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WhatsApp Image 2021 05 21 at 22.50.10 1No programa AdUFRJ no Rádio desta sexta-feira (28), os professores Eleonora Ziller e Josué Medeiros, diretores do sindicato, celebram a força da assembleia de quarta, 26, e convocam os ouvintes para participar do 29M, ato nacional em defesa das universidades públicas. O protesto será presencial e os organizadores pedem que todos usem máscaras, álcool em gel e preservem distanciamento social. O protesto está marcado para sábado, 10h, com concentração no Monumento do Zumbi, na Presidente Vargas. “A AdUFRJ estará presente com nossa bandeira, nossa esperança e nosso desejo de voltar a sonhar”, resumiu Eleonora.

WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.38.48A UFRJ não pode fechar e está unida contra os cortes no seu orçamento e o projeto de destruição do governo Bolsonaro. Esse foi o principal recado que o encontro virtual organizado pelo Formas, o fórum que reúne as cinco entidades representativas da universidade, deu à sociedade. Com o tema “Universidade pública: referência, conhecimento e prática da democracia”, o ato foi um dos eventos do dia de paralisação, na quarta-feira (19) e contou com a participação de dirigentes das organizações que fazem parte do fórum: AdUFRJ, Sintufrj, DCE Mário Prata, APG UFRJ e Attufrj.
Segmento em situação de maior vulnerabilidade, sobretudo desde o começo da pandemia, foi dos terceirizados a manifestação mais comovente do evento. A representante da Attufrj, Waldinéa Nascimento, lembrou que o fechamento da UFRJ impactaria imediatamente os terceirizados. “A UFRJ não pode fechar porque os mais prejudicados serão os trabalhadores terceirizados, que logo no início sofrerão com o desemprego”, disse.
Defendendo a união nas manifestações, Waldinéa explicou a importância da representação da sua entidade. “Nem todo terceirizado pode estar nas manifestações, mas nós da Attufrj tentamos mantê-los informados”, explicou. “Alguns não sabem bem o que está acontecendo, mas todos sabem o que está faltando no seu prato, na sua casa”. A dirigente não poupou críticas à atuação do governo durante a crise da pandemia, apontando sua responsabilidade na tragédia. “O povo trabalhador está sofrendo os efeitos do que o governo faz com as pessoas. A retirada de direitos, a falta de recursos para a Educação e Saúde”.
A política do governo para a Educação e no combate à pandemia foi chamada de “desmanche” pela presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. “Não se trata sequer de um desmonte o que estamos enfrentando. Desmanche significa tentar desfazer para que as coisas não se reconstruam, e quando a gente desmonta alguma coisa, a gente pode remontar”, explicou. Tratando especificamente da Educação, Eleonora falou da gravidade da crise. “Estamos sob o perigo da irreversibilidade das nossas instituições, de uma construção de décadas da pesquisa científica no país, de produção de conhecimento, cultura e arte”, alertou. Mas o tom da representante dos docentes foi de chamada à luta. “O ato é muito importante, um grande ensaio geral para o que o país precisa viver. Esse dia 19 de maio é uma grande preparação para o desafio histórico que vamos enfrentar em 2021”, disse Eleonora, ressaltando a necessidade da união para o enfrentamento ao grave momento.
WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.37.20Os desmontes na pesquisa foram denunciados pelo aluno de pós-graduação Jorge Marçal, da APG UFRJ. Jorge fez um breve retrospecto do cenário, lembrando as ações do governo que esvaziaram o financiamento da pesquisa no Brasil, situação que foi agravada durante a pandemia. “Desde o ano passado denunciamos que temos visto cada vez mais cortes, ao invés de uma lógica de maior financiamento para a Educação e para a Ciência, Tecnologia e Inovação”, ressaltou. Colega de Jorge na APG, a doutoranda Natália Trindade trouxe uma mensagem de esperança para o ato. “Tudo que esse governo quer é que a gente desista. Nós queremos o contrário. A partir da luta coletiva é possível fazer a diferença”, conclamou.
“A nossa indignação coletiva é necessária e deve ser constante, para nos mover na luta”, disse a técnica Damires França, que falou pelo Sintufrj. Damires analisou a conjuntura para expor como o projeto do governo Bolsonaro, conduzido pelo ministro da Economia Paulo Guedes, pretende destruir o Serviço Público. “Sabemos que o plano deste governo é fazer cortes nos orçamentos da Educação, Saúde e Segurança Pública, porque uma vez sucateados eles podem ser fechados ou privatizados”, observou a dirigente sindical, que lembrou das ocasiões em que Guedes sugeriu oferecer vouchers para a população. Damires também denunciou que a reforma administrativa não vai afetar o Judiciário, o Legislativo e os militares, o que ela tratou como uma covardia do governo.
O protesto de rua contra os cortes ocorrido no dia 14, no Largo de São Francisco, Centro do Rio, teve nos estudantes o seu principal motor. A coordenadora-geral do DCE Mário Prata, Natalia Borges, fez um breve balanço do ato e convocou o corpo social da universidade para outras manifestações presenciais. “Foi um ato grande, que mostrou a força do movimento estudantil e de movimentos sociais, não só da UFRJ. E que não acabou na sexta-feira”, avaliou a estudante.

WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.25.36Carlos Alexandre e Renato JaninePela primeira vez em dez anos, dois professores disputam a eleição para a presidência da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade que desde 1948 luta pelo desenvolvimento científico e tecnológico do país. O pleito deste ano começa no dia 27 de maio e vai até 18 de junho.
São candidatos os professores Carlos Alexandre Netto, ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul por dois mandatos, de 2008 a 2016; e Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação de abril a outubro de 2015. Em entrevista ao Jornal da AdUFRJ, os dois prometem dar continuidade ao trabalho da SBPC contra as tesouradas do governo Bolsonaro no orçamento das universidades e centros de pesquisa.
“Orçamento é política de governo e a SBPC tem sido essencial na defesa dos recursos para as áreas de Ciência e Educação, especialmente junto ao Congresso Nacional”, diz Carlos Alexandre, professor Titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Básicas da Saúde, da UFRGS.
“A SBPC e seu atual Presidente têm sido extremamente ativos na defesa da Ciência, da Educação, da Cultura, da Tecnologia, da Saúde e do Meio ambiente”, avalia Renato Janine, professor Titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo.
As eleições da SBPC incluem a diretoria, secretarias regionais e o conselho da entidade. A professora Ligia Bahia, ex-vice presidente da AdUFRJ, disputa a reeleição para secretaria regional. Marta Barroso, também da UFRJ, pleiteia o cargo de secretária adjunta.
O professor Ildeu Moreira de Castro, atual presidente da SBPC, conclama todos os sócios à votação e alerta para as dificuldades da conjuntura: “Desejamos todo o sucesso à nova diretoria, secretários regionais e conselho, pois o momento é muito difícil. É fundamental que a comunidade científica esteja unida”, afirma.
A participação dos pesquisadores da UFRJ na SBPC é histórica e intensa. O atual presidente é docente do Instituto de Física. Na última vez em que dois candidatos concorreram à presidência, em 2011, o professor Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ, entrou na disputa, mas perdeu para a biomédica Helena Nader (Unifesp).

