facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Servidores públicos federais de diferentes categorias foram à Praça XV, no Centro do Rio, para dialogar com a população. A diretoria da AdUFRJ marcou presença. O objetivo da manifestação era angariar apoio para as demandas do funcionalismo junto ao governo e ao Congresso. Os servidores cobram a revogação do teto de gastos públicos (Emenda Constitucional 95), o arquivamento da proposta de reforma administrativa (PEC 32) e 19,99% de aumento salarial. O índice corresponde à inflação acumulada nos três primeiros anos do mandato de Bolsonaro.

Confira algumas imagens do ato produzidas pelo fotógrafo Fernando Souza.

275954883 3697515930372868 6407139774180004536 n275748939 3697516007039527 7907687412038984821 n275936376 3697516083706186 6437315252541453653 n275925452 3697516197039508 8157703500772664675 n

interno2A diretoria da AdUFRJ marcou uma assembleia geral dos professores para o dia 18 de março, às 10h. Docentes não filiados ao sindicato também poderão participar e votar (veja detalhes ao lado) — CONFIRA AQUI A LISTAGEM DOS DOCENTES QUE SOLICITARAM VOTO. A pauta é a decisão sobre a adesão ou não à greve por tempo indeterminado marcada para 23 de março — cujo indicativo foi aprovado pelo Andes — dentro da campanha salarial dos servidores públicos federais. A assembleia será remota, por meio da plataforma Zoom (com link enviado por e-mail), e a votação será feita pelo Sistema Helios, muito utilizado na UFRJ. A diretoria do sindicato é contrária à greve, e considera que este não é o momento de paralisar por tempo indeterminado as atividades docentes na UFRJ.
Para o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, é preciso levar em consideração o longo período em que a universidade manteve aulas remotas por causa da pandemia de covid-19. “Ficamos dois anos fisicamente afastados, e na hora de voltar surge essa proposta de greve? Como conseguir assim o apoio da comunidade universitária e, principalmente, da sociedade em uma luta justa como a da campanha salarial?”, questionou João.
A proposta de greve se insere na campanha por recomposição salarial do funcionalismo público, que reivindica um reajuste de 19,99%, o equivalente às perdas durante o governo Bolsonaro.
“A reivindicação é justíssima. Além dos salários defasados, há também os cortes no orçamento das universidades, que asfixiam as instituições. É uma onda muita grave de ataques à Educação, mas entendo que uma greve por tempo indeterminado não é a melhor estratégia para enfrentar essa situação”, defendeu João. Ele reiterou que a intenção da diretoria do sindicato é que a AdUFRJ participe da campanha, mesmo sem aderir à greve. “Vamos promover ações de mobilização, como o Universidade na Praça, por exemplo, para dar visibilidade ao trabalho dos professores e mostrar para a sociedade que a nossa luta é justa”, explicou.
O professor emérito Ricardo Medronho, diretor da AdUFRJ, também é contra a greve no atual momento. Não só pela volta às aulas presenciais, em 11 de abril, mas pelo curto prazo que há para negociação. A legislação proíbe o aumento do salário de servidores a menos de seis meses da eleição (o prazo se encerra em 2 de abril). “O problema é o timing. Perdemos o momento adequado para a construção de uma greve unificada”, explicou Ricardo. “Se começarmos a greve no dia 23, serão menos de 15 dias para abrir a negociação com o governo, um prazo que não seria factível com qualquer que fosse o governo, imagina com Bolsonaro”.
Na opinião do professor, a decisão de começar uma greve reivindicando um reajuste, mas sem tempo hábil para que ele seja concedido, interrompendo o retorno presencial, pode afastar a possibilidade de apoio da sociedade. “É uma completa falta de bom senso começar neste momento, depois de dois anos trabalhando de casa. Muito, mas de casa. Diante de uma sociedade que sofreu duríssimas consequências por causa da pandemia, como vamos justificar isso?”, questionou Ricardo.
Já para Luis Acosta, professor da Escola de Serviço Social e ex-diretor da AdUFRJ, o momento é oportuno para a construção de um movimento nacional do funcionalismo. “Quando Bolsonaro prometeu o reajuste para segmentos específicos, abriu a janela de oportunidade para pleitearmos o aumento. Estamos tendo perdas salariais significativas, então é importante pressionar o governo”, disse. O professor defendeu também que a assembleia seja um espaço de construção da luta: “Minha proposta para a assembleia é avaliar e, em função disso, decidir quais serão as melhores formas de luta para alcançar nossos objetivos. Deflagrar uma greve é uma das possibilidades”. Para Acosta, uma eventual paralisação não significa ficar de braços cruzados. “A greve não é um momento de esvaziamento da universidade, mas sim parte da mobilização da categoria para ir para as ruas”, explicou.
O Jornal da AdUFRJ abre suas páginas para esse debate, com artigos de dois professores com opiniões distintas. A professora Eleonora Ziller, ex-presidente do sindicato, é contrária à paralisação. Já o professor Jorge Ricardo Gonçalves, da Faculdade de Educação, é a favor. O debate começa aqui, mas a decisão vai ser tomada na assembleia, onde a participação de todos os professores é fundamental.

