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O mais novo outdoor da Seção Sindical dos Docentes da UFRJ (Adufrj-SSind), instalado na lateral da ex-casa de espetáculos Canecão, na Zona Sul do Rio de Janeiro, reforça a campanha contra a redução da maioridade penal. O assunto estará na pauta da Câmara dos Deputados, amanhã (30).

 

Produtivismo acadêmico mata

Debate no IESC trata de problemas, que afetam a saúde da categoria, relacionados ao excesso de trabalho

Ambiente altamente competitivo prejudica professores

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“‘Professor da UFRJ não fica doente, ele morre de repente’, foi o que ouvi, chocada, de um entrevistado”. O relato foi passado por Alzira Guarany, que dedicou sua tese de doutorado na Escola de Serviço Social à análise do adoecimento físico e psicológico de docentes da universidade nos últimos anos. Sua palestra representou a primeira atividade de greve docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), no dia 22.

A hipótese inicial de Alzira era que os impactos das privatizações da década 1990 sobre as universidades haviam atingido a saúde dos docentes das universidades federais como a UFRJ. A intuição se confirmou no cruzamento de informações sobre afastamento por doenças e depoimentos pessoais. “Realmente, foi um período em que o ritmo de produção da universidade foi bastante acelerado pela criação de um ambiente competitivo. Para muitos, esperar pelo investimento público significaria parar atividades como pesquisa. “Então muita gente foi em busca de parceiros na iniciativa privada”, afirma. 

No entanto, “tanto entre os que resistiram quanto entre os que apoiaram a mudança de estilo de vida universitária, houve adoecimento”, destaca. Mas Alzira observa que a aproximação e incorporação do modus operandi das empresas representou uma redução prática da autonomia docente: “O trabalho passa a ser cada vez mais prescrito sem margem (de liberdade) para o docente”.  De acordo com a pesquisadora, é comum o relato de que, para garantir financiamento a um projeto que deseja, o docente se submeta a realizar outros que não considera interessantes.

Em sua visão, o critério quantitativo se sobrepôs ao qualitativo. “É preciso levar em conta que, para alguns campos do saber, reduzir o tempo produtivo foi OK; para outros, não”. De acordo com ela, embora a competição entre pares não seja uma novidade, “é preciso reconhecer que hoje é algo que pode, sim, ser considerado estrutural”. A introdução de mais tarefas relacionadas às novas tecnologias também foi lembrada, como responder aos alunos, por e-mail, nos horários de folga. 

Na UFRJ, Alzira observou que nem sempre o docente relaciona o desenvolvimento da patologia às atividades laborais. Além disso, o afastamento não costuma ganhar publicidade: “Em um ambiente competitivo, as pessoas acabam preferindo um afastamento silencioso”, ou seja, sem notificar a universidade. “A saída individual”, contudo, segundo Alzira, dificultaria até mesmo uma tomada institucional de providências. “Sem registros, a UFRJ fica também sem as ferramentas para combater os problemas”.

 Isolamento joga contra

Professores manifestaram preocupação em relação ao tema que se relaciona com um dos eixos principais da greve docente (a melhoria das condições de trabalho). E a importância de um estudo epidemiológico, na UFRJ, foi reafirmada. 

Da plateia, Letícia Legay contou conviver há 20 anos com um problema reumático e admitiu nunca tê-lo registrado junto à universidade. “Fazemos tantas coisas ao mesmo tempo, que não nos damos conta. De repente, nos perguntamos ‘cadê fulano?’ E lá se vão cinco anos que o professor está na prateleira (afastado)”.  

Em outro depoimento, Regina Simões observou que, “mergulhados nas próprias linhas de pesquisas”, os docentes perderam parte da vivência universitária. Em sua visão, o isolamento contribui também para que as pesquisas estejam cada vez menos voltadas para questões de interesse social.

Universidade e campo juntos

Debate na ESS tratou da importância da inserção dos movimentos sociais no espaço universitário

Mesa contou com presença do reitor eleito da UFRJ

Samantha Su. Estagiária e Redação

Discutir a função social da universidade, alinhando os saberes dos movimentos sociais e os conhecimentos acadêmicos. Este foi o ponto principal do debate que reuniu, no último dia 18, o reitor eleito da UFRJ, Roberto Leher, e o coordenador do setor de educação do MST no Paraná, Alex Verdelho. 

O encontro fez parte da Jornada Universitária de Reforma Agrária, realizada no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque, no campus da Praia Vermelha, para marcar a formatura da primeira turma de jovens assentados (leia quadro), na Escola de Serviço Social. A classe ganhou o nome de Carlos Nelson Coutinho em homenagem ao professor daquela unidade e apoiador da iniciativa, que faleceu em setembro de 2012.

“A problematização de questões de extrema importância para o futuro da humanidade, como a soberania alimentar e a questão da água, não vieram de artigos universitários. Elas chegam à universidade porque os movimentos sociais passam a tratá-las como questões políticas de relevância social e agem em torno delas. Só então, a universidade passa a produzir conhecimento sobre”, observou Roberto Leher. 

