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WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.41.46COLÉGIO DE APLICAÇÃO forma novos professores há 68 anosA universidade ensina, pesquisa, faz extensão. Só na graduação, atende a 50 mil estudantes. Cinco mil deles se formam todos os anos nos 176 cursos da UFRJ. Este grande corpo discente é a força motriz para 4.198 docentes. Parte deste contingente tem uma tarefa ainda mais especial: transformar 9,5 mil alunos em novos professores das mais diferentes áreas de atuação. Da Química à Literatura. Da Educação Física à Matemática.
A tarefa de ensinar a ensinar não é simples e envolve diferentes estratégias pedagógicas. Embora o ensino de graduação tenha sofrido uma pausa forçada na pandemia, a formação de professores também acontece por meio do estágio supervisionado no Colégio de Aplicação, atividade que não parou. “Por um lado, o estágio remoto é muito prejudicial, pela perda das relações presenciais na sala de aula. Mas, por outro lado, a gente avaliou ser muito importante para o estudante que está se formando como professor vivenciar uma escola em transformação”, explica Anna Thereza de Menezes, diretora adjunta de licenciatura, pesquisa e extensão do CAp-UFRJ.
No ambiente escolar, os futuros professores podem participar da elaboração de materiais pedagógicos, dos encontros síncronos com as turmas da educação básica e, em alguns casos, até mesmo dos processos de avaliação. Anualmente, o CAp costuma receber em média 500 licenciandos. Um número que caiu neste ano letivo especial. “Durante esse momento de pandemia, 401 estudantes se cadastraram para o estágio no CAp. Mas nós reforçamos aos que ainda não fizeram estágio, e que não vão se formar nesse momento, que priorizem fazer o estágio presencial”, pontua Anna. “O estudante que quer estagiar com a alfabetização, por exemplo, é melhor aguardar para poder vivenciar isso no espaço da sala de aula”, aconselha.
O colégio não está sozinho na tarefa. Oficializado na Estrutura Média da UFRJ no final de 2018, o Complexo de Formação de Professores (CFP) é uma política institucional que organiza a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica. “O CFP foi um primeiro passo no sentido de se haver uma ‘casa comum’ para olhar a formação de professores de uma forma mais cuidadosa”, explica Anna.
O Complexo reúne não só os docentes da UFRJ, mas também professores das redes municipal e estadual na tarefa de pensar e desenvolver estratégias de formação continuada. “O Complexo não tem um projeto pronto único. É quase um trabalho artesanal, em que a gente vai às escolas e ouve os professores e o diretor para saber o que cada uma das nossas 48 parceiras precisa”, descreve a ex-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, Carmen Teresa Gabriel. Atual coordenadora do Comitê Permanente do Complexo, a professora ressalta o objetivo da iniciativa de valorizar o docente da educação básica, para a formação de profissionais com qualidade e pensamento crítico.
A responsabilidade da universidade, portanto, não se restringe ao ensino superior. “A UFRJ forma professores. O potencial de transformar a educação básica é imenso”, defende o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. “É fundamental que os novos docentes sejam ensinados a conduzir seus alunos para uma educação emancipadora, que os leve a perguntar. Essa responsabilidade é nossa, enquanto universidade”.

DIFICULDADES
Mesmo dentro da universidade, a formação de professores ainda sofre com a falta de prestígio. “Em muitos cursos, o estágio é feito apenas na conclusão da graduação, quando muitas vezes essa orientação prática precisaria de um desenvolvimento maior”, exemplifica Anna.
Foi o que aconteceu com ela. Formada na Escola de Belas Artes da UFRJ, Anna estagiou no CAp, onde hoje é professora. “Na minha formação, só fui ter contato com essa concretização de que seria professora quando cheguei ao CAp”, conta.
A docente destaca também a falta de políticas de assistência estudantil para os estagiários de licenciaturas. “Não conseguimos até hoje ter uma linha de ônibus que ligue o CAp-UFRJ da Lagoa ao Fundão ou à Praia Vermelha. O metrô também não chega tão perto. O bairro é extremamente caro”, reclama. “Nós não temos um bandejão. Se o licenciando não levar a própria quentinha, precisará pagar caro por alguma refeição nas redondezas”, critica.
A formação dos novos professores esbarra também num outro desafio a ser superado: a desigualdade social. O estágio no CAp não é remunerado, algo que afeta principalmente aos alunos em maior vulnerabilidade econômica e social. “A gente sabe que os cursos de licenciatura congregam muitos estudantes de baixa renda. E nem todos conseguem a bolsa de permanência”.