Artigo

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.50.24É greve?

ELEONORA ZILLER
Professora da Faculdade de Letras e ex-presidente da AdUFRJ

Neste mês de março, completo 40 anos de UFRJ. Sim, me espantei. Caloura da Letras, em 1982, estudei num prédio que era provisório há 14 anos, na Avenida Chile. Nos estertores da ditadura, o cenário era de baixos salários, entulho autoritário, estrangulamento orçamentário... Mas havia muita esperança no ar. Nos primeiros anos da AdUFRJ e da Andes (quando não nos era permitido construir um sindicato), importantes vitórias tinham sido alcançadas, principalmente em relação à carreira.

Em 1984, a primeira grande greve me fez conhecer a UFRJ. A emoção de entrar pela primeira vez no auditório lotado do CT, para assistir a uma assembleia docente, ainda está muito viva na minha memória. Pelo menos 800 pessoas estavam ali. E, ainda, descobri que o Museu Nacional (que amava desde criança) era nosso: a primeira “Universidade na Praça” a gente nunca esquece.
As lutas, os sonhos, a dedicação de tantas pessoas, foi dessa matéria que se construiu a universidade que temos hoje. Carreira, eleições, dotação orçamentária e, mais que tudo, a gratuidade do ensino público e a autonomia universitária foram conquistas de um movimento que teve seu ápice na elaboração da Constituição de 1988. Trinta e quatro anos nos separam da grande caravana que partiu do campus do Fundão com centenas de professores, estudantes e funcionários. Acampados em Brasília, ajudamos a escrever o artigo 207, que ultimamente nos tem salvado das mais terríveis ameaçadas deste desgoverno federal.
Na década de 1990, a chamada Fernandécada (expressão do saudoso professor Carlos Lessa, referindo-se ao Collor e ao FHC) e a privataria tucana nos feriram de morte, mas uma poderosa rede de resistência impediu que nos desmontassem por completo. Mas aquela poderosa aliança, que unira a todos, já não se apresentava da mesma forma. O exemplo maior, na UFRJ, dessa fratura, foi a nomeação do Vilhena para reitor.
A reforma da Previdência de 1998 foi outra devastação, precipitou a saída de uma grande quantidade de docentes. A grande mobilização da década de 1980 cedera lugar a uma espécie de “cultura de greve”, onde uma boa parte já não participava de sua construção, mas passivamente aprovava, diante da dificílima situação em que nos encontrávamos. Arrastavam-se por semanas, meses, à espera de uma porta de negociação com o governo. O tempo foi nosso inimigo. As relações internas começaram a se desgastar, os espaços coletivos de deliberação foram se esvaziando e uma militância aguerrida e determinada passou a ocupar quase que sozinha os fóruns de decisão da categoria. Valeria uma detalhada avaliação de todo esse processo, principalmente a partir de 2003, quando as divergências se agudizaram com a reforma da Previdência protagonizada pelo governo Lula. Mas não há espaço aqui para rever todo esse processo. O fato é que chegamos a uma situação limite em 2015, quando um grupo muito grande e significativo de professores se organizou para dar um fim a essa “cultura”.
Sempre existiu, e eu me incluo nesse grupo, uma parte do movimento docente que não se identificava com os métodos e as propostas encaminhadas pelo Andes, sindicato nacional. Longas greves, corredores vazios, passeatas pequenas. Há décadas, posso dizer assim, defendo uma forma diferente de intervenção. Nós tínhamos força quando nosso movimento expressava uma ampla e sólida unidade interna. Ao longo dos anos, fomos nos distanciando de nós mesmos e da sociedade, cada vez mais fechados num enfrentamento corporativo, embora o discurso se radicalizasse para declarar o compromisso classista do sindicato nacional. A militância aguerrida e revolucionária se acostumou a falar para ela mesma, e hoje, esfacelada em pequenos grupos, mal se escuta. Sem retaguarda consistente, com baixos quóruns em assembleias e eleições sindicais, o movimento docente precisa encontrar novamente seu caminho de diálogo e representação da maioria da sua categoria.
