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Servidores de olho no PLP 257/16 

Texto, em tramitação na Câmara, prejudica funcionalismo nos estados. Centrais sindicais são contrárias à proposta

 

Silvana Sá
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No dia 12, representantes de centrais sindicais reuniram-se com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, em Brasília, para pressionar o governo federal a rever o PLP 257/2016. O projeto é de autoria do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e do ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Valdir Moysés Simão. O texto trata da renegociação da dívida dos estados com a União, mas apresenta condicionantes que afrontam os direitos dos trabalhadores. Na reunião, Berzoini prometeu que o governo retirará os pontos críticos do PLP. Um deles determina que os estados criem uma previdência complementar (nos moldes da Funpresp) para os seus servidores.

Os artigos terceiro e quarto do texto são dedicados às obrigações que os estados devem cumprir para conseguir a renegociação da dívida. Além da criação de previdência complementar, o PLP também prevê: “não conceder vantagem, aumento, reajustes ou adequação de remunerações a qualquer título” para os servidores; "suspender admissão ou contratação de pessoal”, “ressalvadas as reposições decorrentes de vacância, aposentadoria ou falecimento de servidores nas áreas de educação, saúde e segurança”; elevação da contribuição previdenciária dos servidores para 14%; “reforma do regime jurídico dos servidores ativos e inativos, civis e militares” com a finalidade de “limitar os benefícios, as progressões e as vantagens ao que é estabelecido para os servidores da União”. O texto ainda exige que os estados sancionem e publiquem as leis que possibilitam esse conjunto de medidas no prazo máximo de 180 dias após a celebração do chamado Plano de Auxílio.

A reação das entidades classistas foi imediata. Atos nos dias 13 e 14 marcaram a insatisfação dos servidores. Se, por um lado, houve a sinalização positiva do governo de retirada dos pontos mais críticos do projeto; por outro, há desconfiança de parte dos servidores quanto à boa vontade do Executivo. As entidades estão divididas entre o voto de confiança e a pressão para que a medida não seja votada como está.

Tramitação

O PLP tramita em caráter de urgência. Assim, ele deve ser votado até 6 de maio para, então, ser encaminhado ao Senado, que terá 45 dias para apreciar e fazer eventuais modificações ao texto.

A proposta já passou por todas as comissões da Câmara e foi encaminhado ao plenário. O PLP 257/2016 aguarda para ser apreciado desde 4 de abril. De 4 a 7 deste mês, as sessões foram encerradas antes que os deputados apreciassem a matéria. No dia 11, houve o cancelamento da ordem do dia. E, do dia 13 a este dia 15, novamente não houve tempo para a matéria. Apesar da promessa do governo, o projeto ainda não foi retirado da pauta.

Suspensão de bolsas liga o alerta na pós-graduação

Capes diz que suspensão, temporária, foi para fazer ajustes no sistema; reitoria da UFRJ estará na Capes neste dia 14 para tratar do assunto

O pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Ivan Ferreira, e o superintendente Henrique Cukierman avisam que estarão na Capes, neste dia 14, para defender as bolsas concedidas pela Capes aos programas da universidade. A Adufrj-SSind está acompanhando o caso.

A suspensão de aproximadamente sete mil bolsas no mês de março, em todo o país, dentro do Sistema de Acompanhamento de


 Concessões (SAC) da Capes, foi o principal assunto da última reunião do Diretório Nacional do Fórum de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação (Foprop). A reportagem da Adufrj teve acesso a documentos compartilhados pela Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PR-2) da UFRJ sobre o encontro, ocorrido em 7 de abril, nas dependências da própria agência de fomento.

A Capes argumenta que promoveu a suspensão, temporariamente, para fazer um balanço e “otimizar” o sistema: teria sido identificada uma ociosidade de 8% a 9% nas bolsas de demanda social (mestrado e doutorado) e no Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD). Segundo a direção do órgão, o valor absoluto desta ociosidade custa ao governo R$ 400 milhões/ano, o que geraria uma percepção de ineficiência por parte dos tomadores de decisão sobre o orçamento federal. 

