facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 02 04 at 17.49.39

 

AdUFRJ se une a outras entidades da sociedade civil em ato neste sábado em repúdio ao brutal assassinato do congolês Moïse Kabagambe

WhatsApp Image 2022 02 04 at 18.23.38Há um consenso entre os professores da UFRJ sobre a necessidade de reposição salarial. É um reflexo direto das perdas pela inflação alta, resultado da condução desastrosa da economia no governo Bolsonaro, e dos anos sem reajustes impostos aos professores. Somam-se a isso os ataques frequentes às universidades, com uma retórica de desqualificação do ensino superior público e a asfixia orçamentária imposta à educação.
Mas se o motivo une os professores, as estratégias de reivindicação dividem a classe. E quando a proposta de greve, mencionada pelo Andes e pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), é posta na mesa, o debate ganha corpo entre os docentes da UFRJ.
“O Andes usa a expressão ‘construção da greve’, que é um pouco vaga”, afirma o professor João Torres de Mello Neto, presidente da AdUFRJ. A expressão foi usada em uma reunião do setor das federais do Andes, no dia 12 de janeiro. Um dos encaminhamentos aprovados foi a realização de assembleias nas seções sindicais para “deliberar sobre a construção de greve unificada dos servidores públicos federais com a pauta da reposição salarial, condições de trabalho, revogação da emenda constitucional 95, luta contra a aprovação da PEC 32”, segundo o relatório, distribuído pelo Andes.
Para discutir o tema com os docentes da UFRJ, a diretoria da AdUFRJ convocou uma assembleia para 11 de fevereiro, sexta-feira, às 9h30. O encontro será realizado de maneira remota. Serão dois os principais assuntos: a participação no Congresso do Andes em março e a análise de conjuntura. “Vamos fazer a assembleia, mas não será discutido indicativo de greve, até porque o Andes não pautou isso. Vamos discutir a possibilidade de um movimento conjunto com todo o funcionalismo público e reavaliamos a situação mais perto de março”, explicou João Torres.
“Nosso compromisso é que o corpo de professores da UFRJ discuta o mais amplamente possível a questão e que participe da decisão da forma mais ampla possível”, explicou João Torres. Para ele, é importante fazer a campanha pela reposição salarial, e que o movimento construído pelo funcionalismo desgaste politicamente o governo e ganhe a adesão da sociedade, mas, pessoalmente, o docente tem dúvidas da adoção da greve como estratégia política. “Será que fazer uma greve hoje, trabalhando online como estamos, seria algo que desgastaria o governo ou desgastaria a UFRJ?”, questionou. João reconhece que o tema divide os docentes da universidade. “Essa diversidade de posições e opiniões sobre a greve está representada inclusive dentro da nossa diretoria, então nós vamos ter esse debate”, contou.
No espírito de elevar a discussão sobre o tema, o Jornal da AdUFRJ traz a opinião de dois professores e ex-diretores do sindicato que têm pontos de vistas distintos a respeito da adoção da greve Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica, questiona a efetividade de uma greve na atual conjuntura. Por outro lado, Luis Acosta, da Escola de Serviço Social, defende que a aprovação de uma greve parte da vontade dos professores, construída a partir da base.

WhatsApp Image 2022 02 04 at 17.42.22 1PEDRO LAGERBLAD
Professor do Instituto de Bioquímica Médica e 1º secretário da AdUFRJ na gestão 2019-2021