 

ENTREVISTA I Carmen Teresa Gabriel, Coordenadora do Complexo de Formação de Professores

“Licenciaturas não são bacharelados de segunda ordem”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.41.461Professora Carmen Teresa GabrielCoordenadora do Complexo de Formação de Professores e ex-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, a professora Carmen Teresa Gabriel explica os princípios que norteiam a iniciativa de formar docentes de maneira continuada pela universidade. A tarefa exige um constante movimento de atualização. “A universidade precisa, principalmente, mudar a sua cultura profissional, no sentido de acolher a importância dessa sua função como formadora”, aponta a docente.

JORNAL DA ADUFRJ: Qual a importância do Complexo de Formação de Professores?
Carmen Gabriel: O Complexo traduz o reconhecimento da UFRJ do seu papel como formadora de profissionais da educação básica. Ele mexe com a cultura universitária para que a universidade pública assuma a sua responsabilidade nesse processo, de maneira que a formação de professores seja algo tão importante quanto a de médicos. O Complexo também articula um espaço comum onde todos os sujeitos envolvidos interagem de forma horizontal, plural e integrada. Universidade e Escola pensam e concebem juntas as políticas de formação de professores.

Quais os principais desafios da UFRJ  na formação de novos docentes?
A universidade precisa, principalmente, mudar a sua cultura profissional, no sentido de acolher a importância dessa sua função como formadora. Durante muito tempo, as licenciaturas foram consideradas como um bacharelado de segunda ordem, o que se traduz nos próprios currículos e em toda uma discussão de teoria e prática. Outro desafio é construir formas de superar as fragmentações nas diferentes experiências de formação. O Complexo pressupõe que os problemas não estejam nos níveis do indivíduo, e sim da instituição. O que a gente quer é criar uma operacionalização dessas questões, que há muito tempo já vêm sendo discutidas.

Quais são os princípios do Complexo de Formação de Professores?
O Complexo é norteado por três princípios. Um é o da horizontalidade, que existe entre todos os saberes, sujeitos e territórios. A gente dá tanta importância às ações da cultura universitária, que envolvem pesquisa, extensão e ensino, quanto aos saberes produzidos nas escolas. O segundo é o da pluralidade, pois a gente entende que não existe um modelo único. O Complexo não quer homogeneizar todas as ações. Ele se vê como uma grande rede de formação de professores. E entende essa riqueza da troca de experiências de formação que ocorre entre a UFRJ e as instituições parceiras. E o terceiro ponto é a integração, pois o CFP tem como função articular todas as suas experiências de formação para potencializar ações que já acontecem. É um novo arranjo institucional na UFRJ que traduz a política de formação inicial e continuada dos docentes da Educação Básica.

