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WhatsApp Image 2022 01 28 at 18.07.49A UFRJ vai retomar na próxima segunda-feira (31) as atividades presenciais de 2021.2 que estavam em curso no começo de janeiro e foram interrompidas, ou transferidas para o remoto, em função do aumento de casos causado pela variante ômicron. A recomendaçao foi anunciada por meio de nota publicada pela reitoria, e confirmada pelo vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha, ao Jornal da AdUFRJ. O encerramento das atividades de 2021.2 está previsto para março.
“A reitoria vai recomendar o retorno e vai retomar a programação para a volta das aulas presenciais no próximo semestre letivo, em abril”, explicou o vice-reitor. A decisão parece controversa, em um momento em que a taxa de transmissão da covid-19 na cidade do Rio de Janeiro chega a 2,61, segundo dados do Covídimetro, instrumento elaborado pelo GT Coronavírus para monitorar os índices da pandemia e orientar as decisões da reitoria. “Na conversa que tivemos com o GT, eles nos mostraram que a taxa de letalidade da doença para pessoas entre 19 e 59 anos foi zero em dezembro e janeiro”, explicou o professor. Os servidores com mais de 60 anos estão liberados por uma resolução do Consuni para continuar em atividade remota.
Carlos Frederico defendeu a interrupção feita em janeiro, e afirmou que a universidade está caminhando no sentido de retomar todas as atividades presenciais, desde que não haja nenhuma mudança significativa no cenário epidemiológico. “O passo atrás dado em janeiro foi diante de um risco, e diante do risco nós sempre vamos poder recuar. Com a informação que tínhamos na época, tomamos a decisão de preservar a comunidade”, explicou o professor, que ainda reiterou que a comprovação do esquema vacinal completo continua sendo obrigatória para quem acessar a universidade.
Em entrevista ao Conexão UFRJ, o professor da Coppe Guilherme Horta Travassos, vice-coordenador do GT Coronavírus, explicou que é preciso observar outros índices além da taxa de transmissão, como a ocupação hospitalar, o número de casos por 100 mil habitantes e a cobertura vacinal. “Diferentes indicadores podem e devem ser utilizados para avaliar a evolução da pandemia e, com eles, apoiar uma tomada de decisão baseada em evidência”.
Esta semana, o Covidímetro foi objeto de polêmica. Com a divulgação da alta taxa de transmissão aferida pelo instrumento, a imprensa noticiou que a UFRJ recomendava a adoção de lockdown na cidade. O GT se manifestou por meio da assessoria da universidade, esclarecendo que não foi feita a recomendação de lockdown. “Não existe recomendação imediata de lockdown por parte da universidade. Há consenso, entretanto, de que, quando o “R” está muito alto (acima de 2 – atualmente o índice é 2,6), medidas são necessárias visando à redução da taxa de transmissão do coronavírus: usar máscaras, evitar aglomerações, higienizar as mãos e ter o esquema vacinal completo, por exemplo”, dizia um trecho da nota.

