do hospital tinham em tempo real informação útil e atualizada. É o que esperávamos que o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica do SUS pudesse oferecer para a sociedade, caso houvesse investimentos para isso”, resumiu.
Para Henrique, a experiência foi fundamental, especialmente pela maneira como os dados dos pacientes foram automatizados dentro da unidade. A apresentação dos dados por meio do painel, para o especialista, é apenas a ponta visível de um complexo sistema integrado de dados. “A ferramenta principal é a integração dos dados dos pacientes dos sistemas do hospital com os dados do monitoramento dos casos realizado pela equipe de vigilância epidemiológica”, afirmou. “Algo que facilitou tanto a circulação interna de informação, quanto o envio de informações para outros órgãos do sistema público de saúde”, explicou Henrique. Ele ainda exaltou o trabalho da equipe de TI do hospital. “Foi um trabalho brilhante deles, feito com uma equipe com déficit importante de pessoal”.

WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.03.15As recentes tempestades no sul da Bahia levaram dor e destruição para mais de 660 mil pessoas em 165 municípios da região. A chuva que caiu por 20 dias seguidos deixou 153 cidades em situação de emergência, mais de 32 mil desabrigados, 57.531 desalojados, 25 mortos e 517 feridos. A fúria dos temporais fez novamente os cientistas acenderem o alerta para a sociedade sobre o quanto a ação humana colabora para que eventos extremos como esse aconteçam. Outra discussão é sobre a necessidade de investimento em sistemas que consigam prever com antecedência catástrofes como essa.
“A grande destruição na Bahia aconteceu já nas primeiras 12 horas de intensa chuva. Houve um efeito combinado de muitas variáveis meteorológicas que se somaram à Zona de Convergência do Atlântico Sul. Uma situação bastante complexa de prever”, explica o professor Wallace Figueiredo Menezes, do Departamento de Meteorologia da UFRJ. “Esse sistema permaneceu sobre a região por muitos dias e manteve centenas de cidades submersas”.
Para ele, o evento não pode ser classificado — ainda — como um resultado das mudanças climáticas. “Aquela região se tornou um ponto de intercessão entre vários fatores meteorológicos. Esta é uma análise meteorológica, algo que a gente chama de análise sinótica. A gente identifica ‘ingredientes’ que ajudam a formar uma tempestade. E eles passaram a coexistir numa mesma região”, explica.
A tempestade que colocou o sul baiano submerso, segundo o docente, foi agravada por fatores meteorológicos que se formaram muito rapidamente. “Esse tipo de evento mostra a importância de termos centros regionais de previsão de tempo”, afirma. “Sobretudo em locais propensos a certos tipos de fenômenos, o ideal é ter centros focados neles, para especificar eventos ou configurações meteorológicas que possam impactar tão fortemente a vida das pessoas”.

