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Reitor demite Ivan Marques da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Caiu também a pró-reitora de Pessoal, Regina Dantas

Silvana Sá
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A gestão Roberto Leher sofreu sua primeira baixa no dia 25. O reitor demitiu o então pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), Ivan da Costa Marques. O professor Ivan da Costa Marques, que tem 47 anos de sua vida dedicados à UFRJ, se surpreendeu com a decisão: “Passado o momento da indefinição eleitoral, logo percebi que a parceria em um projeto amplo de discussão sobre a pós-graduação e a pesquisa, por mim inicialmente imaginada, não correspondia bem ao que já estava planejado pela reitoria”, disse. “Mas, ainda assim, acreditei na possibilidade de um espaço de convivência construtiva, já que os projetos que logramos iniciar, assim como os atendimentos cotidianos, iam bem e em plena execução. Certamente minha exoneração interrompe procedimentos importantes, na minha opinião”, acrescentou o pró-reitor demitido.

A demissão ocorreu 15 dias depois de Ivan Marques ser o único da equipe da reitoria a se abster em uma votação que desrespeitou decisão da Faculdade de Medicina sobre a promoção de um docente daquela unidade ao cargo de Adjunto.

Na quarta, Leher escolheu a professora Leila Rodrigues, Titular do Instituto de História da UFRJ, para assumir a pasta. Ela é uma das coordenadoras do Programa de Pós-Graduação em História Comparada. Coordena, ainda, o Programa de Estudos Medievais. Seu nome será apresentado ao Conselho Universitário deste dia 9. Cabe ao Consuni a decisão final sobre quem assume a PR-2. Até lá, o professor João Graciano, decano do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, assume o cargo.

Outro lado

Em reunião na manhã de sexta-feira (3), no Conselho de Ensino Para Graduados (CEPG), o reitor explicou que exonerou o professor mediante as novas exigências da universidade a partir da extinção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. De acordo com o representante do CCJE no CEPG, professor Fábio Freitas, o reitor teria dado a entender que sua intenção é colocar um perfil “mais adequado” para buscar novas parcerias na captação de recursos especialmente para infraestrutura de pesquisa.

Em entrevista à reportagem da Adufrj, Roberto Leher voltou a dizer que trocou de pró-reitor porque a universidade tem desafios diferenciados a partir da extinção do MCTI. Ele negou que a demissão de Marques seja fruto de divergências políticas.  “O professor Ivan sempre mostrou muita afinidade com nosso projeto, mas hoje a pesquisa na universidade exige um trabalho de monitoramento, acompanhamento mais intenso. E uma maior articulação com a Capes na defesa de recursos Proap e Proex. A atuação do professor Ivan teve maior ênfase no debate mais amplo da ciência e na organização dos grandes temas”, disse.

A avaliação da Adufrj

A diretoria da Adufrj também se surpreendeu com a mudança repentina na equipe da reitoria. Para Carlos Frederico Leão Rocha, 1º vice-presidente da Seção Sindical e professor do Instituto de Economia, os fatos precisam ser melhor esclarecidos. “Devemos chamar atenção para o quão brusca e surpreendente foi a mudança, a inconsistência da justificativa e a surpresa dos conselheiros que realmente não esperavam. Conclui-se por uma agenda secreta e sugere-se falta de rumo”.

A carta de Marques

Em texto enviado à Adufrj, o professor Ivan Marques explica sua saída. Leia abaixo a íntegra da carta do professor.

Ivan da Costa Marques

Rio, 2 de junho de 2016

Entrei para a COPPE contratado pelo Professor Alberto Coimbra em janeiro de 1968, logo após a conclusão da graduação em Engenharia Eletrônica no ITA. Foi apoiado pela COPPE / UFRJ que pude fazer o mestrado e o doutorado em Berkeley (Universidade da Califórnia), em Engenharia Eletrônica e Ciência da Computação, concluídos em 1973. Dediquei-me desde então, até 1990, a diferentes atividades na UFRJ e, a partir de 1978, no governo, em empresa privada e em empresas estatais, mantendo sempre vínculo em tempo parcial com a UFRJ. Fiz isso munido dos referenciais da engenharia e da economia que, cheguei à conclusão após longo tempo, são, no meu entender, necessários mas insuficientes para suplantar a, digamos, colonialidade científico-tecnológica do Brasil.

