Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
As histórias mostradas em sequência na Faculdade de Direito da UFRJ (FND) revelaram uma realidade espantosa. O testemunho de 12 jovens e alguns de seus familiares que romperam o medo parecia emergir de um cenário de sombras extinto com a ditadura. Mas o caldeirão de horrores exposto ali para a plateia perplexa que lotava o salão nobre da FND apresentava casos que atingiram pessoas que foram às ruas nas mobilizações iniciadas em junho deste ano no Rio de Janeiro. Os registros apontam prisões arbitrárias, abusos policiais, acusações e flagrantes forjados, ameaças de morte, violências físicas e psicológicas.
Os depoimentos foram prestados na terça-feira 17 no encontro “Legalidade ou perseguição política?” Os relatos deram conta de práticas de intimidação por parte dos agentes do estado que operavam numa zona nebulosa muito próxima da ação clandestina: espionagem e perseguições policiais incompatíveis com Estado democrático de direito e típicas de regimes de exceção foram denunciadas. Além disso, os episódios expostos trouxeram de novo à cena a ação de grupos paramilitares, as milícias que atuam em várias regiões da cidade. O evento teve como organizadores a professora Julieta Schachter, da UFRJ, advogados e entidades ligadas aos Direitos Humanos e teve apoio Adufrj-SSind e da direção da FND.
Ian, Caio, Maíra e suas famílias receberam, entre 5h e 6h grupos de policiais em suas casas, apresentando mandados de busca e apreensão. Tiveram computadores, arquivos eletrônicos, cadernos, agendas, livros, objetos pessoais confiscados para averiguação por suspeita de prática de suposto crime de quadrilha, em relação a pessoas que nunca tinham se encontrado antes. “Levaram livros sobre anarquismo, bandeiras e materiais de trabalho. E uma máscara de Veneza que a Maíra ganhou de presente”, contou Felipe (namorado de Maíra). A estudante estava em viagem à Bolívia, quando houve a batida policial. Orientada por advogados, ela não mais voltou ao país.
Pais expressaram perplexidades sobre os episódios. “Um vizinho abriu o portão da vila e quando saí do quarto, de calcinha, me deparei com aqueles policiais no meio da minha sala”, disse uma mãe. “Nossa desorientação era tão grande que não conseguimos balbuciar qualquer direito”, relata o pai de um dos perseguidos. O responsável de Ian conta: “foram direto ao notebook no quarto e conheciam os arquivos do meu filho melhor do que ele”.
Milícias
Participantes de outros movimentos recentes, como os Ocupa Cabral e Ocupa Câmara, também tornaram públicas informações preocupantes a respeito da política de segurança do Rio de Janeiro. Relatos de sequestros relâmpagos, telefonemas anônimos, coação por milícias e perseguições armadas foram denunciadas por ativistas e militantes.
Um vale-tudo
De acordo com o professor da UFRJ e integrante do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (IDDH), Carlos Eduardo, acusações sem correspondente tipificação foram banalizadas durante operações de repressão não apenas a militantes e a ativistas, mas contra qualquer pessoa com participação na agenda de mobilizações de ruas a partir de junho.
Como exemplo, Eduardo citou a recorrente acusação de “formação de quadrilha” que legalmente “pressupõe estabilidade para cometer crime”, e que não poderia ser aplicado em outro caso. Outras violações à lei foram listadas, como a detenção e encaminhamento ao sistema penitenciário sem o devido acompanhamento de advogados e o isolamento de familiares.
É o caso dos três jovens enviados ao Complexo Penitenciário de Gericinó (antigo Complexo de Bangu) por postarem mensagens e administrar a página Black Block em uma rede social (Facebook). Como outros detidos nos últimos meses, dois deles respondem em liberdade a processo criminal por formação de quadrilha armada e incitação à violência. Já Wallace Vieira dos Santos, 26 anos, segue preso no presídio em Bangu enquanto aguarda julgamento.
