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bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

A explosão simultânea de casos da variante ômicron e de influenza traz de volta um risco já vivenciado pelos brasileiros na pandemia: o colapso do sistema de saúde. A possibilidade foi admitida até mesmo pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, conhecido por suas posições retrógradas no combate ao coronavírus, mais preocupado que está em agradar ao chefe do que em honrar o juramento de Hipócrates. Na quarta-feira (12), em fórum promovido pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, o ministro afirmou que a ômicron pode trazer “um novo impacto no sistema de saúde, com a perspectiva de colapso e perdas de vidas”. Esse é o tema de nossa matéria na página 3, que também aborda a escassez de testes para a covid-19 no Brasil.
Diante desse novo cenário de recrudescimento da pandemia no país, a UFRJ está planejando estratégias para o início do próximo ano letivo, previsto para abril. Como acolher os mais de 9 mil novos estudantes dos cursos de graduação? Como manter a qualidade do ensino e reforçar medidas de segurança para evitar a propagação da doença? E como planejar tudo isso com recursos escassos para adaptar até mesmo seus espaços físicos? Essas e outras questões são analisadas pelas decanias dos centros da universidade em nossa reportagem às páginas 4 e 5. Ao que tudo indica, o ensino híbrido deverá ser a realidade em 2022.
Mesmo com o novo avanço da pandemia, o ano também deverá ser de mobilização para os servidores públicos federais diante de pautas como a reforma administrativa (PEC 32) e o reajuste salarial do funcionalismo — há setores com os salários congelados há cinco anos. Na quarta-feira (12), o Andes promoveu um encontro com representantes de associações docentes das instituições federais de ensino superior para começar a debater uma possível greve nacional unificada dos servidores públicos este ano. A AdUFRJ esteve presente ao encontro, considera prioritária a questão salarial e convocará uma assembleia — com a participação aberta a não filiados — até o dia 11 de fevereiro para aprofundar a discussão e debater uma pauta específica de reivindicações para a área de Educação. A convocação de uma rodada de assembleias foi um dos consensos da reunião, tema de nossa matéria da página 6.
A mobilização já começa agora. A próxima terça-feira (18) será um dia nacional de luta para os servidores públicos. A AdUFRJ vai participar dessa corrente por meio de seus veículos de comunicação e de suas redes sociais, incentivando amplamente o debate na sua base. O movimento ganhou força com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de conceder reajuste salarial apenas para poucas categorias da área de segurança, uma de suas bases de apoio. No orçamento deste ano, ainda não sancionado, há previsão de R$ 1,7 bilhão que seria destinado ao reajuste de policiais federais, policiais rodoviários federais e carreiras do Departamento Penitenciário Nacional e do Ministério da Justiça.
Esta edição também dedica espaço, na página 7, a uma justa e sincera homenagem ao professor Ricardo Bicca de Alencastro, falecido pouco antes do Natal, e que deixou uma legião de admiradores por onde passou. Na página 8, a coluna Equilíbrio, assinada pela professora Mayra Goulart, sugere que o ano que se inicia é um momento propício para renovar propósitos por meio da técnica sankalpa. Que tal experimentar?
Boa leitura!

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 1Beatriz Coutinho, Estela Magalhães e Silvana Sá

Em dezembro, a UFRJ anunciou a abertura de 9.441 vagas para os cursos de graduação em 2022. A imensa maioria (9.250 vagas) será preenchida por meio do Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o SiSU. São 5.223 para o primeiro semestre e 4.027 para o segundo semestre letivo. As outras 191 vagas se referem a cursos que exigem o Teste de Habilidade Específica (THE) e ao curso de Libras, que conta com mais uma modalidade de seleção, além da nota do Enem. O número é igual ao ofertado no ano passado. E um pouco maior do que a oferta para 2019 e 2020, quando 9.421 vagas foram oferecidas no total.
A notícia é muito boa, não fosse uma questão: como solucionar uma equação que combina estudantes atuais, novos alunos, espaços limitados, corte acentuado de recursos e uma pandemia que insiste em não acabar?
O Jornal da AdUFRJ fez um giro pelos centros para entender como a covid-19 impactou a universidade e quais os desafios para acolher os próximos estudantes, manter a qualidade do ensino e reforçar medidas de segurança para evitar a propagação da doença. Duas conclusões resumem o problema: não há verba para fazer todas as adaptações necessárias e isso forçará parte da universidade a se manter em ensino híbrido enquanto a pandemia durar.