Nunca fomos atacados de forma tão sistemática e institucional. É urgente lutar e enfrentar essa onda negacionista, fundamentalista e ultraconservadora. Disso depende a nossa sobrevivência. A mim, me parece esgotado e pouco eficiente o modelo de greve por tempo indeterminado, nos moldes das que ocorreram nos últimos 20 anos, ainda mais com um desgoverno em fim de mandato como esse. Precisamos de forte presença coletiva, de unidade interna, de vontade de mudança.
O que nos unifica? O que nos mobiliza? Como sairemos às ruas? Depois de dois anos em ambiente remoto devemos ter quase metade dos estudantes que nunca pisaram no campus, que não conhecem a vida universitária, que nunca nos encontraram nos corredores. Que vínculos foram criados com os novos professores, que também mal conseguiram pisar numa sala de aula? Além da exaustão, ainda temos um calendário de mobilizações que se desenvolverá em pleno período de recesso acadêmico. Por tudo isso, e muito mais que não cabe nessas linhas, acho que a nossa pior opção será suspender as atividades por tempo indeterminado em plenas férias acadêmicas. Não nos faltam razões para isso, elas existem e são muitas. Mas é que não vejo, nesse momento que atravessamos, rebeldia maior do que fazer a nossa UFRJ funcionar a todo vapor, para desespero dos governantes de plantão. Isso não pode significar inércia ou conformismo. As velhas “novas formas de lutas” nunca foram tão necessárias. Ou, como nos versos daquela canção, “as lições nós sabemos de cor, só nos resta aprender...”.
Seja lá qual for a nossa decisão, ela só será forte e significativa se for unitária, se envolver a maioria dos professores numa participação ativa e decisiva. Assim, se será uma greve ou uma paralisação, se será de um dia ou por tempo indeterminado, isso tudo é secundário. O que precisamos é que seja representativa, que rompa o círculo vicioso que nos jogou em sucessivas experiências que nos dividiram e que afastaram das assembleias a maioria dos docentes.

Artigo

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.50.24 1Alô, alô, geral!

JORGE RICARDO GONÇALVES
Professor da Faculdade de Educação

Tudo bem com os companheiros e as companheiras? Talvez não como gostaríamos, mas melhor agora do que há um tempo atrás, não é mesmo?

Venho falar agora de algo muito sério — a nossa situação profissional. Estamos há dois anos encurralados em casa, alguns de nós tendo adoecido, até mesmo perdido entes queridos.
E quando vemos a luz no fim do túnel da pandemia e olhamos à nossa volta, com que situação nos deparamos? Uma inflação altíssima, causada em parte pela pandemia, pela incapacidade do desgoverno federal atual, e já no início da inflação mundial, fruto da guerra insana que está começando. Ou seja: nosso salário, há cinco anos sem reajuste, encolhe cada vez mais. E a nossa querida universidade, como vai? A Arquitetura, a Belas Artes e a reitoria continuam desalojadas, sem espaço físico para as aulas agora “presenciais”. A Praia Vermelha está pior do que antes da pandemia, pois tem enorme déficit de salas de aula, e o “Aulário” — nome péssimo para a estrutura de contêiners instalada — está com sérios problemas de conservação. O mesmo acontece com algumas partes do IFCS. Isto para citar só algumas unidades com problemas infraestruturais.

