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WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.35.42Fotos: DivulgaçãoMuitas comunidades da cidade do Rio de Janeiro sofrem com os deslizamentos de terra, sobretudo aqueles gerados por fortes chuvas. Para disseminar informações sobre esses desastres, que já geraram tragédias históricas na capital fluminense, o projeto Encosta Viva (https://encostaviva.poli.ufrj.br/), da Escola Politécnica da UFRJ, vem percorrendo, desde outubro deste ano, algumas escolas públicas do município para levar informações a crianças e jovens que, muitas vezes, já sentiram na pele o peso desse problema nas comunidades onde vivem.
Coordenado pelo professor Marcos Barreto de Mendonça, o projeto já levou suas oficinas às escolas Reverendo Martin Luther King, na Praça da Bandeira, e Thomas Mann, no Cachambi, ambas na Zona Norte. “Nessas duas escolas, atendemos um total de 30 turmas, em torno de 600 alunos, desde a Educação Infantil até o nono ano. Foi uma experiência incrível, sobretudo com as crianças pequenas. Tivemos de adaptar até o linguajar para interagir com elas, e a resposta foi positiva”, comemora o professor Marcos.
No início do ano que vem, será a vez da Escola Municipal Laudimia Trotta, na Tijuca, bairro da Zona Norte onde há várias áreas de risco para deslizamentos de encostas. “O público-alvo dessa escola é formado por moradores do Salgueiro, da Formiga e do Borel, três áreas de encosta e com risco alto de deslizamentos”, explica a professora Maria de Fátima Abrantes, que dá aulas de Geografia na escola e é uma das coautoras do projeto. “A gente espera que isso se multiplique na comunidade, com rodas de conversa com os pais dos alunos, com as associações de moradores. E que os alunos sejam multiplicadores desse conhecimento”, diz Fátima, chamada pelos alunos de Fatinha. WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.35.43AS OFICINAS envolvem professores e alunos extensionistas, que interagem com alunos da Educação Infantil ao nono ano do Ensino Fundamental, sob a coordenação do professor Marcos Barreto (em primeiro plano)
O entusiasmo da professora pelo projeto é tanto que ela ingressou no Programa de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica para desenvolver uma pesquisa sobre a metodologia das oficinas. “No doutorado, a ideia é desenvolver e avaliar essa metodologia em sua eficácia na construção do conhecimento e do desenvolvimento da percepção de risco dos alunos em relação aos deslizamentos. Existem poucos trabalhos nessa linha”, destaca a professora.

ESPAÇO CIÊNCIA VIVA
Marcos trabalha há muito tempo com o tema. Engenheiro civil formado pela Uerj, com mestrado e doutorado na Coppe/UFRJ na área de Geotecnia, ele trabalhou na Prefeitura de Petrópolis, onde teve uma forte vivência com deslizamentos de encosta, principalmente depois das chuvas de 1988 que castigaram a cidade serrana. Também atuou nessa área na iniciativa privada por mais de uma década. “Quando entrei na UFRJ, em 2010, vi a oportunidade de trabalhar com algo que sempre quis, a educação para a redução de desastres associados a deslizamentos. E comecei a apresentar projetos nessa área a agências de fomento”, conta o professor.
Após alguns projetos pontuais de pesquisa em comunidades e escolas, Marcos vislumbrou a chance de ter um projeto contínuo sobre os deslizamentos: o Espaço Ciência Viva (ECV), um museu interativo aberto ao público e que lida com divulgação científica. “Entramos lá em 2015, nas oficinas dos Sábados da Ciência, com até mil visitantes por oficina. Foi um divisor de águas, porque o ECV tem experiência em oficinas educativas. E isso nos levou, em 2019, a inscrever um projeto no CNPq para integrar a universidade (UFRJ), escolas públicas e o ECV, que é o facilitador da passagem desse saber do ensino superior para escolas públicas. E nasceu o Encosta Viva”, lembra Marcos.
A professora Eleonora Kurtenbach, chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Bioquímica de Proteínas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, presidente do Espaço Ciência Viva e diretora da AdUFRJ, exalta o Encosta Viva como um desdobramento natural das atividades do ECV. “Eu estou lá desde 1984, quando ainda era estudante de mestrado. O ECV (http://cienciaviva.org.br/) é uma ONG criada por vários grupos de pesquisadores e professores de várias universidades. É um museu interativo de Ciências montado num galpão remanescente das obras do Metrô na Tijuca. E estabelecer essa interação entre os cientistas e o público sempre foi o nosso objetivo”, diz a professora.
Eleonora recorda que o Encosta Viva se desenvolveu muito desde 2015, quando o tema dos deslizamentos foi introduzido no ECV pelo professor Marcos. “Em 2000, começamos a fazer os Sábados da Ciência, eventos temáticos abertos ao público. Foi assim que o professor Marcos chegou com seu projeto ao ECV. A partir daí começamos a escrever projetos juntos, com esse olhar sobre as desigualdades. As oficinas nas escolas com alunos de extensão são uma experiência muito rica, o projeto tem um viés social importante”, sustenta Eleonora.     

