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WhatsApp Image 2022 03 25 at 23.55.55Lucas Abreu e Silvana Sá

Os desafios impostos à universidade no retorno presencial não se resumem a atos legislativos decididos nos colegiados superiores da UFRJ. A burocracia para permitir a volta das aulas nos campi é apenas a ponta do iceberg de problemas que se acumulam há, pelo menos, dois anos. E dizem respeito, em grande medida, à infraestrutura, orçamento curto e à própria estrutura da cidade. “Não ter todas as linhas de ônibus rodando no Fundão, por exemplo, impacta diretamente esse retorno. Atinge estudantes, técnicos, terceirizados e professores”, ilustra o professor Edson Watanabe, da COPPE. “Outro problema que identificamos é em relação à alimentação, pois muitos trailers e quiosques acabaram fechando em definitivo com a pandemia”, afirma.
O docente foi um dos integrantes do Conselho de Representantes da AdUFRJ a enviar para o sindicato um compilado dos principais problemas enfrentados por suas unidades. Na COPPE, por exemplo, Watanabe e os conselheiros Marcello Campos e Leda Castilho listaram necessidades como: aquisição de novos aparelhos de ar-condicionado, já que os do Programa de Engenharia de Transportes foram furtados; mobiliário; limpeza geral do campus do Fundão; aumento da segurança que inviabilize os furtos de aparelhos e de cabos de cobre.
A infraestrutura para atender pessoas com deficiência também é um ponto de preocupação levantado pelo professor Watanabe. “O elevador do meu bloco, por exemplo, está quebrado. Como uma pessoa com deficiência vai subir três andares de escadas?”, questiona. “Enfim, são vários os problemas, nós vamos ter trabalho, mas os desafios ainda são menores do que eram lá atrás, na década de 70”.
No Instituto de Biologia, o clima está entre a empolgação pela volta das aulas presenciais e dúvidas, que serão respondidas no dia a dia, sobre as reais condições de segurança. Segundo o levantamento feito pelos integrantes do Conselho de Representantes, o ponto mais crítico é a ventilação. “Na Biologia tem um problema, que é na verdade de todo o CCS, que é o subsolo. É muito importante que os exaustores estejam funcionando”, conta a professora e conselheira Christine Ruta. Segundo o relatório enviado pelos professores, os exaustores do subsolo do CCS não funcionam há oito anos. Outras necessidades listadas pelos docentes foram a abertura das janelas no vão das escadarias que dão acesso ao subsolo, o fornecimento de álcool para professores e técnicos, a revisão e manutenção de todos os ventiladores das salas de aula e a colocação de sabão nos banheiros.
“Eu espero que o GT Coronavírus recomende que seja obrigatório o uso de máscaras nos lugares fechados da universidade”, diz Christine. Para ela, os alunos que ficaram afastados das aulas práticas (retomadas no ano passado) ainda têm incertezas se conseguirão cumprir todo o currículo. “Estes alunos estão ansiosos, querem saber se vão poder ter aulas práticas e recuperar o tempo perdido. E é complicado porque não vamos poder encher muito as salas”, explica. A despeito de tantos problemas, segundo ela, há muita disposição no instituto para voltar às salas de aula. “A indicação de manter a máscara, por exemplo, é importante até porque não sabemos como vai se comportar o coronavírus”, acrescenta.
A ventilação também é um desafio na Escola de Química. “Nossas salas têm ar-condicionado, as janelas são altas e não têm ventiladores. Vamos precisar arejar essas salas”, explica o professor Alexandre Leiras, também integrante do CR. Ele conta que o relatório sobre as mudanças necessárias foi feito a partir de uma conversa com a direção da Escola. Sua avaliação é de que o clima entre os professores é de expectativa pelo retorno. “A maioria dos professores com quem converso está bastante otimista. Eu mesmo não vejo a hora de voltar, tanto que voltei a dar aulas práticas em novembro do ano passado”, conta o professor, que ressalta, ainda, que sua unidade nunca deixou de funcionar.
Alexandre foi diretor adjunto de Infraestrutura da EQ até dezembro do ano passado. O fato de ser uma unidade concentrada em apenas um bloco, de acordo com ele, ajuda a garantir as condições mais adequadas para o retorno. “A Escola de Química está limpa, iluminada, pronta para receber as aulas a hora que for. Mas essa é uma visão particular da nossa unidade, que é pequena”, reconhece. “É um caso muito diferente de unidades onde os dirigentes dizem que não têm condições de voltar”, alerta.

Problemas de pessoal
A infraestrutura não foi o maior problema enfrentado pelo Colégio de Aplicação no retorno do ano letivo de 2022. “Nosso grande problema foi de pessoal. Começamos o ano letivo com menos 38 professores (36 substitutos e 2 com comorbidades)”, revela a professora Thais Motta, uma das representantes do CAp no CR. A autorização para contratação dos substitutos só chegou em fevereiro. “Fizemos o processo de seleção junto com o início das aulas presenciais, num momento muito sensível, de acolhimento dos estudantes que passaram dois anos sem convívio social”, relata. “Trabalhamos dois sábados seguidos, o dia inteiro, para finalizar o processo o mais rápido possível”.
O relato foi enviado também formalmente à AdUFRJ, no formulário assinado por Thais e as professoras Lorenna Carvalho, Simone de Alencastre e Thayná Marques. A escola tem duas unidades: a de Educação Infantil fica no Fundão, enquanto na Lagoa se concentram os ensinos Fundamental e Médio. “Nossas aulas começaram no dia 7 de fevereiro. Houve todo um planejamento, obras nas duas unidades, apesar de ainda haver algumas demandas, tudo o que cabia a nós, nós fizemos”.
Faltando tanta gente no quadro, a única forma encontrada pelos professores da escola para iniciar o ano letivo foi aumentar suas cargas horárias em sala de aula. O resultado: exaustão. “Conseguimos manter as aulas, mas a um custo muito alto. Estamos dando as nossas aulas e cobrindo a maior parte das outras turmas sem professores, além de darmos conta das demais tarefas, como atividades de pesquisa, orientações de licenciandos, atuação na extensão e todas as demais funções de ensino”, detalha a professora.
Os professores substitutos só começaram a chegar nesta semana, quase dois meses depois do início das aulas integralmente presenciais do Colégio. “A gente espera que isso não volte a acontecer. O CAp não é um apêndice da UFRJ, ele é parte da universidade e precisa ter suas especificidades levadas em consideração. Nosso calendário não é igual ao do ensino superior”.

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