De 1990 a 1992 estive na New School for Social Research (Nova York), na condição de visiting scholar, fazendo a travessia profissional que me permitiu incorporar as ciências ditas humanas e sociais em meus referenciais. Voltei ao Brasil e após três anos, a partir de 1995, passei a dedicar-me em tempo integral DE, na UFRJ, ao chamado campo CTS (ciências-tecnologias-sociedades) atuando no programa de pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia (HCTE, um programa inter-unidades nascido da COPPE, IQ, IM e recentemente também incorporado pelo NCE).

Nas últimas décadas as ciências sociais e humanas, especialmente a antropologia, propuseram novos referenciais sobre a feitura das ciências e das tecnologias modernas. Convenci-me de que, apesar da lebre ter sido levantada na Europa e nos EUA, discutir estes novos referenciais em conjunto com os cientistas das ciências naturais, abriria brechas e oportunidades para que nossos coletivos pudessem tratar a colonialidade científico-tecnológica de maneiras mais autônomas e consequentes. Manter os referenciais de cada disciplina como compartimentos separados e estanques limita o leque das possibilidades da pós-graduação e da pesquisa no Brasil. Por exemplo, as condições de sucesso duradouro para os desenvolvimentos e aproveitamento das pesquisas nas engenharias brasileiras não são independentes das pesquisas nas ciências jurídicas brasileiras. Para ter sucesso genuíno é preciso juntar as pesquisas dos engenheiros e cientistas com as pesquisas dos advogados e juristas, porque os retornos possíveis do trabalho dos engenheiros não independem das leis vigentes no país. Digo que a lebre foi levantada lá porque foram os próprios europeus que “descobriram” isso nas últimas décadas, diante da China e da índia. Esses temas estão em minhas palestras e publicações e foram também já abordados em outras entrevistas que dei no momento de minha entrada na PR2.

Com desculpas pelo longo preâmbulo, fui convidado, no momento da disputa no segundo turno para as eleições de reitoria em meados de 2015, para compor a possível futura equipe dirigente da UFRJ, caso a chapa 20 fosse eleita. Vi neste convite para ocupar a pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa uma oportunidade de retribuir à UFRJ o que dela recebi em mais de 45 anos de vida profissional e, ainda mais, fazer isso na tentativa de colocar em pauta uma discussão renovada, abrangente e democrática, sobre a pós-graduação e a pesquisa na própria UFRJ e, porque não dizer, no Brasil.

Hoje, após minha exoneração em 25/05/2016, considero que pude encerrar mais um período de grande experiência na vivência universitária e logo aproveito esta oportunidade oferecida pela ADUFRJ para agradecer todos aqueles com quem trabalhei neste período, funcionários da PR2, integrantes do CEPG, coordenadores dos programas de pós-graduação, professores e estudantes que me procuraram com os mais diversos problemas, e também pessoas externas à UFRJ como as que compõem as Comissões de Premiação do Prêmio Gilberto Velho de melhor tese da universidade.

Eu e minha equipe buscamos sempre corresponder com todo zelo e dedicação às demandas que nos eram enviadas. Apesar de todas as dificuldades que atravessamos, especialmente as de cunho financeiro, amplamente conhecidas, é para mim uma enorme alegria poder afirmar que não tenho conhecimento de insatisfações com a PR2, tanto da parte de indivíduos quanto institucional­mente, da parte dos programas e do CEPG, muito pelo contrário. Nossa orientação sempre foi que cada demanda, de quem quer que viesse (professor, estudante ou funcionário), fosse imediatamente respondida, mesmo nos casos em que a solução da questão não fosse imediata, sempre prestando contas ao demandante e, muito importante, com transparência. Disse "muito pelo contrário" porque só ouvimos elogios a nossos procedimentos, não só por parte de funcionários e professores, como também por parte dos estudantes. Por exemplo, nos dois editais para distribuição de bolsas que tivemos a oportunidade de fazer, tanto os que ganharam como os que deixaram de ganhar bolsas declararam-se satisfeitos com as discussões e explicações nítidas e abertas sobre os critérios de distribuição, e contribuíram entusiasticamente para o aperfeiçoamento de tais critérios.