VOTAÇÃO
A votação começa no dia 27 e se estende até o dia 18 de junho. Estão aptos a votar todos os sócios novos admitidos até 15 de março (que precisaram pagar a anuidade para completar a associação) e sócios antigos, que podem quitar a anuidade 2021 até 11 de junho. Por conta disso, o universo de eleitores ainda não está definido. Por enquanto, são aproximadamente três mil pessoas, sendo 450 do estado do Rio — não há divisão do eleitorado por universidade ou instituto de pesquisa.
O processo ocorrerá em meio eletrônico. O que não é uma novidade para a SBPC: desde 2007, os diretores e conselheiros são escolhidos desta forma.
No primeiro dia da votação, a comissão eleitoral enviará aos sócios ativos as instruções do pleito e as senhas para votação. No link indicado na mensagem, o sócio acessa o bloco “Diretoria” e escolhe entre os dois candidatos a presidente, vota em branco ou nulo. Em seguida, vota entre os nomes que concorrem a vice-presidente e assim sucessivamente, para os demais cargos. Na eleição da SBPC, não existem chapas. Ao final, ele confirma o voto pra todos os candidatos selecionados e passa para o “Conselho”.
Como o Conselho da área D (que engloba Espírito Santo e Rio de Janeiro) não apresenta vagas nessas eleições — uma parte do colegiado permanece a cada pleito —, o eleitor do Rio passa à votação da Secretaria Regional. No caso, são candidatas à reeleição as professoras Ligia Bahia e Marta Barroso. Ao final, o sócio da SBPC recebe a confirmação na tela da conclusão do processo de votação.
A apuração será no dia 22 de junho. A posse está marcada para 27 de julho em evento virtual da Reunião Anual da SBPC.

ENTREVISTA I CANDIDATOS À  PRESIDÊNCIA DA SBPC

CARLOS ALEXANDRE NETTO
Ex-reitor da UFRGS e Professor Titular do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Básicas da Saúde

WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.29.04Jornal da AdUFRJ - O que a SBPC ainda não fez e irá fazer, no seu mandato, contra os cortes na Ciência e na Educação?
Carlos Alexandre - Orçamento é política de governo e a SBPC tem sido essencial na defesa dos recursos para as áreas de Ciência e Educação, especialmente junto ao Congresso Nacional. Mais preocupado em honrar os compromissos da dívida pública, o atual governo asfixia as áreas sociais amparado na Lei do Teto. Pretendemos levar um amplo debate sobre: 1) o orçamento e a revisão/revogação da Lei do Teto; 2) um projeto de futuro, o Brasil que Queremos (título sugestivo), em articulação com outras entidades aproveitando as comemorações do Bicentenário da Independência, em 2022. Ciência e Educação para todos como pilares de desenvolvimento, esperança de futuro e de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Como o senhor avalia a atuação do ministro Marcos Pontes?
O ministro Pontes demonstra abertura ao diálogo com as entidades de Ciência e Tecnologia. Ele tem sido sensível a demandas e conferido apoio às ações junto ao Congresso Nacional, especialmente da Inciativa de Ciência e Tecnologia do Parlamento, ICTP-BR, e demonstrado capacidade de articulação com outros Ministérios. Porém, como participa de um governo que não tem um plano de CT&I, revela pouca força frente ao Ministério da Economia; o resultado é um vetor de desinvestimento orçamentário que coloca em risco o presente e o futuro da Ciência brasileira. Ele foi omisso nos episódios de exonerações no Inpe causados pela produção e divulgação de dados da devastação da Amazônia. Ainda assim, é importante poder dialogar e contar com apoio em pautas centrais para a CT&I, como a recente extinção da reserva de contingência do FNDCT.

As duas candidaturas parecem afinadas no discurso contra o negacionismo e os cortes na Ciência e Educação. Por que não foi possível a formação de uma candidatura única?
As candidaturas aos cargos diretivos da SBPC são indicadas pelo Conselho da entidade, o que garante maior representatividade regional e de áreas de conhecimento. A diretoria eleita buscará convergência de projetos e ações para cumprir a missão da SBPC. Como não há composição de chapas, não há possibilidade de formação de candidatura única. O discurso contra o negacionismo e os cortes orçamentários, parte central das atuais políticas anti-ciência e anti-educação, é unanimidade na comunidade acadêmica e em parte da sociedade. A eleição renova o vigor da SBPC.

