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WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.20.10Os recorrentes ataques cibernéticos enfrentados pela UFRJ expõem a insegurança que assola a comunidade no campo virtual. No último mês, a Câmara de Políticas Raciais esteve na mira de hackers, tanto em sua conta no Youtube, quanto em grupos de organização no WhatsApp. “Temos um grupo da Comissão de Heteroidentificação que foi vazado e printaram conversas. Recentemente, depois deste ataque que aconteceu no mês passado, entraram na nossa conta do YouTube e colocaram vídeos de pornografia”, conta Denise Góes, coordenadora da Câmara de Políticas Raciais.
Algumas medidas de proteção foram tomadas. “Acabamos com todos os grupos das comissões, agora nos comunicamos pelo privado. E estamos pensando na reorganização. Conseguimos recuperar os vídeos, mas perdemos a conta do YouTube por uso indevido de conteúdo pornográfico”, explica Denise. Outra conta foi criada no Youtube, para que os servidores tenham acesso aos vídeos explicativos sobre a conduta nas comissões. “Isso é grave porque estamos atuando na entrada das pessoas na universidade. E outro ponto é a vulnerabilidade e a ameaça aos membros”, opina Denise.
A coordenadora conta que a Ouvidoria da UFRJ foi acionada. “Vamos fazer uma explanação de tudo que aconteceu e uma notificação. É importante que a comunidade universitária saiba o que está acontecendo”, diz. Para Denise, as invasões são uma tentativa de silenciar a Câmara de Políticas Raciais. “Isso pode ser uma tentativa de nos silenciar, e não é o que vai acontecer. Mas precisamos de respaldo institucional, até porque estamos desenvolvendo uma política institucional. A política de cotas é uma lei, não somos nós que instituímos”, afirma.
No último Consuni, a ouvidora da UFRJ, Cristina Riche, fez um relato sobre o problema e pediu que a universidade criasse condições de proteção física e moral da Comissão. “Este ano é o ano de avaliação das políticas de cotas, e precisamos fortalecê-las. Trabalhamos para dar suporte a isso, que é tão importante, para que os direitos cheguem aos mais vulneráveis. A política existe para dar efetividade a um direito negligenciado”, lembra a ouvidora. “É uma política que precisa ser reafirmada, e precisa ter condições de trabalho para as Câmaras de Heteroidentificação, que combatem as fraudes”, conclui.

AMEAÇAS E MEDO
O servidor Vitor Matos, membro de uma comissão, está sendo pessoalmente atacado no WhatsApp por um homem que não foi considerado apto a adentrar a universidade pela Lei de Cotas. “Um rapaz chamado L. R., na identificação do WhatsApp, vem fazendo ameaças não só a mim, mas a outros membros da Comissão. Nós o ignoramos”, revela o assistente em Administração. “Ele disse que a Comissão está deliberadamente excluindo os pardos. Conseguiu se infiltrar num grupo de WhatsApp, fez prints de nossas conversas”, conta. Entre as ameaças, o homem diz que está observando o grupo e que está fazendo uma petição para a Justiça. “Vai pegar mal para a UFRJ. É só a UFRJ admitir o erro que vocês se salvam. Vocês quem sabem”, intimida o jovem. “Não respondi e bloqueei, porque para mim não faz sentido”, relata Vitor.
Embora tenha até agora suportado as ameaças, Vitor admite o temor quanto à sua segurança. “É complicado porque vivemos num contexto de agressões físicas e morte, e quando alguém leva uma situação como essa adiante a ponto de fazer ameaças, ficamos assustados. Temo por mim e ainda mais por minhas colegas mulheres”, completa. Ele acredita ser necessário o mínimo de segurança para continuar atuando na Comissão. “Institucionalmente, não temos nada. A Diseg não aparece na intenção de nos proteger. E já houve casos passados. Uma professora de uma Comissão teve o pneu do carro furado, além de situações ameaçadoras”, relata. “Chegamos no Fundão, que já é um lugar fragilizado, e temos medo que qualquer dia, de forma inesperada, a gente possa ser abordado na chegada ou na saída do campus”, confessa.
A ouvidora Cristina Riche foi procurada pela comissão para uma conversa sobre a vulnerabilidade do grupo. “É de fundamental importância que a instituição consolide esse relevante trabalho da Câmara de Políticas Raciais, criando medidas de proteção à integridade física de nossos colegas. Essa prática de invasão online tem acontecido com certa frequência na UFRJ”, afirma Cristina. Ela sugeriu que fosse feita uma notificação à pró-reitoria de Graduação (PR-1), explicando o que está acontecendo de maneira ampla. “E que também solicitassem condições de mais proteção durante o desenvolvimento dos trabalhos”, completa.
Outra sugestão da ouvidora é o contato com a Safernet, uma associação civil brasileira de direito privado, com foco na proteção de direitos humanos na internet. “Devemos cobrar até do Legislativo políticas que protejam as instituições. É uma situação que não depende apenas da nossa vontade. A universidade deve analisar quais políticas deve propor ao Legislativo em relação a isso”, reflete a ouvidora. Para ela, outra questão que agrava a situação é a infodemia, ou seja, o grande fluxo de informações que se espalham pela internet sobre um assunto específico, que se multiplicam de uma forma muito acelerada em um curto período devido a um evento específico. “O trabalho da Câmara é sério, e eles se sentiram vulneráveis. É preciso dar visibilidade ao que está acontecendo”, reflete. “Sugeri que fizessem uma notícia à Procuradoria da universidade, para saber quais medidas jurídicas podem ser tomadas. Talvez denunciar à Polícia Federal, porque estavam sendo incomodados em pleno trabalho. E à Prefeitura da UFRJ também, que é quem cuida da segurança do campus”, conta.

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