CCS
“Temos em torno de 60 salas, mas algumas são no subsolo, sem janelas”, conta a coordenadora de Integração Acadêmica do Centro de Ciências da Saúde (CCS), professora Georgia Atella. “Nossas turmas são muito grandes. Mesmo numa sala que comporta cem alunos, não podemos alocar todos”, diz a docente. Só no Fundão, o CCS concentra 19 cursos de graduação.
Para o ano letivo de 2020, a prioridade do retorno presencial foi concedida aos formandos — e seus estágios — e aos cursos com aulas práticas desde o 1º período, como Odontologia. Para retornar, era necessário abrir pedido de autorização junto ao Conselho de Ensino de Graduação (CEG). “Seria irresponsabilidade formar nossos alunos sem aulas práticas”, afirma.
Na última quarta-feira (12), coordenadores de graduação do CCS se reuniram na Câmara de Graduação, que acontece mensalmente, para avaliar o momento e pensar estratégias para o próximo ano letivo, que começa em abril. Para o retorno presencial mais amplo, a vice-decana do CCS, professora Lina Zingalli, informou sobre a criação de uma matriz de disponibilidade de salas, para que os docentes possam escolher o melhor espaço de acordo com suas necessidades. Outro ponto importante para o retorno presencial pleno é a melhoria na ventilação das salas do subsolo por meio de dutos, ventiladores e purificadores de ar. “Mas tudo isso precisa de recurso. Essa é a parte complicada”, finalizou a docente.


Em Macaé, grande parte das disciplinas, no início da pandemia, aderiu ao ensino remoto. “O Período Letivo Excepcional foi um grande desafio, mas preparou os docentes para enfrentar esses períodos regulares que viriam”, explica a coordenadora geral de Graduação, professora Samantha Martins. Atualmente, há disciplinas nos três formatos: presencial, remoto e híbrido.
O centro registrou aumento da evasão por motivos financeiros, já que a pandemia afetou a renda das famílias. Em 2021, 205 dos 2.395 estudantes desistiram de seus cursos, o que representa 8,6% do total. Desses, 15%, ou 32 estudantes, alegaram questões financeiras. Para efeitos de comparação, nos dados registrados em 2019, que contabilizaram 8,5% de evasões (179 de 2.113 alunos), apenas 0,5% ocorreu por razão financeira.
Para o retorno mais amplo, em abril, Samantha adverte que Macaé não tem estrutura para receber todos os alunos respeitando os protocolos sanitários. “Teremos que manter o ensino híbrido”, afirma.