E quais são as perspectivas
de apoio do MEC?

Pelo histórico recente, se não nos mexermos, nada conseguiremos, pois com este governo, até agora, só perdemos!
E na maior parte do funcionalismo público federal, a situação é a mesma, com exceção daqueles setores apoiados pelo presidente da República, como militares e policiais.
Por isso, os sindicatos dos diversos setores do funcionalismo público federal, incluindo os professores das outras universidades públicas federais, institutos federais de Educação, entre outros, estão realizando um grande esforço conjunto para pressionar o governo a repor o valor das nossas perdas salariais e por condições de trabalho adequadas ao labor presencial.
Em vista de tudo isso, haverá este mês um dia nacional de mobilização com paralisação do trabalho dos servidores públicos federais, dia 16/03/2022. Será um dia de luta e de diálogo com a sociedade, já anunciando ao governo o movimento grevista que está por vir, a partir do dia 23/03/2022.
Para nós, da UFRJ, infelizmente marcamos a próxima assembleia do nosso sindicato para discussão destes fatos para depois do dia 16/03, dia da paralisação de 24 horas, somente para o dia 18/03, dois dias após.

Mesmo assim, que tenhamos uma assembleia geral forte e participativa, para decidirmos sobre a inserção da querida UFRJ nesse movimento de pressão pela conquista de nossos direitos!

 

ÚLTIMOS REAJUSTES

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.52.20Parcelas lineares:
5,5% em agosto de 2016
5% em janeiro de 2017

Reestruturação na carreira
Aumentos diferenciados entre os professores em três parcelas: agosto de 2017, 2018 e 2019

CALENDÁRIO

16/3 Dia Nacional de Mobilização, com paralisações e manifestações em todo o Brasil. A AdUFRJ vai participar do Dia Nacional de Mobilização com diversas ações, entre elas projeções em paredões do Rio de Janeiro em defesa da universidade pública e gratuita.

18/3 Rodada de assembleias para definir a deflagração da greve

21/3 Reunião do setor de IFES (Andes)

23/3 Indicativo para o início da greve geral por tempo indeterminado, respeitando as especificidades de cada entidade

1º/4 Ato em Porto Alegre (40º Congresso do Andes)