AÇÃO HUMANA
A Ciência já comprovou que o principal agente causador do aquecimento global, na escala que temos observado, é o ser humano. “Na Amazônia, a gente tinha um evento extremo a cada 20 anos, uma grande cheia ou uma grande seca. Nos últimos dez anos, esses eventos passaram a acontecer anualmente”, compara o professor Fabio Scarano, titular do Instituto de Biologia e especialista em ecologia e clima. “Estamos passando pela sexta extinção em massa do nosso planeta, sendo que é a primeira vez que é causada por uma única espécie: a nossa”, destaca.
Scarano acredita que, embora seja difícil atribuir alguns eventos às emissões de gases do efeito estufa, há pistas que levam a crer que as chuvas do sul da Bahia e do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, tenham relação com o aquecimento global. “Uma das formas de medir essa relação é avaliar a frequência desses acontecimentos, mas essas áreas inundadas são comumente mais secas. Então, tenho, sim, a impressão de que parte disso se deve às mudanças climáticas”, pontua o especialista.
Para o professor, é preciso agir agora. “A Ciência já traçou cenários desoladores para o planeta, caso a média das temperaturas ultrapasse 2°C acima da média registrada antes da Revolução Industrial”, ele afirma. “Derretimento das geleiras, das calotas polares, aumento do nível do mar. Temos 60% da população brasileira vivendo à beira-mar e a até 50 quilômetros da região costeira. Cidades como o Rio vão ser submersas”.
O passo para estancar ou reduzir esses impactos, segundo o especialista, depende de cada um de nós. “Se continuarmos com o atual padrão de emissões, teremos um planeta, em 2050, 3°C mais quente. Temos que mudar os padrões de consumo e produção. Nosso problema passa a ser de tempo. A gente precisa mudar drasticamente de postura até 2030 para chegarmos bem a 2050”.
Em relação ao Brasil, uma dessas mudanças é zerar o desmatamento. “Essa ainda é a principal causa de emissão de CO2 no nosso país. Não há como falar em descarbonização sem acabar com o desmatamento”, reconhece o professor André Lucena, do Programa de Planejamento Energético da Coppe. Ele é um dos pesquisadores que fazem parte da elaboração do próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
“O Brasil se comprometeu a tornar nulos até 2050 os efeitos das emissões, mas continuamos no sentido contrário, sobretudo pelo desmatamento crescente”, reforça. “Temos a tarefa de buscar formas de descarbonizar o setor energético e também outras áreas”, completa.
O investimento em energias renováveis é uma saída para descarbonizar o setor elétrico. “É imprescindível a adoção desse tipo de energia. Mas é preciso ter consciência de que elas, sozinhas, não são suficientes para zerar as emissões”, pondera o especialista em energias renováveis e professor de Engenharia do Centro Multidisciplinar de Macaé, professor Diego Malagueta.
Estimular pesquisas que busquem baratear o uso de energias como a eólica e a solar é uma tarefa do Estado, segundo o professor. “Precisamos buscar novas tecnologias para tornar o uso de energias renováveis uma realidade que alcance a população de maneira geral”, defende.

Ar-condicionado, efeito estufa e desigualdade

O aquecimento global gera uma consequência pouco discutida: o uso crescente de aparelhos de ar-condicionado, bem normal e desejado na sociedade contemporânea. Acontece que essa dinâmica pode representar um ciclo vicioso: quanto maior o calor, mais aparelhos ligados. E mais aparelhos ligados demandam mais energia elétrica, o que leva à ampliação da oferta de matrizes energéticas complementares. Parte dessas matrizes, como as movidas a carvão e gás, produz os chamados gases do efeito estufa, que tornam o planeta mais quente e levam mais pessoas a precisarem de ar-condicionado, o que necessariamente aumenta a demanda energética e assim por diante.
É aí que entra a Ciência: para buscar soluções que quebrem essa retroalimentação entre aquecimento e aumento de emissões de CO2 (dióxido de carbono). “O aquecimento global é inequívoco. Já estamos com temperatura 1.2°C acima da registrada na época pré-industrial”, destaca o professor André Lucena, do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ. Ele foi um dos autores de um estudo que traça cenários de impacto do aumento do uso do ar-condicionado em quatro países emergentes nos próximos 20 anos: Brasil, Índia, Indonésia e México.
O artigo Climate change and air-conditioning: a rising emergency for emissions and inequalities (Mudanças climáticas e ar-condicionado: uma emergência crescente para emissões e desigualdades) foi publicado na revista Nature Communications e coordenado pela professora Enrica De Cian, da Ca’ Foscari University of Venice. O estudo indica que haverá aumento do uso dos aparelhos nos quatro países analisados. “Quem já tem ar-condicionado vai ligá-lo mais frequentemente, e a tendência é que o gasto de energia seja maior para reduzir as temperaturas. Conforme aumenta a renda, o uso e a compra do aparelho vão sendo mais estimulados”, ele afirma.
A Índia, que tem a sua matriz energética baseada no carvão, poderá sofrer mais com as emissões de CO2, mas o Brasil também tende a ampliar a emissão de dióxido de carbono com a introdução do gás natural no sistema energético. “A gente consegue frear ou mitigar os efeitos sobre o clima com eficiência energética dos equipamentos. Mas é preciso caminhar no sentido da descarbonização do setor elétrico. Isso vai precisar acontecer. É uma medida urgente”, afirma.
O artigo também aborda impactos sociais e econômicos nos países analisados. “De 64 a 100 milhões de famílias com acesso à eletricidade não serão capazes de atender adequadamente sua demanda por conforto térmico. A necessidade de sustentar os gastos com eletricidade em resposta a temperaturas mais altas também pode criar oportunidades desiguais de adaptação”, destaca trecho do artigo. Para ler a íntegra, acesse: www.nature.com/articles/s41467-021-26592-2.
(Silvana Sá)