IDAS E VINDAS PREJUDICAM ESTUDANTES QUE MORAM EM OUTROS ESTADOS

No fim do ano passado, com a recomendação do retorno facultativo de algumas atividades presenciais na UFRJ, Ana Raquel Rodrigues, que é natural de Manaus e estudante do Bacharelado em Física Médica, tomou a decisão de aderir ao retorno e se inscreveu em um laboratório que seria ministrado presencialmente. “Eu moro no Amazonas e vir para o Rio é atravessar o Brasil inteiro, então é muito complicado. É um custo alto: teve viagem, teve o aluguel, tive que consertar a mala”, conta a estudante. No início deste mês, a reitoria recomendou a suspensão das atividades presenciais, e Ana Raquel está cursando a disciplina remotamente, mas agora instalada no Rio de Janeiro: “Eu voltei exclusivamente por causa dessa matéria, que eu pensei que seria presencial, mas acabou que voltaram atrás e suspenderam. Fiquei até um pouco chateada mesmo entendendo a situação, que a pandemia ainda não acabou e os casos começaram a crescer de novo. Enfim, todo esse agravamento me prejudicou”.
Ludmila Rancan é estudante de Jornalismo e veio de Guarulhos (SP) para o Rio no final do ano passado. Ela não chegou a se inscrever em atividades presenciais da universidade, mas voltou para se preparar caso as aulas retornem. “Eu acabei ficando desempregada no meio da pandemia e para eu voltar ao Rio para estudar, no semestre que vai começar em abril deste ano, eu necessariamente precisava de um estágio. E consegui”, conta ela. “Ainda estou me organizando aqui no Rio de Janeiro. Desde que eu voltei, estou na casa de um amigo”.
O pró-reitor de Políticas Estudantis (PR-7), Roberto Vieira, explica que há um programa de retorno ao Rio para os moradores da Residência Estudantil: “Bancamos as despesas de retorno para a casa deles em outras cidades e estados e, quando eles retornarem, se quiserem fazer uma disciplina presencialmente, vamos custear o retorno deles para a residência se eles aderirem ao programa”. Ele também conta que esse é um número menor de estudantes, já que a maioria optou por permanecer no Rio, na Residência Estudantil. “Certamente vamos ter estudantes com vulnerabilidade socioeconômica que não aderiram ao auxílio, alguns podem ter dificuldades de voltar. Se isso acontecer, pode ser que um ou outro entre com pedido de auxílio”, completa. (Estela Magalhães)

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

“Não basta as pessoas entrarem no ensino superior. Elas têm que entrar e sair”. A avaliação é do professor Flávio Carvalhaes, do IFCS, coorientador de um estudo inédito sobre evasão estudantil na UFRJ, tema de nossa matéria de capa, na página 4. De acordo com o estudo, feito pela doutoranda em Educação pela UFRJ Melina Klitzke, de todos os estudantes que ingressaram na graduação da UFRJ no início de 2014, 32% abandonaram o curso até o quinto período. Feito com os dados mais recentes disponíveis — ainda não há dados consolidados do período da pandemia —, o estudo registra o problema e já há na UFRJ alguns debates importantes sobre o tema, como a adoção de um sistema de reconhecimento e valorização da atividade de ensinar nos cursos de graduação e a necessidade de revisão dos conteúdos curriculares.
Se quase um terço dos estudantes que entram na UFRJ abandonam a universidade sem completar seus cursos, há um robusto percentual que espera, ansioso, pelo retorno às atividades presenciais. Mesmo com o avanço exponencial da variante ômicron, a reitoria da UFRJ, com base em parecer do GT Coronavírus, recomendou esta semana a retomada presencial das atividades de 2021.2, que haviam sido suspensas. Estudantes de fora do estado do Rio de Janeiro, que retornaram às suas casas no ensino remoto, vivem a expectativa — e a incerteza — dessa retomada. Esse complexo contexto, que mobiliza toda a comunidade acadêmica, é o tema de nossa matéria da página 5.
E por falar em mobilização, os professores da UFRJ têm um encontro marcado no dia 11 de fevereiro, às 9h30: a primeira assembleia da AdUFRJ de 2022 (veja quadro abaixo). Ela dará o pontapé inicial nas discussões sobre a conjuntura nacional, com enfrentamentos que vão desde a luta contra a reforma administrativa e a mobilização por reajustes dos servidores públicos federais. A assembleia vai também eleger a delegação da AdUFRJ ao 40º Congresso do Andes, que terá como tema “A vida acima dos lucros: Andes-SN 40 anos de luta”, e será realizado entre os dias 27 de março e 1º de abril, em Porto Alegre, de forma presencial e cercado de todos os cuidados sanitários contra a covid-19. Certamente um dos temas da assembleia e do congresso será o orçamento 2022, sancionado por Bolsonaro — adivinhe? — com novos cortes nas áreas de Ciência e Educação. Veja mais informações em nossa matéria da página 3.
O projeto de destruição de Bolsonaro segue seu curso nefasto em todas as áreas. Em entrevista na página 8, o diretor do Instituto de Geociências da UFRJ, Edson Mello, mostra o que está por trás do decreto presidencial que alterou as regras para contruções em regiões de cavernas. Interesses de grandes mineradoras, riscos a santuários únicos de fauna e flora, desprezo ao valor cultural de registros de povos ancestrais, tudo isso está em jogo. Mesmo com a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, de derrubar parte do decreto, o perigo continua. Já na página 7, o professor Diego Malagueta, do Instituto Politécnico do Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé, mostra como é possível reduzir a conta de luz aderindo a uma das modalidades de geração de energia solar disponíveis no mercado.
Em termos de destruição, marca do (des)governo Bolsonaro, a Capes é uma das instituições federais mais atacadas. Após a recente renúncia de vários coordenadores de área, com críticas e pleitos não respondidos pela direção da entidade, o Conselho Superior da Capes aprovou na última semana os nomes de cinco novos coordenadores. Eles serão responsáveis pela Avaliação Quadrienal 2017-2020, com divulgação de resultados suspensa pela Justiça. A escolha, contudo, não encerra a crise em um dos órgãos mais nevrálgicos para o ensino universitário do país: não se sabe o que será da Avaliação Quadrienal, fundamental para a aferição de qualidade dos cursos de pós-graduação no país. Confira na matéria da página 6.
Também na página 6, uma boa notícia. No concurso que será aberto com 242 vagas — sendo 49 para docentes —, a UFRJ vai aplicar, pela primeira vez, as regras aprovadas no Consuni em 2020 para efetivar as cotas para negros (20%) e para pessoas com deficiência (mínimo de 5% e máximo de 20%). Os editais estão previstos para março. Com isso, as políticas afirmativas entram para valer como critérios de acesso de novos professores e servidores na UFRJ. Em meio a tanto retrocesso, é um avanço a ser comemorado.
Boa leitura!

