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Ciência: um território ainda dominado pelos homens

Mesmo com uma crescente participação feminina em pesquisa científica, estudo da distribuição de bolsas do CNPq de 2013 demonstra que bolsas dos programas mais valorizados ainda estão em mãos masculinas 

Desigualdade é mais acentuada nas Ciências Exatas, à exceção da Química

Samantha Su. Estagiária e Redação

Em 2013, a distribuição das bolsas do CNPq alcançou a paridade entre homens e mulheres. Porém, na mais valorizada “Produtividade em Pesquisa (PQ)”, a participação feminina é de apenas 36%. Elas acumulam mais bolsas na iniciação científica, com 59% do total. O resultado indica que, apesar de uma crescente inserção feminina na Ciência nacional, as categorias consideradas mais importantes ainda são majoritariamente masculinas. 

A análise foi feita pela professora Hildete Araujo, de Economia da UFF, representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e do programa Mulher e Ciência do CNPq. Hildete esteve na UFRJ em debate organizado, dia 15, pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.

Ela expôs que a média de idade das pesquisadoras que conseguem chegar ao nível 2 em “Produtividade de Pesquisa” é de 50 a 54 anos, enquanto a dos pesquisadores é de até dez anos menos. Em 2013, a quantidade de mulheres em nível 1 (PQ1), topo do programa, era de 281, enquanto 908 eram homens. O levantamento mostra também as áreas em que as diferenças são mais significativas. São elas as Ciências Exatas (com exceção da Química), as Engenharias e o setor de Computação e Tecnologia. 

A canadense Sophia Huyer, diretora da Gender is Science, Innovation, Technology and Engineering (iniciativa global envolvendo pessoas de diferentes setores para promover o papel das mulheres na ciência, inovação, tecnologia e engenharia), observou que o Brasil — apesar de todos os problemas de desigualdade internos — encontra-se em terceiro lugar quanto à participação das mulheres na ciência e tecnologia, atrás dos Estados Unidos e da União Europeia. Ainda assim, Huyer demonstrou que em áreas como Engenharia, Física e Ciência da Computação, elas representam menos de 30% dos pesquisadores, na maioria dos países. Mesmo nos lugares onde o número de mulheres que estudam ciência e tecnologia tem aumentado, isso não se traduziu em equilíbrio de gênero no mercado de trabalho desses setores.

A professora Eliane Volchan demonstrou a consequência desses dados sob o ponto de vista das percepções implícitas, segundo a neurociência. Para isso, utilizou os resultados de testes de Implicit Association Test (IAT), que trabalha o subconsciente através de respostas imediatas e associativas. Desse modo, descobriu que 70% das pessoas associam ciência à figura masculina. Em um dos testes, era pedido para que fosse julgado um currículo com um nome feminino com base em quatro vetores, competência, possibilidade de contratação, indicação para um cargo de supervisão e salário. O mesmo currículo foi apresentado com um nome masculino e todos os vetores melhoraram, o vetor salarial chegou a ter 4 pontos acima do currículo feminino.

Com o objetivo de reverter esse quadro, o projeto Mulher e Ciência, do CNPq, criou três frentes de atuação. São elas: editais de apoio a pesquisas sobre gênero, o prêmio “Construindo Igualdade de Gênero” e encontros nacionais de núcleos e grupos de pesquisa sobre o tema. 

 

 

Desigualdade reproduz-se também no IBCCF

Dentro do Instituto de Biofísica, os dados não são diferentes. A monografia da estudante Gabriela Lúcio, orientada pela professora Daniele Botano, demonstrou que há 52 docentes mulheres e 44 homens na faculdade. Ainda assim, dos 53 cargos de chefia, 31 são masculinos. E somente 64 anos após a criação do IBCCF, foi eleita uma diretora.

 

Pesquisas acabam reforçando estereótipos

Eliane Volchan também questionou os resultados das pesquisas biológicas sobre gênero. Segundo ela, a conclusão dos testes é sempre uma interpretação sociocultural dos cientistas. Como exemplo, citou um documentário científico que tinha por objetivo identificar características biológicas ligadas a gênero. Para isso, bebês com seis meses de idade de ambos os sexos eram colocados em frente a uma tela. Quando puxavam uma corda próxima, as imagens mudavam. Em determinado momento, a ligação entre a corda e a tela era cortada. 