O Foprop, por sua vez, não aceita qualquer possibilidade de corte nas bolsas. Para os representantes do fórum, o sistema já é extremamente eficiente e existe o receio de que, a partir daí, ocorra um enxugamento destas bolsas “com dificuldades enormes” para sua recuperação, em um futuro próximo. Ressaltou que, em sua maioria, a ociosidade se verifica pela transição de turmas. O fórum de pró-reitores manifestou-se no sentido de que essas bolsas voltem efetivamente aos programas de pós-graduação ou às pró-reitorias, para eventual remanejamento.

O Foprop observou, ainda, que já existe um déficit de R$ 130 milhões em relação ao orçamento atual das bolsas, caso sejam utilizadas na totalidade. “E isso gera várias incertezas sobre o significado e os efeitos dessa suspensão”, diz o documento compartilhado pela PR-2 da UFRJ. Detalhe importante: há alguns dias, o orçamento do MEC sofreu novo contingenciamento (R$ 4,3 bilhões) e ainda não se sabia o impacto desta medida nas ações da Capes.

O que diz o estudo da Capes

O estudo apresentado pela Capes mostra que dois terços dos programas de pós utilizam 97% ou mais de suas cotas anuais de bolsas e este foi um parâmetro balizador para as decisões subsequentes. Os PPGs com bolsas suspensas e que tiverem uma taxa superior a 97% deverão ter os benefícios de volta, nos próximos dias. A Diretoria de Programas e Bolsas da agência ficou de enviar a taxa de utilização dos PPGs de cada instituição, para que se saiba quais bolsas retornarão.

Entendendo 2015 como o período de março de 2015 a fevereiro de 2016, em princípio, devem retornar cerca de 45% das bolsas recolhidas em todo o Brasil (3 mil). O contingenciamento chegou a 7 mil bolsas em mais de 4 mil cursos. 

Proap e Proex

Durante a reunião do dia 7, a Diretoria de Programas e Bolsas da Capes sugeriu uma reestruturação do Programa de Apoio à Pós-graduação (Proap), com um “piso” de R$ 8 mil para os mestrados e R$ 16 mil para os doutorados, e valores adicionais até

o limite de 25% do valor original de 2015. A proposta ainda depende de aprovação do Conselho Superior da Capes. O Programa de Excelência Acadêmica (Proex) também vai ser repensado, para tentar melhorar a distribuição e aumentar o valor dos cursos que entraram no programa ano passado. 

 

Nestas novas propostas de Proap e Proex, pretende-se incluir a eficiência na utilização das bolsas
como parâmetro para obtenção dos recursos. O Foprop reforça cuidado com esta sinalização que pode levar a uma piora no gasto do recurso público: a tendência seria ocupar as cotas de bolsas de qualquer maneira.

Debate analisa papel da mídia na atual conjuntura política

 Elisa Monteiro

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“A Guerra das Narrativas: a cobertura jornalística do processo de impeachment” foi o tema do seminário organizado pela Escola de Comunicação, com apoio da Adufrj-SSind, no último dia 12, na Casa da Ciência. A mesa inicial, sobre o papel da mídia na crise política, contou com os jornalistas Fernando Molica (O Dia) e Carla Jimenez (El País) — houve, ainda, uma mesa sobre “a função do jornalista” e outra, sobre “redes sociais, robôs e coronelismo eletrônico”.

Embora os participantes não parecessem discordar em muito, sua abordagem à atuação política da imprensa e à tensão política em torno da possibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi bem diferente. Indagada pela mediadora da mesa (Cristiane Costa, coordenadora do curso de Jornalismo da ECO) sobre a existência de uma “imprensa golpista”, Carla Jimenez respondeu que havia “lados” reconhecíveis, enquanto Fernando Molica quis contextualizar a atuação da mídia na crise econômica dos meios de comunicação, provocada pelas tecnologias digitais de informação, que mudaram particularmente a temporalidade da informação e o interesse dos leitores: “Nem mesmo os blogs pró-governo, como o ‘247’, usam mais esse termo PIG (Partido da Imprensa Golpista)”. As revistas semanais teriam sentido o impacto mais fortemente, tornando-se “porta-vozes de seitas, de segmentos”, e não mais comentadoras dos principais fatos da semana.

