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Prédio novo prometido à Gastronomia ainda não saiu do papel. Sala de reunião dos docentes é na biblioteca

Laboratórios são impróprios para o curso

Filipe Galvão. Especial para o Jornal da Adufrj

Das formas de luta à composição, vive-se uma greve nova. Com o fim do fôlego das políticas de expansão e o inchaço de trabalhadores terceirizados, a universidade experimenta hoje o seu limite.

A nova composição dos grevistas responde aos processos de mudança vividos pela universidade na última década. Não à toa têm se destacado nessa greve unificada dois grupos: os professores dos cursos novos e os alunos vindos de outros estados. Ambos resultantes da implementação do Reuni.

É o caso da Gastronomia. Criado em 2011, o curso nasceu com a promessa de um prédio próprio com laboratórios, salas de aula e espaços de convívio. Quatro anos depois e sem nem um tijolo para chamar de seu, docentes e alunos amargam uma situação de abandono. 

Viram-se como dá. Para o cafezinho dos intervalos, os professores precisam se abrigar entre estantes e livros. Sem espaço nem prédio, a sala de reunião foi improvisada em um espaço ao fundo da biblioteca do Centro de Ciências da Saúde. “Os alunos nunca reclamaram, mas a gente procura fazer silêncio para não atrapalhar”, assume Márcia Pimentel, primeira professora contratada pelo curso.

O espaço foi a solução provisória encontrada pela coordenação e direção do curso junto à decania do CCS. “Não é a melhor condição de trabalho do mundo e, agora com o corte, a gente fica sem saber o que vai acontecer. Se, como está, já foi um sacrifício muito grande para nos instalarmos, imagina no futuro”, pondera a professora.

As lições acontecem nos laboratórios do CCS. O problema é que a estrutura existente não comporta as necessidades do curso. Impróprios para as aulas, os laboratórios não possuem sistema de circulação de ar e qualquer vazamento de gás ou alimento alergênico pode ser desastroso.

Projetado para abrigar o Instituto de Nutrição Josué de Castro, o prédio-fantasma já tinha sido orçado e aprovado pelo orçamento da UFRJ. E sua ausência não prejudica só a Gastronomia. Taís de Souza Lopes, professora do curso de Nutrição (existente desde 1948), aponta que a situação dos laboratórios compartilhados está atrasando a reforma curricular do curso. “Hoje estamos fora das requisições do MEC por conta disso, nós não temos laboratórios suficientes para ter dois currículos andando juntos”, revela.

Desde janeiro desse ano, os cursos irmãos sobrevivem pelo trabalho duro, quase teimoso, de docentes e alunos. Taís revela que, sem verba, os alimentos necessários às aulas acabam vindo do salário de professores ou de vaquinhas de estudantes. “Já chegamos a esse ponto”, desabafa.

A paulista Kilvia Pereira, aluna do curso de Gastronomia, diz que às vezes falta até manteiga. “Sempre quis universidade pública, mas sabia que não seria fácil”, conta. Kilvia, que também está em greve, preparou com seus colegas uma aula pública na posse de Roberto Leher e Denise Nascimento, novos reitor e vice-reitora da UFRJ. Ao final da cerimônia, serviram aos presentes degustações de caponata de casca de banana, gaspacho feito com descartes de salada e doce de casca de melancia. A aula era sobre o aproveitamento integral dos alimentos. Pareciam experts.

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O famoso quadro de Edvard Munch virou apelo pela educação pública de qualidade

Aulas públicas e intervenções artísticas levaram a UFRJ para a praça

Samantha Su. Estagiária e Redação

Durante todo o dia 7 de julho, a praça Cinelândia ficou ocupada com tendas que ofereciam oficinas, aulas públicas e intervenções artísticas. Tratava-se de um aulão público para dialogar com a população sobre as razões da greve nas universidades federais.

Uma das principais atrações foi a pintura coletiva de um painel gigantesco imitando o famoso quadro “O Grito”, do norueguês Edvard Munch. A professora Martha Werneck, da Escola de Belas Artes, explicou a intervenção: “A ideia da atividade veio inicialmente da demanda dos estudantes. As minhas alunas do curso de pintura, Andressa Lamarca e Lua Barbosa, achavam muito importante trazer nossas pautas para as ruas e tirar a greve do intramuros. A arte é muito importante para tornar esse processo uma construção coletiva, orgânica e de conscientização”, afirmou. Ao lado de “O Grito”, foram pintados os dizeres “A Greve é o nosso grito”. 

Para a professora Cinda Gonda, da Faculdade de Letras, a greve possui a qualidade única de se transformar em uma espécie de fagulha incendiando o cotidiano “que nos parece tão precário”: “É isso que estamos fazendo aqui. Estamos trazendo poesia, música, contos, vem o pessoal da dança também... quebrando esses muros e trazendo a universidade para a praça”, disse.