CAXIAS
Em relação ao impacto da pandemia nos cursos de graduação, o Campus Duque de Caxias, em resposta por e-mail, alega ter conseguido manter o número médio de disciplinas abertas por período com o número máximo de vagas ofertadas. A maioria das disciplinas práticas foi adaptada ao modelo remoto. “Isso nos garantiu que nossos discentes não ficariam sem a valiosa experiência prática em sua formação”, explica o documento enviado pela direção do campus.
Segundo a nota, houve trancamentos e evasões, mas os números foram pequenos e há até uma reversão de trancamentos. Desde 2015, os números de discentes ativos vêm aumentando e encontram seu ápice em 2021, com quase 800 alunos. Nesse mesmo período, os cancelamentos de matrícula vêm caindo. “Muitos discentes que estavam com o curso trancado encontraram no amplo ensino remoto uma possibilidade de avançar na graduação”, interpreta a direção.
Com a nota da reitoria que recomendou a suspensão das atividades até dia 31 de janeiro, o campus retornou com suas aulas práticas para o formato remoto de maneira provisória. Porém, 14 atividades essenciais foram mantidas presencialmente, segundo a diretora Juliany Rodrigues. “Definimos e estamos definindo o que é essencial à medida que vai surgindo a necessidade”, afirma a dirigente.
CFCH
No Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), a grande adesão ao Período Letivo Excepcional pelos estudantes facilitou a regularização dos semestres posteriores. O PLE tinha o objetivo de atender aos concluintes após seis meses sem aulas no centro, mas foi cursado por alunos de diversos períodos.
Marcelo Macedo Corrêa e Castro, decano do CFCH, explica que, por mais que o atraso tenha sido mitigado nesse período, outros fatores pesaram na retenção de estudantes na grade curricular. Uma parcela dos alunos, por exemplo, adiou seu desligamento da universidade porque passou a depender mais de bolsas para seu sustento, por conta da pandemia. O centro ofereceu matérias teóricas e práticas por meio do ensino remoto.
A falta dos laboratórios físicos e da presença dos servidores técnico-administrativos, na avaliação do decano, dificultou a adaptação ao novo modelo. “Não é um ensino a distância, porque ele não foi projetado para isso. Ele é um ensino basicamente presencial que a gente tentou adaptar do jeito que dava. Agora talvez possamos começar a pensar em mudanças”, sugere o professor. “Nós conseguimos lidar (com o momento) com dignidade, inteligência, criatividade e sofrimento”, analisa.
Com a aproximação do SiSU 2022, o CFCH começa a se preparar para receber novos estudantes num possível retorno presencial previsto para abril. São 1.210 vagas disponíveis no ano para este centro. “O grande desafio academicamente é continuar uma história de formação com a memória recente dos dois anos de interrupções e de improviso. Não vai se instalar uma normalidade imediatamente”, explica Corrêa e Castro.
Para um retorno seguro, é preciso garantir a ventilação dos ambientes e o distanciamento social, demandas relacionadas à infraestrutura dos campi. O decano explica que o Palácio Universitário, na Praia Vermelha, se torna ideal nesse contexto, por conta de suas salas bem ventiladas. Entretanto, muitas reformas ainda precisam ser feitas para garantir a segurança e a qualidade de vida nos domínios do CFCH. “Não se sabe quando acaba a reforma do telhado, as obras da elétrica e da hidráulica. Estamos muito preocupados em ter minimamente essa condição de um acolhimento físico”, conclui.

