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Em debate, palestrantes observam que formação acadêmica deveria ajudar os trabalhadores. Crise no alojamento e especulação na Vila Residencial também faz tema ganhar significado especial da UFRJ

Atividade ocorreu no último dia 4

Silvana Sá. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

“O preço médio do solo no Rio de Janeiro é de aproximadamente R$ 10 mil por metro quadrado. Isto acirra as lutas em defesa da moradia. Hoje, com a visão que a universidade deve formar “técnicos” sem política, esse processo é ainda mais aprofundado. Muitas vezes, a universidade ajuda a piorar a condição de vida dos trabalhadores”, afirmou Cláudio Ribeiro, presidente da Adufrj-SSind e professor da FAU, durante o debate: “Cidade não é mercadoria. Construindo lutas urbanas pelo direito à habitação”, no último dia 4. 

O objetivo da atividade foi aproximar os estudantes de arquitetura e urbanismo da realidade vivenciada pelos movimentos sociais que lutam por moradia, especialmente no Rio de Janeiro, cidade cada vez mais mercantilizada. Cláudio Ribeiro explicou que este é um esforço para que a universidade se abra verdadeiramente para os saberes construídos fora de seus muros. Ele também desconstruiu os argumentos utilizados no processo de criminalização dos movimentos sociais: “Lutamos por uma sociedade e por uma universidade diferentes das que estão postas hoje. Os sindicatos foram criminalizados junto dos movimentos sociais, acusados de financiá-los e às manifestações. É isso mesmo. Sindicato serve para organizar a luta de classe”, disse.

Luta de classe

Vitor Guimarães, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), chamou os estudantes a refletirem sobre a necessidade de reconhecimento enquanto classe trabalhadora. “A gente precisa, como classe, estar junto. Temos que nos reconhecer para enfrentar os ‘donos’ da cidade. Governos e patrões são aliados nesse projeto de cidade-negócio”, afirmou. 

Ele deu exemplo do programa governamental “Minha Casa, Minha Vida – Entidades”, no qual conseguiram construir 950 unidades habitacionais com média de 62 m2 e creche no interior do condomínio pelo mesmo valor que empreiteiras constroem unidades de 40 m2: “Precisamos de vocês em projetos como esses. Que pensem de trabalhadores para trabalhadores. Os movimentos sociais não têm arquitetos e urbanistas”.

Ele lembrou que moradia não é uma “opção”, mas uma “necessidade” de todo cidadão e, portanto, é um quesito importante para a dignidade humana. “Há dados alarmantes de casas que não possuem banheiro, de casas realmente precárias, moradias em área de risco e aluguéis muito caros. Todos esses componentes impactam na dignidade da moradia”.

Atualmente, a especulação imobiliária é a grande responsável por colocar faixas da classe trabalhadora em situação de vulnerabilidade. Aluguéis cada vez mais altos e incompatíveis com a renda acabam gerando despejos, ou, situações de grande precariedade. Essas pessoas correspondem, hoje, de acordo com Guimarães, ao maior percentual de famílias que fazem parte do MTST. “Entendemos como sem teto não só pessoas em situação de rua, mas aquelas que vivem em coabitações, as que pagam aluguéis mais altos do que seu padrão de vida lhes permite e as que são despejadas”.

Arquiteto é trabalhador

Vitor Halfen, da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Fenea), afirmou que há uma grande dificuldade de os arquitetos se verem como trabalhadores. O modo de produção capitalista empurra arquitetos e outros trabalhadores, na visão de Halfen, a um processo de fragmentação do trabalho: “Arquitetura não e só ciência. Nem somente arte. Ela tem outra dimensão: arquitetura também é trabalho. O arquiteto é um trabalhador que está submetido à forma como o trabalho se organiza na nossa sociedade. Há uma fragmentação do trabalho”.

Hoje, de acordo com o dirigente da Fenea, prevalece a ideia de que o arquiteto deve atuar na sociedade de maneira individualizada. “É preciso formar consciência de classe e se aproximar da construção de movimentos sociais como o MTST”, finalizou Halfen.

Moradia é direito

Diretora de Movimentos Sociais do DCE, Jordana Almeida, que é estudante da FND, lembrou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, já em 1948, indicava a moradia como um dos pressupostos para a dignidade da pessoa humana. “Isso foi reafirmado em 1988 na nossa Constituição Federal. Isso significa que moradia é mais que um teto. Ela tem relação direta com a vida das pessoas”. Apesar de ser expressa como direito essencial, a estudante lembrou que, infelizmente, o Brasil ainda permite que sua população viva sem condições dignas de habitação.

Na universidade, Jordana lembrou que é grave a crise vivenciada por estudantes que residem no alojamento. “Há setores que partem do pressuposto que moradia tem relação com a cidade. E, assim, a universidade não precisa pensar moradia. Esta é uma visão elitista, de uma universidade que não queremos. Há uma negligência no projeto de direito à cidade. Portanto, o estudante se vê sem moradia na cidade e também no interior da universidade”.

