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CinematecaFogo01 600x400 1Na quinta-feira passada, dia 29 de julho, observamos com tristeza a dilapidação de mais um patrimônio cultural brasileiro: um galpão da zona oeste de São Paulo, que abrigava grande acervo da Cinemateca Brasileira, ardeu em chamas por horas a fio. Poucos dias antes, caía o acesso à Plataforma Lattes, o maior banco de dados da pesquisa brasileira, sem qualquer previsão de retorno (e, até o fechamento desta edição, ainda não normalizado). Alguns poderiam achar fora de lugar a proeminência dada a esses acontecimentos, dada a movimentação recente no Congresso – privatização dos Correios, PEC 32 etc – mas é justamente o contrário: se um sindicato de professores universitários não der atenção a símbolos tão emblemáticos do apocalipse intelectual que se anuncia, ninguém dará.

Sabemos que tais eventos não são inéditos, e que o Brasil nunca foi exatamente pródigo no tratamento da sua Ciência e Cultura. Tivemos incêndios devastadores do Museu Nacional em 2018 e do Museu da Língua Portuguesa em 2015, a falência do Museu do Ipiranga (fechado desde 2013), o abandono do Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia desde 2018, entre vários outros.

 Entretanto, poucas tragédias foram tão anunciadas quanto as da semana passada: o contrato com a Fundação Roquette Pinto para a administração da Cinemateca simplesmente expirou no final de 2019 sem que quaisquer providências fossem tomadas (verdade seja dita, essa diretoria não sabe quantos e-mails a FRP mandou ao Ministério do Turismo, responsável pela Secretaria Especial de Cultura — SEC), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – o CNPq – responsável pela plataforma Lattes, está sendo mantido a pão num dia e água no outro. Num governo normal, tais desastres seriam seguidos de manifestações enfáticas das autoridades competentes, e estas provavelmente se movimentariam para – mesmo que oportunisticamente – disputar mais recursos.

Contudo, tudo que vemos são gracejos do ministro (?) Marcos Pontes e notas lacônicas da SEC, quase como se estivessem incomodados em ter que garantir o funcionamento básico das coisas.

Ou seja, se depender dessa corja que nos governa, nós é que vamos em breve ter de nos desculpar por nos preocuparmos com “frescuras” como Ciência e Cultura.
Em suma: se nossos incêndios e apagões costumavam ser por conta de descaso, agora eles fazem parte de um projeto. Ainda que de forma cínica, Bolsonaro abraça a ideia olavista de que a vida intelectual brasileira se resume à implantação do “comunismo” (usado como uma metáfora pueril de uma libertinagem tosca) no Brasil e que, consequentemente, no afã de restaurar os “valores ocidentais” (um cristianismo superficial de matiz punitiva), deve ser exterminada.

Como ele não conseguiu mandar todo mundo para “a ponta da praia”, vai tentando nos solapar por inanição. Mas que ninguém se engane: assim como nos velhos filmes de faroeste, somos nós ou ele.

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