WhatsApp Image 2022 01 18 at 17.31.50Dani Ramos/DivulgaçãoHistoriadores e servidores alertam sobre uma preocupante política de desmonte do Arquivo Nacional, uma das instituições mais antigas do país. Gestores sem ligação com a área, problemas de infraestrutura e de pessoal e um polêmico decreto do governo Bolsonaro estariam comprometendo as atividades do órgão federal que acabou de completar 184 anos de fundação.
“A rotina do Arquivo Nacional é muito especializada. Demanda pessoal muito qualificado. Preocupa que os trabalhos não estejam sendo bem-feitos”, argumenta Carlos Fico, professor titular de História do Brasil do Instituto de História da UFRJ, em relação aos diretores nomeados pelo governo Bolsonaro — o atual, Ricardo Borda d’Água, que tomou posse no cargo em novembro do ano passado, era chefe de segurança do Banco do Brasil. Atirador esportivo, Borda já foi reconhecido como “colaborador emérito” do Exército.
O estreito vínculo entre o governo e os militares também cria desconfiança em relação à guarda do imenso acervo documental da ditadura militar brasileira, armazenado nas unidades do Rio e de Brasília do Arquivo Nacional. “Como se não bastasse, há o problema ideológico”, continua Fico. “É muito preocupante que gente tão retrógrada e reacionária esteja à frente do Arquivo Nacional”, completa.
O professor do Instituto de História fala com a experiência de quem frequentou o Arquivo Nacional a “vida inteira”, com exceção do recente período de pandemia. Foi naquela instituição, ainda nos anos 90, com a ajuda de uma amiga arquivista já falecida, Maria Odila Fonseca, que o docente teve a chance de pesquisar o primeiro grande acervo até então secreto da ditadura. “Fui o primeiro historiador brasileiro a fazer um livro — “Como Eles Agiam” (Editora Record, 2001) — sobre os órgãos de repressão da ditadura militar. Tive essa honra graças a uma arquivista”, lembra.
O receio com o viés ideológico implantado na instituição ultrapassa a gestão dos documentos. Fico observa que um concurso de monografias com base em fontes documentais do período do regime militar no Brasil deveria premiar os vencedores com a publicação dos trabalhos em formato de livro, o que não ocorreu na última edição. E já se passaram mais de três anos desde o resultado do prêmio Memórias Reveladas, em setembro de 2018. “Vemos que não há boa vontade da atual direção do Arquivo em relação a esse projeto”, afirma Fico.