comprovanteFoto: Tânia Rêgo/Agência BrasilLucas Abreu e Silvana Sá

A reitoria da UFRJ foi uma das primeiras do país a se manifestar contra o despacho do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que tentou proibir que as universidades cobrassem comprovante vacinal de suas comunidades acadêmicas. Em nota, divulgada em 30 de dezembro, dia seguinte ao ato ministerial, a administração central reafirmou a cobrança do passaporte. “As pessoas não vacinadas ajudam no espalhamento do vírus”, justifica a professora Denise Pires de Carvalho, reitora da universidade. “Eu não vou deixar pessoas não vacinadas acessarem nossos prédios. É uma questão de saúde, de defesa da vida. Isso é Ciência”, reivindica.
A medida, segundo a docente, vale não só para professores e técnicos, como também para estudantes. “Já temos uma portaria que prevê a cobrança do comprovante para todo o corpo social da universidade, o que já ocorre nas entradas dos prédios, para todas as pessoas”, conta.
Denise coordena um grupo de trabalho, no âmbito da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), para criar diretrizes sobre o tema. “São realidades muito distintas. Elaboramos um questionário, que foi respondido por 53 universidades de todas as regiões do país. Estamos em vias de tabular os dados para apresentar as conclusões”, informa Denise.
Quem também reagiu rápido ao despacho do MEC foi a AdUFRJ. Em nota divulgada em 30 de dezembro, a diretoria se manifesta “firmemente contra esta orientação negacionista do ministro da Educação”, diz trecho do texto. “O direito coletivo à saúde é mais importante do que o direito individual de uma pessoa de não tomar vacina”, defende o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “Ficamos pasmos com o ato do MEC, mas não podíamos esperar outra coisa do governo Bolsonaro, que desde o início da pandemia tem trabalhado contra as diretrizes de saúde”, avalia o professor.
Para o dirigente, o despacho do MEC ataca a autonomia universitária. “É um preceito constitucional bem estabelecido. A universidade conta com autonomia didático-científica e administrativa, e o passaporte vacinal é fundamental para o bom andamento das atividades da universidade”, opina João. A AdUFRJ se preparava para questionar judicialmente a decisão do MEC, quando o ato ministerial foi sustado pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, no dia 31 (leia mais abaixo).
O Sintufrj também apoia a exigência do passaporte vacinal. “Somos favoráveis e acho ótimo que a reitoria tenha mantido essa posição, enfrentando o MEC, fazendo jus à resolução construída e aprovada pelo Conselho Universitário”, defende a coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis. “Garantir a vida e a tranquilidade para o retorno ao trabalho e às aulas é fundamental”, argumenta.
Entidades e associações nacionais, como a Academia Brasileira de Ciências, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o Observatório do Conhecimento e a UNE emitiram nota conjunta, ainda no dia 29 de dezembro, contra o que chamaram de “desrespeito” e “erro” do governo. “Consideramos que o despacho do Sr. Ministro da Educação, nesta data, além de desrespeitar a autonomia constitucional das instituições de ensino superior, está errado no mérito, por impossibilitar a adoção de medidas indispensáveis para garantir o direito, também constitucional, à vida”.