PERTO DA REALIDADE
Isadora Fortuna, aluna do projeto de extensão, atesta a riqueza da experiência. Ela é uma das mediadoras das oficinas, em que os alunos das escolas públicas são apresentados ao tema com o auxílio de uma maquete que simula um deslizamento de terra em uma encosta. Problemas comuns a várias comunidades, como escavações irregulares do solo, desmatamento e acúmulo de lixo, são abordados nas aulas. As oficinas mostram também os mecanismos de alerta existentes na cidade, como as sirenes.
“O Encosta Viva consegue unir três vertentes que me interessam muito: a educação, a questão social e a Engenharia Civil. Tive a oportunidade de ajudar na estruturação das maquetes, de todos os materiais usados nas oficinas. O que mais me envolve e motiva é a relação com os alunos, com os professores, e ainda mais tratando de um tema que é tão próximo da realidade deles. Acho que ele tem que ir para todas as escolas do Rio de Janeiro, a gente vê o interesse dos alunos, principalmente os mais novos”, conta Isadora, que é aluna de Engenharia Civil na Escola Politécnica.
Para a também aluna de Engenharia Civil e extensionista Isabela Cardoso, a proximidade com o tema é ainda mais profunda. Ela foi aluna da professora Fatinha na escola Laudimia Trotta e é moradora do morro do Salgueiro. “Logo que entrei na UFRJ, teve uma apresentação para os calouros sobre os projetos de extensão. E o Encosta Viva me encantou, falava da escola em que eu estudei, da professora Fatinha, que me deu aulas de Geografia. Tem tudo a ver comigo. Moro no Salgueiro, já morei também no Borel, onde vi isso de perto. A gente sabe que as pessoas não escolhem morar em comunidades com áreas de risco, elas não têm outro lugar para viver”, diz Isabela, que está vencendo sua timidez nas oficinas. “Consigo ver na carinha das crianças que elas entendem quando a gente fala. Estou indo agora para o segundo período, me sinto a criancinha do projeto. Que eu possa amadurecer junto com ele”.

 

WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.37.39Na última semana, o discurso da indígena Txai Suruí na COP26, em Glasglow, na Escócia, tocou o mundo sobre a importância dos saberes tradicionais para enfrentar a crise climática. A filha do cacique Almir Suruí é a primeira integrante do povo Suruí a cursar Direito na Universidade Federal de Rondônia (Unir), e é também fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Na linha de frente do grupo, ela já liderou atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro e também denunciou o avanço da agropecuária sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Em seu discurso — ela foi a única brasileira a falar na abertura da cúpula das Nações Unidas, que vai até o próximo dia 12 —, Txai enfatizou a necessidade de tomar outros caminhos, “com mudanças corajosas e globais”, para frear a crise climática que afeta de maneira devastadora as terras onde nasceu e cresceu.
“Os saberes indígenas não são só diferentes, mas são saberes que se relacionam de outra maneira com o meio ambiente e o mundo”, sustenta o professor de História do CAp-UFRJ e doutorando do Programa de História Social, João Gabriel Ascenso. “Os indígenas têm uma relação com o meio ambiente em que se reconhece a subjetividade dos elementos da natureza. Reconhecem que a natureza não são só bens para serem consumidos, não têm essa distinção de sujeito e objeto. Por reconhecer a subjetividade contida nos elementos naturais, não os destroem sem motivo. As cosmovisões desses povos representam uma alternativa à crise global que está acontecendo”, acredita João.
O desenvolvimento sustentável, uma das bandeiras do “eco-capitalismo” atual, é uma das dificuldades para a mudança, acredita o doutorando. “É possível ter um desenvolvimento sustentável? Muitas vezes o discurso parece ser: como fazer para continuar crescendo desse jeito e não destruir o mundo. A questão é que não dá. O mundo não está aguentando isso”, acredita. “Se a gente tem que crescer e produzir o tempo inteiro para economia continuar crescendo, não tem alternativa”, completa.
Para o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, o discurso traz a pauta da demarcação de terras indígenas. “É muito importante. O que for possível ser segurado, precisa ser segurado. E o que pode ser reflorestado, também precisa ser”, afirma o antropólogo. “Sou a favor que a humanidade pense em conjunto, que possa refletir caminhos e opções que consigam compatibilizar os povos que precisam de desenvolvimento e melhoria das condições econômicas”, diz.
Gomes não acredita que o mundo pode acabar em pouco tempo, por consequências da crise climática. “Quanto a essa história de fim do mundo, para mim é muita retórica. Acho que a Terra já foi muito devastada, temos que compatibilizar a realidade de quase oito milhões de pessoas que precisam ser alimentadas, e ao mesmo tempo num regime social que está sempre crescendo cada vez mais”, explica. “É preciso encontrar caminhos que perturbem cada vez menos a natureza”, conclui.
Txai Suruí alertou, também, sobre o assassinato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, seu amigo de infância encontrado morto em abril de 2020 na Linha 625 de Tarilândia, em Rondônia. “Sobre assassinatos de ativistas indígenas, isso é profundamente lamentável”, afirma o antropólogo Cesar Gordon, professor do IFCS/UFRJ. “Não é um fenômeno contemporâneo, muito pelo contrário, isso já ocorre há várias décadas, e tem muito a ver com o problema geral da impunidade brasileira”, explica. “Principalmente nas regiões mais afastadas dos centros urbanos, isto é, nas franjas da atuação do Estado brasileiro, regiões que ficam praticamente sem lei, é um fenômeno recorrente, não me parece que isso esteja ligado ao agravamento da crise”, acredita.

O DISCURSO

"Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.

Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.

Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?

Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!

Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.

Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.

Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.

É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.

Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.

Obrigada!"

VICE-DIRETORA DA COPPE AVALIA PRIMEIROS DIAS DA CONFERÊNCIA

WhatsApp Image 2021 11 04 at 18.56.30DivulgaçãoVice-diretora da Coppe, a professora Suzana Kahn participa da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Clima (COP26), em Glasgow, Escócia, como representante da UFRJ na Aliança Global de Universidades sobre o Clima (GAUC, da sigla em inglês) e como Diretora do Centro Brasil-China.
Já é possível registrar alguma surpresa, positiva ou negativa, nesses primeiros dias da Conferência?
Surpresa em termos de avanço com o “livro de regras” do Acordo de Paris não houve. A surpresa foi a quantidade de pessoas que compareceram à COP em Glasgow, no meio de uma pandemia, num dos países mais caros do mundo, com uma série de restrições. O que mostra o interesse do mundo em resolver a questão.

Como avalia a participação do governo brasileiro e, em especial, a meta anunciada de reduzir a emissão de gases pela metade até 2030?
Não espero nada do governo atual. Não cumpriu suas metas, que eram absolutamente factíveis. Ao contrário, aumentou sua emissão de carbono. Portanto, não acredito no que anunciam. Aliás, nem eu, nem a imprensa daqui. O país está completamente desacreditado.

