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WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.37.39Na última semana, o discurso da indígena Txai Suruí na COP26, em Glasglow, na Escócia, tocou o mundo sobre a importância dos saberes tradicionais para enfrentar a crise climática. A filha do cacique Almir Suruí é a primeira integrante do povo Suruí a cursar Direito na Universidade Federal de Rondônia (Unir), e é também fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia. Na linha de frente do grupo, ela já liderou atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro e também denunciou o avanço da agropecuária sobre a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Em seu discurso — ela foi a única brasileira a falar na abertura da cúpula das Nações Unidas, que vai até o próximo dia 12 —, Txai enfatizou a necessidade de tomar outros caminhos, “com mudanças corajosas e globais”, para frear a crise climática que afeta de maneira devastadora as terras onde nasceu e cresceu.
“Os saberes indígenas não são só diferentes, mas são saberes que se relacionam de outra maneira com o meio ambiente e o mundo”, sustenta o professor de História do CAp-UFRJ e doutorando do Programa de História Social, João Gabriel Ascenso. “Os indígenas têm uma relação com o meio ambiente em que se reconhece a subjetividade dos elementos da natureza. Reconhecem que a natureza não são só bens para serem consumidos, não têm essa distinção de sujeito e objeto. Por reconhecer a subjetividade contida nos elementos naturais, não os destroem sem motivo. As cosmovisões desses povos representam uma alternativa à crise global que está acontecendo”, acredita João.
O desenvolvimento sustentável, uma das bandeiras do “eco-capitalismo” atual, é uma das dificuldades para a mudança, acredita o doutorando. “É possível ter um desenvolvimento sustentável? Muitas vezes o discurso parece ser: como fazer para continuar crescendo desse jeito e não destruir o mundo. A questão é que não dá. O mundo não está aguentando isso”, acredita. “Se a gente tem que crescer e produzir o tempo inteiro para economia continuar crescendo, não tem alternativa”, completa.
Para o ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, o discurso traz a pauta da demarcação de terras indígenas. “É muito importante. O que for possível ser segurado, precisa ser segurado. E o que pode ser reflorestado, também precisa ser”, afirma o antropólogo. “Sou a favor que a humanidade pense em conjunto, que possa refletir caminhos e opções que consigam compatibilizar os povos que precisam de desenvolvimento e melhoria das condições econômicas”, diz.
Gomes não acredita que o mundo pode acabar em pouco tempo, por consequências da crise climática. “Quanto a essa história de fim do mundo, para mim é muita retórica. Acho que a Terra já foi muito devastada, temos que compatibilizar a realidade de quase oito milhões de pessoas que precisam ser alimentadas, e ao mesmo tempo num regime social que está sempre crescendo cada vez mais”, explica. “É preciso encontrar caminhos que perturbem cada vez menos a natureza”, conclui.
Txai Suruí alertou, também, sobre o assassinato de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, seu amigo de infância encontrado morto em abril de 2020 na Linha 625 de Tarilândia, em Rondônia. “Sobre assassinatos de ativistas indígenas, isso é profundamente lamentável”, afirma o antropólogo Cesar Gordon, professor do IFCS/UFRJ. “Não é um fenômeno contemporâneo, muito pelo contrário, isso já ocorre há várias décadas, e tem muito a ver com o problema geral da impunidade brasileira”, explica. “Principalmente nas regiões mais afastadas dos centros urbanos, isto é, nas franjas da atuação do Estado brasileiro, regiões que ficam praticamente sem lei, é um fenômeno recorrente, não me parece que isso esteja ligado ao agravamento da crise”, acredita.

O DISCURSO

"Meu nome é Txai Suruí, eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta Amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores.

Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.

Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda?

Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.
Não é 2030 ou 2050, é agora!

Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.

Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.

Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.

É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.

Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.

Obrigada!"

VICE-DIRETORA DA COPPE AVALIA PRIMEIROS DIAS DA CONFERÊNCIA

WhatsApp Image 2021 11 04 at 18.56.30DivulgaçãoVice-diretora da Coppe, a professora Suzana Kahn participa da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Clima (COP26), em Glasgow, Escócia, como representante da UFRJ na Aliança Global de Universidades sobre o Clima (GAUC, da sigla em inglês) e como Diretora do Centro Brasil-China.
Já é possível registrar alguma surpresa, positiva ou negativa, nesses primeiros dias da Conferência?
Surpresa em termos de avanço com o “livro de regras” do Acordo de Paris não houve. A surpresa foi a quantidade de pessoas que compareceram à COP em Glasgow, no meio de uma pandemia, num dos países mais caros do mundo, com uma série de restrições. O que mostra o interesse do mundo em resolver a questão.

Como avalia a participação do governo brasileiro e, em especial, a meta anunciada de reduzir a emissão de gases pela metade até 2030?
Não espero nada do governo atual. Não cumpriu suas metas, que eram absolutamente factíveis. Ao contrário, aumentou sua emissão de carbono. Portanto, não acredito no que anunciam. Aliás, nem eu, nem a imprensa daqui. O país está completamente desacreditado.

O que achou do pedido de demissão do coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Santos Lucon, durante a COP?
Nunca entendi como ele aceitou ficar tanto tempo! (Lucon, que é pesquisador, havia sido nomeado por Bolsonaro para o cargo em maio de 2019).  (Kelvin Melo)

 

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