Embora o ministro dublê-de-posto-de-gasolina-Guedes afirme, repetidamente, que os funcionários são privilegiados e têm reajuste todo ano, o fato é que estamos sem reajuste desde 2016. As perdas do salário dos funcionários públicos do Executivo (militares excluídos, claro) são maiores do que as registradas para a média do salário do trabalhador brasileiro. Embora existam ainda aqueles que acham que o funcionário público é ocioso e privilegiado, os anos de pandemia registraram um movimento contrário da opinião pública, com valorização do SUS, hoje quase herói nacional, dos professores que mantiveram a duras penas suas atividades em ambiente remoto, e da Ciência (pública, das universidades e institutos de pesquisa) que esteve na linha de frente no combate ao negacionismo e na defesa da vida. Mas a recompensa vem sob a forma da perda acumulada de mais de 50%, segundo o DIEESE. O governo destina R$ 1,7 bilhão para policiais e nada para aqueles que trabalham com Saúde ou Educação. O sentimento na base docente é de indignação e revolta.
O cenário que se apresenta para a luta sindical é complexo. A força política do movimento virá da sua capacidade de trazer a opinião pública mais para o nosso lado. A experiência destes dois anos de pandemia mostrou que o espaço virtual pode ser ocupado como espaço de luta política, mas não consegue substituir a mobilização presencial: a presença nas ruas segue sendo o critério de verdade dos movimentos sociais. Já o quadro epidemiológico atual limita as mobilizações presenciais, inviabilizando manifestações mais expressivas ainda neste próximo mês. Porém, existe um cenário plausível de queda rápida da transmissão, tornando possível (mas não certa) a retomada de mobilização presencial de forma responsável em março.
Outra limitação importante é que a concessão de reajustes salariais é vedada por lei a partir do início de abril, por conta do ano eleitoral. Tomados conjuntamente, esses dois fatores definem uma janela de tempo estreita para mobilizações de maior impacto.
Assim, a reivindicação por recursos suplementares para um reajuste salarial é justa e defensável, mas transitará em um espaço restrito pelos motivos acima, e pelo quadro político atual dado por um governo antipúblico, como pelo Congresso, que tem uma agenda própria em relação a orçamento. O quadro exigirá negociação e, mais importante do que o desfecho imediato, será conseguir manter e reforçar a opinião pública favorável a saúde e educação públicas (e assim ao servidor), pois esse é o trunfo que pode repor as perdas ao longo dos próximos anos e proporcionar uma retomada do investimento público.
A perspectiva de um movimento grevista pouco participativo, decretado a partir de assembleias esvaziadas (o que aconteceu no passado) soa incompatível com o quadro atual e com a necessidade imperiosa de garantir o apoio da população. Paralisação de aulas virtuais com a permanência dos docentes em suas casas é certeza de derrota e isolamento nas lutas futuras.
Uma greve autêntica e poderosa é sempre produto da mobilização, não sua causa. A estratégia do movimento sindical docente agora deve ser de acumular forças no interior das universidades, buscar investir maciçamente em forma de comunicação digital nas próximas semanas, preparando mobilizações presenciais e massivas em um eventual relaxamento do quadro epidemiológico. Será ainda essencial a mobilização de outras categorias de servidores, em especial da área de Saúde. Manifestações associadas a paralisações de um ou mais dias ou mesmo uma paralisação mais extensa são cenários plausíveis. O tamanho da adesão da base e a sua capacidade de conquistar o apoio da população deverão decidir o rumo e formato do movimento.

WhatsApp Image 2022 02 04 at 17.42.22 2LUIS ACOSTA
Professor da Escola de Serviço Social, presidente da AdUFRJ na gestão 2009-2011 e vice-presidente em 2011-2013

Construir a luta unificada dos SPFs pela reposição das perdas salariais, a recomposição do orçamento das universidades e o retorno presencial seguro

O FONASEFE indicou a construção de uma greve unificada dos(as) servidores(as) públicos federais por uma pauta reivindicativa emergencial de reposição das perdas salariais deste último período de governo (2019 - 2021), estimada em 19,99%, junto ao arquivamento da PEC 32 (Reforma Administrativa) e a revogação da Emenda Constitucional 95 (congela investimentos nas áreas de Saúde e Educação por 20 anos). O setor das Instituições Federais de Ensino Superior do ANDES-SN acrescentou a construção de pauta específica da Educação com as entidades que atuam nas IFES. Indicou a realização de uma rodada de assembleias até o dia 11 de fevereiro, e nova reunião dos setores a ser realizada na semana de 14 a 18 de fevereiro.
A reivindicação dos 19,99% de reposição salarial unifica todas as categorias dos SPFs. Entretanto, as perdas salariais da categoria docente são muito maiores, seja pela (des)estruturação da carreira pactuada pelo Proifes e o governo em 2015, pela contrarreforma da previdência que aumentou a alíquota de 11% para 14% para as maiores remunerações, assim como, no caso da UFRJ, pela perda para muitos docentes dos 26,05% referente ao Plano Verão de 1989.
Temos também que construir uma pauta local na UFRJ. Para o retorno presencial às aulas, precisamos de uma infraestrutura que se deteriorou ainda mais nestes últimos anos de falta de investimento. Temos que lutar por recursos e políticas de assistência estudantil para garantir o acesso e permanência dos estudantes.
Aprovar o indicativo de greve, ou no seu lugar, o estado de greve, indica a vontade do movimento docente de lutar em unidade com os SPFs. As greves não se decretam de cima para baixo por parte da direção do sindicato. São construídas nas reuniões de unidade, no Conselho de Representantes, nas assembleias, nas conversas informais. Se o trabalho com a base do movimento aponta para efetivar a greve, então se abre um novo momento, que é o momento da assembleia geral amplamente representativa de avaliar, em unidade com as outras categorias dos SPFs, a deflagração da greve.
Recentemente, por exemplo, o anúncio, por parte da CNTE, da disposição de lutar e deflagrar uma greve no setor da educação básica, a partir do mês de março, pelo aumento do piso salarial nacional do magistério, levou o governo a recuar e aceitar a porcentagem de 33,24%.
Nossas greves são greves de disputa da opinião pública, diferentemente das greves que afetam diretamente a produção e prejudicam os lucros dos proprietários dos meios de produção. Paramos para ir para a rua, para construir Universidade na Praça, para publicar manifestos e produzir conteúdo para as mídias sociais e sensibilizar a opinião pública sobre a importância da educação pública orientada pelos interesses populares, da cultura, da arte e da ciência e tecnologia. Trata-se de transformar nosso tempo de trabalho em tempo de mobilização, de luta, de vida.