Silvana Sá, Rodrigo Ricardo e Redação
O debate envolvendo a contratação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) tem combustível suficiente para encher o auditório (o reitor prometeu realizar a sessão em local mais amplo) onde se realizará sessão do Conselho Universitário nesta quinta-feira, 26 de setembro. Render-se às pressões mercantis ao aceitar a intrusão de uma empresa na gestão de suas unidades de saúde ou reafirmar a integridade de sua autonomia universitária são questões que estão no centro deste debate.
A posição da Adufrj-SSind (que ao lado do Sintufrj e do DCE, tem sido ativa protagonista do debate) durante todo o processo de discussão com a comunidade acadêmica e no Conselho Universitário foi de buscar o diálogo e a construção coletiva de propostas baseadas na experiência dessa universidade. Por essa razão, a proposta de reestruturação dos hospitais universitários tem por base o resgate do projeto do Complexo Hospitalar.
No entanto – como explicita o presidente da entidade, Mauro Iasi, no vídeo postado no nosso site – nossas posições sempre foram atacadas por aqueles que defendem o contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Por mais que tenhamos respeitado posições divergentes, não tivemos o mesmo tratamento. Os defensores da empresa a todo o momento tentam desqualificar o debate político, como se tratasse de um mero jogo.
A reitoria, na pessoa do reitor Carlos Levi, passou de mediadora a propositora da Ebserh. O reitor abandonou seu posto de presidente do Conselho Universitário para se tornar o principal agente articulador e propagandista da empresa. O movimento docente considera que essa postura fere os princípios basilares da universidade.
O Estatuto da UFRJ é outro instrumento ferido pela proposta de contrato com a Ebserh. O que defendemos é que, por se tratar de um projeto que muda a configuração do Complexo Hospitalar, a Ebserh só pode ser discutida para deliberação em uma sessão especial, com quórum qualificado. É isso que diz nossa legislação interna. aE é isso que defendemos: que vença a proposta discutida e aprovada por uma maioria qualificada do Consuni, e não por imposições de uma minoria pessoalmente empenhada em aprovar a empresa na universidade.
Questão de Mérito
O conselheiro Roberto Leher espera que a próxima sessão do Consuni seja aberta com os pareceres das comissões. “Assim combinou o reitor e a minha expectativa é que possamos examinar o mérito das questões apontadas pelos documentos, inclusive o fato de que a pauta relativa à adesão ou não à Ebserh deva ser submetida a uma sessão especial”. Para o representante dos Titulares do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), houve um erro de encaminhamento na votação que encerrou o último Conselho.
“Não era uma questão de ordem, mas de mérito”, frisa Leher, evitando, no entanto, qualquer previsão sobre o que irá ocorrer, de fato, no Consuni desta quinta. “Será, por certo, uma sessão difícil, até porque a Reitoria vem se valendo de mecanismos de persuasão e até de constrangimento para impor a Ebserh. Num momento que, empiricamente, avalia-se que ela não é a melhor solução para os hospitais universitários”. O conselheiro recorda que a auditoria do SUS pede a anulação do vínculo da UFPI com a empresa. Já na UnB, a promessa da contratação imediata de 1,5 mil profissionais se traduziu num edital para apenas 500 trabalhadores.
Força máxima
Autor da proposta para que o próximo Consuni seja realizado num lugar mais amplo, provavelmente no auditório do Centro de Tecnologia, Leher reitera a sua defesa pela maior participação da comunidade acadêmica. “Não podemos olhar de forma fracionada as decisões dentro da universidade”. Segundo Carol Barreto, integrante do Diretório Central dos Estudantes, a votação conduzida pelo reitor pode ser classificada como “tosca”. Se for o caso, ela espera que se refaça a votação. “É o mínimo. Agora, independente do local, estaremos presentes e com força máxima”.