Moradores da Vila Residencial também participaram do debate e relataram o processo de encarecimento do solo e a subida estratosférica dos aluguéis, que tem contribuído inclusive para a expulsão de muitos moradores. A falta de alojamento para os estudantes aumentou também a especulação imobiliária na Vila Residencial. Com isso, muitos alunos passaram a viver na Vila, alugando vagas.


14090882Lançamento da revista Territórios Transversais

Durante o debate, o MTST lançou a sua revista “Territórios Transversais”. “A ideia é ter trabalhadores falando para trabalhadores sobre trabalhadores, de maneira a formularmos nosso pensamento e ações”, disse Vitor Guimarães. 

A revista tem o custo de R$ 20 e pode ser adquirida também via internet no endereço: http://www.mtst.org/territorios/.



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14090821Mulheres de Chico No contexto da luta contra o sexismo, a Adufrj-SSind e o DCE da UFRJ promoveram um show com o grupo Mulheres de Chico, na noite de 5 de setembro, no gramado da Faculdade de Letras. Foto: Silvana Sá - 05/09/2014

Adufrj-SSind, DCE, Coletivo de Mulheres e CFCH promovem discussão sobre o tema

Evento está marcado para este dia 12, às 10h30, na Praia Vermelha

No próximo dia 12 de setembro, sexta-feira, um debate vai acontecer sobre sexismo na universidade. Estão convidadas: a decana do CFCH, Lilia Pougy; Isabel Mansur, doutoranda da ESS; e a estudante Maria Leão, representando o DCE Mário Prata e o Coletivo de Mulheres da UFRJ. O evento vai acontecer às 10h30, no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque, campus da Praia Vermelha. 

A professora Lilia explica a importância deste tipo de atividade: “O sexismo é um sintoma da sociedade patriarcal em que vivemos, não obstante suas numerosas feições modernizadoras. A promoção do debate por duas forças sociais, o sindicato de docentes e o movimento estudantil, é bastante alvissareiro no esforço de entender o fenômeno para melhor enfrentá-lo”.

Os relatos sobre situações de agressão e machismo na Academia têm crescido. Espaços como o Coletivo de Mulheres da UFRJ e até a Ouvidoria da universidade têm canalizado as denúncias. Para a decana, este aumento se deve não só às ocorrências em si, mas também à crescente conscientização das mulheres. Ela observa que leis recentes coibindo a violência de gênero contribuem para este cenário.

Cartazsexismo

Parte fundamental do projeto de expansão da UFRJ, as reformas e as construções de novos prédios e equipamentos estouram os prazos previstos no Plano Diretor aprovado pelo Conselho Universitário, em 2009. A partir desta edição, em uma série de matérias especiais, o Jornal da Adufrj faz um raio-x dessas obras.

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Em novembro de 2009, o Conselho Universitário da UFRJ aprovou o Plano Diretor da instituição até 2020. E parte da comunidade acadêmica encheu-se de euforia pela possibilidade de novos (ou reformados) prédios e equipamentos. Porém, quase cinco anos depois, poucas promessas foram concretizadas. 

“Fizemos uma expansão de trás para frente: primeiro, vieram os alunos; depois os concursos docentes; depois, as obras e os concursos do corpo técnico para fazer as obras”, diz o diretor do Escritório Técnico da Universidade, Márcio Escobar.  “Talvez tivesse que ser assim mesmo, mas isso tem um preço”, completa.

O preço é o atraso. No final de 2010, quando o Plano foi divulgado em formato de revista, estavam prontos somente: o Terminal de Integração; a ciclovia e uma modesta expansão acadêmica do Centro de Tecnologia, no bloco A. 

Desde então, mesmo as obras concluídas aconteceram fora dos prazos. O Centro de Referência da Mulher passou pouco (de outubro para dezembro de 2010). O restaurante universitário do CT deveria ter sido inaugurado em outubro de 2010 (mas só foi entregue em janeiro de 2012). A cozinha própria do bandejão central, prevista para dezembro de 2010, só entrou em operação no início de setembro de 2013.

Faltam quadros na UFRJ

Na avaliação de Márcio Escobar, a execução e fiscalização das obras ficam complicadas pela falta de engenheiros e arquitetos na universidade: uma realidade que só começou a mudar nos últimos anos. Em 2009, o ETU dispunha de dez profissionais; hoje são 43. O salário inicial de engenheiros e arquitetos nas IFES é de aproximadamente R$ 3,2 mil (bruto); no mercado, piso oficial da categoria é de cerca de R$ 6 mil, explica Márcio. “Os salários são baixos para o mercado”, argumenta. “Mesmo com concursos recentes, as pessoas não ficam. Elas entram e logo fazem outros concursos”. Para dar conta da demanda, até hoje, o ETU solicita o apoio de professores da UFRJ, em diversas especialidades.

Outros entraves são as dificuldades de compatibilização das obras com a vida acadêmica (como mostra a obra da biblioteca do CT, nesta página) e a parte burocrática: há todo um processo que dificulta a agilidade de realização de um projeto.

