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Dia de visita

Milhares de estudantes secundaristas conhecem as opções de cursos oferecidos pela universidade 

Evento ocorreu nos dias 13 e 14

Filipe Galvão. Estagiário e Redação

Pelo menos 12 mil estudantes secundaristas passaram pelos corredores e salas do prédio da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) no Fundão, na 11ª edição do “Conhecendo a UFRJ”. Os visitantes se viram diante de diversas palestras e estandes explicativos sobre as graduações oferecidas pela universidade e o perfil dos profissionais das áreas. São esses os momentos nos quais os alunos se questionam sobre escolhas prévias e descobrem novas áreas de afinidade. 

O evento, organizado pela Pró-reitoria de Extensão desde 2004, teve grande procura. Oitenta escolas ficaram na lista de espera e não puderam participar. “A inscrição esgota-se em dois dias”, afirmou a Diretora da Divisão de Cultura da PR-5, Adriane Aparecida Moraes. O grande volume de demanda justificaria um terceiro dia de encontro, mas o orçamento, segundo Adriane, não é suficiente para prolongar as atividades sem prejudicar a qualidade. 

A maioria dos estudantes das 200 escolas inscritas para conhecer a universidade são de alunos da rede pública de ensino do estado do Rio de Janeiro. Para o professor de Física do Ciep 127 de Magé, Roberto Waiandt, o evento é necessário para a construção de uma nova perspectiva de vida para os alunos. “Aqui tem uma energia vital, um fluxo de pessoas e contatos que serve de combustível para os alunos pensarem o seu futuro”, disse. 

Novas possibilidades descobertas

14081862Escolhas. Encontro amplia os horizontes de possibilidades profissionais. Foto: Filipe Galvão - 14/08/2014Com apenas 16 anos, Anderson Silva da Costa veio de Nova Iguaçu com os colegas Janaína Oliveira, 17, e Thales Gama, 18, todos do Colégio Estadual Maria Emília Amaral Fontoura. Anderson queria estudar moda, mas para isso teria que recorrer a uma faculdade privada. Ao visitar o estande do curso de Belas Artes, o mais novo dos três amigos descobriu novas possibilidades: “Eu queria mexer com corte e costura, mas gostei de design de interiores e paisagismo”.

Um dia de visita à UFRJ, porém, não a torna mais acessível a esses alunos. Janaína também se interessou por design de interiores, mas tem medo das dificuldades que enfrentaria por morar tão longe do Fundão. Já Thales provocou: “A Baixada é uma área que não é bem atendida. Não seria melhor ter mais polos da universidade lá para atender os outros estudantes?”.

Segundo Adriane, o acolhimento às escolas tem a função de democratizar o acesso à universidade pública. Mas, para isso, além das visitas, são necessárias estrutura e assistência. 

O professor Romildo Bomfim, diretor da Adufrj-SSind, marcou presença no evento para falar do curso de Fisioterapia, ligado à Faculdade de Medicina: “Julgo o evento ‘Conhecendo a UFRJ’, como um projeto relevante da PR-5 na medida em que abre as portas da nossa universidade, e, assim, desperta nos interessados o desejo de vir estudar numa IFE pública”, disse. Romildo também elogiou a oportunidade de apresentar aos secundaristas as diversas carreiras oferecidas pela instituição.

Ainda durante o Consuni do dia 14 (leia matéria na página 3), causou indignação da bancada discente uma nota divulgada no site da Superintendência Geral de Políticas Estudantis (SuperEst). O documento pretendia ser uma resposta às reivindicações por aumento do número de bolsas permanência e moradia. Após elencar os números atuais referentes à distribuição de bolsas, construção e reforma das residências universitárias, o texto coloca a responsabilidade que é do Estado na conta do estudante e sua família. 

O trecho final da carta aconselha aos alunos que utilizam o sistema Enem/SISU em todo o Brasil que “discutam com suas famílias as condições de sobrevivência no Rio de Janeiro, caso não venham a ser selecionados para receber uma bolsa de assistência estudantil”. No caso de serem selecionados, continua a carta, “devem ter ciência de que a bolsa irá apoiar a sua permanência, mas, certamente, seus familiares terão que arcar com parte dos recursos necessários para sua manutenção nesta cidade cujo custo de vida é dos mais altos do Brasil”. O documento finaliza: “Estudar em outra universidade, mais próxima de casa, pode minimizar custos e significar a diferença entre concretizar um sonho ou vê-lo frustrado por toda a vida”.

Luiza Foltran, representante do DCE Mário Prata, afirmou que é uma vergonha para a universidade abrir mão de alunos de outros estados. Ela considerou o trecho final da carta da SuperEst “extremamente desrespeitoso com a comunidade acadêmica”. A estudante pediu à reitoria a realização de uma audiência pública para tratar da assistência estudantil. “Queremos uma universidade democrática e não uma universidade que diga para os alunos de baixa renda que não os quer aqui”.