No fechamento desta edição fomos surpreendidos pelo envio de uma mensagem da Pró-reitoria de Pessoal (PR-4) com um comunicado de corte do ganho judicial dos 26,05% (Plano Verão de 1989) da folha de pagamento de novembro, a ser paga em dezembro.
“Informamos que o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou decisão da Justiça do Trabalho que manteve o pagamento do plano econômico no percentual de 26,05%, aos associados da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro”, diz o trecho inicial da nota. Essa decisão foi tomada no dia 25 de setembro e a AdUFRJ imediatamente apresentou recurso ao Tribunal Regional Federal e vai adotar todas as medidas jurídicas cabíveis para tentar reverter a medida mais uma vez.
Embora soubéssemos que o corte poderia ocorrer a qualquer momento, a notícia foi recebida com surpresa e grande desconforto pela forma como foi veiculada. Em todas as vezes que a universidade precisou tomar alguma atitude em relação à folha de pagamento ou a qualquer direito dos professores, se dirigiu à AdUFRJ para comunicar a decisão. Na última vez que isso ocorreu, conseguimos a intervenção da Justiça do Trabalho poucas horas antes do fechamento da folha e mantivemos por mais um ano o pagamento desse percentual. Dessa vez não conseguiremos sustar a medida, pois o recurso que impetramos não terá nenhum efeito suspensivo em relação à decisão do STF. Entretanto, reafirmamos que além de ser incomum, o procedimento da reitoria indicou uma total falta de sensibilidade. Qual a urgência de se fazer um comunicado de corte, que só vai ocorrer em dezembro, exatamente no Dia do Professor, em 15 de outubro? Já temos notícias ruins de sobra, já temos um governo que nos ataca permanentemente, só estamos reivindicando mais cuidado e a atenção com a forma com que a reitoria se dirige aos professores e como trata as entidades representativas.  

Histórico
Os 26,05%, recebidos por quase 5 mil docentes — ativos e aposentados — que ingressaram na UFRJ até 2006, são resultantes de uma ação antiga da AdUFRJ. O Plano Verão de 1989 congelou os salários e extinguiu o reajuste baseado na variação da unidade de referência de preços (URP), utilizada à época. A consequência foi a retirada do percentual dos salários. Diversos sindicatos entraram com ações na Justiça para recuperar o valor. Em 1993, a Seção Sindical obteve decisão favorável na Justiça do Trabalho. Por diversas vezes esse percentual, que teve seu valor congelado desde então, esteve para ser retirado, mas os recursos impetrados o mantiveram até hoje na folha de pagamento. Nacionalmente, somos das últimas universidades que ainda mantinham esse pagamento.

Entre os dias 3 e 6 de novembro, os professores universitários de todo o país vão escolher a próxima direção do Andes. A eleição será virtual. Duas chapas disputam o pleito: Unidade para Lutar: Em defesa da educação pública e das liberdades democráticas – Chapa 1, da situação; e Renova Andes – Chapa 2, de oposição.
Duas mulheres concorrem à presidência. Rivânia Moura, professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, é a candidata da chapa 1. Celi Taffarel, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, é a candidata da chapa 2.
Para início da apresentação das propostas de cada grupo, o Jornal da AdUFRJ solicitou uma entrevista aos candidatos ao cargo de 1º vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do Andes. O professor Felipe Rosa, diretor da AdUFRJ, candidato da chapa 2, aceitou o convite.
A candidata da chapa 1, professora Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa, da UFF, disse que poderia falar com a reportagem no dia 7 à tarde. Mas, pela manhã, informou que teria uma reunião e pediu que as questões fossem enviadas para o seu e-mail. Informada que deveria ser uma entrevista por telefone, disse que não conseguiria atender à solicitação. No dia 8, para tentar preservar a apresentação da chapa, cinco perguntas foram enviadas por e-mail às 14h51, com prazo de resposta até o meio-dia desta sexta. Após mensagens por whatsapp e cinco ligações telefônicas não atendidas, a professora acusou o recebimento da mensagem por áudio do aplicativo, mas não garantiu que poderia responder a tempo, em função da agenda lotada de compromissos. As respostas não chegaram.

ENTREVISTA/ FELIPE ROSA

IMG 20201010 WA0018Professor Felipe Rosa“Os professores precisam se sentir representados”

1 – Por que é importante votar na eleição do Andes?
É importantíssimo votar na eleição do Andes. Ao mobilizar para o voto, os docentes acabam criando uma mobilização natural e dizendo o que querem: por que estão votando na chapa 1, por que estão votando na chapa 2. E eu tenho bastante convicção de que o que a maioria quer é o que está materializado no programa da chapa 2, do Renova Andes.