REALIDADES DISTINTAS
A Andifes também defende a autonomia, mas reconhece que nem todas as universidades decidiram pela cobrança do comprovante. “Nós temos universidades que aprovaram o passaporte vacinal e universidades que não aprovaram. Pelos mais diferentes motivos”, afirma o presidente da associação, professor Marcus David. “A UnB aprovou uma regulamentação em que não exige passaporte para a matrícula, mas o aluno não vacinado não pode usar restaurante universitário, nem usar biblioteca. São várias situações”, completa.
Muitas universidades ainda estão debatendo o tema, de olho em um amplo retorno presencial da comunidade acadêmica no primeiro período letivo de 2022. “É o meu caso”, diz o presidente da Andifes, que é reitor da Federal de Juiz de Fora (UFJF). Lá, o próximo período letivo começa em abril. “Estamos fazendo um debate muito grande dentro da Andifes. Por isso, o pior da decisão do ministro (do MEC) foi atropelar essa discussão mais profunda e cuidadosa”.
A Universidade Federal Fluminense (UFF) aprovou a obrigatoriedade do comprovante de vacina. O desafio agora é construir um sistema para a efetivação do controle. “Fazer acontecer em uma universidade gigantesca como a nossa é bem desafiador. Se formos cobrar de cada indivíduo que entra, teríamos que ter um enorme mecanismo de conferência, para evitar aglomerações, inclusive”, explica o professor Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, reitor da universidade.
“Buscamos uma alternativa que não seja a do controle do indivíduo, em um primeiro momento, mas sim controle do cadastro da comunidade”, conta o reitor. Cada unidade deverá fazer o mapeamento de suas comunidades locais e atrelar o comprovante aos cadastros das pessoas no sistema da universidade. Uma vez cadastrado, o indivíduo está autorizado a ingressar nas dependências da instituição. “Não dá para cobrar o comprovante toda vez que a pessoa entra em um campus”, reconhece.
A Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) ainda cogita adotar a obrigatoriedade do comprovante de vacinação. Segundo o reitor Ricardo Silva Cardoso, a instituição formou um grupo de trabalho para criar um plano de retorno às atividades presenciais. “O plano apresenta recomendações como, por exemplo, solicitação do passaporte sanitário, comprovando a completa imunização conforme o calendário vacinal, e uso de máscara obrigatório nas dependências da universidade”, conta o reitor.
(Colaborou Kelvin Melo)

Decisão do STF anulou despacho do MEC

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, anulou os efeitos do despacho do MEC que proibia que as universidades federais cobrassem comprovante de vacinação contra a covid-19 de suas comunidades acadêmicas. Segundo a decisão do ministro, publicada no dia 31 de dezembro, o ato do ministério fere a Constituição, já que as universidades gozam de autonomia.
Lewandowski analisou pedido de tutela de urgência formulado pelo PSB, em uma ação sobre vacinação que já tramitava no STF, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 756. Na decisão, o ministro do STF sublinhou que o MEC, “além de contrariar as evidências científicas e análises estratégicas em saúde ao desestimular a vacinação, ainda sustenta a exigência de lei federal em sentido estrito para que as instituições pudessem estabelecer tal restrição”.
O posicionamento do ministro é o mesmo defendido pelo professor Luigi Bonizzato, especialista em Direito Constitucional da Faculdade Nacional de Direito. “Há duas decisões de plenário do STF. Em ambas nossa corte suprema aponta a obrigatoriedade da vacina, indica possíveis sanções a não vacinados e determina a competência para que outros agentes da esfera pública atuem no sentido de combater a doença”, ressalta o docente.
As decisões são de dezembro de 2020 e fevereiro de 2021. “O ministro (Milton Ribeiro) coloca como argumento a necessidade de uma legislação federal. Mas enquanto essa legislação própria – que eu defendo que seja uma Emenda Constitucional sobre a obrigatoriedade da vacina – não for criada, nós temos decisões Judiciais do STF que norteiam o Direito e precisam ser cumpridas”.
Em relação aos limites para essa obrigatoriedade, o professor Bonizzato afirma que os cidadãos apenas não podem ser levados coercitivamente a serem vacinados. “Isso está evidentemente proibido e expresso na decisão do Supremo, mas sanções a pessoas que recusem a vacinação, sem justificativa médica, estão previstas”, destaca. “Proibir uma pessoa de acessar as dependências da universidade está, portanto, em consonância com as decisões do STF. A proteção à saúde e à vida são preponderantes”.

VACINAÇÃO INFANTIL
O Ministério da Saúde finalmente autorizou a vacinação infantil, 20 dias depois de a Anvisa autorizar o uso do imunizante da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos. A boa notícia, no campo jurídico, pode trazer ainda mais confusão, segundo o professor Luigi Bonizzato. “Imagine que os pais de uma criança sejam separados e tenham guarda compartilhada. Um é a favor da vacinação, o outro contrário. Essa criança será vacinada? Haverá disputa judicial”, aponta. “Se já houvesse uma Emenda Constitucional a este respeito, o Judiciário não precisaria ser acionado”, diz.
Essas e outras situações poderão ser desencadeadas. “É possível que as escolas passem a cobrar o comprovante de vacinação das crianças e isso não estará contra as nossas tradições brasileiras, afinal já temos um Plano Nacional de Imunização, com calendário próprio e que é cobrado nas matrículas escolares”, afirma. “Quem sabe acrescentar a vacina contra a covid-19 ao calendário infantil obrigatório não seja uma saída para estes casos?”, sugere o docente.
(Silvana Sá)