CLA
A adaptação dos cursos oferecidos no Centro de Letras e Artes (CLA) para o ensino remoto dependeu do improviso da comunidade acadêmica e impossibilitou a realização de diversas disciplinas práticas. A professora Cristina Tranjan, decana do CLA, destaca as dificuldades de oferecer aulas necessárias para os cursos da Escola de Belas Artes. “Por exemplo, a EBA tem um ateliê de cerâmica que tem forno, mas a professora está se virando para dar uma aula remota. Os alunos não têm forno em casa, eles fazem adaptações com o que têm. As aulas teóricas até estão funcionando, mas a maior parte das aulas práticas não está sendo dada”, admite.
Em outubro, por conta de ação movida pelo Ministério Público Federal, a reitoria da UFRJ autorizou o retorno presencial em todos os campi. Então, o CLA voltou a ofertar disciplinas práticas por meio do agendamento de salas e especificação do número de alunos, pelos professores. “De todas as unidades, a que mais voltou com a aula presencial foi a Música. Como há muitas turmas de um só aluno, fica fácil botar numa sala o professor e o aluno sem aglomeração”, explica a decana. Entretanto, com o avanço da ômicron, o CLA aderiu à recomendação da reitoria de suspender as atividades presenciais não essenciais.
A questão da infraestrutura também assombra o centro. O prédio que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura ainda não tem condições de receber novas turmas, desde que dois incêndios atingiram a estrutura. “Quando voltarem as atividades presenciais, talvez o problema seja sala de aula, porque nós temos um problema sério que é o nosso prédio”, explica a decana. “Estamos correndo com as obras para o prédio estar habitável em abril, mas não sei se vai dar tempo”.
CT
No Centro de Tecnologia (CT), a adesão ao ensino remoto foi plena na Escola de Química, mas ficaram faltando laboratórios da Escola Politécnica, segundo informa o decano, professor Walter Suemitsu. “Foi assim de uma hora para outra, não houve uma preparação, todas as disciplinas teóricas passaram a ser remotas, e os professores e alunos se adaptaram”, conta o dirigente. A pandemia também contribuiu para uma alta no índice anual de cancelamentos de matrícula no centro: 7% maior que em 2019.
Sobre o breve retorno de algumas atividades presenciais no fim do ano, o decano explica que foi possível aplicar as medidas de prevenção da covid-19 no centro, já que as aulas práticas mobilizavam um número bem menor de pessoas. Esse mês, o CT seguiu a recomendação da reitoria sobre a volta das atividades administrativas e de ensino remotamente. “Tem aluno que vai para o quinto período e não conhece a universidade, nunca foi à universidade presencialmente”, lamenta o decano.
O CT também se prepara para a chegada de novos alunos com o próximo SiSU: são 1.472 vagas para os cursos oferecidos pelo CT no Fundão, em Macaé e Xerém. “Não sei se vai dar para receber todo mundo, vai ter que ser parcial. Talvez a gente tenha que fazer um ensino híbrido, não sei. Isso tudo é um planejamento que vai começar a ser feito agora”, finaliza.
CCMN
A decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), professora Cássia Turci, destaca que a prioridade de sua equipe é trabalhar o acolhimento de todos os estudantes a partir da volta presencial ampla. “A gente não está pensando só nos calouros que chegam em abril, mas em todos que entraram na UFRJ na pandemia. Eles não têm nenhuma familiaridade com a universidade. Isso é comum a todos eles”, analisa a docente.
Durante seis meses do ano passado, o CCMN se reuniu com todos os coordenadores de graduação para debater os desafios para esse segmento do ensino universitário, tão importante para a vida acadêmica. Os encontros desaguaram no I Congresso de Graduação do centro, que aconteceu em dezembro. “Trabalhamos seis temas: evasão, políticas de permanência, estruturas curriculares dos cursos de graduação, acesso à universidade, licenciaturas e ensino remoto. Foi uma discussão riquíssima”, comemora a dirigente. “Agora em 2022 vamos começar a implementar algumas ações que foram definidas ao longo dessas discussões. A gente precisa ter bons estudantes de graduação, com boas políticas de permanência, bons locais de convivência”, exemplifica.
Um dos graves problemas a ser combatido pelo seu centro, segundo a docente, é a evasão. “Encontramos índices em alguns cursos que variam entre 30% e 50% na pandemia. Isso é muita coisa”, aponta a dirigente. “Muitos alunos têm problemas de acesso, a rede é ruim, outros tiveram perdas de entes para a covid-19, seus pais perderam emprego. São muitos fatores”, aponta Cássia. Outro problema é a retenção de alunos em cursos cujas disciplinas práticas não puderam ser adaptadas para o ensino remoto. “A Física montou kits e enviou aos alunos para realizarem seus experimentos em casa. Mas a Química não pode fazer isso, pelo risco da manipulação de vários reagentes”, compara.
Com alunos retidos e novos alunos que em breve serão parte da UFRJ, a professora reconhece que tem muitos desafios pela frente. “Estamos seguindo todas as recomendações dos grupos de trabalho da UFRJ. Tenho esperança de podermos retornar plenamente ao presencial, mas o ambiente ainda é de muitas incertezas”, admite. “Vamos ter prejuízos para 2022, mas estamos trabalhando para que nossos alunos tenham a melhor formação possível. Vamos continuar estudando para encontrar alternativas de fazer todo mundo se formar, fazer disciplinas experimentais e de campo, com qualidade”, finaliza.

CCJE
Até o fechamento da edição não foi possível contato com a decania do CCJE.