2 – O manifesto da chapa critica a atual direção do Andes, mas não deixa claro o que vai fazer de diferente, se vencer a eleição. Na prática, que metodologia de debates e votações seria implantada no Sindicato?
A gente está amadurecendo. A metodologia atual, no caso dos congressos e conads, já está implantada há muito tempo. Por mais que a gente não goste, leva um certo tempo para conseguir mudar as coisas. No entanto, inclusive com a experiência do último Conad em que fui delegado, podemos dizer sem medo de errar que essa metodologia de debater as questões importantes do sindicato está ultrapassada. Não é possível, que a gente reúna 400, 500 docentes por congresso, pessoas altamente qualificadas, passar uma semana discutindo e, no final das contas, a gente publicar um documento das ações do sindicato em que 50% são platitudes, 20% a 30% são questões de metodologia e de procedimentos e 20% são de fato questões que mereceriam a atenção dos docentes. Eu defenderia encontros menores e muito mais focados.

3 – A carta-programa da chapa não menciona o debate sobre filiação de central sindical, mas é sabido que o grupo é contra a filiação à Conlutas. Por outro lado, sabe-se que a chapa recebe apoio da CUT, tida pela situação como uma central que não desenvolveu as lutas durante os governos do PT.  A vitória da chapa vai levar o Andes para o colo da CUT e do PT?
Não é segredo para ninguém que a chapa Renova Andes tem apoio da CUT. Vários membros proeminentes da chapa são filiados ao PT, tem história dentro do partido. Claro que existe uma associação indireta tanto com a CUT como com o PT. Assim como a chapa 1 tem associação indireta com outros partidos e com a Conlutas. O que vai acontecer depois, caso a gente seja eleito, durante a nossa gestão, eu sinceramente não posso adiantar. Eu pessoalmente defendo a desfiliação da Conlutas, mas não defendo particularmente a refiliação à CUT. Isso deve vir de um amplo debate com os nossos filiados.
Com relação aos governos tanto do Lula como da Dilma, por mais que tenha havido uma certa subordinação em alguns momentos da CUT aos interesses do governo, sou muito mais crítico à postura completamente inflexível da Conlutas contra a gestão do PT. Isso levou, por exemplo, que tanto a Conlutas quanto o Andes tomassem posições historicamente equivocadas, como por exemplo, a rejeição inicial às cotas e uma oposição completamente despropositada ao Reuni.

4 – O manifesto da chapa diz que “Somos trabalhadores e trabalhadoras, mas sabemos que realizamos um tipo particular de trabalho, relacionado com o ensino, a pesquisa e a extensão. Como consequência, nós entendemos a particularidade de nossas reivindicações e as formas de luta que precisam ser distintas daquelas de outras categorias”. Que formas de luta seriam essas? Onde e quando elas se mostraram eficazes?
 As novas formas de luta passam por uma ação direcionada à sociedade, de nos reconectar com a sociedade. Pois só com o apoio da sociedade vamos conseguir alguma coisa. No 15 de maio do ano passado, fizemos uma das maiores manifestações populares recentes, conseguimos fazer essa conexão. Levamos a universidade para a praça. Foi um dia de praça cheia. Com vários segmentos da universidade representados. E isso fez parte de um movimento maior. Por que foi um sucesso? Porque foi feito com esse novo diálogo com a sociedade. A sociedade quer uma universidade que funcione, que seja ampla, que acolha os alunos.
Uma outra forma é o Observatório do Conhecimento. A AdUFRJ capitaneou essa iniciativa que conta com mais de 10 ADs parceiras. É um fórum onde a gente pode discutir ações para mostrar o que se faz de bom na universidade, de dar publicidade a todo esse trabalho que se desenvolveu durante a pandemia. Temos ADs ligadas ao Andes, ao Proifes (federação de sindicatos que representa parte dos docentes universitários federais) e independentes. São ADs que entenderam que esse debate no Andes estava interditado... ok, talvez não interditado, mas certamente sufocado.
O ideal é engajar a sociedade, mas o primeiro passo é engajar nosso próprio docente. Eles só estarão engajados se eles se sentirem representados de alguma forma. Se eles sentirem que os representantes sindicais só defendem pautas alheias aos seus interesses, claro que eles vão se afastar. Isso ocorreu nacionalmente. E na UFRJ até 2015.