A AdUFRJ promoveu a live “Elas inspiram” na manhã do dia 8 de Março, um bate-papo entre as diretoras do sindicato e as reitoras Denise Pires de Carvalho, da UFRJ, e Joana Guimarães, da Federal do Sul da Bahia. O evento marcou as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher e foi transmitido pelos canais da seção sindical no Youtube e no Facebook. As diretoras Karine Verdoorn, Eleonora Kurtenbach, Nedir do Espirito Santo e Ana Lúcia Fernandes foram as mediadoras e entrevistadoras da live e conduziram a conversa por assuntos como igualdade de gênero, inclusão, vida acadêmica, desafios das universidades, entre outros temas.
Primeiras pessoas de suas famílias a ingressarem num curso de nível superior, as duas reitoras deram depoimentos tocantes sobre a transformação e mobilidade social proporcionadas pelo acesso à universidade. “Vivíamos no interior da Bahia e um dia minha mãe resolveu ir para a cidade para que seus seis filhos estudassem”, contou a reitora Joana Guimarães. “Meus pais não puderam estudar e passamos muitas dificuldades porque meu pai era um homem da lavoura. Um dia ele disse para minha mãe: ‘Vamos voltar para a roça. Lá, pelo menos, a gente tem o que comer’”, lembrou a dirigente. “Minha mãe, então, respondeu: ‘Não vamos voltar para a roça. Eu morro de fome, mas meus filhos não saem da escola’”, disse, emocionada.
A reitora da UFRJ lembrou que seu pai era seu maior incentivador. “Também sou a primeira pessoa da minha família a ingressar e me formar numa universidade e meu pai sempre me dizia que a educação é a melhor herança que se pode deixar para um filho. Foi isso que eu fiz com as minhas filhas”, disse a professora. “A gente não pode abandonar os nossos sonhos. Nossas famílias viram o poder transformador da educação. É preciso que todas, todos e todes tenham oportunidade de escolha na nossa sociedade. É a educação que retira as amarras do silenciamento”, afirmou a reitora.
Pesquisadoras de carreira reconhecida no Brasil e no exterior, Denise e Joana falaram das disparidades de gênero e das dificuldades enfrentadas por mulheres para seguir uma carreira acadêmica. “O Brasil tem evolução positiva em número de publicações femininas. Nos equiparamos a Portugal e Estados Unidos, por exemplo”, apontou a reitora Denise. “As bolsas de Iniciação Científica já são majoritariamente femininas e respondem a cerca de 56%”. Mas lá no topo da carreira, o quadro muda. “Bolsa 1A do CNPq tem em média 24% de participação feminina. Se elas são maioria na iniciação científica, por que são apenas 1/4 como 1A? O que explica isso, se não o efeito tesoura?”, questionou. O ‘efeito tesoura’ é um conceito que caracteriza o corte drástico entre a participação feminina na pós-graduação e pesquisa e o número de cientistas reconhecidas.
A reitora Joana complementou que a carga do papel doméstico feminino ainda é muito pesada e compromete, como também apontou Denise, o tempo dedicado à pesquisa. “Socialmente, tudo o que acontece na casa é culpa da mulher porque ela negligenciou a família por conta da profissão. O patriarcado está aí para nos manter neste lugar. Eu fui muito acusada por fazer o doutorado com uma filha de dois anos que ficava o dia inteiro na creche. A gestão da casa, a organização doméstica, também é um trabalho que nos demanda tempo, nos tira energia. É preciso que a gente possa se libertar disso”.
As dirigentes fazem parte da Andifes, o fórum de reitores das instituições federais de nível superior. E observaram que também neste espaço é preciso buscar mais igualdade. “Já fomos 20 reitoras, o que ainda era muito pouco. Mas hoje somos 12 mulheres na Andifes”, apontou Joana. “Um retrocesso enorme”, completou Denise.
As docentes também conversaram sobre os desafios orçamentários, a necessidade de ampliar políticas de cotas e permanência estudantil e sobre ações para tornar as universidades locais mais democráticos e igualitários. O bate-papo completo pode ser conferido na TV AdUFRJ.

Documentário sobre mulheres cientistas

Para encerrar as comemorações pelo Mês da Mulher, o Observatório do Conhecimento – rede de nove associações e sindicatos docentes, dentre os quais a AdUFRJ – vai lançar no final de março um documentário que conta a história de quatro mulheres cientistas. As gravações acontecerão nas cidades dessas personagens: Belém, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. “São pesquisadoras que enfrentam os desafios e as delícias de ser mulher e fazer Ciência. A ideia é que a gente traga trajetórias distintas, corpos distintos, mas que se encontram na produção do conhecimento”, afirma a social media do Observatório, Andressa Oliveira. “O objetivo do documentário é mais do que valorizar as mulheres que já são cientistas. É mostrar que ser cientista é possível, mesmo quando existem obstáculos estruturais”, analisa a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ. “Queremos estimular jovens mulheres que não veem a Ciência como lugar para elas”. O filme tem a produção do Observatório do Conhecimento, com direção de Rithyele Dantas, e faz parte da campanha “Elas na Ciência”.