capesBeatriz Coutinho e Kelvin Melo

Segue tensa a relação entre a presidência da Capes e a comunidade científica. No dia 22 de dezembro, os três coordenadores e 21 consultores ad-hoc da área de Zootecnia e Recursos Pesqueiros renunciaram às funções de avaliadores da Quadrienal 2017-2020. Com esses, já são 138 cientistas de cinco áreas do conhecimento que deixaram seus postos em sinal de protesto contra a atual gestão da agência de fomento.
“A renúncia não foi uma decisão tomada devido a uma ocorrência, mas sim a um histórico de decisões equivocadas (da Capes)”, explica um dos recém-demissionários, o professor José Neuman, da Universidade Federal do Tocantins. Para o docente, existe inconstância no direcionamento da agência. Essa movimentação, para ele, não seria à toa. “Há por trás um interesse da iniciativa privada em deixar que esse processo de avaliação acabe pelo cansaço”, opina.
“A questão é o ambiente”, reforça o professor Ronaldo Oliveira (UFBA), agora ex-coordenador da área e membro titular do Conselho Técnico Científico de Educação Superior (CTC-ES). “Não é dialógico, por mais que se diga que é. Temos que estar o tempo todo disputando para ter uma resposta efetiva para conduzir algo que era pra ser natural”, critica.
A gota d’água foi a entrevista concedida pela presidente da Capes, Cláudia Toledo, ao jornal O Globo, no mesmo dia 22. Toledo classificou as renúncias anteriores como “insurgência” ou “deserção”. “Nós podemos até ser insurgentes, porque somos contrários a esse mecanismo que se instalou na Capes. Mas desertores? Acho inadmissível”, conclui o coordenador.
A declaração ao Globo também não foi bem recebida por grande parte dos pesquisadores que ainda permanecem em seus cargos. Dois dias após a publicação da entrevista, os coordenadores de 29 áreas assinaram uma carta cobrando a saída de Cláudia Toledo ao ministro da Educação. Acrescentaram, como motivo de preocupação, o pedido de exoneração do então diretor de Avaliação da Capes, professor Flavio Anastacio de Oliveira, considerado um pesquisador de renome acadêmico. “Esse conjunto de fatos consolida a percepção de que não há mais condições mínimas de darmos continuidade ao processo nobre de avaliação dos PPGs do país sob a égide da atual presidência”, diz um trecho do documento.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência imediatamente também protestou contra o desrespeito aos pesquisadores que renunciaram. “A SBPC considera que o legítimo direito de expressão e crítica (...) não pode ser assimilado a ‘insurgência’ ou ‘deserção’, como foi dito”, diz um trecho de nota divulgada no dia 22. Após o Natal, a presidente da Capes convidou os representantes da entidade e da Academia Brasileira de Ciências para uma reunião e tentou justificar as expressões utilizadas.

PRESSÃO GERA MUDANÇAS
Em meio à crise, a Capes acenou com algumas medidas que agradaram aos pesquisadores: revogou uma polêmica portaria que tratava da classificação dos periódicos, estendeu o prazo da avaliação para 23 de dezembro deste ano e prorrogou o mandato dos atuais coordenadores de área.
“São medidas que estávamos reivindicando. Consideramos que as coisas se clarearam graças, sobretudo, à mobilização da comunidade científica e ao diálogo que mantivemos com a direção da Capes”, avaliou Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC.
Mas nem todos recuperaram a confiança na gestão da agência de fomento. “É o reconhecimento por parte da Capes de que a pressão da comunidade científica foi forte e estava muito bem embasada em argumentos, porém falta esclarecer muitas coisas”, diz o professor César Niche, do Instituto de Matemática, que renunciou à função de consultor da área. “Novos cursos e ensino a distância continuam sendo prioridades da Capes. Fizeram um recuo estratégico, mas ainda falta bastante para preservar a integridade da avaliação”.
Já o professor Leandro de Paula, do Instituto de Física, também ex-consultor de área, explica que ainda paira uma incerteza sobre a Quadrienal por conta da decisão judicial. “A Justiça falou que pode avaliar, mas não pode divulgar os resultados, porque não julgou o mérito. Mesmo que as pessoas trabalhem, se a Justiça determinar que não vale, ela engaveta”. O docente reforça que a renúncia teve o objetivo de chamar a atenção para problemas sérios da Capes, mas que “todos têm interesse na avaliação”.