Carla Jimenez lamentou a perspectiva do fim de um ciclo democrático e previu que haverá muito o que pensar e rever, a partir dos acontecimentos destes dias.  Para ela, “não existe mudança na História que não tenha batido no bolso primeiro”. Se não fosse o declínio do valor das principais commodities nacionais no mercado exterior, “o problema de corrupção da Petrobrás não afetaria tanto (a conjuntura atual)”. Jimenez discutiu a política editorial da grande imprensa. “Os editoriais são claríssimos, não dá para dizer que há uma cobertura isenta para os leitores decidirem. Golpista é uma palavra forte. O rotulo é duro, mas não dá para negar a posição da mídia em relação à política. Mas há que reconhecer posições a favor e contra o impeachment como legítimas”, disse.

Molica analisou a crise e o trabalho dos jornais de outra maneira.  Insistindo na necessidade de “ir com calma” e de reconhecer que “ninguém é inocente”, afirmou que era observável uma “direitização” das redações, sobretudo entre os profissionais mais jovens. O jornalista fez um paralelo com a sua geração que “ia fazer entrevista com estrelinha do PT e botão do Brizola”. “Naquele tempo todo jornalismo carioca brizolou”, brincou.

Em seguida, problematizou a situação atual: “Assustou-me o dia da revelação dos grampos (nas ligações do ex-presidente Lula). Houve um clima de oba-oba entre os jornalistas em torno da ação do juiz Sérgio Moro, que teve de se desculpar depois", observou Molica. "Houve uma ilegalidade com consequências àquele processo. Desculpas não resolvem".

A partidarização da imprensa se intensificou, segundo ele, desde a reeleição de Dilma Rousseff. “Faltou elegância à oposição para absorver a derrota”. O palestrante observou, ainda, que a esquerda brasileira perdeu a narrativa, quando envolvida nos escândalos de corrupção. A capacidade de agregar somente teria sido recuperada pelo apelo ao discurso democrático. “O ‘Não vai ter golpe’ foi genial!”, afirmou. “A direita reuniu toda a esquerda a favor do governo”.

Outros atores

Molica falou também sobre descentralização na narrativa dos acontecimentos. “Uma edição como a (do debate entre Lula e Collor, durante a campanha presidencial, feita pela Rede Globo) de 1989 não seria mais possível”, avaliou, em referência ao peso da internet hoje. “Você não vai negar a importância de grandes jornais, mas as redes sociais quebraram um pouco o que, no meu tempo de estudante, o professor Muniz Sodré chamava de ‘Monopólio da Fala’”. Como exemplo, citou um dos episódios das manifestações de 2013 em que uma prisão arbitrária foi comprovada graças a registros de midiativistas.

 Campanha de denúncia

A mesa contou com a mediação da professora Cristiane Costa (ECO) e serviu de plataforma para o lançamento de um grupo de pesquisa de análise do discurso no jornalismo político. Foi proposta a criação de uma hashtag #ordemsuperiornaredação: “A ideia é fazer algo nos moldes (das campanhas de denúncia de abusos) #meuprimeiroassedio e #amigosecreto”, anunciou Costa. “Para que as pessoas saibam que nem sempre o jornalista tem acordo com o que é publicado”, explicou.

Ciclo de debates será encerrado dia 19

Fernando Santoro, diretor da Adufrj-SSind, lembrou que o evento se insere na agenda de debates da Seção Sindical para abordar as diversas dimensões da crise atual. As primeiras atividades foram plenárias sobre política, no IFCS, em 9 e 17 de março. Em seguida, em 21 de março, foi a vez de serem tratados os aspectos jurídicos da crise, na Faculdade Nacional de Direito (FND). Em 6 de abril, ocorreu uma aula pública sobre política fiscal e as alegações do impeachment, novamente no IFCS. E, no último dia 12, na Casa da Ciência, foi avaliado o papel da mídia durante os atuais acontecimentos políticos. No próximo dia 19, haverá a palestra “A Razão neoliberal e o fim da democracia”, no IFCS, às 18h, com o professor francês Christian Laval (veja mais detalhes em https://www.facebook.com/events/1694628090775928/).


Veja a cobertura em vídeo aqui: http://adufrj.org.br/index.php/veja-todos-os-videos2/3259-guerra-das-narrativas-analisa-o-papel-da-m%C3%ADdia-no-cen%C3%A1rio-da-crise-brasileira.html

Como já divulgado pela Adufrj, o processo movido pela entidade para cobrança do reajuste dos 3,17% tem decisão definitiva e está em fase de liquidação. No fim do ano passado, em virtude de erros na listagem inicial, foi aberto um prazo (até 31 de janeiro) para os que não estavam incluídos pudessem requerer sua participação.