EaD também precisou se adaptar

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 2Não foram só os cursos presenciais que sofreram forte impacto da pandemia. As graduações na modalidade de ensino a distância (EaD) da universidade também não passaram ilesas por esses dois anos de privações provocadas pelo coronavírus. “A UFRJ oferece cursos de graduação EaD na modalidade semipresencial, na qual algumas atividades acadêmicas são realizadas de forma presencial”, explica o professor Bruno Souza de Paula, assessor da pró-reitoria de Graduação e coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UFRJ. “Dessa forma, os cursos EaD também precisaram sofrer adaptações durante a pandemia”, afirma.
As tutorias presenciais precisaram ser convertidas em tutorias a distância, segundo informa o professor, assim como as avaliações presenciais, “que passaram a ser realizadas de forma remota”. Em dezembro de 2021, o Conselho de Estratégia Acadêmica do Consórcio Cederj — que coordena os cursos EaD das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro — decidiu pelo retorno das atividades presenciais nos polos regionais a partir de fevereiro deste ano, “mas com limitação de ocupação dos espaços seguindo as diretrizes das universidades pertencentes ao consórcio”, conta o docente.
A previsão é que as avaliações continuarão sendo feitas de forma remota no primeiro semestre letivo de 2022. “A medida é necessária pela impossibilidade de todos os alunos realizarem as avaliações presenciais simultaneamente, obedecendo ao distanciamento necessário”, explica Bruno.
Desde 2019.2, a cada semestre são oferecidas pela UFRJ 1.150 vagas para os cursos EaD via consórcio Cederj, mas no ano passado nem todas as vagas foram preenchidas. “Em 2021, houve uma diminuição considerável no número dos ingressantes, fato este que pode ser atribuído à pandemia. A seleção para o acesso aos cursos EaD da UFRJ é realizada de forma presencial, o que pode ter dificultado o preenchimento de todas as vagas”, avalia o professor. (Silvana Sá)

WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.03.13Não será um feliz ano novo para as universidades brasileiras, no que depender do orçamento federal aprovado pelo Congresso, em 21 de dezembro. Os parlamentares aumentaram em apenas R$ 196 milhões as já rebaixadas verbas propostas pelo governo, em agosto do ano passado. Em vez de R$ 5,13 bilhões, o conjunto das instituições de ensino superior terá apenas R$ 5,32 bilhões para o funcionamento das atividades em 2022. Um pouco mais que o reservado para o fundo eleitoral, de R$ 4,9 bilhões. Para efeito de comparação, o montante das universidades foi de R$ 6,06 bilhões em 2019.
“É muito aquém do que a gente esperava. Até porque 2022 tende a ser um ano de funcionamento pleno, como foi 2019”, critica o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), professor Marcus David. A entidade reivindicava os valores de três anos atrás, corrigidos pela inflação. Segundo o IPCA acumulado no período de janeiro de 2019 até novembro último, os recursos deveriam saltar para R$ 7,22 bilhões. Quase R$ 2 bilhões a mais que a dura realidade. As informações constam de um estudo preparado pela coordenação nacional do Forplad, fórum assessor da Andifes na área de orçamento e finanças.
“Não conseguimos nem chegar ao valor nominal de 2019. Não tenho dúvida de que será um ano muito difícil. No caso do PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil), estamos com o mesmo valor de 2019. Mas nos outros custeios sofremos redução”, completa o presidente da Andifes.WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.12.31
E poderia ter sido pior. No relatório preliminar apresentado pelo relator da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, as universidades perderiam R$ 298 milhões em relação à proposta do governo. Mas a pressão da comunidade acadêmica permitiu, ao menos, alguma melhoria dos números.
Reitor da Federal de Juiz de Fora, Marcus David vai discutir o orçamento interno no fim do mês. “Minha equipe está fazendo as projeções. O semestre começa em abril. Serão, pelo menos, nove meses de funcionamento completo”, diz. “Será difícil e acho que todo mundo vai passar bastante dificuldade em 2022”, alerta.
Como se não bastassem todos esses problemas, o orçamento das universidades ainda pode ficar menor. O texto aprovado no Congresso depende da sanção do presidente Jair Bolsonaro, que já vetou recursos das universidades no passado. Ele tem prazo de 15 dias úteis, que começou a contar em 3 de janeiro, para sancionar a proposta orçamentária.