WhatsApp Image 2022 01 28 at 18.07.48

A AdUFRJ realiza assembleia geral em 11 de fevereiro, às 9h30, para eleger a delegação ao 40º Congresso do Andes. Com o tema “A vida acima dos lucros: Andes-SN 40 anos de luta”, o principal fórum de deliberação dos professores de ensino superior de todo o país está marcado para os dias 27 de março a 1º de abril de 2022, em Porto Alegre (RS).
O primeiro grande evento presencial do Andes desde o início da pandemia será cercado de cuidados sanitários. Será exigido passaporte da vacinação de todos os delegados e observadores credenciados. O documento é emitido digitalmente por meio do aplicativo Conecte SUS Cidadão.
Ainda será cobrada uma Declaração de Compromisso de Testagem da Delegação. A diretoria do Andes orienta para a necessidade da realização do teste PCR de covid até três dias antes da data da viagem para todos os participantes. As delegações serão instruídas sobre o envio dos resultados dos testes, que deverão ser custeados por cada associação docente.

CONJUNTURA
O segundo ponto da assembleia da AdUFRJ do dia 11 será uma discussão sobre a conjuntura, com destaque para a mobilização dos servidores públicos federais contra a reforma administrativa e por reajustes salariais. O tema também deve mobilizar o primeiro dia do Congresso do Andes.