DOCUMENTOS SOB RISCO
Outro componente da crise é o decreto nº 10.148, de 2019, assinado pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro. “Ao Arquivo Nacional, cabe a consolidação dos procedimentos arquivísticos na administração pública, desde a produção até o descarte. Bolsonaro e Moro mudaram isso”, explica Jessie Jane, professora aposentada do Instituto de História. “O decreto mudou parte do decreto anterior, naquilo que fiz respeito à supervisão do Arquivo Nacional em relação aos documentos a serem descartados. Entenderam que permaneciam necessárias apenas as normas já definidas pelo Arquivo a serem aplicadas pelo próprio órgão produtor do documento”.
A medida, aparentemente burocrática, pode evitar que documentos importantes para futuras pesquisas sobre o governo Bolsonaro sejam eliminados, de acordo com a docente. “Imagine isso no Ministério do Ambiente. Imagine isso no ministério da Damares (Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos). Imagine isso nas empresas estatais que estão sendo dilapidadas. É muito grave”, critica Jessie, que já dirigiu o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, de 1999 a 2002.

SEM REAJUSTE
E SEM CONCURSO
Internamente, os técnicos do Arquivo também estão preocupados com os rumos da instituição. “A principal preocupação é que ocorra no Arquivo o que já aconteceu em diversos órgãos da administração pública federal, como Ibama, Casa de Rui Barbosa e Funai: um esvaziamento e um desmonte do órgão”, desabafa Eduardo Lima, presidente da Associação Nacional dos Servidores do Arquivo Nacional.
A entidade realizou uma reunião com o diretor do Arquivo após a exoneração e remanejamento de servidores que ocupavam cargos de direção, no fim do ano passado. Existe a suposição de que as mudanças ocorreram após os profissionais expressarem preocupações com a política institucional. “A direção se defendeu das acusações, afirmando que o Arquivo passa por um processo de mudanças administrativas e que essas mudanças continuarão acontecendo”, disse Eduardo.
Os funcionários cobram reposição da inflação desde 2015, último ano em tiveram reajuste, e mais concursos. Atualmente, parte do quadro de pessoal é preenchida por servidores cedidos de outros órgãos federais. “Outra reivindicação dos servidores é a adoção de critérios democráticos para eleição do diretor-geral. Isso eliminaria uma série de problemas que o órgão vem tendo com indicações de pessoas que pouco têm a ver com a área”, acrescenta o dirigente da associação.
Mas os problemas não são apenas de ordem política. “Nesse momento, o Arquivo está com um problema no ar-condicionado central do conjunto tombado (o prédio foi tombado pelo IPHAN em 1938). Além de afetar a saúde dos servidores que têm que trabalhar nesse calor carioca, afeta também o acervo que fica exposto a uma maior proliferação de fungos. Até agora o problema não foi solucionado”, diz Eduardo. A previsão do conserto é até o fim do mês.

RESPOSTA DO GOVERNO
Em um longo comunicado disponível no site do Arquivo Nacional (AN), a diretoria se defende das críticas. Diz que as mudanças dos últimos anos fazem parte de “um amplo processo de aprimoramento institucional para o efetivo cumprimento de suas competências legais”. E que “seus projetos e ações estão previstos e detalhados no seu Planejamento Estratégico Setorial para o período 2020-2023”.
A direção também nega que o decreto do governo Bolsonaro de 2019 “abra caminho para a eliminação indiscriminada de documentos públicos e incorra no esvaziamento das competências” do Arquivo Nacional. De acordo com o comunicado, as regras visam aprimorar as atividades de gestão de documentos. “E tudo isso, evidentemente, sem prejuízo de salvaguardas contra a eliminação de documentos de valor histórico, probatório ou informativo”, acrescenta um trecho. Também informa que o orçamento do órgão vem sendo ampliado, apesar de todo o cenário de restrição fiscal. “Para 2022, o orçamento será 9% maior em relação a 2021, chegando a R$ 31,1 milhões”.
Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa do órgão não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre as demais críticas apresentadas pelos professores e pela associação local dos servidores.