RECOMPOSIÇÃO DE COMISSÕES
No dia 17 de dezembro, a presidente da agência enviou um ofício circular para iniciar a recomposição das comissões que renunciaram à avaliação. Programas e sociedades científicas devem indicar nomes até o dia 14 de janeiro. As indicações serão avaliadas pela Diretoria de Avaliação para elaboração de listas, que serão apreciadas pelo Conselho Superior da Capes. Por fim, a instância vai apresentar listas tríplices, que serão submetidas à escolha da presidente Cláudia Toledo.
Os pesquisadores ouvidos pela reportagem consideram que a medida está seguindo os trâmites corretos. “Isso é um fato positivo”, explica o antigo coordenador da Área da Física e Astronomia, professor Fernando Lázaro, da PUC-Rio. Ele é enfático ao afirmar que não voltará ao cargo, mesmo com a nova convocação. “A dificuldade é saber se conseguirão convencer pessoas que têm certo prestígio na comunidade a embarcarem nessa canoa, que pode ser uma canoa furada”.

WhatsApp Image 2021 12 06 at 09.52.08Foto: Marco Brandt/Assessoria de Imprensa HUCFFBeatriz Coutinho

Ano novo, vida nova para o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Ou melhor, projetos novos. Estão sendo instaladas 432 placas fotovoltaicas na parede do prédio voltada para a estação do BRT, que recebe maior incidência de raios solares. O sistema, previsto para entrar em funcionamento no primeiro semestre de 2022, vai gerar energia limpa e, a longo prazo, economizar recursos para a universidade.
Hoje, a unidade de saúde consome em média 10.800MWh (megawatts-hora) por ano. A conta de luz vem salgada: R$ 400 mil por mês. “Nosso consumo é muito grande. São equipamentos elétricos e cirúrgicos, elevadores, bombas de recalque de água. Tudo é muito custoso”, destaca João Roberto Nunes, chefe da Divisão de Engenharia do HU.
As placas iniciais ficarão longe de suprir esta demanda. Serão produzidos apenas 154,5 MWh por ano. No valor atual da energia, seria uma economia de R$ 11 mil por mês. Mas o engenheiro sonha alto: “Hoje, elas são objetos de estudo pra avaliação da sua eficiência na vertical, diferentemente da horizontal”, explica João. “No futuro, quando conseguirmos utilizar os seis mil metros quadrados de telhado horizontal para produção de energia elétrica, conseguiremos, possivelmente, zerar essa conta. Esse será o grande salto”, completa.
A instalação já vai trazer um ganho que não é visível para quem está apenas passando pelo hospital. Uma nova subestação elétrica está sendo construída para conferir segurança à rede elétrica do HU e possibilitar a ligação do sistema fotovoltaico à rede elétrica da concessionária.
A antiga subestação do hospital foi construída antes das normas técnicas atuais e funcionará como distribuidora intermediária. “Vamos ter uma segurança energética e elétrica muito maior do que tínhamos. Foi um ganho fundamental no sentido de segurança”, afirma.
O sistema de placas é financiado pelo Fundo Verde de Desenvolvimento e Energia para a Cidade Universitária da UFRJ e está orçado em R$ 1,3 milhão. Criado em 2012 por decreto estadual, o fundo tem como objetivo transformar o campus da Ilha do Fundão em um polo de projetos de desenvolvimento sustentável. Só de sistemas fotovoltaicos, já existem cinco iniciativas.
Bruno Allevato, coordenador técnico do Fundo Verde, explica o que pesou para escolha do hospital como local do projeto: “A fachada vertical, porque temos o intuito de diversificar as formas de instalação desses sistemas; e a rede elétrica, que necessita de melhorias”, afirma. “Estamos realizando a instalação das placas fotovoltaicas e a adequação da subestação de energia dentro do HU”. Segundo Allevato, a estimativa de geração de energia será equivalente ao consumo de 70 residências.

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