5 – Qual a posição da chapa em relação ao Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação?
A carta-programa é omissa em relação ao tema.
Não existe. Esse tema não é livre de controvérsias. Eu, por exemplo, acho a iniciativa muito boa, mas há críticas razoáveis a serem feitas. O Renova não centraliza, procuramos agregar. Haverá diferentes pontos de vista, mas é importante frisar que não existe uma oposição sistêmica ao Marco, de forma alguma. Pretendemos fazer uma gestão de muito diálogo com a SBPC, com as sociedades científicas específicas, com a ABC, enfim, com todo o mundo acadêmico.

IMG 20201010 WA0019PONTES disse que não haverá complementação de recursos para bolsas em 2021 - Foto: NEILA ROCHA - ASCOM/MCTIUm contraditório Marcos Pontes visitou a UFRJ na segunda-feira (5). Para a imprensa, discurso de loas às universidades e elogios ao governo pelos investimentos em infraestrutura de pesquisa. Em um encontro mais reservado com dirigentes da instituição, a exposição da dura realidade da Ciência no país gerido por Bolsonaro.
Depois da agenda aberta à cobertura dos jornalistas, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação participou de uma conversa com representantes do Consuni e parte da equipe da reitoria, na sala dos Colegiados Superiores. A questão orçamentária dominou a reunião de quase uma hora. Nela, o ministro informou que o corte de 15% do orçamento previsto para 2021 impactará as bolsas de pesquisa. Até aí, nenhuma novidade. Mas, segundo ele, as complementações conseguidas nos últimos dois anos com o Ministério da Economia, desta vez, estarão fora do radar.
O ex-astronauta Pontes parece não ter voltado do espaço, quando destacou “um Congresso Nacional favorável à Ciência”. Citou como exemplo a tramitação amigável do Projeto de Lei Complementar (PLP 135) que transforma o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em um fundo financeiro, proibindo o contingenciamento dos recursos. O PLP foi aprovado por 71 votos a 1 no Senado e agora depende da Câmara. Só “esqueceu” de mencionar todos os outros projetos que desmontam o serviço público, como a PEC da reforma administrativa.
Não há dúvidas de que o ministro valoriza a pasta que comanda. Mas, egresso do meio militar, não entende como funcionam as universidades, responsáveis pela maior parte da produção científica nacional. Pontes defendeu um ajuste de “linguagem” e “sinergia” entre a pasta e a universidade e expressou o desejo do governo de mais engajamento “no desenvolvimento de inovações para produtos, empregos e empresas”. Parecia um Abraham Weintraub citando o malfadado Future-se.
O vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha ressaltou que “universidade contribui para a inovação, formando alunos inovadores e com ideias que podem ser utilizada pelo setor privado”.

PARA A IMPRENSA
Diante dos microfones da mídia, Pontes tinha virado rapidamente a “chave”. O ministro acompanhou o início dos primeiros ensaios clínicos com a vacina BCG para prevenção da Covid-19. Em seguida, participou da inauguração de um laboratório de campanha com capacidade para análise de 300 testes moleculares, do tipo PCR, o mais preciso, por dia. Afirmou que aposta alto no retorno da pesquisa brasileira. “Com o conhecimento que temos aqui, somos um país capaz de desenvolver e produzir uma vacina,” declarou.  Segundo Pontes, atualmente, 15 protocolos de vacinas são desenvolvidos por cientistas brasileiros. E outros 12 laboratórios de campanha estão em vias de ser inaugurados.
Foi a primeira visita do ministro a instalações da universidade na atual reitoria. Durante a agenda, a reitora Denise Pires de Carvalho lembrou outras ações da UFRJ de combate à pandemia, como a atuação do GT Coronavírus e a produção de mais de 80 toneladas de álcool.
Na ocasião, a reitoria considerou que a presença do ministro confirma o protagonismo da UFRJ no “movimento que coloca as universidades públicas como motores do desenvolvimento científico, artístico, cultural e tecnológico do nosso país”.
 