184 ANOS DE HISTÓRIA

Criado em 2 de janeiro de 1838 como Arquivo Público do Império, o Arquivo Nacional atua na gestão dos documentos produzidos em todos os órgãos federais e exerce a função de salvaguarda de importantes acervos da história do país.
Com unidades no Rio e em Brasília, o órgão guarda milhões de documentos, fotografias, desenhos, mapas, filmes e registros sonoros. Entre eles, alguns “tesouros”, como os originais da Constituição de 1824, da Lei Áurea e da sentença proferida contra os líderes da Conjuração Mineira de 1792.
A sede, no Rio, fica em um prédio construído em estilo neoclássico e tombado em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nas proximidades da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.

Beatriz Coutinho

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.24.55 1NO TABULEIRO Os doutorandos Daniela Rodrigues e Pedro Henrique jogam o ScreenerÉ por meio do Screener que o professor François Noël, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-UFRJ), leciona para seus doutorandos da pós-graduação em Farmacologia e Química Medicinal sobre a descoberta de novos fármacos. Produto de um time multidisciplinar da UFRJ, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fiocruz, o Screener é um jogo de tabuleiro chancelado pela Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental (SBFTE). Seu objetivo é facilitar o aprendizado do complexo processo de desenvolvimento de novos fármacos. A ideia veio de um antigo jogo de tabuleiro, recebido por François de uma colega australiana.
“É um guia de aula”, descreve o professor Geraldo Xexéo, coordenador do Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes) da Coppe-UFRJ e desenvolvedor do Screener. Depois de ordenar rigidamente as etapas, o jogo foi elaborado para garantir ao aluno autonomia no aprendizado e engajamento nas aulas. Todas as cartas de tarefa, por exemplo, contam com um QR Code que possibilita o acesso a informações complementares. “Essa foi a grande sacada de ter descoberto o Xexéo dentro da Coppe”, brinca o professor François, que organizou todo o conteúdo técnico do jogo. “Tirar a necessidade de um professor para comentar todas as etapas do processo”.
Desenvolvido durante a pandemia e lançado no Congresso da SBFTE, em 17 de novembro passado, o Screener levou um ano e meio para ficar pronto. “Deu tempo de amadurecer os detalhes”, defende François. Cada um desses detalhes foi pensado para agregar significado e conhecimento aos alunos. Não há lacunas para interpretações erradas, já que sua construção “não pôde ter licença poética”, segundo Xexéo. A meta é levar o jogo para além dos muros da UFRJ: 45 caixas serão doadas para programas nacionais de pós-graduação em Farmacologia e áreas afins que demonstraram interesse.

MULTIDISCIPLINARIEDADE
O Screener é produto de esforço multidisciplinar da UFRJ. Trabalharam nele três unidades: a Coppe, o Instituto de Ciências Biomédicas e a Escola de Belas Artes (EBA). Para o professor Geraldo Xexéo, isso representa uma integração horizontal e vertical da universidade. “Temos nós, professores, temos alunos de doutorado, mestrado e da graduação. Quando nos sentamos pra conversar, um fica ensinando ao outro”, conta, orgulhoso. “Isso mostra que a UFRJ pode fazer coisas em conjunto, cada um com seu conhecimento”.
A pluralidade se reflete no jogo. “Homem branco vemos em todos os lugares”, explica Aimêe Mothé, autora de todas as artes do Screener. Foi ela quem idealizou as características dos personagens nas cartas de poder. “Eu queria fazer pessoas diferentes, com etnias diferentes, para mostrar diversidade”, frisa a estudante de Comunicação Visual, que pensou em dar protagonismo a mulheres e a pessoas não brancas. “Na carta de espionagem, eu queria fugir do padrão de homem TI (técnico em informática), e na do investidor coloquei um homem negro”, exemplifica.
“Não estamos forçando a barra. As mulheres que estão no jogo são Prêmio Nobel”, reconhece o professor François, apontando para as cientistas Gertrude Belle Elion e Youyou Tu, ilustradas nas cédulas. Elion e Tu contam com um pequeno resumo de suas pesquisas e conquistas no livro-guia do Screener. Bioquímica norte-americana, Elion conquistou o Nobel de Medicina de 1988 pelo desenvolvimento de medicamentos para doenças como a gota e a leucemia. Já a farmacóloga chinesa Youyou Tu foi agraciada com o Nobel de Medicina de 2015 por seu trabalho no combate à malária.
Para além da pluralidade de seus personagens, o jogo busca também acessibilidade para seus jogadores. “Nada se apoia somente nas cores. Criei símbolos, grafismos e desenhos em cada carta para facilitar a identificação”, comenta Aimêe, que pensou nos possíveis jogadores com daltonismo. “A paleta de cores também é tratada para resolver a maioria dos problemas de uma pessoa daltônica”, conclui o professor Geraldo Xexéo.