WhatsApp Image 2022 01 28 at 18.07.48 1Nenhuma surpresa. No último ano de seu mandato, Bolsonaro sancionou o orçamento federal para 2022 com novos cortes em Educação e Ciência. Com os vetos do presidente, o MEC perdeu R$ 740 milhões. Já as verbas do MCTI foram reduzidas em mais R$ 74,20 milhões.
As universidades não foram impactadas diretamente pelos vetos do presidente — com exceção de uma emenda destinada a um projeto da UnB —, mas sofreram perdas indiretas, em uma análise preliminar da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
“O fato de não sofrermos um corte direto demonstra a gravidade do orçamento de 2022. Até o governo reconhece que não tem mais de onde tirar”, critica o presidente da Andifes, professor Marcus David. O conjunto das federais receberá R$ 5,3 bilhões contra R$ 6,1 bilhões de 2019 — último ano de atividades presenciais plenas. Acrescentando a inflação do período e considerando uma provável volta das aulas aos campi, o dirigente não tem dúvidas sobre a situação das universidades nos próximos meses. “Será um ano muito difícil”, completa Marcus.
“E nós fomos atingidos indiretamente”, afirma o dirigente. Houve um corte de R$ 87 milhões em uma ação orçamentária da Secretaria de Educação Superior. “Recursos que são repassados para as universidades através de convênios”, explica o professor Marcus David. Outra “tesourada” ocorreu na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que gerencia os hospitais universitários (R$ 100 milhões). “Além dos próprios cortes no Ministério da Ciência e Tecnologia”, lamenta o presidente da Andifes.
RESERVA PARA SERVIDORES
Bolsonaro também poupou de vetos uma reserva alocada no Ministério da Economia para reajuste de servidores do Poder Executivo. O presidente articulou junto ao Congresso para que a verba, de R$ 1,7 bilhão, fosse destinada exclusivamente a servidores da segurança. Mas, diante do protesto das demais categorias, passou a dizer que nenhum aumento estaria garantido.
Em palestra realizada durante a plenária de servidores federais no último dia 27, o consultor legislativo Luiz Alberto dos Santos tratou das amarras legais e fiscais que poderiam impedir um aumento para todo o funcionalismo público.
Uma delas é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita a sanção de reajustes a até 180 dias do fim do mandato do chefe do Executivo (4 de julho). E não permite a implantação de parcelas remuneratórias posteriores a este mandato. “Vejam que os prazos estão encurtando”, alertou Luiz Alberto.
Outro convidado da plenária foi o coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, deputado federal Rogério Correia (PT-MG). O parlamentar disse que o funcionalismo se fortaleceu muito no embate contra a proposta de reforma administrativa. “Embora não tenha sido votada, não há quem tenha coragem de dizer que vai pautar esta PEC para desmanchar o serviço público do Brasil”, afirmou.
Correia garantiu que há margem para o aumento. “No orçamento, ficaram R$ 16,8 bilhões para emendas do relator, as tais emendas do orçamento secreto. Se tivermos que mexer, podemos mexer nesta rubrica, por exemplo, para garantir reajuste aos servidores públicos”, completou.
O deputado observou que vai sugerir aos demais partidos um debate sobre o reajuste dos servidores em 2022, na Comissão de Trabalho e Administração Pública. “Para que a gente possa repercutir politicamente na Câmara esta reivindicação de vocês”, disse.

CALENDÁRIO
Os servidores protocolaram a pauta de reivindicações no Ministério da Economia em 18 de janeiro. As entidades do funcionalismo já solicitaram audiências aos chefes dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) para apresentar suas demandas: reajuste linear de 19,99%, referentes à inflação acumulada nos três primeiros anos do governo Bolsonaro; arquivamento da proposta de reforma administrativa; e o fim do teto de gastos públicos.
Se até 14 de fevereiro, o governo não iniciar um processo de negociação, tem início a segunda etapa da campanha salarial dos servidores: o chamado estado de greve, até o dia 25 de fevereiro, com atos nos locais de trabalho e atos de rua nas capitais para buscar apoio na sociedade. O terceiro momento da campanha seria uma proposta de greve unificada, prevista para ser deflagrada a partir de 9 de março.

O ÚLTIMO REAJUSTE

O último reajuste dos professores do magistério federal ocorreu em consequência de um acordo firmado pelo Proifes-Federação com o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2015 — o Andes não assinou o documento.
Foram duas parcelas lineares de 5,5% em agosto de 2016 e de 5% em janeiro de 2017. Já a reestruturação na carreira promoveu aumentos diferenciados entre os professores em três parcelas: agosto de 2017, 2018 e 2019.
Em pauta de reivindicações protocolada esta semana no Ministério da Economia e no MEC, o Proifes reivindica as perdas acumuladas desde março de 2015 (32,9%), “mantendo-se rigorosamente as proporções previstas nos Anexos II, III e IV da Lei 13.325/2016 (que trata do plano de cargos e carreiras do magistério federal)”. A entidade considera que a categoria teve o maior valor real de salário naquela ocasião, desde 1994, quando o Real passou a ser a moeda oficial do país.
O Andes informou à reportagem que está produzindo um material específico sobre perdas e reajuste, que será divulgado em breve.