Dau Bastos, também da Letras, observou a relação histórica entre arte e política para falar da atividade da Cinelândia: “Basta pensar no ‘Guernica’, do Picasso”, afirmou. Para ele, a arte consegue, de maneira atrativa, fazer uma denúncia, mostrar aspectos comprometedores por trás do discurso político: “Daí a importância de buscarmos a estetização, no sentido muito positivo, do movimento”, completou.

Contraponto

Uma das aulas foi ministrada pela professora, cientista social e doutoranda da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Camila Moreno, sobre gênero. Ela relacionou as divisões de gênero na sociedade com as lutas anti-capitalistas. Após o debate, ao apontar para o protótipo propagandista do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Prefeitura do Rio de Janeiro em exibição na praça, Camila comentou: “É importante estarmos no espaço público. Os símbolos do capital empresarial estão aqui, nós também temos que estar disputando ele. Isso mostra que os docentes não estão em casa fazendo greve, mas estão na rua discutindo a conjuntura”.

A lojista Viviane Pacheco parou para ver a intervenção durante o horário do almoço e elogiou: “Eu não conheço muito sobre arte e acho importante que quem estuda esteja preocupado em trazer isso para o cotidiano da cidade. Se os professores estão em greve, é pela educação do país e eles precisam ser respeitados.” Estudantes da graduação e pós-graduação também participaram do evento.

Interlocução com a sociedade

“Precisamos fazer uma interlocução com a comunidade. Queremos aqui dizer que precisamos fortalecer a universidade pública com os trabalhadores, porque queremos uma universidade para eles”, observou a professora Sara Granemann, da Escola de Serviço Social.

Confira vídeo sobre esta atividade de greve no site www.adufrj.org.br.

A UFRJ vai ocupar a Cinelândia

Atividades começam ao meio-dia e envolvem professores, estudantes e técnico-administrativos da universidade

Diversas unidades da UFRJ farão atividades em praça pública na quinta-feira, 16 de julho. As atividades se iniciam ao meio-dia em tendas montadas na Cinelândia, Centro do Rio. mobilização envolve professores, estudantes e técnico-administrativos da universidade.

O ato “UFRJ na praça, contra os cortes no orçamento” discutirá com a população os efeitos do ajuste fiscal na Educação pública. Dentre as principais atividades, haverá exibição de filmes, debates, palestras, oficinas de dança e costura, saraus de poesia, instalações, cortejos, aulas-públicas. Tudo isto como forma de mostrar à população o que a universidade pública produz e o que está ameaçado com os mais de R$ 9 bilhões cortados da educação.

Após a série de experimentações e debates, haverá um ato-show unificado da educação federal em greve do Rio. O ato-show começa às 17h. Todas as atividades serão abertas ao público e gratuitas.

Mais de três mil pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, na capital federal no dia 7, e protagonizaram um grande ato em defesa da Educação Pública. Docentes, técnicos e estudantes marcharam até o Ministério da Educação para exigir uma audiência com o ministro Renato Janine e cobrar a reversão dos cortes no orçamento da Educação Federal e mais investimentos na área.

A manifestação foi organizada pelo Andes-SN, Fasubra, Sinasefe, Anel, Oposição de Esquerda da Une e Fenet (Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico) – entidades representantes dos três segmentos da Educação Federal. No trajeto, os participantes da Caravana em defesa da Educação Pública entoavam palavras de ordem como “Greve geral em toda Federal” e “Dilma, mãos de tesoura, acabou com a pátria educadora!”.

Marinalva Oliveira, 1ª vice-presidente do Andes-SN, denunciou que as instituições federais de ensino estão em estado precário, não têm verbas, faltam professores, salas de aula, laboratórios, assistência estudantil, e que é preciso investimento nas instituições públicas para que se possa oferecer educação de qualidade para a população. “O governo tem repassado dinheiro para as instituições privadas, e retirando verbas da educação pública, que já está em situação extremamente precária”, ressaltou.

A diretora do Sindicato lembrou que a greve dos professores federais (que já alcança 41 instituições) é em defesa do caráter público da educação, atacado pelas políticas do governo. “É importante que o ministro, que sempre diz estar dialogando, receba as entidades da educação federal, leia o nosso documento e reverta todos os cortes que foram feitos na educação e que coloque dinheiro público nas instituições públicas”, afirmou, em referência ao Manifesto em Defesa da Educação Pública, elaborado na véspera da manifestação (veja quadro). (Fonte: Andes-SN. Edição: Adufrj-SSind)

 

Manifesto protocolado

Mesmo diante de muita pressão e insistência por parte das entidades, o ministro Janine recusou-se a receber os representantes dos professores, técnicos e estudantes. O Manifesto em Defesa da Educação Pública, fruto dos debates realizados na Reunião da Educação Federal com a participação de mais de 600 pessoas, no dia 6, foi protocolado pelo presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo, e pelo coordenador da Fasubra, Rogério Marzola, no MEC. O documento pode ser lido em http://migre.me/qHW5F.

No último dia 10, o Andes-SN solicitou, de novo, uma audiência com o ministro Janine.

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