Diante de novas solicitações,para evitar que docentes fiquem de fora do processo, a Adufrj decidiu ampliar este prazo até o dia 30 de abril.

Duas observações importantes: a lista abaixo ainda não registra os que entraram em contato com a entidade, nas últimas semanas, para requerer a inclusão (mas podem ficar tranquilos que estarão na relação final); já os professores que tenham sido contemplados no processo do Sintufrj e que estejam na listagem da Adufrj também devem entrar em contato com a Adufrj para pedir sua exclusão.

A listagem do link contém os nomes de todos os professores contemplados na ação dos 3,17%. Estão relacionados os sindicalizados e não sindicalizados.

Veja aqui (para facilitar a busca, o interessado pode utilizar o comando ctrl+f e digitar o nome na janela que será aberta no navegador)

Caso algum professor identifique que não foi incluído, deverá procurar a Adufrj até o dia 30 de abril (veja abaixo como fazê-lo). Atenção: é preciso verificar, antes, se o docente já não foi beneficiado por ação idêntica, movida pelo Sintufrj (explicação também mais abaixo). Lá, os nomes podem ser conferidos no link http://www.sintufrj.org.br/AJ/ , na aba "Listagem 3,17%".

O processo está em fase de liquidação, o que significa dizer que estão sendo realizados os cálculos dos valores devidos individualmente a cada professor. A Adufrj está providenciando os cálculos de todos os professores sindicalizados contemplados na ação. Este grupo dos sindicalizados, com o nome na lista, não precisa fazer nada agora. Basta aguardar a comunicação de uma nova etapa deste processo.

 

- O que são os 3,17%

O percentual de 3,17% é proveniente de diferença da remuneração dos servidores, devida no período de 1995 a 2001.

- Quem são os professores contemplados na ação

Estão contemplados a receber as diferenças de 3,17% todos os professores que tenham ingressado na universidade até setembro de 2001.

- Tenho direito e não estou na lista, o que devo fazer?

A comunicação deverá ser feita EXCLUSIVAMENTE através de envio de e-mail para o endereço Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., com o assunto “LISTAGEM 3,17% - INCLUSÃO DE NOME”. No corpo do e-mail, basta informar nome completo e data de ingresso na UFRJ.

Desde já, fica esclarecido que as inclusões serão recebidas apenas através do e-mail acima informado, e ainda, que não serão recebidas inclusões solicitadas após o prazo acima informado.

- Não sou sindicalizado e tenho direito, o que devo fazer?

Os professores que não forem sindicalizados, mas que estão contemplados pelo processo, e desejem que a Adufrj apresente cálculo para recebimento das diferenças de remuneração, deverão enviar e-mail para o endereço juridico@adufrj.org.br, indicando no assunto “PROFESSOR NÃO SINDICALIZADO - 3,17%”.


No corpo do e-mail, o professor não sindicalizado deverá indicar uma das seguintes opções:

1) “DESEJO ME FILIAR” – Aqueles que desejarem se filiar ao sindicato, terão os cálculos custeados pela ADUFRJ, tal como os demais sindicalizados;

2) “DESEJO REALIZAR PAGAMENTO DO CONTADOR” –  Aqueles que não desejarem se filiar, poderão efetuar o pagamento individualmente, na quantia de R$ 100,00 (cem reais), que é cobrada pelo contador atualmente responsável pela elaboração dos cálculos. A cobrança será realizada em momento posterior à conferência da listagem.

- Professores que tiveram cálculos apresentados no processo do Sintufrj

Não serão apresentados pela Adufrj cálculos referentes aos professores para os quais o Sintufrj já tenha apresentado cálculo anteriormente no processo que tem o mesmo objeto do reajuste de 3,17%.

Por este motivo, caso o professor tenha ingressado na UFRJ antes de 2001, mas não encontre seu nome na listagem disponível no site, pode ser porque já foi contemplado por ação idêntica, movida pelo Sintufrj.

Assim, o professor deve conferir se seu nome consta na listagem disponível no site do Sintufrj. Apenas se o professor não estiver em nenhuma das duas listagens, deve enviar e-mail à Adufrj solicitando sua inclusão, o que deve ser feito até o dia 30 de abril de 2016.