UFRJ ESTUDA OS NÚMEROS
A UFRJ estuda os números do Projeto de Lei nº 19/2021, relativo ao orçamento da União em 2022. Em uma avaliação preliminar, o orçamento discricionário — ou seja, as verbas que pode decidir como gastar — seria R$ 8,4 milhões maior que o previsto no texto do governo, anterior à tramitação no Congresso: R$ 329,2 milhões contra R$ 320,8 milhões.
De qualquer forma, é um valor que não reverte o complicado cenário já apresentado ao Conselho Universitário, no fim do ano passado. Em 2019 e em 2020, a Lei Orçamentária Anual reservou, respectivamente, R$ 377 milhões e R$ 374 milhões para os cofres da instituição.
“Com um pouquinho de acréscimo, não muda o fato de que terminaremos o ano com déficit”, explica o professor Eduardo Raupp, da Pró-reitoria de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças. O Consuni, ainda com base na proposta apresentada pelo governo, aprovou que a universidade termine este exercício fiscal com um saldo negativo de R$ 93 milhões. Não há mais espaço para ajustes orçamentários internos.
Com aulas e atividades administrativas sendo realizadas amplamente em meio remoto, a expectativa já era de um resultado final no vermelho, ano passado. As contas, porém, ainda não estão fechadas. A maioria das notas fiscais de dezembro ainda não chegou à pró-reitoria.

EMENDAS PARLAMENTARES SOMAM R$ 21,3 MILHÕES

O documento aprovado no Congresso soma R$ 21,3 milhões em emendas parlamentares destinadas à UFRJ. Os valores, por enquanto, superam os R$ 15,6 milhões obtidos na Lei Orçamentária de 2021. Mas também podem ser vetados pelo presidente. E, mesmo se passarem pelo crivo presidencial, estão sujeitos a eventuais contingenciamentos ao longo do ano, assim como as demais verbas discricionárias.

As receitas, porém, não vão ajudar a pagar as contas da universidade, pois são “carimbadas”. Ou seja, têm uma finalidade específica. O Museu Nacional foi a única unidade da UFRJ contemplada por uma emenda da bancada federal do Rio de Janeiro, no valor de R$ 2,6 milhões, para auxiliar a reconstrução e modernização do prédio destruído pelo incêndio de setembro de 2018.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

Que o governo negacionista do presidente Jair Bolsonaro tem desprezo à Ciência e boicota sistematicamente a vacina contra a covid-19, isso não é novidade para ninguém. O que talvez ainda surpreenda é o (baixo) nível de artimanhas que o Planalto engendra para tentar impor a sua visão distorcida da realidade. Os últimos alvos dessa cruzada contra a vida foram crianças de 5 a 11 anos. Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante da Pfizer para essa faixa etária. Desde então, o governo federal vem retardando o quanto pode o início da vacinação das crianças.
O que pode parecer perverso para qualquer pessoa de bom senso é tratado com uma naturalidade ultrajante por parte do governo. De férias em um balneário de Santa Catarina, onde se exibiu dançando funk e pilotando um jet ski enquanto o sul da Bahia sofria com as chuvas (tema de nossa matéria da página 8), o presidente encarregou seu ministro da Saúde de protelar ao máximo a vacinação das crianças. Marcelo Queiroga convocou então uma inédita e inócua consulta pública para “debater” o tema já referendado pela Anvisa e pelas sociedades médicas especializadas. Não satisfeito, convocou uma audiência pública para “debater” os resultados dessa consulta. Resultado: a contragosto, e mais de 20 dias após a aprovação pela Anvisa, o Ministério da Saúde anunciou a vacinação de crianças contra a covid-19 na quarta-feira (5).
O atraso fará com que meninos e meninas de 5 a 11 anos só comecem a ser vacinados um mês após a aprovação do imunizante da Pfizer pela Anvisa. E isso em um momento de avanço vertiginoso da covid-19 no Brasil e no mundo. Mais contagiosa do que suas antecessoras, a variante ômicron tem feito disparar o número de infectados: em média, são 2,5 milhões novos casos por dia pelo mundo. No Brasil, houve um aumento de quase 480% nos registros positivos esta semana, em relação a duas semanas atrás. Isso levou a reitoria da UFRJ a recomendar o retorno ao modo remoto de todas as atividades administrativas e acadêmicas até 31 de janeiro. Esse é o tema de nossa matéria das páginas 4 e 5, que aborda também a patética tentativa — rechaçada pela comunidade científica e sustada pelo STF — do pastor Milton Ribeiro, ministro da Educação, de proibir a adoção do passaporte vacinal pelas instituições federais de ensino superior.
No fechamento desta edição, a Anvisa divulgou uma notícia animadora: a aprovação do registro do insumo farmacêutico ativo (IFA) da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 fabricado pela Fiocruz. Com isso, o país passará a ter o primeiro imunizante 100% nacional. A Fiocruz espera entregar em fevereiro ao Ministério da Saúde as primeiras doses dessa vacina totalmente produzida em seus laboratórios. Um feito assim mereceria do presidente da República um pronunciamento de louvor em cadeia nacional. Até o fechamento desta edição, Bolsonaro optou pelo silêncio.
Bem diferente de sua postura na véspera. Recém-saído do hospital, internado que fora às pressas por conta de um camarão mal mastigado que lhe interrompeu a farra em Santa Catarina, Bolsonaro voltou à carga contra as vacinas na quinta-feira (6). Em entrevista a uma emissora de TV do Nordeste, o presidente mentiu sobre a morte de crianças pela covid-19 — ele disse ser “quase zero”, e o próprio Ministério da Saúde registra 308 óbitos em crianças de 5 a 11 anos —, e questionou os “interesses” da Anvisa em aprovar a vacinação para essa faixa etária. De quebra, em sua sanha negacionista ensandecida, Bolsonaro chamou os que defendem a vacinação contra a covid-19 de “tarados por vacina”.
Somos, sim, presidente, tarados por vacinas, tarados pela Ciência. Tarados pela vida.

