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Susto nas aulas de Xerém

Polo da universidade quase paralisou as atividades por falta de diesel para abastecer o gerador local

Pagamento foi regularizado no dia 27

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

A combinação das precárias condições de trabalho, do orçamento reduzido e da crescente dependência da UFRJ em relação aos serviços de terceirização quase inviabilizou as aulas no polo avançado de Xerém, distrito de Duque de Caixas. O problema foi com a empresa fornecedora do diesel do gerador de energia para os contêineres onde são realizadas as atividades de ensino: a firma ameaçou cortar o suprimento em 1º de junho, se não recebesse os pagamentos de duas faturas atrasadas.

De acordo com a diretora do polo, professora Raquel Moraes Soares, das duas faturas em atraso (de abril e maio), uma delas estava assim por erro de lançamento da própria empresa. “Eles nos informaram que não iriam nos fornecer o diesel que abastece os geradores. Sem o combustível, as aulas seriam suspensas. Achamos por bem informar à comunidade a possibilidade de suspensão das aulas”. 

A diretora deixou claro, ainda, que a empresa estaria desrespeitando uma cláusula contratual (que obriga as empresas terceirizadas a manter o serviço mesmo em caso de atrasos, por até 90 dias, no pagamento).

Contudo, antes do corte, a diretora reuniu-se com a Pró-reitoria de Governança (PR-6) e foi informada que o pagamento pendente estava sendo processado. “O pagamento foi realizado na quarta-feira (27) e somente na sexta (29) a empresa acusou o recebimento. Então enviamos comunicado oficial para a comunidade acadêmica informando a regularização do problema e a normalidade das atividades”, disse.

Nas garras do mercado

O salão nobre do IFCS abarrotado de pessoas, a maioria estudantes, na última quarta-feira 3, véspera do último feriado do outono, autoriza a crença de que a esperança não é um erro.  Noves fora o fato de que a presença do reitor eleito, Roberto Leher, era atração natural, aquela gente toda estava ali para refletir sobre a crise da universidade pública.

O debate “Universidades em crise: dilemas, desafios e perspectivas”, mediado pelo diretor do instituto, Marco Aurélio Santana, permitiu três olhares sobre o tema, com origem em cenários diferentes.

 Na grande reunião, além de Leher, da UFRJ, os professores Ruy Braga, da USP, e Michael Burawoy, da Universidade Berkeley (Califórnia) expuseram leituras inquietantes. 

Uma síntese: as forças de mercado fecham o cerco sobre as instituições públicas da educação.

A análise de Roberto Leher indica que a universidade pública autônoma, voltada para a produção independente do conhecimento, está fora do modelo induzido pelo Estado, que intensifica a mercantilização do setor.

Na USP, segundo Ruy Braga, a crise de financiamento ataca as relações de trabalho, em sintonia com o aprofundamento da precarização do trabalho no país.

Centro do capitalismo, nos EUA as crises orçamentárias das universidades americanas sempre são resolvidas com soluções de mercado,  segundo Michael Burawoy.

O modelo a que Roberto Leher se refere está explícito, ele disse, no Plano Nacional de Educação, o PNE. Para o reitor eleito da UFRJ, a institucionalização da mercantilização está se consolidando.

Leher fez desfilar números obscenos (se comparados com a escassez nas instituições públicas) relacionados ao volume de verbas transferido por meio do Fies para as instituições privadas de ensino superior. Este ano serão mais de R$ 13 bi.

As instituições privadas – pertencentes a fundos de investimentos – dominam 75% do setor. Pouco mais de 23% são as matrículas oferecidas pelas universidades públicas.

Ele disse que somente a empresa que surgiu da fusão dos grupos Anhanguera e Kroton tem cerca de 1,1 milhão de matrículas. Segundo Leher, o equivalente às 63 instituições federais de ensino.

Ruy Braga disse que vivemos uma mudança estrutural do mercado de trabalho por meio de relações terceirizadas.

O professor lembrou que a terceirização se expande mais intensamente no setor público e estatal.

Citou o caso da USP, onde leciona. Disse que há proposta de mudança no regime de contratação de professores que vai precarizar ainda mais a atividade.

Segundo ele, o ambiente geral de degradação das condições do trabalho no país alcança a universidade, como é o caso da USP. 

Só a democratização da universidade, disse Ruy Braga, pode enfrentar esse quadro. O professor Michael Burawoy disse que no seu país, as universidades são tratadas como empresa.

Isso acontece especialmente diante de qualquer crise de orçamento. Aí, disse ele, as instituição são tratadas como marca para atrair investimentos.

Manifestação acontece no Conselho de Ensino de Graduação (CEG) da universidade marcado para este dia 10

Objetivo é resguardar direito de greve do segmento

Samantha Su. Estagiária e Redação

Em greve desde 29 de maio, os alunos da UFRJ movimentam-se para conseguir a suspensão do calendário acadêmico em sessão do Conselho de Ensino de Graduação do próximo dia 10. “A suspensão do calendário vai impedir que os estudantes sejam obrigados a fazer avaliações ou levarem faltas por conta da greve. Só essa suspensão vai efetivar nosso direito”, explica Julia Portes, da FAU e representante do DCE Mário Prata.