PESQUISA DE PONTA,
APESAR DO GOVERNO
Apesar dos reduzidos investimentos em Ciência, os professores fazem pesquisa de excelência. Uma delas relacionada à vacina BCG. A professora Fernanda Mello, diretora do Instituto de Doenças do Tórax explica que a vacina — geralmente aplicada na infância para prevenir casos graves de tuberculose — não substituirá uma eventual imunização específica contra o novo coronavírus. Contudo, uma segunda dose — já que ela perde força ao longo dos anos — poderá oferecer benefícios de profilaxia, aumentando a imunidade.
“A vacina BCG atuaria estimulando o sistema imunológico do organismo, especificamente a imunidade inata”, explica a pesquisadora. “Além disso, vários estudos demonstram o efeito heterólogo da vacina BCG, ou seja, um efeito além do seu propósito principal, com redução das  taxas de infecções respiratórias bacterianas e virais em crianças”, acrescenta. O aprofundamento da linha de investigação, no Brasil, é facilitado pelo fato de a BCG fazer parte do calendário vacinal, tal como em países europeus e EUA.
Mil profissionais de saúde serão recrutados, nos próximos dois a três meses. Eles serão vacinados com a BCG e acompanhados pelos próximos seis a 12 meses. Nunca ter tido Covid-19 está entre os critérios para resultados confiáveis e seguros. O aporte de R$ 1 milhão destinado à pesquisa pelo MCTI foi aplicado na aquisição de insumos para a realização dos testes laboratoriais. “Entre eles RT-PCR e sorologia para coronavírus, além de dosagem de biomarcadores que auxiliam na compreensão da resposta imunológica contra o SARS-Cov-2”, descreve Fernanda. Também foram adquiridos equipamentos que darão suporte ao processo de vacinação, como equipamentos para a conservação das vacinas.
Já o laboratório de campanha da UFRJ tem como objetivo aprimorar os diagnósticos dos testes no estado, além de aumentar a segurança biológica. Coordenador da iniciativa, professor Amilcar Tanuri, destacou, à imprensa, a importância científica de um laboratório deste tipo em funcionamento na universidade: “Neste laboratório, o teste se transforma em pesquisa também. A vantagem de se colocar um laboratório em estrutura de universidade é que o teste auxilia o paciente e também movimenta a pesquisa na área”. Segundo informou, a UFRJ já realizou mais de 30 mil testes diagnósticos de coronavírus.

ufmg 262UFMG começa 2020.2 este anoA definição de calendário acadêmico em outras grandes universidades federais ocorre de forma bastante diversa. Algumas adotaram períodos excepcionais em meio virtual; outras optaram por já retomar 2020.1 no novo formato. A obrigatoriedade da inserção de professores e alunos depende do caráter regular do período escolhido. Há docentes com recessos já estabelecidos ou sem qualquer previsão. E, enquanto a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já projeta o ensino de graduação de 2020.2, com início ainda este ano, existem instituições onde sequer se sabe o que vai acontecer a partir de dezembro.
Obrigados a participar do semestre remoto que corresponde a 2020.1, os professores da UFMG voltaram às aulas em 3 de agosto. Conforme determinação do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da universidade, o período está previsto para terminar em 7 de novembro, seguido de um curto intervalo de recesso até 29 de novembro. O segundo período de 2020 começa no dia seguinte.
Presidente do Sindicato dos Professores de universidades federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco (Apubh), Stella Goulart afirma que a UFMG mantém um diálogo insuficiente com as entidades. “É um processo que está sendo conduzido pelos órgãos colegiados da UFMG de forma muito centralizada”, explica. Na última assembleia da Apubh, foi proposto o encaminhamento de um ofício para a reitoria, informa Stella. “Reivindicando que o próximo semestre tenha início com um grande congresso universitário, onde a gente possa avaliar a situação”, explica.
A UFMG já apresentou um planejamento para a volta às aulas presenciais, exclusiva para atividades que não se adaptam ao modo remoto. “Nosso posicionamento é que isso é um absurdo completo, porque não temos vacina”, afirma a professora. “É um negócio insólito e que vai abrir muitas querelas do ponto de vista jurídico, é insustentável”, opina.