AS EXPERIÊNCIAS DE QUEM JOGOU
“Perdi feio, feio. Fui a que mais perdi”, brinca a doutoranda Daniela Rodrigues, uma das alunas que participou de um jogo-teste, ainda em preto e branco, realizado em maio do ano passado. Depois da aferição da temperatura, munidos de máscara e face shield, seis estudantes sentaram em círculo para jogar o Screener. “É uma forma gostosa de assimilar conhecimento. Não é porque você perde que você deixa de ganhar pela experiência”, completa. A doutoranda já vinha de um curso da Fiocruz de Pesquisa Clínica e garante que a nova dinâmica fez diferença: “Alguns dos conhecimentos que adquiri nesse curso foram reforçados pela disciplina”.
“Surpreendente” foi a palavra escolhida pelo estudante Pedro Henrique para resumir a experiência em sala. Ele conta que estranhou no começo a ideia de ter um jogo de tabuleiro como parte da disciplina. “Não imaginava porém que um jogo educativo pudesse se tornar, em pouco tempo, tão competitivo e divertido”, reconhece. Pedro, que é a favor de métodos “alternativos” para aprendizagem, relata que aprendeu muito com o jogo e com seus colegas de classe. As lacunas eram preenchidas pelo professor e pelos QR codes das cartas. E se para ser o ganhador era necessário coletar mais cartas de tarefas, Pedro conclui: “Consegui os dois”, brinca.

OS PRÓXIMOS PASSOS
E se o conhecimento de desenvolvimento de novos fármacos saísse das salas da pós? Bom, o DiscoveriX pode ser a resposta. “Ele não é um jogo com o mesmo nível de profundidade do Screener”, salienta o professor François. Os professores explicam que o DiscoveriX, diferente do Screener, além de ser digital, teria uma linguagem mais simplificada, porque tem o público infanto-juvenil e pessoas leigas como alvo.
“Seriam as mesmas quantidades de etapas do jogo de tabuleiro”, observa o professor Xexéo. Ele explica que é difícil transformar um jogo educacional em um jogo de ação. “Não podemos correr o risco de, quando simplificar, algo ficar errado”, alerta. Ele conta que a animação para a continuidade do projeto veio após os debates das vacinas. “Tornou-se importante mostrar como essas pesquisas são feitas”, explica o professor da Coppe. O DiscoveriX está programado para sair em outubro desse ano, no Congresso SBGames.

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.25.47Jogo de tabuleiro:  até 6 jogadores

Mapa do Processo: indica quais são as sete etapas que compõem as fases do processo, que se iniciam a partir da eficiência do fármaco e terminam com a sua segurança. São 29 fases, representadas em cartas de tarefas, e duas cartas da FDA (Food And Drug Administration).

Cartas FDA/Início: São duas. Marcam a posição inicial dos jogadores. A carta FDA-IND (Investigational New Drug Application) deve ser buscada quando a última carta de tarefa da etapa 4 for comprada. A carta da FDA-NDA (New Drug Application) deve ser buscada quando a última carta de tarefa da etapa 7 for comprada.