Leia mais: Mobilização obriga reitoria transferir sessão do Consuni para auditório do CT
O Chile na Lapa
Um pedaço da Lapa ganhou ares de Chile revolucionário na agradável tarde-noite de final de inverno. Os acordes do cavaquinho do botequim Vaca Atolada, no coração do bairro boêmio, foram substituídos pelo violão latino do grupo Canto Libre nas canções de Vitor Jara e Violeta Parra. Os dois artistas são símbolos na cultura, da experiência revolucionária do governo da Unidade Popular (1970-1973) no país andino. Não faltaram empanadas e vinho na celebração em memória dos 40 anos do golpe militar no Chile que pôs fim ao governo socialista de Salvador Allende, e deu início à ditadura sanguinária de Pinochet. A base de cultura do PCB, que organizou o evento, chamou para um debate sobre democracia e poder popular os professores Virgínia Fontes (Fundação Oswaldo Cruz) e Mauro Iasi (UFRJ). O professor Jaime Osório, chileno, mas radicado desde o golpe no México, onde leciona na Universidad Autônoma Metropolitana, foi o convidado especial. “Tomar o céu por assalto”, sintetizou Osório ao tentar traduzir o que foi a experiência do governo Allende.
A experiência revolucionária do governo da Unidade Popular transformou o socialismo em fenômeno de massas, observou Mauro Iasi.
Iasi lembrou que, ao assumir o governo, Allende passou a cumprir o programa com o qual foi eleito.
Nacionalizou a mineração, que representava 80% da economia do país e era controlada por empresas transnacionais.
Estatizou o sistema financeiro.
Estabeleceu normas contra os monopólios industriais e grandes empresas de telecomunicações, entre elas a gigante americana ITT.
O discurso de Iasi foi intercalado com apresentações de artistas reproduzindo canções de Vitor Jara, que teve as mãos decepadas ao ser assassinado pelo regime fascista.
O professor lembra que a atmosfera revolucionária do Chile da Unidade Popular foi acompanhada de uma explosão de cultura popular.
“Se a esquerda abraçou o povo, o povo abraçou suas bandeiras e o socialismo”, disse.
No clima de tarde revolucionária, a professora Virgínia Fontes fez uma reflexão sobre as dificuldades de luta de classes no Brasil e no mundo.
Virgínia começou lembrando que o papel de “gendarme do mundo” que os EUA chamaram para si, só é possível pela aliança com as burguesias locais.
A professora destacou a truculência da burguesia brasileira (citou a violência da polícia nas manifestações de junho). Mas disse, também, que nos últimos 20 anos um setor dessa burguesia aprendeu a manejar formas aceleradas de convencimento.
Chamou atenção para as armadilhas a serem enfrentadas. Uma delas: a suposição de que o desenvolvimento, “com a palavrinha mágica sustentável, que ninguém sabe o que quer dizer”, possa assegurar uma modificação das condições da existências das grandes massas é uma falácia.
“Não pode”, ela disse. Pelas simples razão de que este desenvolvimento se dará pela lógica capitalista.
Outra armadilha: a ideia de que existe uma “boa burguesia” que irá nos conduzir a um capitalismo autônomo.
“Agora, vem cá: alguém acredita na possibilidade de capitalismo autônomo em pleno século XXI?”, provocou.
Virgínia Fontes disse que, hoje, no mundo, a exigência democrática que se coloca é a “igualdade”.
Segundo ela, uma palavra que havia sido “proscrita” , reesignificada, trocada por equidade, participação, cidadania etc..
Depois de Virgínia, um chileno e uma mexicana do grupo Canto Libre cantaram Violeta Parra.
“Gracias a La Vida” emocionou.
Foi nesse clima que Jaime Osório foi chamado a falar.
Ele disse que as bandeiras, as músicas, a palavra dos que o antecederam, tudo isso o deixava muito comovido.
O professor, que deixou o Chile logo depois do golpe, buscou a síntese para traduzir o que foi a experiência revolucionária no seu país.
“É quando o extraordinário se torna o comum”, disse. “Foi tomar o céu por assalto”.