WhatsApp Image 2022 01 28 at 18.07.50Estela Magalhães

De todos os estudantes que ingressaram na graduação da UFRJ no início de 2014, 32% abandonaram o curso até o sexto período. Este é o resultado de um estudo inédito da doutoranda em Educação pela UFRJ Melina Klitzke, com base em dados oficiais da pró-reitoria de Graduação. Dentre os fatores associados à evasão encontrados pelo estudo, a integração acadêmica é um dos principais. Esse fator foi medido pelo desempenho acadêmico dos estudantes: aqueles com coeficiente de rendimento mais baixo têm maior risco de evasão. No universo estudado, 64% dos alunos no grupo com menor CR evadiram até o sexto período. Por outro lado, estudantes integrados a grupos de pesquisa e monitorias têm maior permanência: “De todos os estudantes que receberam algum tipo de auxílio, seja de alimentação, moradia, iniciação científica ou monitoria, nenhum evadiu do curso”, aponta Melina.
A pesquisadora constatou dois momentos em que o risco de evasão foi maior. Um deles ocorreu no primeiro ano de curso, e esse pico tem relação com o acesso à universidade: “Ele mudou de curso, mudou de instituição, passou na sua segunda opção ou retornou para a sua primeira. Conseguiu mudar de curso por algum motivo”, diz Melina. O outro momento de maior risco ocorreu no quinto período. A pesquisadora suspeita que este pico esteja relacionado a um processo institucional de cancelamento por abandono que aparece nesse período. Na UFRJ, a matrícula pode permanecer trancada por, no máximo, quatro períodos consecutivos, e a ultrapassagem desse período configura um abandono.

DESIGUALDADE
O estudo analisou os seis primeiros períodos dos estudantes que ingressaram em 2014, o primeiro ano em que a UFRJ implementou uma reserva de 50% das vagas para ações afirmativas. “É um retrato um pouco mais atual de uma geração que está entrando já pelas políticas de democratização de acesso: Enem, Sisu e ações afirmativas. O ano de 2014 seria o mais recente que eu conseguiria olhar ao longo do tempo os mesmos indivíduos”, explica a pesquisadora.
Para Flávio Carvalhaes, professor do IFCS/UFRJ e coorientador da pesquisa, o debate sobre ensino superior e desigualdade no Brasil ainda é muito focado em acesso. “Mas não basta as pessoas entrarem no ensino superior. Elas têm que entrar e sair”, sustenta. Segundo ele, o estudo é importante porque acompanha os alunos ao longo do tempo dentro da UFRJ: “Assim, a gente sabe quando os alunos evadem em taxas mais ou menos intensas e descobre, por exemplo, que o início do percurso dos alunos é muito importante”.
Depois do acesso à UFRJ, o processo seletivo ainda presta um importante papel na permanência do estudante. Dentre os estudantes cuja escolha de curso foi influenciada pela nota de corte — ou seja, pela nota mínima do curso no Sisu —, 47% evadiram até o sexto período. Além disso, dentre os alunos que se matricularam na segunda opção de curso no Sisu, quase 47% também evadiram até o fim do intervalo analisado. “Esse é o primeiro estudo a destacar como a forma de seleção dos cursos importa na trajetória dos estudantes dentro da universidade. Com a adoção do Sisu e do Enem, passamos a selecionar nossos alunos de forma diferente, mas refletimos pouco sobre conteúdos curriculares”, completa Flávio.

DESEMPENHO
A hipótese de que alunos com notas mais baixas no Enem teriam mais dificuldades acadêmicas no curso e maior risco de evasão não se confirmou, segundo o estudo. “Quem tem a nota mais baixa é que permanece. Quem tem bastante risco são aqueles que têm desempenhos médios”, ressalta Melina. Dentre os alunos com desempenho mediano no exame, 37% evadiram, ao passo que os polos extremos, os grupos com as notas mais altas e os com notas mais baixas, apresentaram evasão de 22% e 30%, respectivamente. “Quem tirou uma nota baixa no Enem e passou, valoriza muito estar na UFRJ, e continua com sua vaga”, completa Melina.
O estudo ainda está em progresso. Uma análise que se inicia é sobre a diferença da evasão entre os cursos da UFRJ. “Numa ponta temos a Medicina, que tem uma baixa evasão precoce. Do outro lado, por exemplo, a Licenciatura em Matemática, com alta evasão precoce”, revela a pesquisadora. Segundo a professora Nedir do Espírito Santo, do Instituto de Matemática e diretora da AdUFRJ, alguns possíveis motivos de evasão no curso de Licenciatura em Matemática têm relação com a falta de informação sobre o curso e com a influência da nota de corte sobre a escolha do estudante no Sisu. “O aluno que quer fazer Computação ou Engenharia às vezes entra na Licenciatura em Matemática com interesse em outra área, porque não conseguiu pontuação para o curso mais concorrido”, explica a professora.