FSOU0005A diretora Nedir do Espirito Santo participou da marcha Foto: Fernando SouzaDIVERSIDADE. Assim, em negrito e letras maiúsculas, é a palavra que traduz a passeata de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, no Centro do Rio. Negras, brancas, indígenas, trabalhadoras e estudantes, mães, filhas, avós foram para a rua no primeiro grande ato feminino desde o início da pandemia. Ali, atrás da Candelária, e sobre o asfalto da Rio Branco, elas eram muitas e sob um mesmo sonho: o de um mundo melhor, menos desigual e mais inclusivo.
Representações docentes das universidades públicas do Rio participaram do ato. A AdUFRJ também estava presente com sua antiga e enorme bandeira de cetim, com os dizeres “A luta pela paz é Feminina” – tema, aliás, mais atual do que nunca. “Vimos gritos de indignação que ecoam desde o caso Marielle, lutadora pelos direitos das mulheres e cidadãos massacrados pelo sistema perverso que furta a dignidade humana, até a violência de uma guerra em que vemos mães ucranianas desesperadas para protegerem seus filhos”, observou a professora Nedir do Espirito Santo, diretora da seção sindical. Para a professora, o ofício de ensinar também precisa ser transmitido nas ruas. “Não basta falarmos de indignação entre quatro paredes. Temos que ir para as ruas e a AdUFRJ tem que estar presente nesses movimentos”, afirmou.
Ensinar também é ofício materno. A marcha das mulheres foi momento de mostrar às novas gerações que elas podem ser o que quiserem. Renata Gracie, pesquisadora da Fiocruz, levou sua filha Laura, de 10 anos, para a atividade. “Apesar de toda a situação triste do nosso país, participar do ato foi uma recarga de energia muito forte e ter minha filha junto teve um sentido pedagógico muito bonito”, disse. “Ela ficou muito feliz por participar e pelos reencontros”
Ex-presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller também se emocionou com a marcha. “Este ato nos mostra que estamos dispostas para a luta”, afirmou. “Estou superemocionada, feliz, carregando junto a bandeira da AdUFRJ”. Eleonora foi uma das pessoas que segurou, junto com a professora Nedir, o bandeirão de 9,5 metros de comprimento por 7 metros de largura da seção sindical. Durante o percurso, outras mulheres e alguns homens se revezaram na tarefa de levar a mensagem da AdUFRJ até a frente do Theatro Municipal.
Dentre tantos gritos, o de igualdade e pela vida de todas as mulheres. “Parte de nós sequer é lida como mulher. E, portanto, sequer tratada como sujeito de direitos”, observou a jornalista Camila Marins, ativista do movimento de mulheres lésbicas. “Temos muitas lutas: o combate ao estupro corretivo (crime, tipificado em lei, direcionado a “curar” a orientação sexual de pessoas da comunidade LGBTQIA+), a luta contra as violências doméstica e policial e por políticas de saúde para mulheres lésbicas, já que muitas não têm acesso ao preventivo pelo fato de não terem relação com homens. O que é um completo absurdo”, criticou.

FSOU1132Bandeirão da AdUFRJ levou a mensagem "A luta pela paz é feminina" - Foto: Fernando Souza

WhatsApp Image 2022 02 25 at 22.40.47FIORI: “EUROPEUS E OTAN NÃO TÊM FORÇA PARA ENFRENTAR A RÚSSIA NO MOMENTO”

“Depois que uma guerra começa é muito difícil prever até onde irá e quando terminará, a menos que exista um perdedor claro. Neste caso, dependerá muito da velocidade da operação militar russa e, portanto, dos seus objetivos imediatos”, analisa José Luís Fiori, professor titular de Economia Política da UFRJ e observador atento da guerra que, desde terça-feira, atormenta o mundo, ceifa vidas na Ucrânia e desafia os analistas internacionais.

Autor de O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações (Boitempo, 2007), Fiori não acredita que a invasão da Ucrânia detone uma guerra mundial nos moldes clássicos, como as que ocorreram na primeira metade do século XX, mas acha que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não seguirá no cargo por muito tempo. “Ele será substituído de qualquer maneira”, diz. “No momento, parece pouco provável uma guerra mundial aberta. Os europeus e a Otan não têm força para enfrentar a Rússia agora. Os Estados Unidos estão muito divididos e fragilizados pela sua recente humilhação militar no Afeganistão, e pelo fracasso político de suas intervenções militares para mudar os governos ou regimes da Líbia, do Iraque, da Síria, do Iêmen, e do próprio Afeganistão”.