RENATO JANINE RIBEIRO
Ex-ministro da Educação e professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo

WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.29.04 1Jornal da AdUFRJ - O que a SBPC ainda não fez e irá fazer, no seu mandato, contra os cortes na Ciência e na Educação?
Renato Janine - A SBPC e seu atual presidente têm sido extremamente ativos na defesa da Ciência, da Educação, da Cultura, da Tecnologia, da Saúde e do Meio ambiente. Cabe a quem for o futuro presidente dar continuidade a essa ação, mantendo e fortalecendo os laços construídos nestes anos pela SBPC com outras entidades e também com o Legislativo.

Como o senhor avalia a atuação do ministro Marcos Pontes?
A indicação do ministro é prerrogativa do presidente da República, no nosso ordenamento constitucional. A SBPC tem sempre levado aos órgãos de governo as necessidades da ciência, educação e demais áreas de sua atuação. Vejo com muita preocupação, no caso do MCTI, os cortes no orçamento do CNPq, assim como, nos demais ministérios com que a SBPC historicamente tem tratado, cortes na Educação, na Cultura, na Saúde e no Meio ambiente.

As duas candidaturas parecem afinadas no discurso contra o negacionismo e os cortes na Ciência e Educação. Por que não foi possível a formação de uma candidatura única?
Toda pessoa que milita na Ciência e na Educação é contra o negacionismo e contra os cortes nas verbas para essas áreas. Este consenso é fundamental, até mesmo para que a comunidade esteja unida na defesa das causas importantes para o Brasil. Ou seja, todos defendemos aquilo que a comunidade científica e a sociedade brasileira conquistaram com trabalho árduo e hoje se vê ameaçado. Talvez a novidade de minha candidatura seja que considero necessário a SBPC propor uma discussão bem forte sobre as mudanças no sentido da vida, correlatas a uma maior expectativa de vida e em sua melhor qualidade, que devemos em grande medida à área de Saúde. Os avanços no conhecimento estão permitindo mudarem, para melhor, tanto a vida pessoal quanto a social – o que envolve todas as áreas que mencionei na resposta anterior, com ênfase no papel que a educação, a cultura e a atividade física não competitiva podem cumprir como geradores de prazer e, mais que isso, de novos propósitos para as pessoas.

WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.31.03Fotos: Alessandro CostaNo Dia Nacional de Paralisação dos Docentes, quarta-feira (19), a UFRJ voltou às ruas para defender a universidade dos cortes orçamentários. Com o mote “A UFRJ não pode fechar”, as entidades representativas da comunidade universitária — AdUFRJ, Sintufrj, DCE Mário Prata, APG UFRJ e Attufrj — fizeram uma manifestação em frente ao campus da Praia Vermelha.
Quem passou de carro pelo local recebeu um material preparado pela organização da manifestação que explicava as razões do protesto e a importância da UFRJ para a sociedade. Com os sinais fechados, os representantes das entidades discursaram em defesa da universidade. O protesto foi cercado de cuidados contra a pandemia, com todos os participantes usando máscaras e com distribuição de álcool em gel. O distanciamento foi recomendado pela organização.
Também durante a manhã, o Andes organizou um encontro virtual para marcar o dia. A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, fez uma transmissão para o Andes diretamente da manifestação na Praia Vermelha. Em seu discurso, Eleonora olhou para o futuro, comparando as manifestações a ensaio geral para a luta unitária que acontecerá no país em defesa da Educação. “Um verdadeiro levante da educação pública brasileira contra esse governo genocida, contra a destruição das instituições universitárias”, disse Eleonora, que reafirmou a importância das universidades públicas para o país e denunciou o projeto de destruição do governo Bolsonaro. A presidente da AdUFRJ ainda celebrou a união da universidade, evidenciada pela articulação das entidades representativas na manifestação. “Estamos todos juntos construindo um movimento unificado em defesa da nossa universidade”.WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.32.09Presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller
O encontro organizado pelo Andes contou com a participação de dezenas de representantes sindicais de todo o país, e dirigentes de universidades e institutos federais. A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, marcou presença no ato virtual, reafirmando a necessidade de recomposição do orçamento da educação superior. “Queremos retornar com as atividades presenciais, assim que as condições sanitárias permitirem, e esses cortes inviabilizarão o retorno presencial das nossas universidades”, explicou a reitora, que defendeu a Educação como “um direito de todos e um dever do Estado”. Denise também se opôs à nomeação de interventores nas universidades, prática que vem sendo adotada pelo presidente Jair Bolsonaro, e terminou a sua participação saudando o Sistema Único de Saúde (SUS).