O que achou do pedido de demissão do coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Santos Lucon, durante a COP?
Nunca entendi como ele aceitou ficar tanto tempo! (Lucon, que é pesquisador, havia sido nomeado por Bolsonaro para o cargo em maio de 2019).  (Kelvin Melo)

 

WhatsApp Image 2021 10 29 at 09.41.34Existe prevenção para a doença que mais mata mulheres em todo o mundo. A campanha de conscientização “Outubro Rosa” possui o objetivo principal de alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do câncer de colo uterino. No Brasil, essas campanhas acontecem desde 2002, mas foram instituídas por Lei Federal apenas em 2018. Na UFRJ, alguns setores se mobilizaram este ano para debater o tema.
O Centro de Referência para Mulheres Suely Souza de Almeida (CRM-SSA), projeto integrante do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), e o Instituto de Ginecologia (IG) da UFRJ realizaram uma roda de conversa com especialistas, na última segunda-feira (25). “Câncer é uma doença superlativa, tudo que é referente é muito grande. A Organização Mundial de Saúde estima a mortandade de um para cada seis casos”, explicou o médico e professor do IG Jair Balen. É um consenso que as patologias atingem de maneira diferente as mulheres ao redor do mundo. “Nos países de alta renda, a canalização dos recursos para rastreamento e tratamento do câncer implica numa melhoria de resultados”, identificou Balen.
Débora Louzada, estudante do Serviço Social e estagiária do CRM-SSA, acredita que os determinantes WhatsApp Image 2021 10 29 at 17.54.331sociais  influenciam diretamente o diagnóstico e o tratamento do câncer. “O adoecimento implica em vulnerabilidade social da mulher, que se agrava quando associada à precariedade das condições de vida e trabalho. Por isso, são necessárias políticas sociais específicas para seu enfrentamento”, afirmou. Entre as questões que impedem o rápido rastreamento da doença estão o processo de adoecimento versus condições de vida, o empobrecimento contínuo, a precarização das condições de trabalho e a ausência de proteção social.
Para a professora da pós-graduação do Instituto de Ginecologia, Livia Migowski, o maior impacto na prevenção do câncer de colo de útero e de mama é realmente o rastreamento adequado com busca ativa, que inclui, por exemplo, ligar para os pacientes. “Também a vacinação contra HPV e as práticas de sexo seguro são importantes”, completou. A médica, formada pela UFRJ, explicou na roda de conversa que nos países que desenvolveram uma política de rastreamento efetiva foi observada uma diminuição drástica nos casos de câncer de colo de útero. “A colpocitologia oncótica, ou exame do preventivo, mostrou ter um impacto muito grande. No Brasil, diminuímos bastante a incidência deste tipo de câncer, mas nos últimos dez anos não temos progredido”, informou.
O acesso efetivo às políticas públicas é um direito das mulheres brasileiras com câncer. “Muitos dos direitos sociais vêm de uma herança vinculada à questão trabalhista”, explicou Débora Louzada. Por exemplo, a Previdência Social pode ser ativada para auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. No trabalho formal, é possível solicitar afastamento de até 15 dias; licença para tratamento de saúde; licença por motivo de doença em pessoa da família; saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o saque do Programa de Integração Social (PIS). Para facilitar a mobilidade no transporte público, pode ser requerido o Tratamento Fora de Domicílio (TFD); Vale Social; Passe Livre Interestadual e o Riocard Especial, além do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) e a prioridade na tramitação de processos.

IMPACTOS NA PANDEMIA
No último ano foi observado um impacto nos diagnósticos de câncer de mama e colo uterino no país, devido à pandemia da covid-19. O tema foi tratado na roda de conversa que a Comissão Interna de Eventos da Decania do Centro de Tecnologia (CT) da UFRJ promoveu, no dia 13 de outubro. “Em abril de 2021, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) alertou que o tratamento e o reagendamento de consultas ginecológicas, em função da pandemia, geraram uma preocupante redução de diagnósticos dos cânceres de mama e colo de útero”, informou Riany Brites, enfermeira da Seção de Promoção e Prevenção em Saúde do Trabalhador da PR-4.
“Ao analisar os dados do Ministério da Saúde, nos períodos pré e pós pandemia, a entidade observou a redução de 23,4% na realização das mamografias e biópsias de colo de útero, dois dos principais exames para diagnóstico”, completou Riany. Segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 82 mil mulheres desenvolveram essas neoplasias no último ano e 24.860 desconhecem a presença da doença.
Doutora em Enfermagem pela UFRJ e enfermeira do Inca, Iris Bazillo, a pandemia trouxe muitos desafios para quem lida com o câncer diariamente. “Primeiro, o medo e pânico de todos os profissionais, por conta das nossas pacientes que já têm o sistema imunológico debilitado. Houve também sobrecarga assistencial absurda, por uma demanda maior de atendimento, matrícula e internação”, contou. “Além de uma redução de funcionários, porque alguns adoeceram, outros foram para o trabalho remoto. Houve um momento em que determinados setores do hospital estavam funcionando apenas com 30% dos funcionários”, alertou.
A ginecologista e mastologista Cecília Pereira discorreu sobre a necessidade de fazer exames periodicamente, de maneira organizada, a partir dos 40 anos. “Todos os anos, independentemente da paciente ter ou não os sintomas”, pontuou. O autoexame não é mais recomendado como método de rastreamento. “A gente tem que incentivar a mulher a se reconhecer, se apalpar, mas ele não é mais confiável como rastreamento. A mamografia encontra lesões totalmente impalpáveis. E isso tem impacto na cura, é possível um diagnóstico precoce”, concluiu a médica.