O teste demonstrou que os meninos continuavam a movimentar a corda, repetidas vezes, mesmo depois da interrupção. Enquanto as meninas, após perceberem o mecanismo quebrado, começavam a chorar. Volchan, como neurocientista, apreendeu que o teste demonstrava a rapidez das meninas para compreender que a ligação havia sido quebrada; e por isso choravam para reclamar. Para a surpresa da cientista, o resultado do documentário dizia que os meninos tinham mais tendência biológica à persistência, enquanto as meninas eram mais “propensas à sensibilidade”. 

 

Documentário conta história recente da economia brasileira

Filme apresenta pontos de vista sobre a política econômica, desde 1930

Lançamento ocorreu na Casa da Ciência, dia 16

Samantha Su. Estagiária e Redação


“A gente fala muito do passado, mas acho importante filmar essas pessoas do presente”, foi assim que o diretor José Mariani justificou a importância de seu novo filme (Um Sonho Intenso), que conta a história da economia brasileira desde 1930 até o primeiro governo Lula. O lançamento ocorreu dia 12, na Casa da Ciência da UFRJ, como iniciativa da Universidade da Cidadania, ligada ao Fórum de Ciência e Cultura. 

Para a realização do documentário, Mariani gravou depoimentos com nomes do quilate de Carlos Lessa, Maria da Conceição Tavares, Ricardo Bielschowsky, Lena Lavinas, Celso Amorim, Francisco de Oliveira, João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzzo e José Murilo de Carvalho.

“O ponto de partida foi fazer uma história comentada. Isso deu ao filme certa liberdade de colher opiniões relativamente divergentes, mas dentro do campo da esquerda. Acho que a coisa essencial do documentário é a liberdade e a autonomia ao personagem”, afirmou Mariani, em debate que se seguiu à exibição.

As quase duas horas de filme são recheadas por um passeio com imagens de arquivo que mostra a história brasileira. Curiosidade: o título, pedaço de um verso retirado do hino nacional, serve para analisar a caminhada para o desenvolvimento do país. 

Além do diretor, os economistas Carlos Lessa, Lena Lavinas e Ricardo Bielschowsky participaram da atividade na Casa da Ciência.  Durante o debate, a plateia sugeriu uma continuidade da película. Do ponto de vista de Lena Lavinas, a sequência poderia ter como foco a extensão da desigualdade: “A gente começou com Celso Furtado e acho que vamos voltar a ele para entender uma das frases ditas no filme, que é ‘a interpretação da reprodução do subdesenvolvimento’. Por que a gente não consegue sair dele?”, questionou.

Respeito à soberania nacional

Carlos Lessa relembrou, ainda, a construção da identidade nacional como forma de pensar um caminho autônomo e original: “As gerações políticas brasileira são comidas por essa pergunta — O que é o Brasil? Temos de entender que as respostas satisfatórias ainda não são insuficientes”.

Ele também lamentou a falta de debate entre os presidenciáveis sobre a questão: “Fora da Nação, não há salvação. A realidade é centro e periferia, temos de superar esse discurso da globalização. Você tem que ser Nação para poder proteger seu povo. Acho inquietante o debate presidencial não dar importância à soberania nacional”. 

Está na rua o mais novo outdoor da Adufrj-SSind. Fixado ao lado da ex-casa de espetáculos Canecão, traz a arte do Grupo de Trabalho de Comunicação e Artes da Seção Sindical que funciona como uma provocação pública ao privatista PNE do governo, aprovado este ano no Congresso: “Educação não é mercadoria”, são seus dizeres. 

14092221Foto: Elisa Monteiro - 16/09/2014

Vida de Professor,
por Diego Novaes

TiraQuadrinho

No início de setembro, o Jornal da Adufrj entrou em contato com as assessorias de todos os candidatos a presidente para perguntar sobre quatro temas importantes (Plano Nacional de Educação; Previdência; Ebserh e autonomia universitária) para a vida dos professores federais. 

A todos os presidenciáveis ficou esclarecido que o material poderia ser editado/reduzido aos trechos mais importantes, por motivo de espaço, no semanário da Adufrj-SSind.

Apenas Mauro Iasi (PCB), Luciana Genro (Psol) e Zé Maria (PSTU) enviaram suas respostas. A assessoria de imprensa da presidenta Dilma Roussef observou que a candidata, dentro da previsão da coordenação de campanha até 5 de outubro (data de votação em primeiro turno), “infelizmente”, não poderia contemplar o Jornal da Adufrj: “Pedimos que considerem a situação de presidenta, que acumula a função com a posição de candidata, não estando tão disponível quanto os outros candidatos para conceder todas as entrevistas”. 

Nesta edição, apresentamos as ideias de Mauro Iasi, Luciana Genro e Zé Maria sobre o PNE e Funpresp. No próximo jornal, as respostas sobre a PEC 555 (fim da taxação previdenciária dos aposentados), Ebserh e autonomia universitária.


PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

1 – Como o seu governo irá agir diante do Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado no Congresso no início de junho?

14092271Foto: DivulgaçãoMauro Iasi: Consideramos o Plano aprovado no Congresso Nacional insuficiente para atender as reais necessidades da população em relação à educação pública no país. Apesar de ter havido a participação de diversas entidades, sindicatos, movimentos sociais e profissionais da educação nas conferências para debater o Plano Nacional de Educação, o resultado final acabou privilegiando os interesses do capital, ao se permitir o uso de recursos públicos para empresas que lucram com a educação no país, assim como as terceirizações no setor. O PCB é radicalmente contrário ao processo de privatização da educação e defende o uso de verbas públicas exclusivamente para as escolas públicas, a valorização dos profissionais, com melhoria substancial dos salários (partindo do salário mínimo do DIEESE), planos de cargos e salários, fim das contratações temporárias e das terceirizações. Com a aplicação imediata de 10% do PIB exclusivamente para a educação pública, poderemos conquistar rapidamente a universalização plena do acesso à educação básica e a erradicação total do analfabetismo no país. No ensino superior público, o PCB participa ativamente da luta por uma Universidade Popular, para garantir a expansão da universidade pública, gratuita e de qualidade visando à universalidade do acesso, como uma instituição de não-mercado. A Universidade Popular voltará seus esforços de ensino para a formação crítica necessária para formar profissionais capazes de se apropriar do pensamento científico e se tornarem sujeitos ativos no processo de transformação social, sem deixar de lado a formação profissional em si; voltará seu trabalho de pesquisa para a análise e solução dos grandes problemas da sociedade, para a conquista da autonomia científica e tecnológica do país; terá grandes eixos de ações de extensão para a atuação direta e integrada junto aos sistemas sociais mais relevantes para a classe trabalhadora, como a Educação, a Saúde, a questão urbana, os transportes, a habitação e outras áreas. Propomos ainda o controle social sobre as instituições privadas, nos aspectos trabalhista, acadêmico e fiscal, piso salarial equiparado às universidades públicas, fim da renúncia fiscal e estatização das instituições inadimplentes e irregulares do ponto de vista fiscal ou trabalhista. Defendemos a democratização da gestão de todas as instituições educacionais do país, sejam elas públicas ou privadas, com a eleição direta dos dirigentes pelo voto paritário e a participação efetiva da comunidade escolar na tomada de decisões. Por fim, é preciso avançar na melhoria de condições de trabalho dos profissionais da educação, com a jornada de trabalho dos professores composta de 50% do tempo em sala de aula e de 50% de horas-atividade; equiparação do piso salarial dos trabalhadores da educação com as demais categorias que possuam o mesmo nível de formação; formação presencial dos professores, que deve ser considerada responsabilidade pública; redução do número de alunos por sala de aula. Portanto, o programa do PCB prevê a adoção de medidas para além do que foi aprovado no Plano Nacional de Educação, revertendo a lógica privatista e priorizando o investimento no setor público.

 


14092273Foto: Divulgação

Zé Maria: O Plano Nacional de Educação recém-aprovado deve ser combatido. Ele aprofunda a mercantilização da educação que vem ocorrendo, aumenta a precarização dos trabalhadores em educação, faz uma expansão sem adequadas condições que preservem a qualidade do ensino público, desde a Educação Básica até o Ensino Superior. Portanto, é uma legislação que atende aos interesses do capital privado na educação garantindo o repasse de verbas públicas para o empresariado privado e busca desobrigar o Estado do financiamento da Educação Pública. 

Defendemos que é necessário elaborar um outro Plano Nacional de Educação que tenha como referência o programa votado no Encontro Nacional de Educação (ENE) realizado no Rio de Janeiro, que se posicionou contra a mercantilização da educação e em defesa do financiamento pelo Estado dos 10% do PIB já, exclusivamente para a educação pública. É preciso garantir boas condições de trabalho e salários, terminando com a precarização dessas condições que os setores financistas querem impor à educação, assim como é preciso implantar planos de carreira, pondo fim à política da avaliação meritocrática e produtivista do ensino e do trabalho docente. É necessário respeitar plenamente a autonomia universitária e impedir a lógica de submeter a educação a parâmetros autoritários, que impõem o individualismo e a competição. Há que se garantir condições democráticas de acesso e permanência em todos os níveis do ensino.
Nosso programa entende que defender a educação pública, gratuita, laica e de qualidade é tarefa não só dos estudantes, professores, funcionários, docentes e técnicos administrativos, mas sim de toda classe trabalhadora que têm seus filhos na escola pública. Isso é condição fundamental para a construção de uma sociedade realmente democrática, justa, igualitária e socialista.