WhatsApp Image 2021 05 21 at 22.45.38No dia 3 de maio, a repressão da polícia israelense a uma manifestação de apoio a famílias palestinas despejadas de suas casas no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, deu início a mais um conflito armado na longa jornada de embates entre árabes e judeus no Oriente Médio. O rastilho de pólvora rapidamente se espalhou, com novos protestos reprimidos na Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, um local sagrado para o Islã, durante o período do Ramadã, o mais importante para os muçulmanos, este ano celebrado entre 13 de abril e 12 de maio.
Até o cessar-fogo que entrou em vigor nesta sexta-feira (21), o conflito deixou 232 palestinos mortos na Faixa de Gaza, sendo 65 crianças, e 12 mortos em Israel, entre eles duas crianças. A complexidade de um embate tão antigo quanto recorrente deixa mais dúvidas do que certezas em relação ao futuro. O Jornal da AdUFRJ traz duas visões sobre o conflito. Direto de Tel Aviv, em Israel, o jornalista Daniel Hippertt fala sob a perspectiva de quem vive em território israelense. E a advogada Havana Marinho, estudiosa da causa palestina, aborda o cotidiano dos habitantes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em comum, ambos ainda acalantam o sonho de paz na região.

Além da disparidade no número de vítimas, o conflito encerrado pelo cessar-fogo desta sexta-feira (21) evidenciou duas realidades bem distintas. Do lado de Israel, um dos exércitos mais poderosos do mundo e uma política de ocupação de territórios cada vez mais violenta. Do lado da Palestina, violações cotidianas de direitos da população — extensivas até aos árabes-israelenses que vivem em Jerusalém Oriental e têm cidadania, como as famílias despejadas de Sheikh Jarrah. Os dois relatos que o Jornal da AdUFRJ passa a descrever mostram o desequilíbrio entre essas duas realidades.
“A sirene ecoou. Pela primeira vez na minha vida, eu estava sendo avisado de que mísseis estavam vindo em minha direção: não foi uma grande estreia, devo confessar. Há uma força crua e quase indescritível que te leva completamente neste tipo de momento... A frequência cardíaca aumenta, a adrenalina atinge o seu pico, os olhos estão bem abertos, tudo parece se mover em câmera lenta, direto de algum filme Matrix. O próximo passo é esquecer: quem você é, o que estava fazendo, falando, pensando, possivelmente por estar ansioso. No final, tudo se resume ao instinto de sobrevivência e à emoção de chegar, o mais rápido e ordenadamente possível, ao lugar seguro mais próximo”.
WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.48.49DanielO relato é do jornalista brasileiro Daniel Hippertt, de 28 anos, e foi postado em seu blog (https://danielhippertt.medium.com/) em 15 de maio. Naquele sábado, um ataque israelense transformou em escombros o edifício onde ficavam os escritórios da agência de notícias norte-americana Associated Press e da emissora catari Al Jazeera na Faixa de Gaza, enclave palestino de 41 quilômetros de extensão por de seis a 12 de largura junto ao Mar Mediterrâneo, onde dois milhões de palestinos vivem isolados por terra, mar e ar por Israel.
O “lugar seguro” ao qual Daniel se referiu é um “quarto do pânico” dentro do apartamento que divide com outros sete jovens em Tel Aviv, em Israel. A sirene abre um protocolo de segurança em que os habitantes da cidade litorânea, próxima à Faixa de Gaza, devem se proteger em abrigos pré-definidos, enquanto o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel, é acionado para interceptar os foguetes lançados de Gaza pelo Hamas, grupo islâmico que comanda o enclave. “Assim que trancamos a porta, só ouvíamos as bombas explodindo lá fora. Você não sabe quão perto ela está de você, qual o seu poder destrutivo. Moro numa república com mais sete rapazes, um deles não estava em casa. Todos naquele quarto tinham entre 23 e 28 anos e ficamos olhando uns para os outros como se fôssemos sete meninos”, recorda Daniel.