Aqueles professores que tenham sido contemplados no processo do Sintufrj e que estejam na listagem da Adufrj também devem entrar em contato com a Adufrj para pedir sua exclusão.

- Consulta dos valores apurados

Após a realização de todos os cálculos, será possível consultar os valores apurados na sede da Adufrj, através de agendamento no plantão jurídico. A Adufrj informará quando os cálculos estiverem todos prontos.

Debate no seminário “A Guerra das Narrativas: A cobertura jornalística do processo de impeachment” discutiu formas alternativas para produção de notícia

 Da esq. para a dir.: Raphael Kapa, Tai Nalon, Fernanda da Escóssia e Conrado Corsalette - Foto: Samantha Su

Samantha Su
Estagiária  

A segunda mesa do seminário “A Guerra das Narrativas: A cobertura jornalística do processo de impeachment” ocorreu na parte da tarde do dia 12 de abril e trouxe à tona a discussão sobre “A Função do Jornalista: Investigação x Opinião”. O debate, organizado pela Adufrj em parceria com a Escola de Comunicação da UFRJ, contou com a presença dos jornalistas Raphael Kapa, da Agência de Notícias Lupa; Tai Nalon, do site Aos Fatos; e de Conrado Corsalette, um dos criadores do site Nexo. A mediação foi da professora Fernanda da Escóssia, da ECO.

Se a guerra de versões da mídia tradicional está no cenário político atual, a mesa apresentou o panorama das alternativas de produção de comunicação independente nesse contexto. A opção por trabalhar com um novo mecanismo do “fazer notícia” levou os palestrantes a contarem um pouco sobre esse desafio.

Raphael Kapa e Tai Nalon expuseram a perspectiva do fact checking, ou jornalismo de checagem, com que ambos trabalham: “Existe algo que a gente chama de síndrome especulativa do jornalismo, em que a notícia muitas vezes chega antes dos fatos. A gente vai de encontro a isso. Esperamos os fatos acontecerem para escrever a notícia”, explicou Tai Nalon.

Segundo a jornalista do site Aos Fatos, que verifica a veracidade das declarações políticas, a checagem tenta “estabelecer um novo paradigma para o jornalismo independente, que é ir além do declaratório e investigar.” A jornalista trabalhou até 2014 acompanhando as declarações da presidenta Dilma, no Palácio do Planalto, pela Folha de São Paulo, e hoje vê como alternativa um modo independente de divulgar as declarações políticas. A plataforma que ajudou a desenvolver, “Aos Fatos”, entrou no ar em julho de 2015 e permite o compartilhamento de informações públicas ditas por políticos e comunicando se elas foram utilizadas de forma “falsa”, “verdadeira”, “imprecisa” ou “exagerada”, selos que o site coloca após a conferência das informações. “A gente faz uma checagem com uma metodologia pública, aberta e rigorosa”, pontua.

Kapa concorda que o rigor da apuração é primordial para a checagem.  “A ideia cada vez mais é ampliar a checagem para que aquilo seja um instrumento para a sociedade. O intuito desse modelo é demonstrar todo o caminho que fizemos para chegar àquela conclusão para o leitor e, diversas vezes, tivemos experiências em que o leitor nos apontava isso, nos mostrando o contraditório”, explica.

Para o ex-repórter do Jornal O Globo, é o momento de buscar o novo e tentar alternativas capazes de ampliar as narrativas já existentes: “O caminho da coragem também é o caminho do risco, mas esse é o momento, porque a notícia está transbordando e não tem como a mídia tradicional dar conta dessa demanda. É a hora de apostar nessa diversidade. Esse universo se ampliou porque a vontade das pessoas em saber aumentou. Existem lacunas, demandas e carências e podemos fazer um movimento para atender a isso”, afirmou Kapa.

A Agência de Notícias Lupa também trabalha com o checking fact, apostando em checagens sobre saúde, esportes e variados temas. A escolha dos assuntos a serem checados, tanto para Kapa como para Tai Nalon, se dá pela relevância social. As formas de averiguação começam em um trabalho de cruzamento de dados e de busca por informações públicas.