O presidente da Adufrj-SSind, Cláudio Ribeiro, também avaliou o assunto: “Essa é a lógica de privatização da universidade em curso, na qual o Estado abre mão de suas responsabilidades para com a educação pública e força os servidores a completarem as defasagens, seja através de pesquisas para setores privados, seja tirando do próprio bolso os recursos para trabalhar”, criticou.

Emenda pior

O reitor Carlos Levi, ao co mentou o tema, terminou por piorar o que já estava muito ruim: “Poderíamos rever os termos da carta, mas a ideia foi justamente que os alunos tenham responsabilidade de se candidatar para universidades nas quais tenham condições de se manter”. (Silvana Sá)

Em encontro com diretores da Seção Sindical, no último dia 13, docentes locais relatam falta de infraestruturas física e administrativa como grande empecilho ao desenvolvimento do campus

Transporte precário, internet oscilante, custo de vida alto foram alguns dos problemas citados

Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Não é moleza a rotina dos professores da UFRJ que atuam na cidade de Macaé, no norte do estado do Rio. Durante a visita da Adufrj-SSind ao campus, no último dia 13, professores relataram problemas relacionados à infraestrutura elementar de alimentação, transporte e comunicação. “Não temos nem bandejão, nem alojamento nem ônibus interno”, resumiu a professora Flávia Farias Lima.

Sua colega, Jane de Carlos Santana Capelli, não é voz isolada ao criticar o fato de a comunidade universitária ser obrigada a se deslocar para um shopping “caríssimo”, nas imediações, para almoçar, “por pura falta de opção”. “Macaé é uma cidade extremamente cara, dolarizada por causa do petróleo”. 

Transporte e segurança

“E para os estudantes é ainda pior”, emendou Flávia. A professora contou um episódio recente em que socorreu duas estudantes de assédio, enquanto aguardavam transporte: “Temos um problema sério com índices de estupros na região. E literalmente somos obrigadas a esperar os ônibus na beira da estrada, sem ponto, sem marquise, sem nada. Ficamos completamente expostas. É perigoso demais”.  

O serviço de transporte interno, terceirizado, é motivo de muitas reclamações. “Os motoristas fazem o que querem”, queixa-se Jane: “A UFRJ-Macaé não possui linha circular própria”. “Não é possível que nada possa ser feito”, criticou a professora. “A Auto Viação 1001 (empresa intermunicipal que atende a Macaé) ganha rios de dinheiro com o deslocamento dos professores para Macaé. Não custava nada estender um pouco o trajeto (até o campus) para que não ficássemos no meio de caminho”, afirmou Flávia. “Se fosse para atender à Petrobras, tinha linha”, criticou, outra docente, Márcia Regina Viana.

Em busca de espaço

Na visão de Jane Capelli, as dificuldades para realizar pesquisa — em relação ao Fundão, por exemplo ­— e a perda de qualidade de vida, em termos de opções, justificariam incentivos para permanência dos docentes. “Mas o que acontece é o oposto”, afirma. “Fazemos por amor ao projeto, mas é tudo bem difícil”. 

Jane faz parte do projeto de interiorização “desde que a UFRJ se limitava a algumas salas no bloco A”. Hoje a universidade desfruta de todo um novo bloco D, nas instalações da Cidade Universitária de Macaé, composta ainda por cursos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Faculdade (municipal) Professor Miguel Ângelo da Silva Santos (Femass). Ainda assim, a falta de espaço adequado para estudo e pesquisa é uma queixa recorrente.

De acordo com Flávia Farias, no caso dos docentes 20 horas, como ela, justifica-se a falta de salas, “dizendo que não há previsão de carga horária para pesquisa e extensão”.  “Uma coisa supercomplicada para quem tem as mesmas pretensões acadêmicas e de progressão”, observa.

 

De mala e cuia

Na prática, fora as salas de aulas e os laboratórios, a recém-criada sala dos professores é o único lugar onde os professores podem guardar seus materiais de trabalho e objetos pessoais. Conforme explicitado pela professora Ana Carolina Carvalho, com exceção dos data-shows, todos os materiais para aulas e afins são privados. “Cada professor é obrigado a trazer seu próprio computador”. O “costume” criou para Jane Capelli um problema de coluna: “Tudo vem e vai na mochila, computador, livros e material de todo tipo”. 

As mesas de socialização são tomadas por bolsas e até malas. Isso porque, como Jane, boa parte dos professores não têm moradias fixas na cidade. “Eu, que sou professora doutora 40 horas, e vim para cá em 2009, pela proposta de interiorização, depois de dois anos tive de voltar para o Rio de Janeiro”, explica. Durante a semana, ela dorme no alojamento do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental de Macaé (Nupem/UFRJ), que está longe de atender à demanda entre os docentes.