Plurais

Na próxima semana, dia 9, irá ao ar o primeiro episódio da série Incontáveis, produzida pela Comissão da Memória e Verdade da UFRJ. A estreia vai abordar a repressão contra o mundo da educação durante a ditadura militar brasileira e será transmitida pelo canal do Fórum de Ciência e Cultura no Youtube, seguida de um debate com Dulce Pandolfi, da Universidade da Cidadania, Julia Polessa, da Faculdade de Educação, e Andréa Queiroz e Luciana Lombardo, da Comissão. Cada capítuloWhatsApp Image 2021 11 05 at 15.00.33 abordará um tema relacionado à ditadura, tais como o racismo, a questão de gênero, os povos indígenas, os trabalhadores, o mundo da Educação e a população LGBTQIA+. “O objetivo é traduzir o conhecimento historiográfico de ponta que é produzido nas universidades em uma linguagem audiovisual, para fazer a disputa de memória e lutar contra o negacionismo”, explica Lucas Pedretti, um dos colaboradores.

Parent in Science vence prêmio internacional

O movimento brasileiro Parent in Science, criado em 2016 com o objetivo de fomentar a discussão sobre os impactos da maternidade e da paternidade na carreira acadêmica de cientistas do Brasil, foi a iniciativa vencedora do prêmio “Mulheres Inspiradoras na Ciência”, na categoria Science Outreach, pelo trabalho desenvolvido na sistematização de dados e na luta pela implantação de políticas de apoio às mães na academia. A vitória foi anunciada na quinta-feira (28) por uma das maiores editoras científicas do mundo, a britânica Nature, em uma cerimônia virtual.  É a primeira vez que o prêmio é concedido a um grupo brasileiro, através de uma parceria da editora Nature com a companhia Estée Lauder. Com a premiação, o movimento ganhou US$ 40 mil, além do convite para apresentações e mentorias na empresa Estée Lauder.

WhatsApp Image 2021 10 29 at 09.41.341Imagens: divulgaçãoO ambiente hoje inóspito e gelado da Antártica já foi palco de incêndios florestais. É o que aponta uma pesquisa liderada por cientistas brasileiros, com base na análise de vegetais fossilizados. Publicado no último dia 20 na revista norueguesa Polar Research, o artigo é o primeiro registro de paleoincêndios na ilha James Ross, localizada na Península Antártica. Os fósseis pertencem ao período Cretáceo, que ocorreu há 75 milhões de anos, e foram coletados em janeiro de 2006, em uma expedição do projeto Paleoantar. “Desde 2005, nós vamos todos os anos à Antártica, só não fomos no ano passado por conta da pandemia. Nesses anos todos, nós coletamos uma quantidade enorme de fósseis e microfósseis de troncos, folhas, animais marinhos e terrestres”, conta Juliana Sayão, professora da Seção de Museologia do Museu Nacional/UFRJ, vice-coordenadora do Paleoantar e uma das autoras do estudo.
Por meio da contínua análise desses fósseis, os paleontólogos podem recompor o ecossistema antártico do passado. “Era um cenário bem diferente de hoje em dia. A Antártica era verde, composta por florestas. E essas florestas eram banhadas por rios, que desembocavam no mar”, explica Juliana. Naquele período, também conhecido como “O Grande Fogo do Cretáceo”, as temperaturas eram mais altas que hoje em dia, devido principalmente às atividades vulcânicas em diferentes partes do planeta. “Havia ali, em James Ross, um vulcanismo, uma fonte de fogo muito ativa, que a gente encontra registrada nas rochas. Provavelmente esse vulcanismo acentuado da região provocava a faísca necessária para os incêndios”, comenta. Eventos similares, de queimadas espontâneas, já foram registrados praticamente no mundo inteiro.