Cartas de tarefa: São 29. Apresentam quatro cores e ícones diferentes: vermelho (segurança); azul (farmacocinética); amarelo (desenvolvimento farmacêutico); verde (eficácia). Indicam a tarefa que foi concluída e a qual etapa pertence no processo. Apresentam QR Code.

Carta de Bônus/Revés: São 58. Descrevem evento que ocorreu na etapa do processo. Indicam qual consequência o evento apresenta no jogo. São retiradas toda vez que o jogador tira o número 6 no dado.

Cartas de poder: São seis. Distribuídas de forma aleatória e sigilosa no início do jogo, uma por jogador. Podem ser usadas uma única vez. Os personagens são: Investidor, Espionagem Industrial, Advocacia-Patentes, Cientista excepcional, Rede de Contatos e Marketing.

Cédulas (ISBEF): Usadas para comprar as cartas de tarefas e indicar o ganhador, num possível empate. Estampadas por quatro grandes nomes da farmacologia: Sérgio Henrique Ferreira, Gertrude Belle Elion, Youyou Tu e Paul Ehrlich.

Chatons de acrílico: Indicam o número total de cartas adquiridas. São recebidos um por vez, quando um jogador adquire uma carta de tarefa. Fator determinante para indicar o ganhador.

COMO JOGAR:
Distribua as cartas de tarefas no tabuleiro com o verso para cima. O jogo começa na etapa 1. Lance o dado e ande a quantidade determinada, na vertical ou horizontal. Compre a carta determinada ou, caso não tenha dinheiro, fique uma rodada parado. Se parar numa carta de tarefa que não seja da vez, receber dinheiro do banco, como um investimento. Discuta a carta comprada com os jogadores e o professor.
Passe a vez para o próximo jogador.

Objetivo: ter o novo medicamento aprovado pela agência reguladora (Food and Drug Administration-FDA).
Para isso, ganhará o jogador que coletar mais cartas (de tarefa e/ou FDA) ou, em caso de empate, o jogador que tiver mais dinheiro. Fonte: Manual de Regras, Screener

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.24.54 2O fluxo de pesquisadores brasileiros qualificados que deixam o país é maior do que daqueles que regressam do exterior. A debandada de cientistas, percebida intuitivamente pela comunidade universitária, é confirmada por um estudo preliminar do Observatório de Ciência, Tecnologia e Inovação (OCTI), do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). “A evolução de coautores que saem do Brasil e passam a assinar artigos com a filiação no exterior é maior do que a evolução de brasileiros com a filiação no exterior que passam a coautorar artigos com a filiação no Brasil”, explicou Márcio de Miranda Santos, diretor-presidente do CGEE.
Driblando as dificuldades para a produção de dados sobre a fuga de cérebros, o observatório acompanha as mudanças na identificação de artigos científicos de brasileiros, atualmente indexados na Web of Science. A plataforma internacional e multidisciplinar abrange uma amostragem de 1 milhão e 135 mil coautores brasileiros, responsáveis por 424 mil artigos publicados entre 2015 e 2020.
A preocupação em relação à evasão de mestres e de doutores mobilizou o painel “Fico ou Não Fico? Eis a questão. Jovens cientistas no Brasil de hoje”, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no último dia 10. O título da mesa da SBPC faz alusão à decisão do príncipe regente D. Pedro I em permanecer e emancipar o Brasil de Portugal em 1822. O evento abre a agenda de comemorações da SBPC pelo bicentenário da Independência.
Foi durante o encontro virtual que o diretor-presidente do CGEE observou que “embora não seja possível precisar os números ainda”, é seguro afirmar que o saldo negativo entre pesquisadores qualificados que partem e os que retornam ao país “é uma grande tendência”. O quadro ganhou contorno a partir do depoimento de quatro jovens que abordaram diferentes nuances da falta de perspectiva profissional hoje no Brasil.