Fiori ressalta que, para entender as raízes do conflito, é importante recuperar a relação umbilical e histórica entre Rússia e Ucrânia. “A história da Rússia começa em Kiev por volta de 800 D.C., e nestes longos séculos o território atual da Ucrânia pertenceu a vários países e finalmente à Rússia e à URSS no século XX”, lembra o docente, detalhando em seguida o momento em que a Ucrânia conquista a independência. “Na verdade, a Ucrânia só se transforma num estado nacional autônomo em 1991, como parte da “punição” imposta à Rússia depois da derrota soviética na Guerra Fria. Agora os russos estão se propondo a modificar os termos deste “acordo de paz” que lhe foi imposto no inicio dos anos 1990. De certa forma, se poderia dizer que, em termos históricos seculares, o território ucraniano pertenceria mais à Rússia do que o de Taiwan à China”.

Isso significa que Putin queira reincorporar a Ucrânia à Rússia? Fiori responde: “Não creio que a Rússia queira anexar a Ucrânia, mas com certeza querem desmilitarizá-la ou ‘finlandizá-la’, como propôs que fosse feito por Henry Kissinger há uns sete anos”.



WhatsApp Image 2022 02 25 at 22.37.07ZHEBIT: "SOU RUSSO E SOU BRASILEIRO NATURALIZADO. EU ME SINTO TRISTE”

Além de José Luís Fiori, o Jornal da AdUFRJ convidou o professor Alexander Zhebit para interpretar a crise que ocupou o noticiário mundial na última semana. Fundador do curso de Relações Internacionais da UFRJ, Zhebit, de 70 anos, está há quatro décadas no Brasil, e enxerga o conflito no Leste Europeu não apenas com o olhar de pesquisador. Zhebit é russo e, claramente, um defensor da perspectiva russa do confronto. Nascido na cidade de Brest, na Bielorrússia, ele nos concedeu a seguinte entrevista.

- Jornal da AdUFRJ - O senhor é russo. Como foi receber a notícia do começo da guerra?
Alexander Zhebit - Sou russo e sou brasileiro naturalizado. Eu me sinto triste e revoltado com qualquer guerra, que deve ser banida da sociedade.  Esta que começou é a continuação da guerra que já dura mais de oito anos em Donbass. É uma guerra fratricida entre irmãos, porque russos e ucranianos são povos irmãos, ligados étnica, cultural, linguisticamente. Espero que o conflito termine o mais rápido possível, resultando numa solução pacífica e negociada com a participação ampla da comunidade internacional em que as ameaças à segurança de ambos os lados sejam enfrentadas e eliminadas, com base na reconfiguração do sistema de segurança na Europa, deixando o espírito da Guerra Fria e a existência da Otan no passado.

- O senhor acha que a guerra vai escalar a níveis mundiais?
A guerra começa e ninguém sabe como termina. Porém, este conflito não vai evoluir para um conflito mundial, justamente porque a Ucrânia, graças a Deus, ainda não é país-membro da Otan. Portanto, os Estados Unidos e os outros 29 países não poderão intervir. Mas as intenções deste bloco militar remanescente da Guerra Fria estão claras e foram percebidas pela Rússia.