Por outro lado, é sempre muito difícil ter completo conhecimento do que se passa na vida de uma instituição do porte da UFRJ e não posso responder a questões que precisariam ser feitas diretamente para a atual reitoria, já que não fui consultado com antecedência sobre possíveis problemas ocorridos com a PR2.

Em solidariedade a mim, meus dois superintendentes, Eduardo Paiva e Henrique Cukierman, igualmente docentes do HCTE, pediram exoneração dos seus cargos logo na segunda-feira, dia 30 de maio, pela manhã. Cukierman é também docente da COPPE (PESC) e da Escola Politécnica. É claro que o reitor tem o direito de definir aqueles que compõem a sua equipe de trabalho. Passado o momento da indefinição eleitoral, logo percebi que a parceria em um projeto amplo de discussão sobre a pós-graduação e a pesquisa, por mim inicialmente imaginada, não correspondia bem ao que já estava planejado pela reitoria. Mas ainda assim acreditei na possibilidade de um espaço de convivência construtiva, já que os projetos que logramos iniciar, assim como os atendimentos cotidianos, iam bem e em plena execução. Certamente minha exoneração interrompe procedimentos importantes na minha opinião, mas ninguém é insubstituível e faço votos que tudo seja encaminhado da melhor forma possível pois, afinal, somos todos UFRJ.

Quanto ao que pretendo fazer, não me faltam tarefas! Algumas que sofreram várias interrupções durante este período: orientações, aulas, grupo de pesquisa, além das minhas atividades relacionadas aos estudos sobre a construção de conhecimento em nossas universidades, aos quais me referi no início desta entrevista. Temos uma associação brasileira destes estudos - ESOCITE.BR - da qual sou presidente. A ida para a PR2 interrompeu também a escrita de um livro visando contribuir para colocar em cena novos ângulos nas abordagens das pesquisas científico-tecnológicas no Brasil. Vou agora poder retomar também esta tarefa. 

 

 

 

Na trilha da Cultura

Pesquisadores da UFRJ debatem e criticam extinção de Ministério de CTI

Docentes fizeram manifestação no OcupaMinc

Elisa Monteiro
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Fotos: Claudia Ferreira 

Os professores da UFRJ criaram nova estratégia contra a extinção do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI). Nos pilotis do histórico edifício Gustavo Capanema, onde acontece o OcupaMinC, os docentes  realizaram um debate para aproximar as mobilizações pela Educação e da Cultura. O evento contou com parceria do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e ocorreu na quinta-feira 2, com o mote “Tire a mão da educação, da Saúde, da Ciência e da Cultura”.

Além da crítica ao governo interino de Michel Temer, os focos foram: a desvinculação das receitas constitucionais para a Educação e a fusão entre os ministérios de CTI e das Comunicações. “Estamos aqui porque foi a partir de toda a mobilização em defesa do MinC que a gente se inspirou para lançar uma frente contra extinção do MCTI”, abriu os trabalhos Tatiana Roque, presidente da Adufrj. Para a dirigente, o anúncio do ministro da Fazenda de gastos públicos no limite das correções inflacionárias equivale a aumento real nulo nos investimentos para Educação: “Significa, na prática, uma flexibilização, ao mesmo tempo uma desvinculação constitucional dos gastos em educação”.

A atividade contou com cerca de 50 pessoas e esquentou a mobilização para o “Ciência na Praça”, também organizado por docentes, no final de semana (sábado, 4) na praça do Largo do Machado. Tatiana Roque, presidente da Adufrj, anunciou outras duas novidades: uma plataforma digital para pressionar parlamentares e um avatar #FicaMCTI contra a extinção do ministério. “A proposta é que a imagem seja utilizada em todas as redes sociais por pesquisadores do Brasil inteiro e também no currículo Lattes a partir da segunda-feira”.

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Na segunda-feira, 6, uma nova audiência pública sobre a fusão da CTI e Comunicações será realizada no Congresso Nacional, desta vez com a presença do novo ministro Gilberto Kassab (PSD). “A ideia é pressionarmos bastante, mostrando que a comunidade científica é contrária à extinção”, explicou a dirigente.

UFRJ se articula

“Se você acha que pesquisa é cara, tente tratar o doente”, provocou o diretor científico da Faperj, Jerson Lima. Jerson, que é também docente do Instituto de Bioquímica Médica, da UFRJ, completou:  “O país só pode responder rapidamente ao surto de zika e de microcefalia como referência científica internacional, inclusive publicando em periódicos importantes como a Science, graças ao patrimônio científico constituído principalmente nos últimos anos”.