PANDEMIA
A pandemia trouxe, no início de 2020, novos desafios no combate à evasão universitária. Embora a pesquisa de Melina Klitzke não alcance esse período — nem há dados disponíveis de 2020 em diante —, a pesquisadora levanta algumas hipóteses sobre a evasão durante a pandemia. Entre elas, as desigualdades de acesso à tecnologia e a dificuldade de trazer os estudos para dentro de casa, por falta de espaços próprios. “Outra medida muito importante é a integração social do estudante. Com a pandemia, não tem aquela rede de apoio, não tem aquele contato com o colega, e isso pode desanimar, o aluno pode acabar desistindo”, pondera a pesquisadora.
As taxas de evasão universitária na UFRJ dos anos de 2020 e 2021 ainda não foram publicadas, mas com base no Censo Universitário de 2019 e nos dados do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica, a pró-reitoria de Graduação estima que não houve aumento da evasão no período pandêmico.

POLÍTICAS DE APOIO
Encarregada, entre outras funções, de assegurar a permanência dos alunos na universidade, a pró-reitoria de Políticas Estudantis (PR-7) da UFRJ tem se empenhado em dar apoio ao corpo discente para evitar a evasão. “Quando veio a pandemia, começamos a dar uma ênfase maior ao apoio psicológico. Criamos rodas de conversas, orientação pedagógica, fizemos um trabalho sobre orientação para aulas remotas. Isso ajuda na permanência”, explica Roberto Vieira, pró-reitor de Políticas Estudantis. Entre as iniciativas da PR-7 está o Grupo Vivências na Quarentena, um espaço de apoio dos estudantes durante o isolamento, com atendimentos pedagógicos online.
Um levantamento recente da PR-7 mostrou que os auxílios de moradia e alimentação são os mais importantes para os alunos. O pró-reitor destaca o valor dessa consulta: “Se o estudante diz que a questão da moradia é mais importante, eu não vou abrir mão da obra do Bloco B”. Desde o incêndio na Residência Estudantil em 2017, apenas o Bloco A está ativo, onde residem 245 estudantes. A reconstrução do Bloco B vai duplicar a quantidade de alunos atendidos, mas o orçamento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) para a UFRJ foi reduzido em quase 20%.
Dos cerca de 15 mil estudantes da UFRJ em situação de vulnerabilidade socioeconômica, por volta de 5.200 recebem auxílio financeiro da PR-7. Há uma demanda reprimida de aproximadamente 65%. “Não tem sido fácil fazer a gestão da assistência estudantil sem o orçamento necessário, mas a PR-7 tem trabalhado para aumentar o número de estudantes assistidos, o que vai contribuir com a redução dos números de evasão na UFRJ”, explica o pró-reitor.

DEBATES
Preocupada com o agravamento da evasão durante a pandemia, Eliane Brígida Falcão, professora do instituto Nutes/UFRJ e integrante do GT Pós-pandemia, propôs um projeto para levantar questões relacionadas ao ensino de graduação e à evasão universitária na UFRJ, ouvindo estudantes e professores. A professora explica que os estudantes têm dúvidas sobre seus cursos e preocupações com seu futuro profissional. Ela considera que o fenômeno da evasão não é isolado e pode ser melhor compreendido se relacionado aos problemas do ensino de graduação. E destaca: “Um sistema objetivo de reconhecimento e valorização da atividade de ensinar nos cursos de graduação, à semelhança do que existe para a atividade de pesquisa, deveria ser estabelecido na UFRJ”.
Convidada pela professora Eliane, a professora Cristina Ayoub Riche, ex-ouvidora da UFRJ, participou das apresentações dos resultados do projeto no GT e em diferentes centros da universidade. Para ela, a escuta é um fator importante para que o problema da evasão seja mitigado: “O primeiro passo deve ser conhecer as circunstâncias e demandas do aluno, permitindo que as expressem a partir de sua própria voz”, explica.
A partir das apresentações das professoras Eliane Falcão e Cristina Riche, foram organizados dois eventos: o 1° Fórum de Ensino de Graduação do Centro de Ciências da Saúde (CCS) e o 1° Congresso de Graduação do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), ambos no fim de 2021. A professora Érica Polycarpo, coordenadora do Bacharelado em Física da UFRJ, participa do grupo de trabalho sobre evasão universitária do CCMN: “São muitas as causas. Dificuldade de rendimento e dificuldade financeira são fatores muito importantes”, explica a coordenadora. Os debates entre professores e coordenadores no centro serão retomados em fevereiro.

Topo