- Qual o objetivo real de Putin? É apenas conter a Otan, mas também retomar, de alguma forma, o poder soviético?  Nesse caso, a guerra real seria para anexar a Ucrânia?
O objetivo da Rússia consiste em proteger a sua segurança, ameaçada pela Otan e pelos Estados Unidos, o líder inquestionável da política antirrussa na Europa e no mundo. Os Estados Unidos declararam a Rússia e a China, na sequência da Nova Guerra Fria, como seus principais adversários. A Otan se expandiu militarmente depois da Guerra Fria, desde 1997, de 16 a 30 países-membros, invadindo a Europa Central e Oriental, assim como declarou a intenção de engolir as repúblicas da antiga União Soviética e chegar às fronteiras da Rússia, com mísseis e armamentos nucleares. Isto representa a maior ameaça à existência da Rússia desde a Segunda Guerra. A Ucrânia se propôs a entrar na Otan depois do golpe de Estado de 2014, que trouxe ao poder um governo nacionalista, radical e antirusso, apoiado por movimentos neonazistas ucranianos, e, sobretudo, pelos Estados Unidos e pela Otan. Assim, ela começou a ser usada como testa de ferro na política de deslocamento e da estrangulação econômica e política da Rússia. Em 2014, devido ao assalto armado pelo governo de Kiev às comunidades russas na Ucrânia, estas regiões tiveram que resistir e proclamar a independência. As repúblicas separatistas foram transformadas em enclaves de genocídio da população russa, deixadas sem alimentos, sem remédios, sem aposentadoria, sem serviços sociais, odiadas pelo governo da Ucrânia porque eram russas que queriam falar a sua língua, manter a sua cultura e ser respeitadas. Você pergunta se a Rússia quer anexar a Ucrânia e restaurar a União Soviética? O messianismo soviético ficou no passado e acabou com a fim da União Soviética. A Rússia não pretende anexar a Ucrânia, porque a Rússia vai cuidando da sua segurança nas condições em que a Ucrânia se candidata a membro da Otan e a Rússia leva a sério a pretensão da Ucrânia de se tornar um país-detentor de armas nucleares, o que o governo ucraniano declarou publicamente.

- Quem é o presidente ucraniano? Qual o peso da ultra-direita nazista em seu governo?
Quanto ao presidente da Ucrânia, diz-se que é um judeu e em tese não pode favorecer grupos nazistas. Seria bom se fosse assim. Mas a realidade demonstra o contrário. O governo dele estabeleceu símbolos, feriados dos partidos e dos líderes nazistas, chamados pudicamente nacionalistas, e que serviam à Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. A russofobia se desenvolve na Ucrânia porque o peso da ideologia nacional-socialista na política ucraniana é grande. O partido comunista e outros partidos que representam províncias russas foram proibidos na Ucrânia. Aconteceu a lustração do país. A língua russa foi proibida na comunicação social e nas escolas e nas universidades. A etnia russa deixou de fazer parte dos principais povos radicados na Ucrânia, nem é mencionada na legislação respectiva. A perseguição, tortura, humilhação e assassinatos de antigos deputados, de políticos, de servidores, de jornalistas, de simpatizantes do governo russo, de ativistas de direitos humanos, tornaram-se práticas cotidianas, apoiadas pela Justiça do país. O assassinato bárbaro de 47 ativistas antigoverno em Odessa (em maio de 2014), que foram queimados vivos pelos grupos da extrema-direita, continua impune. Os tiroteios que provocaram a morte de mais de cem participantes dos protestos no Maidan em fevereiro de 2014 não tiveram investigação conclusiva. A corrupção continua assolando o país, outrora rico e agora um dos menos desenvolvidos na Europa. É assim que funciona a democracia ucraniana.

- O senhor faz uma avaliação minuciosa do presidente da Ucrânia, do ponto de vista do  desrespeito sistemático aos direitos humanos e à democracia. Mas qual sua avaliação sobre Putin sob essa mesma perspectiva?
A democracia russa é nova e vai evoluindo, se erigindo desde os anos 1980, com a transformação democrática que aconteceu nos anos finais da União Soviética, antes da desintegração, e que se baseia no Estado de Direito, mas é suscetível às influências culturais, religiosas e históricas de um país sofrido por duas Guerras Mundiais, por regimes tanto opressores, como stalinismo, quanto autoritários do período comunista. Ela viveu lições históricas da violência das revoluções, das guerras mundiais e civis, do terrorismo e do separatismo, aprendendo que elas não deveriam se repetir na vida da geração presente e das gerações vindouras.

- Mas o senhor não falou sobre Putin...
Putin é seguidor das tradições russas e das normas internacionais em direitos humanos. Tem sido considerado autoritário no Ocidente, principalmente por sua oposição feroz ao terrorismo, particularmente durante a Guerra da Chechênia, ou então pela suposta perseguição de oponentes políticos, como Navalny, este último um opositor brandido com um apoio ocidental bem amplo.

Topo