Leher ainda avaliou a transformação estrutural pela qual a universidade passa, nesta interação: “A luta social dos movimentos tem trazido questões que repercutem de forma profunda na própria ética da produção do conhecimento. A denúncia, por parte dos movimentos, de que a Monsanto financia pesquisa na universidade, está levantando problemas de natureza ética aqui dentro. O caráter público da universidade só pode existir se a universidade for um espaço de produção livre de conhecimento frente aos interesses capitalistas”, finalizou o professor.

Para o representante do MST, a inserção dos movimentos sociais determina e modifica o ambiente acadêmico: “O objetivo do Movimento Sem Terra é a luta pela terra, a reforma agrária e a transformação social. Portanto, quem entra na universidade não são os sujeitos individuais, mas sim os sujeitos coletivos e, junto deles, vêm também crianças, idosos, músicas e isso vai tomando o espaço, transformando a educação”, afirmou Alex Verdelho 

A relação entre movimentos sociais e universidade para combater o capitalismo também foi enfatizada: “A luta pela terra tem que nos levar ao diálogo com a cidade. Por exemplo, quando temos de pensar uma reforma agrária que garanta o abastecimento de alimentos para toda população, ou quando precisamos acumular as forças da luta camponesa com a luta da classe trabalhadora urbana. Na universidade, não é diferente, precisamos alinhar a educação e cultura do campo com o poder do conhecimento acadêmico e enfrentar o capital”, pontuou Alex.

 

Turma iniciou o curso em 2011

A Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro - ESS/UFRJ - em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária vinculado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Pronera/Incra assinaram acordo em 2010 para a criação de uma turma especial com estudantes provenientes de assentados rurais de diferentes regiões do país, com o objetivo de formar assistentes sociais críticos, propositivos e comprometidos com a reforma agrária e a garantia e ampliação dos direitos sociais. Em março de 2011, a primeira turma iniciou o curso na ESS.

Produtivismo acadêmico mata

Debate no IESC trata de problemas, que afetam a saúde da categoria, relacionados ao excesso de trabalho

Ambiente altamente competitivo prejudica professores

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“‘Professor da UFRJ não fica doente, ele morre de repente’, foi o que ouvi, chocada, de um entrevistado”. O relato foi passado por Alzira Guarany, que dedicou sua tese de doutorado na Escola de Serviço Social à análise do adoecimento físico e psicológico de docentes da universidade nos últimos anos. Sua palestra representou a primeira atividade de greve docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), no dia 22.

A hipótese inicial de Alzira era que os impactos das privatizações da década 1990 sobre as universidades haviam atingido a saúde dos docentes das universidades federais como a UFRJ. A intuição se confirmou no cruzamento de informações sobre afastamento por doenças e depoimentos pessoais. “Realmente, foi um período em que o ritmo de produção da universidade foi bastante acelerado pela criação de um ambiente competitivo. Para muitos, esperar pelo investimento público significaria parar atividades como pesquisa. “Então muita gente foi em busca de parceiros na iniciativa privada”, afirma. 

No entanto, “tanto entre os que resistiram quanto entre os que apoiaram a mudança de estilo de vida universitária, houve adoecimento”, destaca. Mas Alzira observa que a aproximação e incorporação do modus operandi das empresas representou uma redução prática da autonomia docente: “O trabalho passa a ser cada vez mais prescrito sem margem (de liberdade) para o docente”.  De acordo com a pesquisadora, é comum o relato de que, para garantir financiamento a um projeto que deseja, o docente se submeta a realizar outros que não considera interessantes.

Em sua visão, o critério quantitativo se sobrepôs ao qualitativo. “É preciso levar em conta que, para alguns campos do saber, reduzir o tempo produtivo foi OK; para outros, não”. De acordo com ela, embora a competição entre pares não seja uma novidade, “é preciso reconhecer que hoje é algo que pode, sim, ser considerado estrutural”. A introdução de mais tarefas relacionadas às novas tecnologias também foi lembrada, como responder aos alunos, por e-mail, nos horários de folga. 

Na UFRJ, Alzira observou que nem sempre o docente relaciona o desenvolvimento da patologia às atividades laborais. Além disso, o afastamento não costuma ganhar publicidade: “Em um ambiente competitivo, as pessoas acabam preferindo um afastamento silencioso”, ou seja, sem notificar a universidade. “A saída individual”, contudo, segundo Alzira, dificultaria até mesmo uma tomada institucional de providências. “Sem registros, a UFRJ fica também sem as ferramentas para combater os problemas”.

 Isolamento joga contra

Professores manifestaram preocupação em relação ao tema que se relaciona com um dos eixos principais da greve docente (a melhoria das condições de trabalho). E a importância de um estudo epidemiológico, na UFRJ, foi reafirmada. 

Da plateia, Letícia Legay contou conviver há 20 anos com um problema reumático e admitiu nunca tê-lo registrado junto à universidade. “Fazemos tantas coisas ao mesmo tempo, que não nos damos conta. De repente, nos perguntamos ‘cadê fulano?’ E lá se vão cinco anos que o professor está na prateleira (afastado)”.  

Em outro depoimento, Regina Simões observou que, “mergulhados nas próprias linhas de pesquisas”, os docentes perderam parte da vivência universitária. Em sua visão, o isolamento contribui também para que as pesquisas estejam cada vez menos voltadas para questões de interesse social.

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