Outros gargalos

Com internet oscilante — e ausente durante a reportagem — os professores falam da dificuldade para produzir sem rede. Na véspera da reunião, Ana Carolina da Silva, por exemplo, enviou de casa um projeto que tinha prazo para envio.

Seminários e outras atividades distintas das aulas não têm lugar. “Estamos sempre tendo que recorrer à Prefeitura para usar auditório ou temos que reunir em salas de aulas nas carteiras dos estudantes”, conta Flávia Farias. É o que se chama de “funcionamento compartilhado”. 

Márcia Regina Viana reclama da ausência de um lugar físico onde obter informações administrativas. Segundo ela, a cultura é de “tudo virtual, por e-mails”. “Quando tomei posse no Rio de Janeiro, o acolhimento criou uma expectativa muito positiva. Mas aqui a realidade é outra; a impressão é que estamos sempre contando com boa vontade”, queixou-se.

De acordo com Flávia, a prática de recibos não existe no campus. “Se o professor quiser qualquer documentação, tem que pagar a cópia do bolso. Tem professor que faz cópia de páginas e mais páginas de processo para ter os comprovantes”.

Pressionado pelas prisões políticas que ocorriam à sua volta, Jaime Santiago teve de abandonar o curso de História da universidade, em 1971. Ele militava na Organização Revolucionária Marxista Política Operária

Para sobreviver à perseguição, ele também saiu do Rio

Samantha Su. Estagiária e Redação

14081851Jaime Santiago. Retorno ao curso de História é reparação simbólica: tempo perdido nunca mais voltará. Foto: Samantha Su - 07/08/2014Em 1971, Jaime Santiago precisou abandonar o curso de História da UFRJ. Militante da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (ORM-Polop), ele teve sua casa invadida pelos agentes da repressão, ao final daquele ano. Um amigo, com quem dividia a casa, acabou preso. Eram os efeitos do decreto-lei nº 477 (de 1969), conhecido como o Ato Institucional nº 5 das universidades. A legislação previa a punição de professores, alunos e funcionários considerados culpados de subversão ao regime. Pressionado, Jaime resolveu, junto à Polop, sair do Rio de Janeiro para viver na clandestinidade.

Agora, o espanhol, no Brasil desde os sete anos de idade, representa o primeiro caso que a Comissão da Memória e Verdade da UFRJ (CMV-UFRJ) assumiu para implementar a política de reparação aos atingidos pela ditadura dentro da instituição. A CMV-UFRJ busca o reingresso do ex-aluno no mesmo curso de História. 

Em 2003, Jaime chegou a procurar o Departamento de História do IFCS para tentar retomar a matrícula, mas não foi aceito. Segundo ele, a parte mais dolorosa da recusa não é condizente com o próprio curso: “O meu pedido foi negado porque não fui preso ou processado na época. Mas nós aprendemos na faculdade que a História não é só documental; ela é humana. Eu tinha como provar que fui perseguido, muita gente do curso me conhecia, inclusive professores da instituição, mas eu nem tive a chance de ser ouvido.” Com o passar dos anos, não quis mais voltar para a universidade. O novo estímulo veio só depois da criação da Comissão da Verdade da UFRJ, em 2013, quando foi convidado a dar um depoimento. Ali, a CMV assumiu a responsabilidade de ajudá-lo. 

Jaime relembra que a reparação é simbólica: o tempo que perdeu por conta da ditadura não voltará nunca mais. Mesmo ainda não convencido a voltar às salas de aula, o ex-militante está otimista: “Eu me desiludi com o PT e com a militância sindical, principalmente da CUT, mas acho que ainda posso contribuir. Fico refletindo que gostaria de entrar em contato com a juventude para tomar fôlego e rejuvenescer politicamente”, afirma, enquanto aguarda o término do processo de reingresso, ainda sem prazo.

 

História do ex-militante

Jaime Santiago, após deixar a UFRJ, ganhou uma nova identidade: Luis Carlos Rodrigues Filho. Transferiu-se para Belo Horizonte, onde militou junto à célula operária. Foi em Minas Gerais que conheceu sua atual mulher, Carminda Batista Ferreira. Ela era metalúrgica e também fazia parte da Polop. Apesar da militância conjunta, só em 1977 contou a ela seu nome verdadeiro. Os dois voltaram para o Rio de Janeiro e se casaram. Em 1978, Jaime saiu da clandestinidade. 

Em terras cariocas, trabalhou em diversas empresas. Mas não saiu da militância política: Jaime esteve presente nos congressos de fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e no processo de criação do Partido dos Trabalhadores (PT). Tornou-se presidente da CUT-RJ na gestão 1990/1991 e Secretário Geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM- CUT), de 1991 a 1994.

Quando já tinha tempo de contribuição suficiente para se aposentar, seu pedido foi negado no INSS, por conta da incompatibilidade dos nomes durante a vida clandestina. Para solucionar o problema, em 2006 pediu anistia ao Ministério da Justiça, o que ocorreu em 2011.

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