ROTINA DE VIOLAÇÕES
Se o Domo de Ferro consegue interceptar, em média, 90% dos foguetes lançados pelo Hamas em direção a Tel Aviv, os mísseis disparados por Israel contra Gaza parecem acertar 100% nos alvos. Pelo menos 450 prédios foram destruídos ou seriamente danificados no enclave nos últimos dias. Mesmo após o cessar-fogo, a rotina de palestinos sendo desalojados de suas casas vai prosseguir, como parte da política de expansão das colônias israelenses nos territórios ocupados. Em 11 de janeiro deste ano, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ordenou a construção de 800 moradias para colonos na Cisjordânia. Uma realidade que a advogada Havana Marinho conhece bem. Em 2015, ela concluiu seu doutorado em Economia Política Internacional na UFRJ com a tese “Ocupação israelense na Palestina: colonialidade, geopolítica e violação de direitos”. Como parte da pesquisa, ela passou 25 dias no campo de refugiados de Aida, em Belém, na Cisjordânia.
WhatsApp Image 2021 05 22 at 10.48.49 1Havana“Entrevistei muita gente, inclusive estudiosos judeus que não são sionistas e que têm uma visão crítica em relação à ocupação militar de Israel na Palestina. Meu olhar foi na perspectiva da violação de direitos e, nesses territórios ocupados, há regras do Direito Internacional que Israel nunca cumpriu. Uma delas é que, quando você ocupa um território, não pode levar população do seu país para lá. E é isso que acontece há muito tempo com o avanço das colônias de Israel”, afirma Havana, de 39 anos, pesquisadora do Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ (LADIH/UFRJ) e integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Havana, que também é jornalista, tentou entrar na Faixa de Gaza, mas não obteve autorização. “Na Cisjordânia, me apresentei como uma peregrina, não podia falar nada sobre a minha pesquisa porque Israel faz um cerceamento de conteúdo. Eles tentam dominar a narrativa de acordo com a perspectiva deles, então qualquer pessoa que tenha como objetivo pesquisar a Palestina para trazer uma outra visão enfrenta dificuldades”.
O despejo de famílias em Jerusalém Oriental, que vem ganhando contornos de guerra civil, é uma realidade cotidiana nos territórios ocupados, segundo a advogada e pesquisadora. “Eu vi isso em Belém. Israel promove as conhecidas demolições para fazer novos assentamentos e, se você não sair de casa, ela é demolida com tudo o que tem dentro”, diz ela, que conseguiu fotografar uma dessas demolições. Teve de arquivar as fotos em um cartão de memória e despachá-lo dentro de um livro, de navio, para o Brasil. “Antes do embarque da volta, se você esteve nos territórios ocupados, o Serviço de Imigração de Israel vasculha tudo, faz um interrogatório, é muito arriscado”.
Daniel tem a perfeita noção de que está do lado mais seguro do confronto. “A sirene, o medo dos foguetes sobre Tel Aviv, isso foi uma situação atípica. Eu preciso ter a noção dos meus privilégios, porque isso acontece diariamente em muitos lugares e eu posso imaginar o nível de terror. Aqui nós temos um Domo de Ferro que intercepta os mísseis e um quarto de pânico onde eu posso me abrigar”, diz ele, que está em Israel por conta de um programa destinado a jovens judeus latino-americanos, por meio do qual faz cursos e trabalha em uma start-up da área de Educação.
O jornalista carioca tem uma rotina normal em Tel Aviv. “Se o Brasil foi o país que pior lidou com a pandemia, Israel foi o oposto. Hoje, eu trabalho sem máscara e posso andar na rua sem ela, que só é requisitada em transportes públicos. Cheguei em 6 de abril, fiz um teste no aeroporto e passei por uma quarentena obrigatória. Já tomei as duas doses da vacina e tenho um green passport, que me dá acesso a qualquer lugar”, conta ele, que não imaginava a eclosão de um conflito um mês depois da sua chegada.
“Tel Aviv é um dos principais alvos, mas é também um dos locais mais seguros de Israel. Há sete anos não havia aqui a necessidade de usar os abrigos antimísseis. É traumático, claro. Estou num grupo de 90 latino-americanos e cada um reage de um jeito. Tem gente que acusa o golpe, não consegue sair de casa. Eu tentei seguir com a vida. Ontem eu fui à praia, saí para jantar”, relata Daniel.