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“O Brasil sempre dependerá de commodities como petróleo, se não investir no desenvolvimento cientifico”, criticou o pesquisador. “Pesquisa experimental depende muito de recursos e estávamos em transição”, completou. Além dos incentivos por meio de editais, bolsas e equipamentos laboratoriais, Jerson reafirmou a importância de aporte de recursos nas universidades: “Não adianta termos dinheiro se não houver gente bem formada”.

 Também presente ao encontro, o vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso (SBPC), Ildeu Moreira, avaliou que “reduzir o Ministério a uma secretaria coloca, além da Ciência, parte da Educação em risco”. Segundo ele, a “desconstrução” do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação impacta diretamente a Educação dentro de um contexto no qual “apenas 10% dos brasileiros entrevistados conseguem identificar o nome de algum centro de pesquisa ou pesquisador”.

Como exemplo, Ildeu cita as incertezas em relação aos editais para divulgação científica tais como periódicos especializados, museus científicos, observatórios, planetários e afins. Em sua avaliação, ainda que “tímidas”, houve melhorias no setor nos últimos anos. Além da desorganização, o dirigente da SBPC teme a redução de recursos: “A (pasta da) Comunicação envolve outros setores e interesses. Certamente, a pesquisa científica ficaria relegada a um segundo plano”.

Ajuste ou reforma

“Na verdade, está se usando uma proposta de meta que, em tese, poderia ser aplicada de maneira positiva para recuperar a economia, para se criar um fato político, causando medo na população para passar uma mudança constitucional”, avaliou Esther Dweck (Instituto de Economia).

De acordo com a economista, ex-assessora do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), mesmo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) contém margem para ajustes de metas em momentos de baixa do ciclo econômico, “quando há queda da arrecadação, sem comprometer gastos”. Dweck criticou o anúncio de estipulação de um teto total de gastos por Henrique Meirelles.

Segundo ela, em tese, “do ponto de vista econômico, seria maravilhoso colocar o superávit primário baixo e liberar o governo para gastar”. Entretanto, o implícito na proposta está no encolhimento dos gastos abaixo dos percentuais previstos para Educação na Constituição Federal: “Será um corte brutal”, afirmou. “O orçamento para a Saúde e a Educação já está associado à receita. Ou seja, já há uma regra que implicitamente impõe um ajuste, pois se a receita não crescer, os gastos não crescem. Já é uma conta relativamente equilibrada e fiscalmente razoável”.

A leitura da economista é que o “buraco” orçamentário está sendo superdimensionado e manipulado politicamente. “A ideia é claramente reduzir serviços de saúde e educação”. Segundo a economista, “na essência”, está em jogo na mudança de regra de corte a partir de gastos totais é diminuir o papel do Estado. “O PIB necessariamente vai crescer mais que os gastos públicos, diminuindo necessariamente o papel da despesa pública federal”.

Dweck falou ainda sobre a projeção do conservadorismo econômico sobre as demais políticas, “é preciso estar atento a umapauta conservadora que está vindo”, disse, citando a visita do ator Alexandre Frota e do movimento pela Escola sem Partido ao Ministério da Educação: “Parece anedótico, mas é algo grave”.

Angela Santi (Faculdade de Educação) falou em sentido parecido. Para a docente, a universidade pública deve tomar partido contra o esvaziamento do sentido da política na vida cotidiana. “Matar a política é matar a própria possibilidade da Educação”, afirmou.

Em sua visão, a crise política generalizou um mal-estar social que abriu espaço para uma leitura fascista na qual política é associada ao mal. “A gente precisa conversar sobre isso em sala de aula, conversar com nossos alunos, porque muitos reproduzem essa lógica, porque não tiveram espaço para debater o que é democracia, o que é política”, analisou.

Ponte entre Arte, Educação e Ciência

Ponte entre as mobilizações em defesa da Educação e Ciência e pela Cultura, a atriz e coreógrafa Bia Lessa fez sua intervenção no evento: “Criamos um mundo de quinta categoria e somos responsáveis por ele. Acho que o mercado não pode ser lei do homem, estamos numa cilada e isso deve ser visto com seriedade”.

