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WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.35.42Fotos: DivulgaçãoMuitas comunidades da cidade do Rio de Janeiro sofrem com os deslizamentos de terra, sobretudo aqueles gerados por fortes chuvas. Para disseminar informações sobre esses desastres, que já geraram tragédias históricas na capital fluminense, o projeto Encosta Viva (https://encostaviva.poli.ufrj.br/), da Escola Politécnica da UFRJ, vem percorrendo, desde outubro deste ano, algumas escolas públicas do município para levar informações a crianças e jovens que, muitas vezes, já sentiram na pele o peso desse problema nas comunidades onde vivem.
Coordenado pelo professor Marcos Barreto de Mendonça, o projeto já levou suas oficinas às escolas Reverendo Martin Luther King, na Praça da Bandeira, e Thomas Mann, no Cachambi, ambas na Zona Norte. “Nessas duas escolas, atendemos um total de 30 turmas, em torno de 600 alunos, desde a Educação Infantil até o nono ano. Foi uma experiência incrível, sobretudo com as crianças pequenas. Tivemos de adaptar até o linguajar para interagir com elas, e a resposta foi positiva”, comemora o professor Marcos.
No início do ano que vem, será a vez da Escola Municipal Laudimia Trotta, na Tijuca, bairro da Zona Norte onde há várias áreas de risco para deslizamentos de encostas. “O público-alvo dessa escola é formado por moradores do Salgueiro, da Formiga e do Borel, três áreas de encosta e com risco alto de deslizamentos”, explica a professora Maria de Fátima Abrantes, que dá aulas de Geografia na escola e é uma das coautoras do projeto. “A gente espera que isso se multiplique na comunidade, com rodas de conversa com os pais dos alunos, com as associações de moradores. E que os alunos sejam multiplicadores desse conhecimento”, diz Fátima, chamada pelos alunos de Fatinha. WhatsApp Image 2021 11 05 at 19.35.43AS OFICINAS envolvem professores e alunos extensionistas, que interagem com alunos da Educação Infantil ao nono ano do Ensino Fundamental, sob a coordenação do professor Marcos Barreto (em primeiro plano)
O entusiasmo da professora pelo projeto é tanto que ela ingressou no Programa de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica para desenvolver uma pesquisa sobre a metodologia das oficinas. “No doutorado, a ideia é desenvolver e avaliar essa metodologia em sua eficácia na construção do conhecimento e do desenvolvimento da percepção de risco dos alunos em relação aos deslizamentos. Existem poucos trabalhos nessa linha”, destaca a professora.

ESPAÇO CIÊNCIA VIVA
Marcos trabalha há muito tempo com o tema. Engenheiro civil formado pela Uerj, com mestrado e doutorado na Coppe/UFRJ na área de Geotecnia, ele trabalhou na Prefeitura de Petrópolis, onde teve uma forte vivência com deslizamentos de encosta, principalmente depois das chuvas de 1988 que castigaram a cidade serrana. Também atuou nessa área na iniciativa privada por mais de uma década. “Quando entrei na UFRJ, em 2010, vi a oportunidade de trabalhar com algo que sempre quis, a educação para a redução de desastres associados a deslizamentos. E comecei a apresentar projetos nessa área a agências de fomento”, conta o professor.
Após alguns projetos pontuais de pesquisa em comunidades e escolas, Marcos vislumbrou a chance de ter um projeto contínuo sobre os deslizamentos: o Espaço Ciência Viva (ECV), um museu interativo aberto ao público e que lida com divulgação científica. “Entramos lá em 2015, nas oficinas dos Sábados da Ciência, com até mil visitantes por oficina. Foi um divisor de águas, porque o ECV tem experiência em oficinas educativas. E isso nos levou, em 2019, a inscrever um projeto no CNPq para integrar a universidade (UFRJ), escolas públicas e o ECV, que é o facilitador da passagem desse saber do ensino superior para escolas públicas. E nasceu o Encosta Viva”, lembra Marcos.
A professora Eleonora Kurtenbach, chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Bioquímica de Proteínas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, presidente do Espaço Ciência Viva e diretora da AdUFRJ, exalta o Encosta Viva como um desdobramento natural das atividades do ECV. “Eu estou lá desde 1984, quando ainda era estudante de mestrado. O ECV (http://cienciaviva.org.br/) é uma ONG criada por vários grupos de pesquisadores e professores de várias universidades. É um museu interativo de Ciências montado num galpão remanescente das obras do Metrô na Tijuca. E estabelecer essa interação entre os cientistas e o público sempre foi o nosso objetivo”, diz a professora.
Eleonora recorda que o Encosta Viva se desenvolveu muito desde 2015, quando o tema dos deslizamentos foi introduzido no ECV pelo professor Marcos. “Em 2000, começamos a fazer os Sábados da Ciência, eventos temáticos abertos ao público. Foi assim que o professor Marcos chegou com seu projeto ao ECV. A partir daí começamos a escrever projetos juntos, com esse olhar sobre as desigualdades. As oficinas nas escolas com alunos de extensão são uma experiência muito rica, o projeto tem um viés social importante”, sustenta Eleonora.     

PERTO DA REALIDADE
Isadora Fortuna, aluna do projeto de extensão, atesta a riqueza da experiência. Ela é uma das mediadoras das oficinas, em que os alunos das escolas públicas são apresentados ao tema com o auxílio de uma maquete que simula um deslizamento de terra em uma encosta. Problemas comuns a várias comunidades, como escavações irregulares do solo, desmatamento e acúmulo de lixo, são abordados nas aulas. As oficinas mostram também os mecanismos de alerta existentes na cidade, como as sirenes.
“O Encosta Viva consegue unir três vertentes que me interessam muito: a educação, a questão social e a Engenharia Civil. Tive a oportunidade de ajudar na estruturação das maquetes, de todos os materiais usados nas oficinas. O que mais me envolve e motiva é a relação com os alunos, com os professores, e ainda mais tratando de um tema que é tão próximo da realidade deles. Acho que ele tem que ir para todas as escolas do Rio de Janeiro, a gente vê o interesse dos alunos, principalmente os mais novos”, conta Isadora, que é aluna de Engenharia Civil na Escola Politécnica.
Para a também aluna de Engenharia Civil e extensionista Isabela Cardoso, a proximidade com o tema é ainda mais profunda. Ela foi aluna da professora Fatinha na escola Laudimia Trotta e é moradora do morro do Salgueiro. “Logo que entrei na UFRJ, teve uma apresentação para os calouros sobre os projetos de extensão. E o Encosta Viva me encantou, falava da escola em que eu estudei, da professora Fatinha, que me deu aulas de Geografia. Tem tudo a ver comigo. Moro no Salgueiro, já morei também no Borel, onde vi isso de perto. A gente sabe que as pessoas não escolhem morar em comunidades com áreas de risco, elas não têm outro lugar para viver”, diz Isabela, que está vencendo sua timidez nas oficinas. “Consigo ver na carinha das crianças que elas entendem quando a gente fala. Estou indo agora para o segundo período, me sinto a criancinha do projeto. Que eu possa amadurecer junto com ele”.

 

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