WhatsApp Image 2022 01 07 at 21.03.15 3O exponencial aumento de casos de covid-19, impulsionado pela variante ômicron no Rio de Janeiro e associado à epidemia de gripe, fez a UFRJ revisar sua decisão pela retomada da rotina presencial. A nota foi publicada no site da universidade no final da tarde desta quinta-feira (6). Todas as atividades administrativas, de ensino, pesquisa e extensão devem, preferencialmente, voltar à modalidade remota e assim permanecerem até o dia 31 de janeiro.“Essa não é uma determinação, mas uma orientação”, esclarece a reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho. “Os casos no Rio de Janeiro estão muito altos”, justifica.
A nota foi amparada por avaliação do GT Coronavírus da universidade. “Eu nunca vi no Brasil e no Rio de Janeiro, em especial, um vírus tão contagioso como essa nova variante. Superior até ao sarampo”, alerta o professor Roberto Medronho, epidemiologista e coordenador do GT. Em dezembro, cerca de 0,5% dos testes realizados no município do Rio confirmavam casos positivos de covid-19. A taxa saltou para 41% esta semana. Na UFRJ, o Centro de Triagem e Diagnóstico (CTD) também identificou aumento expressivo de testes positivos: de 0%, em dezembro, para 43% nesta primeira semana de janeiro.
Medronho, que faz parte do Comitê Científico do Estado, afirma que neste momento não há condições de manter a programação de bailes de carnaval, nem mesmo os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí. “Estamos dispostos a pagar isso com vidas?”. O docente defenderá sua posição na reunião do Comitê, programada para esta sexta-feira (7).

