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WhatsApp Image 2025 08 12 at 18.55.20 4Quais seriam os limites para o uso responsável da inteligência artificial no ambiente acadêmico? Para tentar responder a essa pergunta, instituições do mundo inteiro começaram a divulgar guias voltados para suas próprias realidades. Aqui no Brasil, entre outras, a Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj) também lançou um código de ética sobre o tema, neste ano.
“Na Cecierj, estamos há 25 anos inovando. A gente fazia ensino a distância quando não existia nem Youtube. Estamos sempre antenados com as novas tecnologias e seus impactos na educação”, afirma a assessora de Projetos Estratégicos e Inovação da fundação, Bruna Werneck. “Com este lançamento, estamos abrindo um grande diálogo com o público. A ideia é que a gente continue debatendo, refinando e entendendo como tirar o melhor proveito dessas ferramentas”.
Nos cursos oferecidos pela Cecierj — alguns deles em consórcio com a UFRJ e outras universidades públicas do estado —, as provas são realizadas em formato presencial, mas os alunos também precisam entregar trabalhos através de uma plataforma virtual. “Então como falar sobre IA? Quais seriam as boas práticas de uso da IA neste ambiente?”, questiona Bruna.
Não há dúvida de que o pior uso é delegar a autoria de uma tarefa completamente para a inteligência artificial. “A IA é um amálgama de tudo. Não necessariamente de fontes confiáveis. E ela trabalha dentro do senso comum. Ou seja, além da questão ética de um trabalho não feito por você, ele teria qualidade bastante questionável”, explica Bruna. “Gramaticalmente, está tudo muito bem escrito, vocabulário muito bom, poucos erros gramaticais ou nenhum. Mas não quer dizer que o conteúdo seja tão confiável quanto a forma”.
Isso sem falar em riscos ainda mais graves. “Isso foi cunhado como ‘alucinação’. A IA fala de coisas que não existem. É algo que a gente vê acontecer. Ela simplesmente inventa uma biografia, um artigo que não existe, ou pega um autor que existe e inventa um outro título”, acrescenta a assessora da Cecierj.
Por outro lado, as ferramentas de IA podem apoiar os professores a organizarem recursos didáticos — a partir de conteúdos próprios ou de uso autorizado — com maior potencial de despertar o interesse dos estudantes. Por exemplo, no auxílio à criação de atividades em sala e online mais interativas e dinâmicas.
Para estudantes, vale a mesma regra: a ferramenta pode ajudar como revisora, como um apoio. “Mas você quer delegar sua formação para a IA? Você não pode deixar de estudar e ter essa noção até para fazer essa supervisão da máquina e garantir que ela está fazendo o que você de fato pediu”, afirma Bruna.
A assessora acrescenta que a Cecierj também criou um manual para os técnicos da fundação. “Sabemos que existem tarefas que são bastante mecânicas, repetitivas, que requerem uma atenção para fazer várias vezes a mesma coisa e não errar. A IA pode ser uma grande aliada nesse parte”.

FORMAÇÃO CONTINUADA
O pesquisador Vittorio Lo Bianco liderou a equipe responsável pela produção do código de ética e dos guias de uso voltados para professores, técnicos e alunos da Cecierj (acesse os materiais pelo QR code desta página). O projeto foi iniciado em 2023. “Focamos em documentos de universidades internacionais justamente por não termos encontrado, até o lançamento em abril, documentos de instituições nacionais que se aproximassem do nosso propósito, que é debater e refletir sobre o uso responsável e ético das ferramentas de IA no âmbito de uma instituição de ensino e pesquisa peculiar como a nossa”, diz.WhatsApp Image 2025 08 12 at 18.55.20 5
Para os professores, Vittorio alerta que o desafio sempre posto pelas tecnologias educacionais é o da necessidade de formação continuada. “A reflexão sobre o tema e as aplicações práticas demandam sempre aquele tempo adicional dos professores, que nem sempre é possibilitado pelas instituições públicas ou privadas”.
“Nosso documento é um primeiro passo para contribuir com esse processo”, afirma Vittorio. “Em breve, divulgaremos uma proposta de formação continuada própria e estaremos lançando agora na Rio Innovation Week, de 12 a 15 de agosto, um guia de prompts (solicitações feitas às ferramentas de IA), auxiliando todos a como interagir de forma mais efetiva com as ferramentas de IA”.

DIÁLOGO COM ALUNOS
Vice-diretora do Instituto de Computação, a professora Carla Delgado participou recentemente de um evento internacional sobre IA na Educação, em Palermo (Itália). Ela reforça a necessidade de diálogo com os estudantes sobe o tema, ao longo do processo de aprendizagem. “Esses guias foram bastante discutidos lá. O uso da IA na educação faz sentido dentro de uma proposta pedagógica. Os professores devem desenvolver essa corresponsabilidade do uso com os alunos. Se eles não usarem como o previsto, podem estar abrindo mão de desenvolver alguma habilidade ou competência importante”, diz.
A professora dá como exemplo a época em que as calculadoras se popularizaram. “A escola deveria usar a calculadora ou não nas suas séries iniciais, quando as crianças estão aprendendo as operações básicas? Usar o recurso neste momento é ruim”, afirma. “Já quando você domina essa competência inicial, dependendo do que você vai fazer, usar calculadora é bom, porque você consegue, em um tempo menor, realizar atividades mais próximas de aplicações reais. Qualquer tecnologia passa por isso também”, compara.

UFRJ prepara orientações sobre o tema

A UFRJ também prepara um material de orientação da comunidade acadêmica sobre IA. “Estamos pensando em várias frentes para a universidade, e não apenas em ‘regras’ ou regulamentação de uso. Uma regra pode ser fácil de contornar, mas muito melhor é conscientizar os alunos sobre os problemas e a importância de um comportamento ético”, afirma o coordenador da Comissão de Assessoria para Inteligência Artificial da UFRJ, professor Edmundo de Souza e Silva. “É importante envolver toda a universidade neste processo”, completa o docente do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe.
A proposta do grupo tem como base as “Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil” da Academia Brasileira de Ciências, divulgadas em abril de 2024. Um dos objetivos será educar sobre o bom e o mau uso de ferramentas de IA. “Não adianta dizer que não pode fazer tal coisa. É importante ensinar sobre o motivo de não poder”.
Uma frente será colocar à disposição da comunidade uma bibliografia confiável para consulta sobre o assunto. “Uma busca na internet pode encontrar referências adequadas, mas também pode encontrar muito lixo”, explica o professor.
Outro eixo será oferecer para a comunidade um conjunto de tecnologias de IA que possam ser úteis na rotina acadêmica para alunos, professores e técnicos-administrativos. “Desta forma, qualquer aluno poderia ter acesso a novas tecnologias para o ensino e pesquisa, evitando que apenas os que possam pagar tenham acesso às melhores ferramentas”, defende Edmundo.
A expectativa da comissão é entregar o conjunto de sugestões para avaliação da reitoria até o final deste mês.

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