“Está difícil fazer planos”
“Como fazer planos se a gente não tem uma estabilidade política e econômica?”, questionou Helena Russo, do Instituto de Química da Unesp Araraquara (IQAr). Com as malas prontas para um pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em San Diego (Estados Unidos), a pesquisadora diz que seu horizonte era desenvolver uma linha de pesquisa própria no país, depois da temporada fora. “Eu penso, sim, em voltar e ficar no Brasil. Mas isso vai depender muito da situação em que o país vai se encontrar daqui a três, quatro, cinco anos. Infelizmente, se não houver muitas oportunidades aqui e eu conseguir algo no exterior [migrar definitivamente] é uma realidade”, pontuou.

“Fiquei em um limbo sem bolsa. Logo depois, acabei engravidando”
A paixão pela Ciência mobiliza Patrícia Cortelo, formada em Química, desde cedo. “O bichinho da Ciência me picou durante o primeiro experimento na escola. Desde ali, pensei: vou ser cientista”, contou. Tudo ia bem na trajetória acadêmica, até que, em meados de 2015, ela percebeu uma rápida decadência no quadro. “Eu comecei a sentir a escassez de bolsa, a escassez de oportunidade”, lembrou. Depois do doutorado na Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, ela voltou para o país para aplicar o conhecimento lá adquirido, mas não teve sucesso. “Fiquei em um limbo sem bolsa. Logo depois, acabei engravidando do meu filho e dei uma pausa na minha carreira. Deixei-a de lado e fui vivenciar a minha maternidade”.

“Não havia vagas nem para professor nem para pesquisador”
Por incrível que pareça, Raul Lopes está em um pós-doutorado na Université Paris Dauphine, na França, por falta de opção. Depois que concluiu o doutorado na área de Algoritmos, pela Ciência da Computação, o jovem pesquisador se deparou com o dilema: “E agora, o que vai ser da minha vida profissional?”. “Infelizmente, eu tenho contas a pagar”, brincou ele enquanto fazia seu testemunho pessoal. “Eu me vi em uma situação em que não havia vagas nem para professor nem para pesquisador em universidade federais e estaduais perto de mim”, contou. A única alternativa foi concorrer fora. E completou: “Considero isso uma pena, porque, fazendo aqui uma conta rápida, o Brasil gastou muito dinheiro na minha formação”.

Fora: contratos temporários e subalternidade
O tema soberania científica tem tudo a ver com a trajetória de Vinicius Kaue. O doutor em Antropologia dedica-se à análise das estratégias da Índia para aproveitar a presença de seus cientistas na Europa. Para ele, o modelo indiano acerta ao investir na consolidação de redes de colaboração globais que beneficiem o país de origem — e não focar no retorno do pesquisador. Kaue considera que as regras rígidas das universidades e das agências de fomento brasileiras desestimulam o regresso. Por outro lado, desmistifica a noção idílica de viver fora: “A perspectiva de ficar na Europa implica contratos temporários sem fim, durante muitos anos. E em uma posição muitas vezes de subalternidade por ser brasileiro ou latino-americano”.

Olho no amanhã
Entidades científicas expressam apreensão em relação à desvalorização da produção acadêmica nacional. “É claro que a Ciência é altamente internacionalizada, mas isso não substitui o fato de que é fundamental termos pesquisadores e institutos de pesquisa com recursos para trabalhar”, avaliou o presidente de honra da SBPC e docente da UFRJ, Ildeu Moreira.
Entre os aspectos que agravam o desinteresse de jovens pesquisadores em manter-se no Brasil, a pesquisadora Jaqueline Godoy Mesquita (UnB e ABC) destacou os cortes orçamentários radicais para bolsas e fomento. Mas ela incluiu na lista de “fatores desfavoráveis” o clima hostil à Ciência, negacionista, hoje forte no país.
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, é ainda mais duro na crítica à ordem de prioridades políticas do momento. “É muito esquisito você pensar que, aos 14 e 15 anos, um aluno de escola militar já está contando seu tempo para aposentadoria. De modo que temos oficiais generais que antes dos 50 anos já estão aposentados, com vencimentos integrais, reajustados e aumentados, nos últimos anos, em termos reais, enquanto muitos doutores estão com 30 anos e ainda não têm emprego fixo. Estão vivendo com bolsa e pós-doc”, comparou.

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