Fotos: Renan FernandesRenan Fernandes
É claro que a maior federal do país não poderia ficar de fora do maior encontro de inovação, negócios, criatividade e tecnologia da América Latina. Além de um estande com exposições, oficinas e apresentações, a UFRJ contou com dezenas de palestrantes na Rio Innovation Week, realizada no Pier Mauá, entre os dias 12 e 15. O espaço da instituição, organizado pela pró-reitoria de Extensão e pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (InovaUFRJ), atraiu grande público. “Funciona para a gente como uma grande vitrine para mostrar um pouquinho do que a gente faz. É importante para aproximar a sociedade e estreitar laços com empresas para promover convênios e transferência de tecnologia”, disse a professora Daniela Uziel, diretora da InovaUFRJ. O reitor Roberto Medronho ouviu com atenção a explicação dos monitores sobre os projetos expostos e também celebrou o sucesso do estande. “É uma oportunidade ímpar de prestar contas à população, como instituição pública que somos, e integrar nossas iniciativas com financiadores que podem investir no desenvolvimento de produtos para a sociedade”.
Pensar a ideia de inovação para além da tecnologia motiva a professora Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão. “A gente está mudando o lugar comum sobre o que é inovação. Inovação cidadã, social, temos aqui muita ação de extensão e pesquisa aplicada”, afirmou.
Confira abaixo uma amostra da participação da universidade.
Estande mostrou pesquisas em diversos campos do conhecimento
O estande da UFRJ movimentou o Galpão Kobra durante todo o evento. A programação apresentou tecnologias desenvolvidas nos laboratórios da universidade com foco no potencial de aplicação prática das pesquisas. A mostra Realidade Virtual fez sucesso com os óculos de realidade aumentada. “Nossa, acabei de conhecer o Rui Barbosa. Apertei a mão dele e ele me guiou pelo museu”, revelou impactada Letícia Boamond, estudante de Enfermagem que “viajou no tempo” durante a experiência imersiva.
O projeto foi desenvolvido por Dario Maciel durante o mestrado em Mídias Criativas na ECO. “Você coloca os óculos e é transportado para outro mundo, como uma forma de se apropriar do espaço sem alterá-lo”, explicou.
Outros projetos também atraíram a atenção. O de extensão FabTA (Fabricando Tecnologias Assistivas) mostrou a importância de soluções baratas e acessíveis para a autonomia de pessoas com deficiências. Já a TexKera, startup criada no Laboratório de Biocatálise Microbiana, apresentou as fibras biotecnológicas feitas a partir da queratina de penas. “Buscamos soluções mais sustentáveis que as fibras sintéticas, que viram microplástico depois de descartadas”, disse a professora Ana Mazotto, do Instituto de Microbiologia.
Brasil se destaca em energia limpa com biocombustíveis
O palco da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na Rio Innovation Week recebeu os professores Donato Alexandre Aranda (Escola de Química) e João Monnerat (Instituto de Química), na noite de quinta-feira (14). Coordenadores do Laboratório de Intensificação de Processos e Catálise (LIPCAT), eles participaram do painel “O papel do Brasil nas soluções de baixo carbono”.
“Quando a gente fala em baixo carbono, um fator preponderante é a oferta de matéria-prima. Nossa matriz energética é cerca de 80% limpa”, exaltou Monnerat. Segundo ele, eletrificar os processos na indústria nacional é a chave para aumentar o papel do Brasil no cenário da descarbonização global. “Para o transporte, já temos a opção dos biocombustíveis”, disse.
E é uma opção cada vez mais importante. O Brasil é o maior produtor de biodiesel e o segundo maior produtor de etanol do mundo. Donato destacou o impacto ambiental e social dos biocombustíveis no país. “Desde a implementação dos biocombustíveis no Brasil, já se evitou o despejo de 840 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2)”. E completou: “A produção do biodiesel envolve mais de 100 mil famílias. A descarbonização já tem um impacto social gigantesco. Isso tem potencial para mudar a cara desse país”, destacou Donato.
Reitor defende parceria com indústrias na área da saúde
O reitor Roberto Medronho participou do painel “Parcerias público-privadas no setor de saúde no Brasil: modelos inovadores e cases de sucesso”, na quinta (14). O encontro reuniu representantes dos setores público e privado para discutir erros e acertos dos modelos já implementados, além de caminhos para fortalecer a cooperação entre os setores.
Medronho celebrou a adesão da UFRJ à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que completou um ano em junho passado, e defendeu a ampliação da ligação do setor público com as indústrias. “Não podemos ser submissos ao que é feito no exterior. Temos que reduzir nossa dependência de insumos que são caros e podemos produzir aqui”.
Daniel Soranz, secretário municipal de Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro, revelou que o Hospital Souza Aguiar precisa de R$ 950 bilhões de investimento em reformas. “Nesse caso, a PPP é o melhor modelo. Juntamos tudo em um contrato único, em vez de ter que abrir 80 licitações a cada dois anos para os serviços”, analisou Soranz.
O médico Luiz Augusto Maltoni Jr, diretor-executivo da Fundação do Câncer, já foi vice-diretor geral do INCA e elogiou a gestão compartilhada no instituto. “Tivemos uma boa experiência em um modelo híbrido, com uma fundação fazendo a administração”.
Ivana Bentes e Tatiana Roque participam de painel sobre IA
O painel “Criatividade na era da Inteligência Artificial”, no dia 15, abordou o significado de ser criativo em um mundo onde algoritmos aprendem padrões, simulam estímulos e automatizam a produção de imagens, sons e textos.
Pró-reitora de Extensão da UFRJ, a professora Ivana Bentes atualizou o pensamento do filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin (1892-1940) sobre a obra de arte na era da reprodutibilidade técnica. “O processo subjetivo de criação está sendo automatizado. Agora o artista e a subjetividade estão sendo reproduzidos”, disse.
O artista visual César Oiticica defendeu o uso de ferramentas de Inteligência Artificial sem a perda de autoria do ser humano. “A IA é mais uma ferramenta. Uma obra de arte pode usar fotografia, impressão 3D e até IA, mas nunca ser criada pela ferramenta”.
Já a professora do Instituto de Matemática e secretária municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio, Tatiana Roque, citou o chefe de IA da Meta, Yann LeCun. “Um fator essencial da inteligência humana é a percepção e essas ferramentas não têm essa percepção. São modelos de linguagem e o pensamento humano não se reduz à linguagem”, afirmou. Ao final, Roque brincou com um presente que trazia. “Ganhei uma cuscuzeira hoje e duvido que uma IA faça cuscuz”.