A secretaria dos órgãos colegiados confirmou na tarde desta segunda-feira que a sessão do Conselho Universitário da próxima quinta-feira será no auditório do bloco A do Centro de Tecnologia (CT)
Reitoria confirma sessão do Consuni no auditório do CT
Silvana Sá, Rodrigo Ricardo e Redação
O debate envolvendo a contratação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) tem combustível suficiente para encher o auditório (o reitor prometeu realizar a sessão em local mais amplo) onde se realizará sessão do Conselho Universitário nesta quinta-feira, 26 de setembro. Render-se às pressões mercantis ao aceitar a intrusão de uma empresa na gestão de suas unidades de saúde ou reafirmar a integridade de sua autonomia universitária são questões que estão no centro deste debate.
A posição da Adufrj-SSind (que ao lado do Sintufrj e do DCE, tem sido ativa protagonista do debate) durante todo o processo de discussão com a comunidade acadêmica e no Conselho Universitário foi de buscar o diálogo e a construção coletiva de propostas baseadas na experiência dessa universidade. Por essa razão, a proposta de reestruturação dos hospitais universitários tem por base o resgate do projeto do Complexo Hospitalar.
No entanto – como explicita o presidente da entidade, Mauro Iasi, no vídeo postado no nosso site – nossas posições sempre foram atacadas por aqueles que defendem o contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Por mais que tenhamos respeitado posições divergentes, não tivemos o mesmo tratamento. Os defensores da empresa a todo o momento tentam desqualificar o debate político, como se tratasse de um mero jogo.
A reitoria, na pessoa do reitor Carlos Levi, passou de mediadora a propositora da Ebserh. O reitor abandonou seu posto de presidente do Conselho Universitário para se tornar o principal agente articulador e propagandista da empresa. O movimento docente considera que essa postura fere os princípios basilares da universidade.
O Estatuto da UFRJ é outro instrumento ferido pela proposta de contrato com a Ebserh. O que defendemos é que, por se tratar de um projeto que muda a configuração do Complexo Hospitalar, a Ebserh só pode ser discutida para deliberação em uma sessão especial, com quórum qualificado. É isso que diz nossa legislação interna. aE é isso que defendemos: que vença a proposta discutida e aprovada por uma maioria qualificada do Consuni, e não por imposições de uma minoria pessoalmente empenhada em aprovar a empresa na universidade.
Questão de Mérito
O conselheiro Roberto Leher espera que a próxima sessão do Consuni seja aberta com os pareceres das comissões. “Assim combinou o reitor e a minha expectativa é que possamos examinar o mérito das questões apontadas pelos documentos, inclusive o fato de que a pauta relativa à adesão ou não à Ebserh deva ser submetida a uma sessão especial”. Para o representante dos Titulares do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), houve um erro de encaminhamento na votação que encerrou o último Conselho.
“Não era uma questão de ordem, mas de mérito”, frisa Leher, evitando, no entanto, qualquer previsão sobre o que irá ocorrer, de fato, no Consuni desta quinta. “Será, por certo, uma sessão difícil, até porque a Reitoria vem se valendo de mecanismos de persuasão e até de constrangimento para impor a Ebserh. Num momento que, empiricamente, avalia-se que ela não é a melhor solução para os hospitais universitários”. O conselheiro recorda que a auditoria do SUS pede a anulação do vínculo da UFPI com a empresa. Já na UnB, a promessa da contratação imediata de 1,5 mil profissionais se traduziu num edital para apenas 500 trabalhadores.
Força máxima
Autor da proposta para que o próximo Consuni seja realizado num lugar mais amplo, provavelmente no auditório do Centro de Tecnologia, Leher reitera a sua defesa pela maior participação da comunidade acadêmica. “Não podemos olhar de forma fracionada as decisões dentro da universidade”. Segundo Carol Barreto, integrante do Diretório Central dos Estudantes, a votação conduzida pelo reitor pode ser classificada como “tosca”. Se for o caso, ela espera que se refaça a votação. “É o mínimo. Agora, independente do local, estaremos presentes e com força máxima”.
Leia mais: Reitoria confirma sessão do Consuni no auditório do CT