TRABALHO DE CAMPO
Juliana era uma das cientistas que estava na atividade de campo em que o fóssil foi encontrado. Na ocasião, suas características semelhantes às WhatsApp Image 2021 10 29 at 09.41.342PARTE da equipe responsável pelo estudo em trabalho de campo na Antárticado carvão vegetal chamaram a atenção da pesquisadora. “Eu orientava uma aluna de doutorado que fazia uma análise de carvões desse período, para verificar se eles eram originários de paleoincêndios, e mostrei esses fósseis a ela”, lembra. Essa aluna era a paleontóloga Flaviana Lima, hoje professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou a pesquisa. Além delas, também participaram do estudo pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (Cenpaleo), de Santa Catarina, e Universidade Regional do Cariri (Urca), do Ceará.
“Quando esse material chegou nas minhas mãos, eu vi as estruturas externas e percebi que havia grandes chances dele ter sido queimado antes de fossilizar”, afirma Flaviana. O trabalho de análises microscópicas começou em 2017, e vem sendo realizado em colaboração pela equipe ao longo desses anos. Segundo ela, o material é difícil de ser encontrado porque não se parece com algum fragmento característico de planta, como um galho ou uma folha, mas se assemelha muito ao carvão utilizado em churrascos. “É preciso saber identificá-lo no campo, coisa que a Juliana soube fazer porque já conhecia os materiais que eu vinha analisando na minha tese de doutorado”, ressalta. Para que o material fosse considerado um “macro-charcoal”, ou seja, um carvão vegetal macroscópico, foi preciso identificar algumas características: o brilho, a cor preta, o traço que o carvão faz ao riscar uma superfície, e os raios da estrutura vegetal.
Na sequência, o material é separado em fragmentos e levado para o Microscópio Eletrônico de Varredura. “Aí começa a parte mais legal, que é vasculhar no microscópio”, diz Flaviana. Para confirmar a ocorrência de incêndios vegetacionais a partir daquele registro, é preciso paciência. “Para cada imagem, são necessários mais de dez minutos até obter uma boa resolução da área onde existam características suficientes para essa identificação”.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Flaviana comenta que a estrutura das paredes celulares é um importante indício para saber se aquele material foi queimado antes de ser fossilizado. “Geralmente, em uma planta viva, você encontra duas paredes celulares, separadas por uma lamela média. Quando ocorre uma queima, as duas paredes celulares se tornam uma coisa só, e a lamela média desaparece”, descreve Flaviana. Em seguida, os cientistas partem em busca de evidências que ajudem a identificar a família botânica do material analisado. A equipe conseguiu descobrir que o fóssil pertencia ao grupo de plantas denominado gimnospermas, e à família botânica chamada Araucariaceae — mesma família que inclui a espécie atual Araucaria angustifolia.
“Sabemos que era uma vegetação composta predominantemente por gimnospermas, um grupo de plantas que vem desde o Paleozoico. O que não se imaginava é que esses incêndios pudessem ocorrer com uma certa frequência”, destaca Flaviana. Até então, a maioria dos estudos relatava a presença de incêndios espontâneos durante o Cretáceo apenas no hemisfério norte.
Para Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ e coordenador do projeto Paleoantar, é essencial conhecer a dinâmica da Antártica para compreender as mudanças que ocorreram no Hemisfério Sul. “Essa descoberta mostra que as variações climáticas que ocorreram ao longo do tempo trazem profundas mudanças no planeta, como também em toda a biota. Isso acende um importante alerta diante das mudanças climáticas que são evidentes na atualidade”, completa. Agora, os pesquisadores do projeto procuram por novos registros de paleoincêndios em outras localidades da Antártica.

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