VACINA É EFICIENTE
A capital fluminense tem 81% de sua população imunizada com as duas doses da vacina, o que, por enquanto, mantém o número de internações bem abaixo dos níveis registrados no meio do ano passado, quando a taxa de positivos também estava na faixa dos 40%. Hoje, 26 pessoas estão internadas na rede pública da cidade com covid-19, contra mil no ano passado.
A tendência se reflete pelo país. Os números mais recentes da pandemia no Brasil indicam que houve um aumento de 477% no número de casos em comparação com 14 dias atrás. Nas últimas 24 horas (entre quarta e quinta-feira) foram contabilizados 47.717 casos. O número de mortes, no entanto, teve variação de -10%, o que indica estabilidade, com 101 óbitos em 24 horas. “As internações tendem a aumentar nas próximas semanas, mas os óbitos, segundo apontam as evidências internacionais, deverão se manter bem abaixo dos registrados em 2020 e 2021”, avalia Medronho.
O efeito combinado entre vacina e características da variante ômicron – responsável por 98,1% dos novos casos no Rio de Janeiro – pode explicar a diferença entre as taxas de testes positivos e mortes. “A vacina protege muito bem contra o óbito e casos graves. Por isso é altamente recomendada”, enfatiza o professor Roberto Medronho.“Ser contra a vacina é um crime de responsabilidade pública. Não tomar a vacina é uma irresponsabilidade”, critica
A única forma de superarmos a doença é com a imunização. “A vacina nos tirará da pandemia”, adverte o especialista. “Ainda não demos um fim na pandemia porque a distribuição de vacinas no mundo é indigna”, critica o professor. “O dado mundial publicado esta semana indica que 58% da população do planeta recebeu ao menos uma dose da vacina. Nos países de baixa renda, esse número cai para uma média de 8,5%, chegando a pouco mais de 1% em países africanos. É uma vergonha”.
Para reduzir tanta desigualdade, o professor defende a quebra de patentes. “É uma medida polêmica, mas os laboratórios e grupos já ganharam muito dinheiro com a vacinação contra a covid-19. Somente com a quebra dessas patentes poderemos permitir que os laboratórios no mundo todo produzam seus próprios imunizantes”.
Na contramão da Ciência, como de hábito, o presidente Jair Bolsonaro mais uma vez atacou as vacinas e distorceu informações sobre óbitos de crianças no Brasil, em entrevista a uma emissora de TV do Nordeste, nesta quinta-feira (6). Bolsonaro chamou as pessoas que defendem a imunização contra a covid-19 de “taradas por vacinas” e, como se vê nas frases que ilustram estas páginas, é uma voz cada vez mais isolada contra a Ciência em meio a um consenso dos principais líderes mundiais em favor da vacinação e da vida.

EM CASO DE SINTOMAS

A reitoria orienta que professores, técnicos-administrativos e estudantes com sintomas ou que tiveram contato com indivíduos infectados realizem o teste no CTD.

A unidade agora funciona no Polo de Biotecnologia, ao lado do Centro de Ciências da Saúde, das 8h às 11h30. Caso o resultado seja positivo, será preciso se afastar e realizar nova testagem após sete dias. Caso o resultado seja negativo, a pessoa poderá retomar suas funções.

Em caso positivo, será necessário um novo teste sete dias depois. Toda semana, a equipe técnica da reitoria realizará uma nova avaliação para classificar o cenário epidemiológico e passar novas orientações à comunidade acadêmica.

O QUE DIZEM OS LÍDERES MUNDIAIS

"Temos a porta de saída da pandemia. É a vacinação. Não vamos parar até vacinar o último argentino e a última argentina. Acordos já foram firmados para garantir que crianças e adolescentes sejam imunizados”
 Argentina
Alberto Fernández
Presidente

“A vacina é um marco significativo na luta da Nova Zelândia contra a covid-19. Com cada pessoa que é vacinada, ficamos um passo mais perto de afastarmos as restrições para gerenciar a covid-19”
Nova Zelândia
Jacinda Ardern
Primeira-ministra

"Mais uma vez, apelo aos 5 milhões de não vacinados: faça esse gesto simples para si mesmos, para seus compatriotas e para o nosso país”
França
Emmanuel Macron
Presidente

“Quase 4 bilhões de pessoas em todo o mundo foram vacinadas sem grandes efeitos colaterais e inúmeras pessoas vacinadas tornaram-se pais de bebês saudáveis. Os benefícios da vacinação são realmente grandes”
Alemanha
Olaf Scholz
Chanceler

“Faça disso seu desejo de ano novo. Algo muito mais simples do que perder peso ou manter um diário: vacine-se e faça algo que fará de 2022 um feliz ano novo para todos nós”
Reino Unido
Boris Johnson
Primeiro-ministro


O QUE DIZ O PRESIDENTE DO BRASIL

“Não apoiamos o passaporte vacinal nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar”


“Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?”


“A Anvisa, lamentavelmente, aprovou a vacina para crianças entre 5 e 11 anos de idade. A minha opinião, quero dar para você aqui: a minha filha de 11 anos não será vacinada”


“Eu peço, como se trata de crianças, não se deixe levar pela propaganda. Converse com os teus vizinhos”

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