 Os próximos dois anos, até a próxima eleição presidencial, na visão da atriz, serão determinantes para redirecionar a política, “de fato, estamos em um momento em que ninguém está contente. Há uma massa absolutamente descontente, disforme sem objetivos específicos. Alguma coisa tinha de fato que mudar, porque dentro do ponto de vista da cultura, Educação e Ciência não pode ficar à mercê do mercado”.

 

“Estou muito preocupada com o grau de cinismo que políticos tomaram. Hoje não se vê nenhuma questão discutida em cima da questão, mas um partido contra outro; uma roubalheira e um grau de cinismo que me deixam perplexa”, desabafou. “Fico na dúvida até que ponto algo se modifica nesse universo político que nós mesmos criamos”. Para a artista, além do diálogo com a sociedade, a reflexão crítica deve ser incorporada “todos os dias, na vida da gente, nas funções que a gente ocupa”.

 “Mexeu com uma, mexeu com todas”

 

Após estupro coletivo de jovem de 16 anos, mulheres protestam no centro do Rio

 

Texto: Samantha Su
Estagiária e Redação
Fotos: Tomaz Silva/Agência Brasil 

Milhares de pessoas, em sua maioria mulheres, marcharam da Candelária até a Central do Brasil contra a cultura do estupro, na noite desta quarta-feira, 1º de junho. O recente episódio do estupro coletivo de uma jovem, na Zona Oeste da cidade, claro, potencializou o ato. Mas não foi seu único motivo.

A manifestação intitulada “Por mim, por nós, por todas” denunciou diversas violências. Pelo menos uma mulher é estuprada a cada duas horas no estado do Rio de Janeiro, aponta estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP), de 2014.

Em coro, mulheres leram vários relatos, como o caso das duas jovens violentadas por integrantes da banda New Hit, em agosto de 2012, na Bahia. Também falaram de Isadora, estudante de Educação Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Ela se matou em 26 de maio. Antes, deixou uma carta para dizer que não havia conseguido superar o trauma de um estupro sofrido três anos antes, no alojamento da instituição. Uma ala só de estudantes da Rural participou do ato.

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Protesto contra descaso policial

Estudantes também jogaram bexigas com tinta vermelha na 5ª Delegacia de Polícia. Foi a resposta indignada ao descaso inicial da corporação na investigação do estupro coletivo ocorrido na última semana

O ato, repleto de cartazes e faixas, enfatizava que as vítimas não eram culpadas pelo crime, em referência à violência contida nos argumentos de que roupas curtas ou uso de drogas pelas mulheres justificariam o abuso sexual. O protesto recebeu, em solidariedade, uma chuva de papel picado na avenida Presidente Vargas, jogado do alto dos prédios.

No encerramento da passeata, na Central do Brasil, diversas mulheres compartilharam as violências sofridas — em sua maior parte, estupros, por seus parentes, namorados e amigos da família. No fim da noite, o recado do protesto ecoou na avenida: “Mexeu com uma, mexeu com todas”.

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fica mcti

#FicaMCTI

Numa iniciativa inédita no país, professores e cientistas brasileiros criaram uma criativa campanha contra a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com o das Comunicações. A junção foi uma das primeiras medidas tomadas pelo governo interino de Michel Temer e preocupa a comunidade acadêmica. Para combatê-las, pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento estão trocando as fotos de seus currículos Lattes por um avatar com os dizeres #FicaMCTI.


A iniciativa é da Associação de Docentes da UFRJ (ADUFRJ) e já conta com o apoio de algumas estrelas da ciência, como o matemático Artur Ávila, ganhador da medalha Fields, o físico Paulo Artaxo, climatologista membro do IPCC (Painel Internacional de Mudanças Climáticas da ONU), a química Vanderlan, vice-presidente da SBPC (sociedade brasileira para o progresso da ciência), o antropólogo Otávio Velho e os ex-ministros Renato Janine Ribeiro, Sérgio Rezende e Roberto Amaral

Além da troca das imagens, a ADUFRJ criou um site (http://ficamcti.redelivre.org.br) sobre a campanha. Na página, os internautas recebem orientações para a troca das fotos e são convidados a enviar mensagens de protesto ao Congresso Nacional.