 


14092272Foto: Divulgação

Luciana Genro: O texto aprovado, entretanto, contém vários elementos da política de repasse de atribuições do Estado para a iniciativa privada e não deixa claro qual será o ritmo da expansão do setor público na próxima década.

Trabalharei para que o setor público se fortaleça, expandindo a presença federal no ensino superior e ensino profissionalizante. E chamarei governadores e prefeitos para estabelecer um regime de colaboração que permita implementar o custo aluno qualidade (conforme estratégias previstas na Meta 20) e elevação do salário docente, conforme Meta 17.

Enviarei ao Congresso Nacional proposta de retirada das Lei nº 13005/2014 de todos os elementos privatizantes, especialmente o texto que permite contabilizar nos 10% do PIB os recursos destinados à iniciativa privada.

 


2 – O governo aprovou, para todos os servidores federais, a criação de um fundo de previdência complementar (Funpresp-EXE) para valores recebidos acima do teto de Regime Geral. Qual será a postura do seu governo diante do Funpresp-EXE?

Mauro Iasi: O PCB entende que se trata de iniciativa para aprofundar o processo de privatização da Previdência, ao qual fazemos radical oposição. Defendemos a Previdência Social 100% pública e gratuita. Na condição de professor da UFRJ e atuante nas lutas da categoria, já tendo exercido o cargo de presidente da Adufrj na gestão 2011-2013, participo ativamente, junto com toda a militância do PCB e da Unidade Classista, das lutas capitaneadas pelas entidades nacionais de servidores públicos federais, entre as quais o Andes-SN, contra as políticas de privatização do setor e os ataques aos direitos históricos dos trabalhadores perpetrados pelos governos de FHC, Lula e Dilma. Apesar de toda a resistência dos servidores, o governo do PT conseguiu aprovar a lei que institui o Regime de Previdência Complementar (RPC) para os servidores, fixando o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões igual ao do RGPS (R$ 4.159,00, em novembro de 2013) e autorizando a criação de fundos de pensão para administrar o plano de benefício dos servidores dos três poderes. Esta verdadeira contrarreforma conservadora encaixa-se na lógica da financeirização capitalista e precariza ainda mais as condições de remuneração e vida dos trabalhadores do serviço público brasileiro. O governo do Poder Popular encaminhará ao Congresso novo projeto de lei para reverter esta situação e contará com a intensa mobilização dos trabalhadores para garantir a Previdência Social universal, com o fim do fator previdenciário, recuperação das perdas salariais e aumento real dos proventos e pensões, restabelecendo-se o princípio amplo da seguridade social.

 


Zé Maria: A criação do fundo complementar de previdência privada no serviço público foi consequência da reforma da previdência aprovada no primeiro ano do  governo Lula, em 2003. Como a reforma acabou com o direito à aposentadoria integral do servidor público, o governo, já com Dilma na presidência, e obedecendo a orientações do mercado financeiro, instituiu o Funpresp.

Essa medida nada mais é do que a privatização da previdência do funcionalismo, transferindo milhões de recursos dos servidores e do Estado para bancos e instituições financeiras que vão gerir o fundo de acordo com as regras do mercado. Isso significa que apenas os bancos vão ganhar, uma vez que o servidor não tem qualquer garantia de que o fundo no qual aplicou seu dinheiro, teve a rentabilidade necessária para pagar sua aposentadoria complementar.
O PSTU entende que a previdência é uma dos tripés da Seguridade Social, junto com a Saúde e a Assistência Social, e, portanto, dever do Estado, sem objetivo do lucro. Nosso compromisso é com a valorização do serviço público e a garantia de melhores condições de salário, aposentadoria  e democracia no ambiente de trabalho para os servidores. Neste sentido, queremos lutar junto com todo o funcionalismo público para anular a reforma da previdência e imediatamente suspender a implementação do Funpresp.

 


Luciana Genro: A Reforma da Previdência foi uma das maiores fraudes vivenciadas em nosso país. Após os elementos revelados no processo do mensalão, defendo a anulação da Reforma.

Nosso governo promoverá uma revisão dos estragos que foram feitos contra a aposentadoria dos servidores públicos, começando com a extinção do fator previdenciário e rediscussão de toda a legislação correlata, inclusive revendo o teto rebaixado estabelecido.

Nosso governo não estimulará que servidor tenha que complementar sua aposentadoria para manter seus salários integrais após décadas de contribuição previdenciária.

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