facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

distance learning 6831585 640Imagem de Elf-Moondance por Pixabay Estela Magalhães

Pela primeira vez na história, a quantidade de alunos ingressantes em cursos de graduação a distância ultrapassou o número de novas matrículas nos cursos presenciais. Dos quase 3,8 milhões de estudantes que se matricularam no ensino superior, 53,4% optaram pela EaD. Essa é uma das conclusões do Censo da Educação Superior 2020. Realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o censo colhe informações sobre infraestrutura, vagas, ingressantes e concluintes, entre outros dados das instituições de educação superior (IES) brasileiras.
O aumento da educação a distância no ensino superior é uma tendência. É o que explica a professora Rosana Heringer, da Faculdade de Educação da UFRJ. “Na última década, ela foi estimulada, regulamentada e facilitada para as instituições”, analisa. A docente, que é coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (Lepes), explica a razão. “Diminui o custo para a instituição, o custo da mensalidade, e a gente começa a ver essa enorme oferta de cursos com preço muito baixo”.
Por outro lado, a permanência dos estudantes em cursos a distância é menor que em cursos presenciais. A partir do acompanhamento dos ingressantes de 2011 nos últimos dez anos, o censo constata uma taxa de desistência acumulada de 62% para estudantes em educação a distância, enquanto na modalidade presencial a desistência é de 58% no mesmo período. Vale destacar que essa análise é referente ao percurso dos ingressantes de 2011, quando apenas 18,4% dos acessos eram para EAD. “Será que esses alunos que ingressaram em 2020 vão concluir seus cursos? Isso aí a gente vai ter que esperar para ver”, questiona a professora.WhatsApp Image 2022 03 18 at 22.50.31
Em 2020, foram ofertados 19,6 milhões de vagas para a graduação, sendo 96,5% de instituições privadas. De todas as vagas, 73% eram novas e 26,7% eram remanescentes, ou seja, já existiam no sistema e estavam desocupadas por evasão ou pelo não preenchimento, dentre outros motivos. Mas existe um grande intervalo entre o número de vagas e o número de ingressos: de todas as vagas novas oferecidas, apenas 23% foram ocupadas, ou seja, mais de 11 milhões não foram preenchidas.
A professora Gabriela Honorato, da Faculdade de Educação, explica que o excesso de vagas acontece principalmente por questões burocráticas. “Quando entra um pedido para funcionamento de um curso junto ao Ministério da Educação, as instituições pedem um número muito maior de vagas do que elas estão realmente dispostas a oferecer, porque esse tipo de processo só ocorre uma vez, não dá para ficar todo ano pedindo para aumentar o número de vagas”. Esse processo acontece, sobretudo, em instituições privadas, de acordo com a docente, que destaca as taxas de preenchimento com base na categoria administrativa: enquanto 72% das novas vagas no ensino público são preenchidas, apenas 20% das equivalentes são ocupadas na administração particular.
Mesmo com a maior adesão no setor público, o privado é o que mais se expande. Entre 2010 e 2020, a rede privada cresceu 89,8% em número de ingressantes, enquanto a pública aumentou em 10,7%. “A dinâmica da expansão do sistema público é bem mais lenta, depende da capacidade de investimento público. É um processo de bastante conflito, como temos acompanhado nos últimos anos”, explica Gabriela. “Já o setor privado cresce como um negócio: se é possível aumentar o número de vagas, se isso vai fazer com que essas empresas educacionais lucrem, não tenha dúvida de que vão oferecer cada vez mais vagas e mensalidades baixas para encher os cursos”.

Conclusão na pandemia
Entre 2019 e 2020, o número de concluintes na rede pública sofreu queda de quase 20%. A professora Gabriela Honorato aponta a desigualdade de acesso à internet e à tecnologia pelos alunos como uma possível causa para o déficit nas formaturas na rede pública. “Muita gente acabou fazendo trancamento da matrícula, deixando para terminar em outro momento. Então acredito que esse resultado de alguma forma reflete o impacto da pandemia no nosso sistema”, explica.
Na rede privada essa variação é positiva. O número de concluintes aumentou em mais de 7%. “O setor privado conseguiu se organizar muito mais rápido para manter as aulas no período da pandemia. Fora que a maior parte dos cursos e matrículas EAD já está no setor privado, então a conclusão do curso não foi um problema tão grande”, completa a professora.

Licenciatura EAD
Ao analisar os tipos de curso mais e menos populares para entrada no ensino superior, o censo constatou que quase 20% das novas matrículas na graduação vão para cursos de licenciatura. Desses, quase 60% são na modalidade a distância. A professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, da Faculdade de Educação e da diretoria da AdUFRJ, explica que a exigência do grau para os docentes da educação básica é um fator associado a essa prevalência da EAD nos ingressos em licenciatura: “Isso cria uma demanda, já que em muitos lugares não existem faculdades ou universidades que oferecem esses cursos”, explica.

Desigualdade de gênero
O perfil do professor universitário ainda é majoritariamente masculino, tanto na rede pública quanto na privada. “Se você pegar todos os níveis de ensino, a docência é predominantemente feminina. As mulheres também entram mais na universidade, só que isso não necessariamente se reverte para um lugar delas no mercado de trabalho”, explica a professora Rosana Heringer. Outra diferença entre as administrações está na escolaridade dos docentes: enquanto na rede particular os professores mestres são maioria, na rede pública predomina o doutorado. “Pela legislação, você tem que ter um mínimo de doutores, e as privadas cumprem essa determinação sem esforço para contratar mais. Acaba sendo um mercado para as pessoas que ainda não têm doutorado”, encerra.

Topo