Nas próximas semanas, os senadores da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) irão debater com o ministro Gilberto Kassab a fusão do Ministério. "Vamos aproveitar esta ocasião para pressionar os senadores e sensibilizar a sociedade sobre a necessidade de um MCTI ativo e independente", explica Tatiana Roque, presidente da Adufrj.

Projeto de lei com reajuste dos professores vai ao Senado

PL deverá ser votado até o final de julho ou começo de agosto


Kelvin Melo
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Um passo importante foi dado na noite de 31 de maio para a efetivação do reajuste dos professores das universidades federais, a partir de agosto. Entre outros projetos, os líderes de partidos na Câmara dos Deputados aprovaram o regime de urgência para a tramitação do PL 4.251/15 — que trata da remuneração dos docentes das carreiras de magistério superior (MS) e do ensino básico, técnico e tecnológico (EBTT). E, na noite seguinte (1º de junho), o plenário aprovou o pacote de reajustes. A matéria já está no Senado.


Isso significa que o Congresso deve votar até o final de julho ou começo de agosto o pacote de reajustes salariais para quase todas as categorias de servidores do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.


Para a presidente da Adufrj, Tatiana Roque, trata-se de uma boa notícia: “É fundamental para cumprir o que estava acordado com os professores desde o fim do ano passado”, disse. De fato, preocupava a lentidão com que o PL 4.251 andava no Congresso: apresentado pelo Poder Executivo no último dia de 2015, ele estava parado desde janeiro na primeira das várias comissões internas da Câmara pela qual deveria passar — no caso, a Comissão de Seguridade Social e Família.


O percentual de aumento dos professores (42,8%) tem chamado a atenção. Mas é preciso esclarecer: este percentual é escalonado por quatro anos, até 2019. E trata-se de um percentual máximo, pois poucos vão alcançá-lo (segmentos quase inexistentes na carreira, em regime de 40 horas e com baixa titulação). Além dos reajustes lineares de 5,5% em agosto deste ano e de 5% em janeiro de 2017, o número engloba a reestruturação da carreira que terá início a partir de 2018.


Tatiana Roque observa, ainda, que a reestruturação não impede uma nova negociação por aumento já em 2017, com efeitos financeiros a partir de 2018.


Reestruturação: o que vai acontecer?

A proposta apresenta a reestruturação das carreiras de MS e EBTT, de forma a torná-las lógicas e baseadas apenas no piso de professor graduado das classes A (MS) ou D I (EBTT), nível 1. Haveria o que está sendo chamado de “harmonização” da estrutura salarial das carreiras a partir dos parâmetros do acordo de 2012.

O governo propõe a reestruturação em três etapas anuais (de 2017 a 2019, com impactos igualmente distribuídos). A medida criaria, ao final deste período, uma relação percentual definida entre o Vencimento Básico (VB) e a Retribuição por Titulação (RT).

Por exemplo, um Associado (MS) ou D IV (EBTT), no nível 1, receberia, em 2019, um salário de R$ 18.240,32 (ou seja, uma RT de 115% em cima do VB de R$ 8.483,87).

Também haveria percentuais fixos entre os regimes de trabalho de 20 horas, 40 horas e dedicação exclusiva, nos seguintes parâmetros:

- valor do VB do regime de 40 horas será 40% superior ao valor do VB do regime de 20 horas;

- valor do VB do regime de Dedicação Exclusiva (DE) será de 100% superior ao valor do VB do regime de 20 horas.

Além disso, ainda ocorreriam “steps” entre classes...

- valor do VB será 5,5% superior entre as classes A/DI- nível 2 e as classes B/DII - nível 1;

- valor do VB será 5,5% superior entre as classes B/DII- nível 2 e as classes C/DIII- nível 1;

- valor do VB será 25% superior entre as classes C/DIII- nível 4 e as classes D/DIV - nível 1;

 - e valor do VB será 10% superior entre as classes D/DIV - nível 4 e a classe Titular - nível 1.

 ...e entre níveis, com percentuais predeterminados:

VB, classes A/DI e B/DII – nível 2 será 5% superior ao nível 1; e

VB, classes C/DIII e D/DIV – níveis 2,3 e 4 serão, respectivamente, 4% superiores ao nível imediatamente anterior.

À época, a diretoria da Adufrj apresentou um estudo que projetava a reestruturação para os salários atuais. Confira em:  http://goo.gl/lQydvC.

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