Já Conrado Corselette apostou em outra alternativa. Já tendo sido jornalista e editor de grandes jornais como O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, ele descobriu que a vontade de contar de outra forma as notícias era uma opção para a carreira. “Eu produzia muito como jornalista e passei a ficar angustiado porque eu terminava as matérias e não conseguia dar conta do lead. As informações básicas de 'quem', 'onde', 'como' e o 'porquê' ficavam, muitas vezes, com lacunas. O volume de informação não permitia que a gente fizesse o básico e nem sempre se tem resposta para tudo”, explica.  Fundador do site Nexo junto com a cientista social Paula Miraglia e a engenheira Renata Rizzi, decidiu fazer notícias de modo que a dinâmica de produção diária não influenciasse no detalhamento dos processos que envolviam os fatos narrados.

“Apostei no jornalismo explicativo. O desafio é não ser simplista superestimando as pessoas sem considerar que elas podem estar perdidas sobre o que você diz e, ao mesmo tempo, sem subestimar a capacidade das pessoas de compreenderem as informações”, expõe Corsalette sobre a iniciativa.

O Nexo virou um site muito acessado, especialmente depois que começou a corrida do impeachment no Congresso. Segundo o jornalista, um dia antes da entrada do processo de impedimento, o site teria soltado um texto explicando o que é ou não legal e como funciona o procedimento de retirada de poderes de políticos eleitos. O objetivo de publicações neste sentido é descrever para o leitor informações que não são dissecadas no jornal diário, com um nível de detalhamento mais profundo.

Jornalismo com tempo e rigor de apuração

Para os três debatedores, o principal foco do novo jornalismo é um aprofundamento da apuração da notícia. Segundo eles, a dinâmica das matérias cotidianas impõe uma lógica pouco criteriosa para as redações.

“O equilíbrio não é automático. É um exercício de ouvir mesmo o outro lado, de estar verdadeiramente disposto a ouvir e não menosprezar o seu interlocutor. A gente vê muita notícia por aí em que existe a fala do contraditório, mas você percebe que ela só foi coletada para reafirmar a narrativa criada, ela não foi ouvida com atenção buscando o novo. Foi apenas utilizada para expor o que o jornalista já acreditava que ela diria”, comenta Corsalette.

Segundo o criador do Nexo, essa renovação tem de ser dada na forma de produzir informação também — e não só — no conteúdo: “Antes, eu achava que o grande texto resolvia tudo. Se você me desse a chance de cobrir uma matéria, eu faria um bom texto dela. Mas há histórias que são contadas em seis linhas, outras em trinta; mas também há histórias que precisam ser faladas, que podem ser contadas através de infográfico, vídeo, quiz. A história, para mim, hoje, pode ser contada até por sinal de fumaça. Não tenho mais apego à grande reportagem”, afirmou.

Raphael Kapa aconselhou os estudantes a apostarem em novas plataformas para além do texto. “É importante aprender a fazer vídeo, a fazer podcast, gráficos. São coisas que eu descobri só depois e está sendo mais difícil agora. Dediquem-se a essas novas ferramentas, porque isso dinamiza e melhora o seu conteúdo”, concluiu.

Pessimismo com a democratização da mídia

Os palestrantes não foram otimistas em relação à democratização dos grandes meios de comunicação: “Não tenho a pretensão de disputar com a mídia tradicional a narrativa deles. Acho que nós temos de falar coisas surpreendentes. Não dizer as obviedades que já são ditas. Agendar novos temas, fazer novas formas de expor, com novas fontes. Você tem que tratar as narrativas com seriedade, só assim você consegue entrar na conversa dos grandes jornais e tornar possível que te ouçam também”, declarou Conrado Corsalette.

Já para Tai Nalon, escolhas de rigor jornalístico são opções que podem coexistir com os grandes meios: “Eu não tenho a pretensão de ter algo do tamanho da mídia corporativa. A nossa aposta é fazer um jornalismo com técnica, com primor, análise e apuração rigorosa. Se você está disposto a isso, vai ser interessante também para eles. Nós temos uma parceria com o portal UOL e dizemos para eles ‘olha, tal fato iremos checar, vocês querem? Nós faremos de qualquer forma, mas podemos dar prioridade para vocês divulgarem a informação’”, declarou.

Veja a cobertura em vídeo aqui: http://adufrj.org.br/index.php/veja-todos-os-videos2/3259-guerra-das-narrativas-analisa-o-papel-da-m%C3%ADdia-no-cen%C3%A1rio-da-crise-brasileira.html

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