IMG 20201010 WA0017POUCA DISCUSSÃO NA UFBA
Assim como a UFRJ, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) optou por um período suplementar, com atividades online de 8 de setembro até 18 de dezembro. O semestre 2020.1 foi suspenso e será reavaliado pelos conselhos superiores ao final do ano, para que se decida sobre a retomada presencial em janeiro ou fevereiro, conforme informou a assessoria. A resolução do Conselho Universitário prevê que a participação no Semestre Letivo Suplementar seja facultativa para os docentes e alunos.
Para a diretora do sindicato local dos docentes (APUB), Raquel Nery, houve pouco tempo de discussão do calendário para que os professores, estudantes e técnicos administrativos compreendessem o que iria acontecer. “Isso acabou gerando uma série de dificuldades. Em primeiro lugar, de caráter pedagógico mesmo, estamos falando daquilo que o professor faz na sua relação com o estudante”, afirma.
A APUB solicitou à reitoria uma audiência sobre a sequência do calendário.  “A gente está aguardando a resposta. Essa discussão sobre o que serão os próximos semestres na vida da universidade deve ser uma discussão da qual toda a comunidade deve participar”, defende Raquel. “Precisamos fazer um pacto sobre isso. Nós, professores das universidades federais, não estamos dispostos a sacrificar a qualidade do nosso trabalho, mas por outro lado a manutenção do modelo de trabalho não pode significar o sacrifício das nossas vidas e daquilo que fazemos”, diz.
Mesmo com o respaldo de uma sentença judicial que permite a remarcação das férias dos professores — proibida por uma instrução normativa do governo Bolsonaro — Raquel acredita que será uma questão “difícil de equacionar”. “A gente vinha de um período muito longo para reorganizar o calendário por causa da greve de 2015. Este último janeiro foi o primeiro janeiro depois de muito tempo em que a gente teve férias”, disse.

SEM SEQUÊNCIA
DEFINIDA NA UFRGS
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desenvolve o semestre 2020.1 na modalidade Ensino Remoto Emergencial, com aulas entre 19 de agosto e 2 de dezembro, informou a assessoria. Ainda não há definição sobre os próximos períodos letivos. Nem sobre os recessos.
Lúcio Vieira, presidente da Adufrgs, diz que houve um acordo geral dentro da instituição sobre a presença nas aulas remotas, conta o professor. “A universidade retornou e, como ela retornou, deixa de ser facultativo. O que mudou é que a aula não é presencial e, portanto, isso faz parte da nossa atividade”, afirma Lúcio.
O presidente da associação docente lembra que o processo de aprovação do calendário ocorreu de forma cautelosa. “A reitoria, à época, com o professor Rui Oppermann que foi reeleito e não foi nomeado (a UFRGS sofreu intervenção do governo Bolsonaro), teve muito cuidado”, diz. “Foi aprovado com o debate necessário, mas com tranquilidade”.

AMBIENTAÇÃO NA UNB
Na Universidade de Brasília (UnB), as atividades de 2020.1 foram retomadas de modo não presencial em 17 de agosto e seguirão até 18 de dezembro, conforme resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). A resolução previu um período de ambientação de três semanas, nas quais professores, estudantes e técnicos tiveram a oportunidade de se adaptar ao novo formato, informou a assessoria. O calendário do 2020.2 ainda não foi discutido pelo Conselho e não há previsão de retomada de atividades presenciais. “A decisão, quando houver, vai considerar o cenário da pandemia no DF e no Brasil. No momento, a prioridade é manter o isolamento social e, assim, salvar vidas”, informa a Administração Superior da UNB. Os docentes da instituição cumprem a carga horária mínima de aula, em consonância com a legislação vigente e as normativas internas da Universidade.
O presidente da Adunb, Jacques de Novion, afirma que a discussão do calendário acadêmico ocorreu de forma “extremamente acelerada”.  Uma das questões que preocupam são as férias. “Temos vários casos de professores da UnB que tentaram modificar as férias para outros períodos e não tiveram a oportunidade de remarcar”. A indefinição quanto à continuidade do calendário também não ajuda nas discussões internas. “Existe um burburinho que em janeiro não haverá atividades na UnB, mas não foi confirmado”.

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