Nos últimos dias, o DCE orientou a realização de assembleias discentes nos cursos ou unidades. O objetivo é deliberar atividades durante a greve, garantir um comando de greve com ampla representação, definir pautas locais e, principalmente, mobilizar o corpo discente para o ato do dia 10: “A expectativa é que muita gente vá ao CEG. Já tivemos muitas assembleias locais e todas elas, com exceção de Macaé, ou deflagraram ou indicaram a greve, conforme deliberado no dia 28 (na assembleia geral)”, disse Julia Portes. “Algumas unidades também já lançaram cartas oficiais de apoio à suspensão do calendário. Contamos, ainda, com a compreensão dos professores conselheiros”, completou. 

Mais de 25 assembleias locais

Segundo informe divulgada no perfil oficial do DCE Mário Prata no Facebook, houve mais de 25 assembleias locais que confirmaram a greve estudantil nos diversos campi da UFRJ. 

Entre eles, os alunos de Relações Internacionais. Em nota do Centro Acadêmico Suely Souza de Almeida (CASUAL), o corpo discente mostra seu descontentamento sobre a forma como vem funcionando o curso: “Não houve um semestre sequer (desde 2009) onde não existiu atraso ou falta de alocação de professores, confusão quanto à distribuição de salas ou desrespeito das unidades quanto às regulamentações, aprovadas em colegiado do curso. O sistema de multiunidades não trouxe integração para a universidade, não pela falta de interdisciplinaridade de nosso curso, mas pela clara falta de intenção das unidades em gerar essa integração e facilitar o funcionamento dos cursos multiunidades”, diz.

Na Escola Politécnica, por exemplo, duzentos alunos se reuniram para aprovar greve, no dia 1º. Dentre as reivindicações, estão: maior segurança nos campi, mobilizações contra a exploração dos terceirizados e laboratórios de informática para a unidade. 

No Polo de Xerém da UFRJ, também houve adesão à greve. A principal reivindicação é a transferência para outro local com melhor infraestrutura (hoje, as aulas acontecem em contêineres). Além disso, não há bandejão e nem mesmo moradia para favorecer a permanência dos estudantes. 

Próxima assembleia geral, dia 11

No dia seguinte ao CEG do dia 10, haverá nova Assembleia Geral de Estudantes para encaminhar os próximos passos do movimento.

 

Principais reivindicações estudantis

Pauta nacional:

- 10% do PIB para a educação pública já!

- R$ 2,5 bilhões para o PNAES 

- Contra o corte de R$ 9 bilhões da Educação

- Não ao PL 4330 da terceirização e às MPs 664/665

- Contra a redução da maioridade penal

 

Pauta UFRJ:

- Paridade em todos os colegiados deliberativos da UFRJ

- Conclusão das obras do alojamento até outubro

- Efetivação de todas as pautas de assistência estudantil aprovadas no Consuni

- Criação de bandejão para todas as unidades

- Pagamento imediato dos salários e benefícios atrasados dos/as terceirizados/as

- Aumento do valor e quantidade das bolsas, equiparando ao piso salarial

- Para que a antiga casa do estudante da UFRJ volte a ser moradia estudantil

- Construção de prédios para os cursos que necessitam

 

Professores demonstram apoio ao movimento

Professores da Escola de Belas Artes reuniram-se no dia 1º de junho e resolveram não registrar faltas dos alunos grevistas em apoio à deliberação do segmento. Foi discutido também como seriam feitas as avaliações: ficou por conta de cada professor adiar ou não provas e trabalhos, de acordo com o calendário de greve dos estudantes. Outra reunião está marcada para 11 de junho, um dia após o CEG. 

O Departamento de Vernáculas, da Faculdade de Letras, irá fazer uma moção de apoio aos alunos solicitando flexibilização do calendário acadêmico junto ao CEG. Irá sugerir também, ao restante do corpo docente, a suspensão de avaliações e a não cobrança de presença enquanto durar a greve estudantil.

 

Pós-graduação também entra em greve

A Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFRJ aprovou paralisação também no dia 28 de maio, em assembleia realizada no auditório da Escola de Serviço Social da UFRJ. A próxima reunião do segmento está marcada para 9 de junho.

Dentre os principais problemas que justificaram a deliberação, a associação aponta a falta de bolsas-auxílio aos pós-graduandos (que atualmente contam apenas com bolsas de pesquisa, balizadas pelos critérios de produtividade das agências de fomento) e a regulamentação da licença-maternidade e direito à creche. Além disso, a pós-graduação reivindica uma discussão dos critérios de produtividade da Capes e combate ao assédio moral e sexual. 

O mais novo outdoor da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind) apoia a luta dos moradores da Vila Autódromo, comunidade localizada em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade. Eles desejam permanecer no terreno — protegido por lei como Área de Especial Interesse Social — onde muitos vivem há mais de 40 anos. A Prefeitura do Rio, por sua vez, deseja remover as habitações, que ficam nas proximidades das obras do Parque Olímpico.

Depois de uma série de tentativas de remoção, o prefeito Eduardo Paes prometeu aos moradores – publicamente, em 2013 – que teriam seu direito respeitado e que o bairro seria urbanizado. Essa conquista é resultado de sua luta, e do seu Plano de Urbanização, reconhecido internacionalmente. O Plano, realizado com assessoria de duas universidades (UFRJ e UFF), dentro do Espírito Olímpico, transformaria a área em um legado social, que se tornaria referência para a cidade do Rio de Janeiro.

No último dia 3, no entanto, oficiais de justiça acompanhados de guardas municipais chegaram à comunidade e, com extrema violência, tentaram demolir uma casa. A ação ilegal da prefeitura só pôde ser impedida, até o momento, por uma liminar conseguida pela Defensoria Pública do Estado (com informações do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas).

A arte do outdoor foi feita com base em foto de Fernando Frazão, da Agência Brasil.

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