 

Tudo atrasado
Confira, a seguir, a situação de algumas das principais obras elencadas no Plano Diretor:

BIBLIOTECA DO CT
previsão original: outubro de 2012


 

14090842Foto: Elisa Monteiro - 22/08/2014No caso da futura Biblioteca do CT, indicada pelo Plano Diretor para ser montada nos pilotis do prédio principal do Centro, Márcio explica que a reforma foi suspensa por atrapalhar as atividades acadêmicas: “Houve muita reclamação não só do barulho, mas da vibração produzida pelas máquinas em laboratórios e salas”. 

De acordo com o dirigente, um termo aditivo ao contrato vai prever obras no período da noite. Além disso, para compensar o tempo perdido, “foi reduzido o escopo da etapa atual; ou seja, o que não for executado agora será executado nas etapas seguintes. O projeto da biblioteca será executado integralmente conforme a concepção inicial”, informa Márcio. A perspectiva é que a primeira etapa esteja concluída em maio de 2015 e a biblioteca esteja funcionando no início de 2016.


EXPANSÃO ACADÊMICA MATEMÁTICA

previsão original: setembro de 2011


 

14090852tifFoto: Kelvin Melo - 4/09/2014Faltam 20% da atual etapa. Mas ainda serão licitados: a instalação da subestação, as máquinas do sistema de ar-condicionado e a urbanização da área. Estas fases serão encaminhadas após uma definição sobre a repactuação do contrato da obra que está em andamento. Um questionamento do Portal do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os valores de contrato atrasou os trabalhos. “Provamos que não havia irregularidades”, afirmou Márcio. Mesmo assim, o vai e vem jurídico custou alguns anos. “A expectativa”, segundo Marcio, é de retomada ainda em 2014 para entrega até 2016. 



HESFA

recuperação da cobertura e fachadas — previsão original: abril de 2011


14090854tifFoto: Elisa Monteiro - 28/08/2014

14090853tifFoto: Elisa Monteiro - 28/08/2014













 Um dos mais belos patrimônios tombados da UFRJ, o Hospital Escola São Francisco de Assis (Hesfa) passa por obras para recuperação dos telhados e fachadas há tempos. De acordo com Márcio, a universidade “fez um esforço” para compatibilizar as obras ao funcionamento da Unidade. Com isso, as obras começaram de trás para frente, pelos fundos do prédio. Segundo Márcio, cinco blocos foram recuperados e a reforma termina com a recuperação da fachada de frente para a Avenida Presidente Vargas. A conclusão desta etapa será em abril/2015: “Observo que esta é apenas uma das etapas do processo de restauração do HESFA, onde estamos restaurando apenas telhados e fachadas. Outras ainda serão necessárias, como a restauração das esquadrias, restauração interna dos prédios etc., que dependem ainda de conclusão dos projetos executivos e captação de recursos”, explica o diretor do ETU.

 


Fora do Plano Diretor
Ladetec está quase pronto

14090855Foto: Kelvin Melo - 22/08/2014Não consta do Plano Diretor, mas, ainda na Cidade Universitária, encontra-se em fase final de construção o Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, do Instituto de Química da UFRJ (Ladetec). Em função dos prazos de acreditação do Laboratório de Controle de Dopagem da América Latina (associado ao Ladetec) junto ao Comitê Olímpico Internacional (COI) para funcionamento durante os Jogos de 2016, parte do prédio, nos fundo, foi inaugurada há cerca de um mês. A fachada da frente segue interditada pelas obras.

Ebserh é inconstitucional, diz juiz

Maco Universidades X EbserhBO juiz Guilherme Fabiano Julien de Rezende, da 2ª Vara de Juiz de Fora, concedeu liminar ao Ministério Público Federal (MPF), divulgada no último dia 3, suspendendo o processo de privatização do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) por meio da adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Segundo o juiz, a Ebserh é inconstitucional porque afronta a autonomia didático-científica das universidades e o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

De acordo com Raquel Perrota, advogada da Assessoria Jurídica Nacional (AJN) do Andes-SN, a decisão proferida é muito importante porque, “pela primeira vez, se adentra o mérito da questão, afastando-se qualquer traço de constitucionalidade a embasar os convênios realizados entre as Universidades Públicas, no caso a UFJF, e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares”. 

Claudia March, secretária-geral do Andes-SN, também destaca a importância da liminar concedida pelo juiz Guilherme Fabiano Julien de Rezende pela conexão imediata que faz entre o campo jurídico e os argumentos políticos utilizados pelos movimentos de luta contra a Ebserh: “A decisão deve ser ressaltada tanto pelo fato de ser a primeira do tipo que se baseia no mérito da questão, ou seja, do que representa a Ebserh em termos de ataque à autonomia universitária, quanto pelo fato de que confirma, no campo jurídico, os argumentos políticos que tomamos como base para o embate com o projeto privatista dos HUs em curso e seus impactos negativos para o ensino, a pesquisa, a extensão e a assistência à saúde aos usuários do Sistema Único de Saúde”, afirma. (Fonte: Andes-SN, com informações do MPF-MG. Edição: Adufrj-SSind)

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