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WhatsApp Image 2021 03 26 at 20.23.59Um momento singular na história da UFRJ. Assim descreveu o professor Vantuil Pereira, um dos idealizadores do Coletivo de Docentes Negros da UFRJ, movimento recém-criado que, na última segunda-feira, 22, entregou à reitoria um manifesto com uma série de reivindicações para reduzir o racismo na universidade e ampliar a participação negra na vida acadêmica. “Estamos todos em casa, com mais de 300 mil mortos. É um momento singular na história. Mas nesse mesmo momento é possível propor uma universidade antirracista, e nós temos essa oportunidade de dar um passo adiante”, afirmou Vantuil. “Queremos enfrentar o racismo na universidade, mas também pensamos para fora da UFRJ. O exemplo que for dado aqui poderá ser dado a outras universidades”, explicou.

O manifesto foi assinado inicialmente por 59 professores negros das mais diversas áreas – a única pessoa branca que assinou foi a presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, representando o sindicato dos professores. O documento ainda está disponível para mais adesões e o link está no fim desta reportagem.

O texto propõe uma série de medidas, entre elas, a criação da Comissão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Políticas Antirracistas da UFRJ, vinculada ao gabinete da reitora, realização de mapeamento étnico-racial da comunidade acadêmica e implantação de cotas em todos os concursos e na pós-graduação.
Jorge Marçal, um dos coordenadores do Coletivo, acredita que o primeiro ponto é entender o lugar da UFRJ na luta antirracista. “As instituições de ensino são instituições de produção política, que no seu dia a dia promovem formas de ser e estar no mundo. A UFRJ tem necessidade de tomar posição nessa questão internamente”, qualificou. Para Marçal, o debate racial é prioritário na universidade. “A gente está numa conjuntura em que essa pauta não pode mais ser ignorada, é uma pauta que vem sendo lembrada sempre nos conselhos superiores”, afirmou.

Há mais de 20 anos lecionando na UFRJ, Nedir Espirito-Santo, do Instituto de Matemática, quer agilidade nas questões propostas pelo Coletivo. “É preciso um trabalho árduo para termos rapidamente um quadro da questão racial na universidade”, explicou. A professora lembrou que as mudanças políticas referendadas pelo manifesto irão envolver várias pró-reitorias. “É um movimento que vai contribuir para a criação de grupos que irão estabelecer elementos para uma mudança estrutural na universidade”, disse.

A reitora Denise Pires de Carvalho demonstrou apoio ao movimento, e acredita que, em relação à política racial, a universidade está no meio do caminho. “Temos um fórum de politicas raciais associado à PR-4 e às comissões de heteroidentificação. Vamos conversar com muita tranquilidade, garantir os avanços e não permitir retrocessos”, declarou. Para a reitora, é fundamental que essa institucionalização aconteça de uma forma que sobreviva para além da sua gestão.

LEVANTAMENTO
No Consuni da quinta-feira (25), o professor e conselheiro Vantuil Pereira falou sobre o manifesto entregue à reitora. Ele pediu que o documento fosse encaminhado aos conselheiros e que esteja aberto a subscrições “de todos aqueles que entendem que a luta antirracista é uma luta da universidade, de todos aqueles que almejam um Brasil justo, igualitário para todos e todas”. No levantamento étnico-racial feito pelo professor com o apoio da PR-4, dos 1.560 docentes que responderam ao questionário, 323 se consideram pretos ou pardos. Ou seja: 20% do corpo docente é parte inerente desta luta. Para assinar o manifesto, acesse (https://bit.ly/3w1EvD6).

PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES
1. Criar Comissão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Políticas Antirracistas da UFRJ, vinculada ao gabinete da reitora, com representações do Coletivo de Docentes Negras/os, da Câmara de Políticas Raciais e da Comissão de Coletivos Negros discentes.
 
2. Realizar mapeamento étnico-racial para identificar a distribuição de docentes negras/os e indígenas entre as diferentes unidades da UFRJ, e também de bolsistas de extensão, de iniciação científica e de pós-graduandos.
 
3. Ampliar e fortalecer políticas públicas para destinar bolsas de extensão e de iniciação científica, artística e cultural para estudantes de graduação negras/os

4. Garantir acompanhamento e implementação da resolução do Consuni 15/2020, que torna efetiva a reserva de 20% das vagas em concursos de magistério superior para negras/os, prevista pela Lei 12.990/2014

5. Tornar obrigatória a reserva de vagas para negras/os e indígenas nos processos seletivos para ingresso de discentes em todos os programas de pós-graduação da UFRJ.

6. Constituir, no âmbito da PR-2, uma comissão de acompanhamento das ações afirmativas na pós-graduação

7. Propor ações de visibilização, de reconhecimento e de valorização da memória da produção acadêmica e tecnológica de docentes negras/os e indígenas da UFRJ

8.  Demandar inclusão de disciplinas e conteúdos destinados a preparar estudantes de licenciatura da UFRJ para implementar o artigo 26 da Lei 9394/1996, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena em todo o currículo escolar.

9.  Inserir políticas de acolhimento de saúde mental para docentes negras/os e indígenas da UFRJ.

10. Atuar de forma ativa e intencional, visando à promoção de articulação, sobretudo no que for discutido pela Comissão de Acompanhamento e Desenvolvimento de Políticas Antirracistas da UFRJ.


DE MINERVA A DANDARA

Para além das mudanças estruturais sugeridas pelos docentes negros da universidade, a emblemática Minerva centenária foi repaginada pelo grupo. O símbolo, criado em 1935, com a figura da deusa romana das artes e da sabedoria, recebeu alterações mais compatíveis com a pluralidade racial da universidade. Alexandre Brasil Fonseca, professor e diretor do Instituto Nutes, foi quem concebeu a nova marca em diálogo com outros docentes. Em sua criação foi mantido o suporte na parte inferior, numa referência à tradição europeia-colonial que esteve na origem e permanece até os dias de hoje na universidade, marca de sua branquitude. No lugar da Minerva, com as cobras e a efígie da cabeça de Medusa em sua armadura, foi colocada Dandara, mulher preta com colares, brinco, turbante e pintura corporal indígena e que segura um Mbaraká. Saiba mais em: https://conexao.ufrj.br/2021/01/22/uma-marca-para-docentes-negras-e-negros-da-ufrj/

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