SONHO DE PAZ
A vida normal nos territórios ocupados é bem diferente. Segundo Havana, a segregação dos palestinos é crescente. “Participei de alguns protestos semanais, que são feitos em povoados e vilarejos palestinos todas as sextas-feiras há 30, 40 anos, para denunciar a ocupação. Alguns são lúdicos, outros são mais diretos e esses são reprimidos com violência. Em um desses protestos, com crianças e idosos, os soldados israelenses primeiro usaram gás lacrimogênio para dispersar as pessoas. Depois vieram com balas de borracha e, por fim, com munição letal. A repressão é constante”, diz a advogada.
Havana tratou dessas violações de direitos em sua tese, e acredita que elas não vão cessar. “O controle de Israel impõe essa rotina de violência. Na Cisjordânia, para você se deslocar, há vários checkpoints. Se um palestino mora em Belém e quer visitar alguém em Nablus, no norte do território, tem que passar por vários checkpoints nos quais pode ou não ser autorizado a passar. Em geral, não passa. Em Hebron, onde estive, a ocupação dos colonos se dá dentro da cidade. Algumas outras cidades palestinas têm colônias ao redor, há um certo distanciamento. Mas em Hebron há famílias palestinas vivendo ao lado de famílias de colonos, e elas andam em calçadas opostas na rua. Essa segregação se dá no dia a dia. Nas colônias, há água filtrada 24 horas por dia. Na Cisjordânia, você sabe de longe se uma casa é palestina porque ela tem no telhado um tanque para armazenamento de água, porque o abastecimento não é regular”, relata.
Mesmo descrentes quanto a uma solução que ponha fim aos conflitos entre israelenses e palestinos, Daniel e Havana ainda nutrem a esperança de paz na região. “Eu gostaria que os direitos dos palestinos fossem reconhecidos, com um Estado-nação palestino. Adoraria que todo e qualquer extremismo ou fanatismo religioso fosse abolido, seja de que vertente for. A intolerância é o principal problema. Sonho com um mundo onde as pessoas percebam que há mais coisas em comum do que diferenças”, defende Daniel. “Se a gente não se alimentar de esperança, o que fazer? Eu alimento sim, mas não será fácil. As ondas de violência vão e voltam, até o próximo cessar-fogo, mas a expansão das colônias é contínua. Um cessar-fogo só acaba com o conflito militar aos olhos do mundo. Mas a degradação diária dos palestinos continua. E longe dos olhos do mundo”, lamenta Havana.

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